Testes para os westernmaníacos: 1) Quais
os três mais importantes westerns de 1969? É só forçar a memória e
lembrar de “Meu Ódio Será Sua Herança”, “Butch Cassidy e Sundance Kid” e
“Bravura Indômita”. O primeiro por ser um dos melhores filmes de todos os
tempos; o segundo por ter sido o faroeste de melhor bilheteria de todos os
tempos; o terceiro por ter sido o filme pelo qual recebeu um Oscar o maior
mocinho de todos os tempos. Segunda pergunta e bastante mais difícil: 2) Qual
o único ator que atuou nesses três filmes? Foi um ator meio baixo, com
cabelos quase sempre desgrenhados, olhar insano e voz de taquara rachada
formando um aspecto geral de sádico. Ele era Strother Martin, que um crítico
certa vez descreveu como um ‘Gabby Hayes sem nenhuma honra’.
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Strother Martin com Audie Murphy e Sandra Dee em "Antro de Desalmados"; com Denver Pyle de tapa-olho em "Marcha de Heróis", observados por Russell Simpson e Bing Russell. |
À
vontade nos faroestes - A estréia de Strother Martin como ator
se deu no clássico policial noir “O Segredo das Jóias”, em 1950, dirigido por
John Huston. Sob as ordens do mesmo Huston, em “Glória de um Covarde”, Strother
Martin participou pela primeira vez de um western em 1951 e esse seria o gênero
de filmes no qual marcaria sua carreira. Sempre em papéis pequenos, Martin foi
visto em “Rajadas de Ódio”, com Alan Ladd; “Redenção de um Covarde”, com Frank
Sinatra interpretando ‘Johnny Concho’; “O Chicote Negro”, com Hugh Marlowe; “Oeste
Selvagem”, com George Montgomery; “Como Nasce um Bravo”, com Glenn Ford. Em 1959
o nome Strother Martin apareceu pela primeira vez nos créditos de um western,
que foi “Antro de Desalmados”, estrelado por Audie Murphy. Nesse mesmo ano
Martin teve papel de destaque no western de John Ford “Marcha de Heróis”, numa
sequência engraçadíssima ao lado de Denver Pyle. A próxima participação de
Strother Martin num faroeste foi sob a direção de Sam Peckinpah, em “Parceiros
da Noite”. Peckinpah percebeu que aquele era um ator talhado para seus torturados
personagens do Velho Oeste e não esqueceu de Strother.
Com
Marvin e Van Cleef - Em 1962 Strother Martin ao lado de Lee
Van Cleef era um dos asseclas de Lee Marvin em “O Homem que Matou o facínora”, a
derradeira obra-prima de John Ford. No ano seguinte Strother teve que descer
alguns degraus e voltou a atuar com Audie Murphy em “Abatendo Um a Um”. Também
em 1963 Martin se reencontrou com John Wayne em “Quando um Homem é Homem”. Em
seguida atuou em “Convite a um Pistoleiro”, com Yul Brynner; e em “Shenandoah”,
com James Stewart. Já haviam ficado longe aqueles tempos em que Strother Martin
era apenas um coadjuvante pouco conhecido. Nunca faltava a Strother convites
para participar de boas produções, como “Os Filhos de Katie Elder”, outra vez
com John Wayne. Em 1966 Strother teve pequena participação em “Nevada Smith”,
com Steve McQuenn. Em seguida atuou num western cujo título brasileiro imitava
os absurdos títulos que eram moda entre os westerns-spaghettis: “Matarei Um por
Um... Na Hora certa”, mas não se deixe enganar pois era um faroeste
norte-americano estrelado por Pat Wayne e Slim Pickens e com fotografia a cargo
de Lucien Ballard. E chegou 1969, o melhor ano da carreira de Strother Martin
que teve a honra de ser, como foi dito acima, de ser o único ator a participar
de “Meu Ódio Será Sua Herança”, “Butch Cassidy e Sundance Kid” e “Bravura
Indômita”.
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Strother Martin na companhia dos facínoras Lee Marvin e Lee Van Cleef.
