Galãs da Universal: Tony Curtis e Jeff Chandler; Rock Hudson e Jeff Chandler. |
Em sua enciclopédia “The Western”, o
autor Phil Hardy não focalizou “Pilastras do Céu” (Pillars of the Sky),
preferindo relacioná-lo apenas no índice no final do livro. Esse índice é
composto pelos filmes que Phil Hardy julgou de menor importância e onde constam
apenas os títulos e ano de produção de cada western. O autor desconsiderou que “Pilastras
do Céu” foi dirigido pelo veterano e competente George Marshall e que tinha no
elenco atores famosos como Jeff Chandler, Ward Bond, Dorothy Malone e Lee
Marvin, estes dois últimos futuros vencedores de prêmios Oscar (1956 e 1965).
Produzido pela Universal, “Pilastras do Céu” recebeu o rótulo de western B, assim
como a grande maioria dos filmes estrelados por Jeff Chandler, ainda que o
ator, ao lado de Rock Hudson e Tony Curtis tenha formado o trio de principais
galãs sob contrato do estúdio na década de 50. Muitíssimo bem produzido este filme
de George Marshall lançado em 1956 está longe de ser mais um western B e é
imperdoável ter sido menosprezado por Phil Hardy em seu volumoso compêndio.
Conta-se que a aventura da Cavalaria intitulada “Frontier Fury” escrita por
Will Henry, foi oferecida a John Ford que não aceitou filmá-la porque em
1955 dava início ao projeto cinematográfico com a história ‘The Searchers’ de
Alan LeMay. A Universal, que comprou os direitos sobre o livro escalou Sam
Rolfe para roteirizá-lo e entregou a direção a George Marshall.
Jeff Chandler |
Túnicas
azuis nas reservas indígenas - “Pilastras do Céu” conta que em
1868, uma unidade da Cavalaria sob o comando do Coronel Stedlow (Willis
Bouchey) recebe ordens de atravessar reservas indígenas situadas além de Snake
River, no Oregon, para construir um forte. O Coronel necessita para isso da ajuda do 1.º Sargento
Emmett Bell (Jeff Chandler), chefe da Polícia Índia que comanda um grupo de
batedores oriundos das tribos Nespers, Spokanes, Walla-Wallas, Kerdahlens e
Umatillas. Essas tribos mantiveram contato com o Dr. Joseph Holden (Ward Bond),
médico e missionário que converteu muitos índios ao cristianismo, batizando-os
com nomes bíblicos. Há, no entanto, uma dissidência entre os nativos que
comandados pelo chefe Kamiakin (Michael Ansara) não aceita o processo de
aculturação. Kamiakin é contra a presença do Exército nas terras que lhes foram
destinadas por Tratado. O Sargento Bell descobre que duas mulheres brancas –
Calla Gaxton (Dorothy Malone) e Anne Avery (Olive Carey) – são prisioneiras de
Kamiakin e se dispõe a resgatá-las. Calla é esposa do Capitão Tom Gaxton (Keith
Andes), desafeto do Sargento Bell porque Calla, antes de se casar com Gaxton,
manteve um romance com Bell. Resgatadas as duas mulheres, as hostilidades entre
soldados e índios recrudescem culminando em ataques dos indígenas. Acreditando
que os índios convertidos darão atenção a suas palavras, o Dr. Holden tenta
dialogar com os chefes das tribos, mas é morto por Kamiakin. Este, por sua vez
é alvejado mortalmente pelo chefe Zachariah (Frank DeKova). Comovidos por um
discurso pacífico do Sargento Bell, os demais índios aceitam a paz e restabelecem
o contato com a religião para a qual haviam sido convertidos.
