28 de janeiro de 2015

RASTROS DE VINGANÇA (CROSSFIRE TRAIL) – TOM SELLECK, O FORASTEIRO JUSTO


Depois do extraordinário “Os Pistoleiros do Oeste” (Lonesome Dove), se torna obrigação assistir a westerns dirigidos por Simon Wincer. E se o astro do filme for Tom Selleck a obrigação é dupla, mesmo que o filme seja uma produção da TNT feita para exibição na televisão. Cada vez mais raros os westerns produzidos para o cinema, são sempre bem-vindos filmes e séries do gênero como ocorreu com “Anjos Assassinos” (Gettysburg) e “Deuses e Generais” (Gods and Generals), ambos da TNT e “Deadwood", da HBO. Tom Selleck ao lado de Kevin Costner e Sam Elliott formam o trio de atores que mais se identificaram com o gênero após Clint Eastwood ter dedicado seu último western “Os Imperdoáveis” (Unforgiven) a ‘Don and Sergio’. Ninguém suspeitou, mas a homenagem de Clint significou também seu adeus ao faroeste. Simon Wincer dirigiu em 2001 “Crossfire Trail”, que chegou ao Brasil como “Rastros de Vingança”, baseado em um dos muitos livros de Louis L’Amour. “Crossfire Trail” foi escrito em 1954, pouco depois de “Hondo”, outro livro de L’Amour levado às telas (no Brasil “Caminhos Ásperos”) e foi um dos livros que ajudaram L’Amour a vender um total de 250 milhões de exemplares de sua imensa obra composta de histórias sobre o Velho Oeste.


Virginia Madsen como a senhora Rodney;
 a campa do marido morto.
A viúva e seu rancho hipotecado - Com teleplay adaptado por Charles Robert Carner, “Rastros de Vingança” se inicia com Rafe Covington (Tom Selleck), em alto mar, fazendo uma promessa ao amigo Charles Rodney (Michael O’Shea) que está prestes a morrer. Uma não, duas promessas: ajudar a esposa Anne Rodney (Virginia Madsen) a resgatar seu rancho no Wyoming que está hipotecado e proteger a suave Anne. E Anne precisa mesmo de proteção pois Bruce Barkow (Mark Harmon), homem que manda e desmanda na região pretende se casar com ela e se apoderar do rancho pois sabe que há petróleo a ser explorado naquele lugar. Barkow desconhece que Charles Rodney morreu há um mês e meio e argumenta que Anne é viúva há mais de um ano pois seu marido teria sido morto por índios. Rafe Covington não teme o poder de Barkow e nem as intimidações de seus capangas, tanto que Barkow contrata o matador de aluguel Beau Dorn (Brad Johnson) para matar Rafe. Antes Barkow força o xerife-juiz de paz Moncrief (Barry Corbin) a casá-lo com Anne apesar da resistência desta. Beau Dorn mata J.T. Langston (Christian Kane), amigo de Rafe, mas este, ao lado do velho Joe Gill (Wilford Brimley) e do irlandês Mullaney (David O’Hara) companheiro de navio, enfrentam e vencem Barkow, Beau Dorn e os demais bandidos.

Mark Harmon como Bruce Brakow.
O bem vencendo o mal - “Rastros de Vingança” foi um enorme sucesso de audiência quando de sua primeira exibição na televisão norte-americana em 21 de janeiro de 2001. O público televisivo é, de certa forma, diferente do público que vai aos cinemas, este último mais afeito a experiências e linguagem cinematográfica menos convencionais. O filme de Wincer visou atingir o típico telespectador, aquele que quer assistir a um filme movimentado com história fácil de ser compreendida e acostumado com os inevitáveis cortes para as mensagens publicitárias. Nem por isso “Rastros de Vingança” deixa de ser um western agradável de ser visto, mesmo que a trama seja bastante previsível e a história transcorra dentro da fórmula tradicional ao gênero: forasteiro chega à cidade dominada por um rico e ambicioso mau caráter; o forasteiro toma as dores dos oprimidos; o vilão cercado de capangas contrata um pistoleiro de aluguel; ao final o bem vence o mal. E o trunfo maior deste western é a presença de Tom Selleck.

Tom Selleck como Rafe Covington.
Selleck: poderoso e invencível - Depois de livrar-se da imagem do detetive Thomas Magnum com sua Ferrari 308 GTS, Tom Selleck tentou diversos caminhos no cinema e na TV. Escondido atrás de seu vasto bigode Selleck fez filmes policiais, de guerra, aventuras, comédias, outras séries de TV, tendo declinado da oferta para interpretar Indiana Jones na primeira aventura do arqueólogo levada ao cinema por Steven Spielberg. No entanto foi com os westerns que Tom Selleck criou o que se costumou chamar nos Estados Unidos de personagem ‘bigger than life’ que poderia ser traduzido por poderoso e invencível. Selleck é quem mais se aproxima entre os atores de sua geração de John Wayne como persona cinematográfica. Nele não há traço de nenhuma vulnerabilidade, temor ou hesitação, além do físico privilegiado, da presença fortíssima e do excelente cavaleiro que Tom Selleck é. E o ator empresta essa sua imagem ao personagem Rafe (Raphael) Covington, criado por Louis L’amour.