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Strother e o companheiro de outros filmes L.Q. Jones em "Meu Ódio Será Sua Herança". |
Coffer
e T.C. - De todas essas participações, foi como o esfarrapado
caçador de recompensas ‘Coffer’ que Strother Martin se tornou inesquecível ao
lado do companheiro L.Q. Jones (‘T.C.’), com quem espoliava os mortos em “Meu
Ódio Será Sua Herança”. Dirigido pelo mesmo Sam Peckinpah Strother Martin atuou
no triste e belo “A Morte Não Manda Recado”. Quase tão boa quanto a trinca de
bandidos de “O Homem que Matou o Facínora” foi a reunião de Ernest Borgnine,
Jack Elam e Strother Martin como os engraçados vilões de “Hannie Caulder”, no
qual os três certamente teriam trabalhado de graça só para estar ao lado da
protagonista Raquel Welch. O último encontro de Strother Martin com John Wayne
ocorreria em “Justiceiro Implacável”, western de 1975 com Katharine Hepburn
também no elenco. Outro derradeiro encontro de Strother Martin foi com Lee
Marvin em “No Oeste Muito Louco”, fracassada comédia-western que poucos
assistiram. E foi em “Cactus Jack, o Vilão” outro western-comédia que Martin se
despediu do gênero que o consagrou como um dos coadjuvantes preferidos de
Hollywood, desta vez secundando Kirk Douglas e Arnold Schwarzenegger.
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Ernest Borgnine, Jack Elam e Strother Martin juntinhos da maravilhosa Raquel Welch em "Hannie Caulder". |
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O atleta Strother Martin ao lado de uma colega nadadora; abaixo Strother em "O Segredo das Jóias". |
Quase um atleta olímpico - Strother Douglas Martin Jr. nasceu
em 26 de março de 1919, na cidade de Kokomo, Indiana, filho de uma família
humilde. Strother Senior, o pai, era um maquinista de trem que um dia levou
esposa e filhos para Indianápolis, onde Strother Jr. passou a infância e a
adolescência. Durante os estudos na George Washington High School, onde se graduou
em 1937, o jovem Strother se destacou na natação e nos saltos ornamentais, e
aos 17 anos foi o vencedor do National Junior Springboard Diving Championship.
Com a eclosão da II Guerra Mundial, Strother Martin foi convocado para ser
instrutor de natação no Exército de Tio Sam. Finda a guerra, Strother
conseguiu, graças às suas conquistas como esportista, uma matricula na
Universidade de Michigan, onde estudou oratória e arte dramática. Disputando por essa Universidade o National
Springboard Diving Championship, competição que reunia os melhores atletas de
saltos ornamentais norte-americanos. Strother terminou em terceiro lugar, perdendo
a vaga para os Jogos Olímpicos de Londres, em 1948. Mudando-se depois para a
Califórnia, Strother passou a viver da natação, sendo instrutor da atriz Marion
Davies e também dos filhos de Charles Chaplin. Esses contatos com gente do
cinema abriram as portas para Strother trabalhar como extra em cenas aquáticas
em diversos filmes, um deles em 1950 foi “Os Desgraçados não Choram”, com Joan
Crawford.
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Strother com o Dr. Zachary Smith (Jonathan Harris)
em episódio da série "Perdidos no Espaço". |
Presença constante na TV - Muito cedo em sua carreira Strother
Martin começou a atuar em filmes para a TV, fazendo comédias, policiais e,
claro, westerns. Tendo atuado em episódios nas principais séries westerns da
televisão, a única que contou com a presença regular de Strother Martin foi
“Hotel de Paree” (1959/60), estrelada por Earl Holliman. Strother interpretava
o dono de uma loja e participou de 29 dos 32 episódios da série. Das demais séries que participou, “Bonanza”
foi a que mais contou com a presença de Strother, o que ocorreu em nada menos
que cinco episódios. A presença inconfundível de Strother Martin esteve também
em séries mais amenas e divertidas como “I Love Lucy”, “The Doris Day Show” e “Perdidos
no Espaço”. Dos muitos filmes não-westerns que tiveram Strother Martin no
elenco, merecem ser lembrados por participações de mais de um minuto de
Strother: “A Morte num Beijo” (Ralph Meeker), “Morte sem Glória” (Jack Palance), “Felpudo, o Cão Feiticeiro”,
“Santuário” (Yves Montand), “O Magnífico Farsante” (George C, Scott), “O Olho
da Justiça” (James Stewart), “Lutador de Rua” e “Amor e Balas” (ambos com
Charles Bronson), “Queimando Tudo”, “Se Não me Mato, Morro” (Burt Reynolds), “O
Campeão’ (Jon Voight), “Terrores da Noite” (David Warner).