Jeff Chandler e Sidney Chaplin; à direita Chandler, Philip Kieffer Keith Andes e Willis Bouchey tendo ao fundo cenário de estúdio. |
A prática
da aculturação - Entre os tantos westerns que trataram dos conflitos entre
brancos e índios com a Cavalaria utilizando a força desta como persuasão,
“Pilastras do Céu” é original por se aprofundar na questão da doutrinação dos
nativos. Ainda que não com a intenção
deliberada do missionário de aculturar os índios para facilitar a tomada de suas terras, o
filme de George Marshall mostra como os selvagens convertidos tornam-se presas
mais fáceis dos interesses de Washington. O missionário Dr. Holden quer levar a
palavra de (seu) Deus aos índios e consegue que eles adotem novos costumes e
troquem seus próprios nomes pelos atraentes nomes de personagens bíblicos
(Isaías, Lucas, Zacarias, Timóteo, José, etc.). Contrário a essa política, o bravo
Kamiakin rejeita a absorção dos costumes dos brancos, bem como sua religião. Timothy,
um índio Nesper aculturado e que serve ao Exército como batedor, lembra a
Kamiakin que ele próprio aceita a mudança na medida em que utiliza rifle fabricado por homens brancos ao invés do arco e flecha criados por seus
ancestrais. Kamiakin responde que viverá “como me ensinaram os antigos e que se
minha tribo perecer, que pereça na batalha e não engolida no ventre de outro
povo”. O pensamento de Kamiakin é compartilhado por outros chefes que percebem
que aos poucos seus bravos perdem a própria identificação cultural. Por seu
lado, o missionário acredita que a conversão ao cristianismo é necessária para
a salvação do gentio nativo. Para Washington só importa a colonização das
terras ainda que para isso tribos sejam aculturadas ou dizimadas se preciso.
Michael Ansara ladeado por Pat Hogan e Felix Noriego. |
Dorothy Malone e Jeff Chandler; Ward Bond e Jeff Chandler. |
Romance
reprovado - Esse tema controverso e pouco atrativo para os
fãs de westerns de ação, mesmo nos anos 50, necessita dos ingredientes comuns aos filmes
do gênero e desponta então a figura do insubordinado, beberrão, mas corajoso e
íntegro Sargento Emmett Bell, no melhor estilo hollywoodiano. E “Pilastras do
Céu” se desenvolve com um pouco convincente triângulo amoroso entre o Capitão
Graxton, sua esposa Calla e o Sargento Bell, que se embriaga para esquecer a dor de
ter sido preterido por Calla. Mas como resistir a um homem como esse Sargento e
aos seus cabelos grisalhos? Eis que Calla revela que o amor por Bell continua
vivo e ninguém melhor para externar uma paixão ardorosa que Dorothy Malone que
vive um único momento abrasador com o amado Sargento Bell. Mesmo o marido de
Calla se dá por vencido e o único a reprovar o romance vivido sob o luar das
montanhas é o Doutor Holden, com Ward Bond repetindo a antológica expressão de
repúdio da inesquecível sequência entre John Wayne e Martha Scott em “Rastros de Ódio” (The Searchers). Bond
acabara de interpretar o Reverendo-Capitão Clayton na obra-prima de John Ford.
Uma pena que o roteiro tenha optado pelo ineperado refluxo da paixão de Calla e esta
volte para os braços do frouxo marido, final menos feliz que se o Capitão Graxton tivesse morrido em combate e Calla ficado com o Sargento Bell.
Dorthy Malone seduzindo Jeff Chandler. |
Lee Marvin ferido por uma lança; abaixo atendido por Dorothy Malone, Ward Bond, Jeff Chandler e Charles Horvath. |
Realísticas
cenas de batalha - Se a primeira metade de “Pilastras
do Céu” é bastante dialogada, ainda que cumpra a intenção de discutir o
doloroso processo de aculturação, é na metade final que George Marshall demonstra
sua habilidade. As excelentes sequências de perseguição e batalha culminam com
o ataque liderado por Kamiakin à construção que servia como igreja e
transformada em hospital para atendimento dos feridos. Flechas incendiárias são
lançadas contra o local, lembrando a estratégia utilizada em “A Fera do Forte
Bravo” (Escape from Fort Bravo), de John Sturges, filme de 1953. Excelentemente
filmado com belíssimo trabalho dos stuntmen, não falta realismo às cenas de
batalha, especialmente na morte do Sargento Carry (Lee Marvin). Herói de
guerra na vida real, ferido nas costas em combate, Marvin praticamente repete o que viveu
como soldado, apenas que desta vez ferido por uma lança índia. O final
de “Pilastras do Céu” tem os índios aceitando a imposição dos brancos, eles que
astutamente incluíram uma claúsula no Tratado (em letras miúdas, segundo o
Sargento Bell), que lhes permite transitar pelas reservas. E Hollywood mostra
sua força com a derradeira sequência com o redimido Sargento substituindo o
missionário e levando a palavra de Deus para os índios, agora misturados com os
brancos sobreviventes da batalha.
As flechas incendiárias atingindo a casa de madeira. |
Charles Horvath (acima); Ward Bond (abaixo). |
Jeff
Chandler em grande forma - Jeff Chandler se impõe pela presença
máscula e Dorothy Malone parece constrangida com a brusca mudança de seu papel.