Tom Selleck e Wilford Brimley a galope.

Selleck, cowboy de verdade.
A vida dos cowboys - As belíssimas paisagens de Calgary (Alberta, Canadá) lembram bastante os cenários do Wyoming, onde a história se desenvolve. E tomadas que mais parecem extasiantes pinturas, que no passado deslumbravam os espectadores, são hoje lugar comum e estão presentes em “Rastros de Vingança”. Este western se detém em alguns momentos para mostrar ao espectador a dureza da lida dos cowboys, atividade romântica apenas nas singelas canções imortalizadas por Gene Autry, Roy Rogers e o grupo The Sons of Pioneers. Os personagens de “Rastros de Vingança”, seguindo o padrão dos westerns das últimas décadas, aproximam-se nos detalhes das vestimentas usadas em 1880, quando se passa a história. E há ainda as armas, especialmente os rifles com miras telescópicas, quesito certamente supervisionado por Tom Selleck, apaixonado por armas de fogo e produtor executivo deste filme. Se a história propriamente dita não oferece maiores surpresas, o ritmo ditado por Simon Wincer não deixa o espectador ter sua atenção dispersada.

Cenas da vida de cowboy em "Rastros de Vingança".

Wilford Brimley
Ironias de um sidekick - As sequências de ação foram bem realizadas, ainda que o derradeiro tiroteio tenha se alongado um pouco. O personagem de Wilford Brimley, espécie de sidekick de Tom Selleck, não enxerga bem e, ao disparar contra o atirador contratado que está na torre da igreja, acerta inicialmente o sino. Na segunda tentativa acerta o cano do moderno rifle do pistoleiro, numa cena cuja graça maior é proporcionada exatamente pelo rotundo Brimley. E são dele também diálogos mordazes como quando Rafe Covington lhe diz “Hoje não era meu dia para morrer”, obtendo como resposta “O dia ainda não acabou...”. Em outra sequência o mesmo Joe Gill (Brimley) recusa proposta do vilão Barkow dizendo: “Você é tão falso quanto este whisky”. Voltando ao tiroteio final, são feitas referências a “A Face Oculta” (One-Eyed Jacks) e a “Matar ou Morrer” (High Noon), respectivamente com as mortes de Beau Dorn e Bruce Barkow.

Tom Selleck disparando contra Patrick Kilpatrick.

Tom Selleck
Filme de Tom Selleck - No exercício da crueldade, os vilões costumam ser cínicos e arrogantes, tendo com isso a chance de se destacar mais que o próprio herói. Mark Harmon é isso tudo, lembrando muito (fisionomicamente) Randolph Scott quando jovem. E sinistro e elegante como deve ser um pistoleiro vestido de preto, Brad Johnson assusta mesmo é com sua impressionante arma high-tech guardada no enorme porta-rifle. Wilford Brimley lembra bastante o estilo tranquilo e engraçado de Edgar Buchanan e como este se destaca nas sequências em que participa. A atriz Virginia Madsen, excelente amazona, quando exigida como nos maus tratos que sofre por parte de Mark Harmon, escapa do lugar comum de seu personagem. “Rastros de Vingança”, no entanto, é um filme de Tom Selleck, para alguns um canastrão, para a maioria a perfeita encarnação de um cowboy. E se “Rastros de Vingança” não repete “Os Pistoleiros do Oeste” é porque nem todo filme nasce para ser obra-prima.

Mark Harmon e sua semelhança com Randolph Scott; Virginia Madsen.

As armas da coleção de Tom Selleck usadas em "Rastros de Vingança";
no destaque uma Winchester Centennial 76.

Tom Selleck em ação.

Tom Selleck e Mark Harmon.

A inusitada sequência da destruição do rifle com mira telescópica.

Wilford Brimley com Tom Selleck.


2 comentários:

  1. Dos westerns recentes , este é de fato,um dos que mais gosto . Eu diria que está bem próximo de Pacto de Justiça ! Com disse o Darci , Selleck,Kostner e Elliot são 3 grandes astros amantes do gênero !!
    Filme com belas imagens e boas interpretações !!

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    1. Lau Shane, 'Contratado para Matar' é também muito bom. Urge rever 'The Sacketts', que é também baseado em L'Amour. - Darci

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