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Strother Martin, ator principal no horror movie "The Brotherhood of Satan". |
“Falha na comunicação” - Strother Martin foi ator principal
apenas em dois filmes e ambos filmes de horror produzidos para o cinema: “The
Brotherhood of Satan”, contracenando com L.Q. Jones; e em “Sssssss”, filmes
respectivamente de 1971 e 1973, ou seja, na esteira da fama adquirida com os
filmes de Sam Peckinpah. Como segundo nome do elenco Strother Martin foi visto
em “Tajna Nicole Tesle”, em que atuou ao lado de Orson Welles. Strother atuou
em seis filmes de John Wayne e também em cinco filmes de Paul Newman e esses
filmes foram: “O Cálice Sagrado” (1956), “Caçador de Aventuras” (1966), “Rebeldia
Indomável” (1967), “Butch Cassidy” (1969), “Meu Nome é Jim Kane” (de 1971 com
Lee Marvin ao lado de Newman) e o último que foi “Vale Tudo” (1977). Destes
filmes, sem dúvida o mais importante foi “Rebeldia Indomável”, filme passado
numa prisão com um homem lutando contra a brutalidade daquele sistema. Strother
Martin interpreta um sádico capitão, sendo dele a frase mais importante do
filme e que se bordão nacional: “O que nós temos aqui é uma falha de comunicação!”.
Essa frase é repetida em incontáveis situações nos estados Unidos e foi
considerada pelo American Film Institute a 11.ª entre as 100 Mais Importantes Frases
do Cinema Norte-Americano. O famoso grupo de rock Guns N’ Roses usou a frase na
canção “Civil War”, sucesso da banda.
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Strother como o sádico 'Capitão' de "Rebeldia Indomável", com Paul Newman; quase 40 anos depois a frase dita por Strother ainda é bordão nos EUA.
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Adorados tipos desprezíveis - Em 1966, aos 47 anos de idade,
Strother Martin casou-se com a atriz Helen Meisels que era dez anos mais velha
que ele. O casal viveu junto até a morte de Strother Martin, aos 61 anos, em
1980, vitimado por um ataque cardíaco. Helen sobreviveu ao marido por 17 anos,
vindo a falecer em 1997. Em sua casa Strother era a antítese dos tipos que
vivia na tela e cultivava flores, colecionava antiguidades e era apaixonado por
música clássica. Strother Martin se autodefinia como um ator com o andar de Bob
Hope e a voz de Shirley Temple com resfriado. Mas ele era muito mais que isso.
Em outro momento Strother afirmou que quando precisavam de alguém para
representar a escória do Velho Oeste ele era lembrado. Isso ocorria por ser Strother
Martin um ator que sublimava essa característica e mesmo interpretando os seres
mais desprezíveis, despertava nos espectadores uma inexplicável simpatia.
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Acima arte sobre foto de Strother Martin; Strother em início de carreira em "Morte Sem Glória" e em "A Morte Não Manda Recado"; abaixo Strother em cena de "Butch Cassidy" e um painel em sua homenagem em Los Angeles.
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darci mais uma aula o seu comentario o strother martin beijando a arma em "Meu Odio Sera Sua Herança e incrivel.
ResponderExcluirOlá, Sebá, bem-vindo ao Westerncinemania, você que é apaixonado por faroestes. - Darci.
ResponderExcluirLonge de ter o seu conhecimento em western, eu colocaria Strother Martin ao lado de Denver Pyle, Jack Elam, Woody Strode, Harry Carey, Ben Johnson entre outros grandes coadjuvantes do gênero.
ResponderExcluirÉ o típico ator que o público em geral (público antigo) conhece o rosto, mas não sabe o nome.
Abraço
Darci,
ResponderExcluirEu só faria um reparo ao seu texto, de boa qualidade. É que Glória de um Covarde não é um western, mas um filme de guerra. Um abraço.
Francisco Sobreira
Adoro ele... uma lenda!
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