Marca, no entanto, sua presença como mulher fatal na única sequência em que o
filme permite que ela demonstre ser imbatível como abrasadora e provocante
mulher. Ward Bond ótimo como sempre, dirigindo carroção como o faria na série “Caravana”
nos anos seguintes e sendo inacreditavelmente carregado por Jeff Chandler. Alto
e corpulento, Ward Bond certamente era mais pesado que Chandler, que demonstrou
estar em grande forma física transportando-o em longa caminhada. Lee Marvin desperdiçado
num personagem irrelevante, ao contrário de Charles Horvath (Sargento Dutch),
provavelmente no melhor e maior papel de sua carreira. Sidney Chaplin (filho do
grade Carlitos) está bem como índio convertido e Michael Ansara pela enésima
vez é um chefe rebelde. Entre os muitos rostos conhecidos estão os de Willis Bouchey,
Pat Hogan, Martin Milner e Albert Morin. Uma curiosidade: assim como Ward Bond,
que acabara de retornar do Monument Valley após participar de “Rastros de Ódio”,
no elenco estão também Walter Coy, Olive Carey e Beulah Archuletta que igualmente
estiveram no filme de John Ford. O primeiro filme dirigido por George Marshall foi
“Across the Rio Grande”, em 1916, cuja atriz principal foi ninguém menos que
Olive Carey, ainda usando o nome de batismo ‘Olive Golden’, ela que em 1920 se
tornaria a senhora Harry Carey.
Chandler e Bond; Jeff carregando o pesado Ward Bond. |
George Marshall |
Western
superior – Filmado em Cinemascope e Technicolor nas extasiantes
paisagens do Oregon brilhantemente captadas pelo cinegrafista russo Harold
Lipstein, “Pilastras do Céu” tem apropriada trilha sonora de William Lava,
ainda que nos créditos iniciais do filme apareça o nome do onipresente Joseph Gershenson, diretor musical da Universal. Este é um pequeno
grande faroeste de George Marshall, filme que merece um status muito superior ao que
recebeu através do anos, e que vai, aos poucos, sendo redescoberto. Alinha-se entre
os melhores westerns que tratam da origem dos conflitos que geraram dezenas e
dezenas de aventuras do gênero, raros com igual brilho ao filme de Marshall.
Fotos para publicidade em situações que não ocorrem no filme. |
O belo pôster norte-americano e à direita um pôster europeu. |
Note-se que no pôster da direita o artista ousou mais na blusa de Dorothy Malone. |
E não é que aproveitaram uma foto de Jeff Chandler despido para atrair as fãs... Jeff Chandler era um dos mais queridos (pelas mulheres) atores dos anos 50. |
A cópia de "Pilastras do Céu" foi gentilmente cedida pelo cinéfilo Marcelo Cardoso.
Olá Darci, mais um diamante lapidado por você, pra nos mostrar importantes momentos em um grande filme, que passaria sem a devida atenção de muitos cinéfilos, por falta de uma boa propaganda, ou uma boa resenha como essa elaborada por você. E, com a grande participação do amigo Marcelo Cardoso, dono do citado Diamante, esse "Pilares do Céu " lhe repassando a cópia, para resenhá-lo . Ficarei à procura. Gosto de filmes com Jeff Chandler e, Dorothy Malone, e ainda Lee Marvin, mas, como você já adiantou, sem grande participação desse grande ator de filmes como ( O homem que Matou o Facínora e, Os profissionais ) e, outros. Parabéns amigo...Paulo, mineiro. Agradeço também, ao amigo Marcelo, que continue a mostrar esses grandes filmes para que tomemos conhecimento, através de suas resenhas. Parabéns, Macelo Cardoso.
ResponderExcluirOlá, Paulo - É, de fato, um belo western que devo ao Marcelo a oportunidade de ter assistido. Abraço do Darci.
ExcluirBelo western. Empolgante. Jeff Chandler em grande forma.
ResponderExcluirOlá, Antonio, grande blogueiro e conhecedor profundo do melhor cinema. - Abraço do Darci.
ExcluirAinda não vi esse! A Universal brasileira deixa muito a desejar no que se refere a lançamentos de clássicos! Uma pena pois têm um acervo muito rico! Bela publicação Darci! Grande Abraço!
ResponderExcluirJefferson, vale sim ver esse western. - Darci
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