Laudney 'Shane' Mioli, Rubens Ewald Filho e Darci Fonseca. |
Pardner –
Prazer em falar com você, Rubens, que é o mais querido crítico cinematográfico
do Brasil.
REF –
Obrigado pelo querido, mas no fundo eu
gosto mesmo é de ser amado. Mas a profissão não se presta a isso porque às
vezes a gente diz verdades desagradáveis às pessoas, mas eu sempre tento passar
uma mensagem de amor pelo cinema, paixão que não morreu, apesar de todos os embates
que a gente vê por aí.
Pardner –
Em um de seus livros você relacionou os 100 melhores filmes de todos os tempos
e nessa lista há quatro westerns (“Os
Brutos Também Amam”, “Matar ou Morrer”,
“Meu Ódio Será Sua Herança” e “Rastros de Ódio”), que são seus
preferidos. Gostaríamos que você lembrasse de outros westerns que você
considera como grandes westerns.
Shane / Alan Ladd |
Claire Trevor em "No Tempo das Diligências". |
REF – Tinha outra pessoa junto que não quis dar
entrevista, embora eu tenha conversado com ela, a Carroll Baker, com quem eu
conversei assim socialmente. Estava também a Claire Trevor que não podia dar
entrevista porque estava velhinha, velhinha, velhinha. A Claire Trevor é
maravilhosa, né? Essa era a maior de todas. Carroll Baker era meia-boca, não
era tudo isso, não. Eu adorei ter entrevistado os dois porque eles também eram
ídolos meus, principalmente por causa dessa história do John Ford. A gente vê
com muito eles, é engraçado... Eles tinham aquele elenco constante e acabavam virando
amigos da gente. Frank Capra tinha um pouco isso, aquela turma... Uma pessoa
que eu gostaria muito de entrevistar é Anna Lee, ela está viva ainda. Richard
Widmark está vivo também e eu gostaria de entrevistar. Ricardo Montalbán, que
eu entrevistei, é uma pessoa maravilhosa, super simpática e ele está com aquele
problema na perna... Na entrevista ele teve que subir uma escada, coitado... É
uma pena, ele está aleijado.
Pardner – E o Clint Eastwood?
REF
– O Clint, entrevista sozinho ele não dá. Eu participei de umas quatro
coletivas e ele é aquilo mesmo, muito calado, mas eu gosto muito dele.
Principalmente como mito. Como diretor ele é irregular. Ele é meio rapidinho,
às vezes acerta, às vezes não. Eu gosto muito dele como mito. Quem chegou aos
73 anos trabalhando como ator principal? Não tem... E ainda fazendo sucesso. É
uma sobrevivência extraordinária e uma coisa que a gente respeita.
Henry Brandon, o 'Cicatriz' de "Rastros de Ódio". |
REF
– Já ganhou!!! Já ganhou!!! Claro, né?!
Ele é o melhor. Se você me perguntar, seria ele. John Ford e “Rastros de Ódio”. E bem antes do “Shane” eu poria outros de John Ford.
Eu acho que ele é grande. O único filme fraco dele que eu lembro é “O Último
Hurra!”, que não deu certo. Mas isso é muito raro numa carreira enorme. Ele
acertou 98 por cento das vezes. E com uma simplicidade, com uma ternura, uma
humanidade. Um humor muito particular. O Howard Hawks é um cineasta que eu não
gostava muito, mas também em comparação com o que se faz hoje, cada vez eu
gosto mais. “Rio da Aventura” era um
filme que eu gostava muito, um preto e branco do Howard Hawks que é um grande diretor
considerando o que temos hoje e que eu não punha no meu patamar (dos melhores).
Eu já não gosto de “Eldorado”, que
eu acho meia boca. Nem de “Rio Lobo”.
Pardner –
Mas em compensação “Rio Bravo”...
REF – Pois é, “Rio Bravo”... mas eu não sei se os ‘Rios Bravos’ de John Ford não
são melhores... Outro cineasta que eu acho que resiste bem é Burt Kennedy, que
é um cara de ação, como em “Uma Cidade
Contra o Xerife”.
