Lee Marvin como Kid Shelleen em "Cat Ballou" (Dívida de Sangue). |
Kirk Douglas foi o primeiro nome
imaginado para interpretar Kid Shelleen/Tim Strawn, os irmãos gêmeos de “Cat
Ballou” (Dívida de Sangue), papel duplo que acabou ficando para Lee Marvin.
Após ler o roteiro, Kirk Douglas respondeu que jamais arriscaria sua carreira
interpretando um personagem bizarro e desnorteado como Kid Shelleen. “Cat
Ballou” se transformou num dos mais bem sucedidos westerns-comédia do cinema e
catapultou Lee Marvin à condição de astro, ele que parecia fadado a ser um
eterno coadjuvante. De quebra Marvin ainda recebeu o Oscar de melhor ator de
1965, dizendo na premiação que deveria dividir o prêmio com seu cavalo no
filme. Kirk Douglas certamente se arrependeu bastante da decisão, ele que muitas
vezes deu aos personagens que interpretou um tom de irreverência. Antes de
passar a dirigir filmes, Hal Needham foi um ousado stuntman (dublê) com 56
ossos quebrados pelo corpo todo para comprovar seu destemor em cenas de perigo.
Needham dirigiu “Agarre-me se Puderes” (Smokey and the Bandit) e outros filmes
com Burt Reynolds e Sally Fields quebrando recordes de bilheteria e podendo
filmar o que quisesse. Hal Needham acreditou que poderia prosseguir sua trilha
de alucinadas correrias pelo Velho Oeste narrando as aventuras de um bandido atrapalhado
chamado Cactus Jack Slade. Para interpretar o incompetente fora-da-lei foi
convidado Kirk Douglas que, lembrando de “Cat Ballou”, aceitou sem pestanejar.
Afinal de contas o western-comédia estava em alta depois de “Banzé no Oeste”
(Blazing Saddles) levar multidões aos cinemas para rir com a comédia de Mel
Brooks filmada em 1974.
Cactus Jack na espreita; Handsome Stranger nem nota os atributos de Charming Jones. |
Vilão
desastrado - O novo filme de Hal Needham, realizado em 1979 recebeu o
título de “The Villain”, no Brasil “Cactus Jack, o Vilão” mostrando o bandido Cactus
Jack Slade (Kirk Douglas) que desastradamente assalta trens e rouba bancos e
conseguindo apenas acabar atrás das grades e o deboche de seu cavalo Whiskey . Ao contrário das montarias
inteligentes que o cinema sempre exibiu, Whiskey usa o privilegiado cérebro
para zombar de seu idiotizado dono, traindo-o assim que pode. Surge na
história a bela, sedutora e insaciável Charming Jones (Ann-Margret), filha de
Parody Jones (Strother Martin), que a mando do pai vai até a cidade de Snake
End fazer uma retirada de dinheiro do banco local. Na viagem de retorno feita
numa charrete, Charming recebe a escolta protetora de um cowboy forte e bonitão
chamado Handsome Stranger (Arnold Schwarzenegger). O dono do banco, o finório Avery Simpson
(Jack Elam), pretende recuperar o dinheiro e para isso contrata Cactus Jack
dando-lhe a oportunidade de se redimir de seus recentes fracassos como bandido.
Cactus Jack segue a dupla preparando incontáveis armadilhas para se apoderar do
dinheiro que a sequiosa Charming carrega em companhia do inocente e abobalhado Stranger.
Quando tudo indica que Cactus Jack se dará por vencido por sua incompetência, o vilão acaba ficando com Charming Jones pois Handsome Stranger é tão forte e elegante
quanto cândido, virtuoso e... virgem.
O cavalo de Cactus Jack empaca à espera do xerife e depois ri do dono. |
Inspiração
nos desenhos animados - A história de “Cactus Jack, o Vilão”,
se é que se pode dizer que há uma história, é pobre e sem inspiração para virar
filme. Isso quer dizer que Hal Needham teria que se apoiar menos no roteiro e
mais no possível talento de Kirk Douglas para a comédia interpretando o inepto
bandido na série de sketches do filme. As sequências remetem a situações
clássicas assistidas à exaustão por várias gerações, baseadas nos célebres
desenhos animados da Warner Bros., os Looney Tunes com Pernalonga (Bugs Bunny),
Papa-Léguas (Road Runner) e Coyote e o Pica-Pau (Woody Woodpecker) da
Universal. As mesmas correrias e perseguições têm como cenário agora o Velho
Oeste com personagens de carne e osso em lugar dos cartoons. “Cactus Jack, o
Vilão” é uma sucessão interminável e malfadada de cenas com o bandido colocando em perigo
Charming Jones e Handsome Stranger com um arsenal de ideias diabólicas de onde
saem cola, dinamite, corda, rocha gigante, tudo se voltando contra ele próprio.
E há ainda o cavalo Whiskey que relincha de felicidade e mostra os dentes satisfeito
a cada fracasso de seu dono Cactus Jack, cujos fiascos contam com a colaboração
do galhofeiro animal. Toda essa rotina não consegue provocar o riso pretendido
e não há Kirk Douglas que resolva, mesmo porque o grande ator não é lá tão engraçado. E para piorar há ainda a presença insípida de Arnold Schwarzenegger
que anos mais tarde se mostraria razoavelmente engraçado como irmão gêmeo de
Danny De Vito em “Twins”.
Os perigos vividos por Cactus Jack, para quem tudo dá errado. |
'I'll do it my way' - Em "Cat Ballou" a parte musical teve a última participação de Nat King Cole num filme e o grande cantor o fez de forma memorável. Em "Cactus Jack, o Vilão" há também narrativa da história com uma canção, mas nada que mereça maior registro. Por outro lado, ouve-se os acordes iniciais de "Sentimental Journey", canção imortalizada pela maravilhosa Doris Day, durante trajeto de charrete que fazem Charming Jones e Handsome Stranger. E Cactus Jack, em determinado momento, apesar de tantas infrutíferas tentativas de praticar o mal, diz, a la Sinatra, '...from now on I'll do it my way', essa sim, uma tirada inspirada.
Kirk Douglas como Cactus Jack Slade, o vilão mais esperto do Velho Oeste (há controvérsias...). |
Kirk
Douglas em grande forma física - Se algo faz valer à pena assistir
“Cactus Jack, o Vilão” é a presença voluptuosa de Ann-Margret que passa o filme
tentando seduzir o personagem de Schwarzenegger. Sensualíssima a atriz sueca de
nascimento enche a tela com seus olhares e risos irresistivelmente provocantes
e uma beleza e desejos lúbricos que só alguém com anabolizante até no cérebro
deixa de perceber. Além de Ann-Margret há algumas poucas sequências que no
roteiro pareciam ótimas, mas que na tela resultam em total falta de graça:
Handsome Stranger ‘salvando heroicamente’ o carro de bombeiros puxado a cavalos; o cacique
Alce Nervoso (Paul Lynde) liderando seus índios como se fosse um comandante da
Cavalaria; e a melhor das piadas com o desonesto banqueiro interpretado por
Jack Elam dizendo que não guarda seu dinheiro em seu próprio banco... Bem que
Kirk Douglas se esforça para ser engraçado e aos 62 anos de idade dá um show de
agilidade nas sequências de ação que satirizam os clichês dos faroestes. No
entanto Douglas fica longe da deliciosa espontaneidade que se viu em “Gigantes
em Luta” (The War Wagon). Jack Elam brilha como o banqueiro escroque e Strother
Martin não teve a mesma sorte para demonstrar que é também capaz de fazer rir.
O filme de Hal Needham foi tão mal nas bilheterias norte-americanas quando
lançado que optou-se por mudar o título para o mercado externo, passando de
“The Villain” para “Cactus Jack”, como se o problema deste western-comédia em
que nada deu certo fosse apenas questão de título.
A deliciosa Ann-Margret provocante em cada gesto e olhar. |
Sou suspeito para comentar sobre qualquer trabalho de Kirk Douglas , sou seu fan não só dele como de sua família , pessoas de muito talento , tudo que ele faz é sucesso garantido !!!
ResponderExcluirGrande abraço amigo Darci Fonseca
Joaquim
Olá, Joaquim
ResponderExcluirMuitos atores famosos têm, geralmente, três ou quatro filmes importantes em suas filmografias. Kirk Douglas possui, só no gênero western, pelo menos seis faroestes clássicos, descontados os mais fracos como esse Cactus Jack. Sem dúvida, um dos grandes atores de Hollywood de todos os tempos. Abraços do Darci Fonseca
Esse visão é o mesmo do Pica pau. Cidade de um cavalo só..
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