Pardner –
John Wayne é o nosso maior astro do faroeste...
REF – Ele é o maior astro... O Telecine está
passando muitos filmes dele. Ainda ontem eu estava vendo “Fúria no Alasca” que é um faroeste que não é faroeste, mas que é
muito bom. É de Henry Hathaway e eu estive com ele também. Ele era um velho mal
humorado... Eu almocei com Hathaway mas não gravei imagens, só almocei. Mas ele
era um cara tão mal humorado e que achava que tudo que ele fazia era bobagem e
que não tinha a menor importância. Falou que Gregory Peck era um bêbado que
caia bêbado nas filmagens.
Pardner –
Você acha que Hathaway era um diretor injustiçado?
REF – Exatamente. Por isso eu quis conhecê-lo. Mas
eu fui com uma senhora me acompanhando e ele deu a maior bola para a senhora e
mal me respondeu...
Mercedes McCambridge ladeada por Frank Ferguson e Ward Bond em "Johnny Guitar". |
REF – Hi... Não está entre os meus preferidos,
não. Eu vi várias vezes. Os franceses acham uma maravilha, mas eu nunca consegui
achar, embora eu entenda, Joan Crawford, Mercedes McCambridge, o duelo... Os
filmes do Nicholas Ray têm um enquadramento muito especial que perdem muito sem
o widescreem, se não for Cinemascope. Mas o “Johnny Guitar” nunca conseguiu me atingir. Estou vendo aqui (folheando
a revista PARDNER n.º 21) alguns filmes
que eu gosto muito... “O Matador”
vai passar agora no Telecine e eu acho esse filme excelente! Eu acho ele muito
bom. “Minha Vontade é Lei”, que é um
bom faroeste eu tenho visto ele em vários momentos. “O Preço de um Homem”, do Anthony Mann, que eu já tinha falado. “Consciências Mortas”, que é um filme mais
de tese, do William Wellman, que é outro bom diretor e que também é pouco
falado. É dele “Caravana das Mulheres”,
aquele com Robert Taylor, outro que também eu gosto muito.
REF - Na primeira oportunidade eu vou visitar
vocês. Eu fico muito honrado porque, se vale alguma coisa, alguma homenagem, é
vinda de vocês que são, literalmente, membros do mesmo clube, sócios do meu
clube, que são as pessoas que gostam de cinema, dos fãs de cinema. O resto é meio
bobagem, sucesso, fama, tudo isso é passageiro. O que vale mesmo é o respeito, a
amizade de pessoas que gostam da mesma coisa que eu que é o cinema. Para mim
isso é super importante, muito mais do que vocês podem imaginar. Obrigado e um
abração pra vocês.
Nota do editor – Por ocasião desta
entrevista Rubens Ewald Filho era o responsável pela programação dos canais por
assinatura da Rede Telecine, com ênfase no Telecine Classic, hoje Telecine
Cult.
Darci, obrigado pela transcrição da entrevista com o Rubens. Adorei, valeu mesmo! Era tudo que eu queria!
ResponderExcluirAproveitando a foto do Johnny Guitar, você já repareu como o Frank Ferguson e o Hank Worden aparecem em dezenas de faroestes, mas quase sempre apenas alguns segundinhos? Por que será? Será que é por causa da idade? (Mas o Frank não era tão velho assim...). Fico pensando se eles se sujeitavam a isso só prá conseguir pagar o jantar, coitados...
Esqueci de assinar a mensagem acima.
ExcluirAbraços
José Tadeu
Olá, José Tadeu - De fato, Frank Ferguson e Hank Worden atuaram em grandes faroestes, quase sempre em pequenos papéis. Porém só a participação maior de Hank Worden em Rastros de Ódio compensou tudo. E em Johnny Guitar Frank Ferguson tem razoável destaque. O blog está devendo biografias desses dois atores a quem nunca faltou trabalho pelo grande número de filmes em que atuaram ao longo das carreiras. Hank Worden era da turma de John Ford e era muito amigo de JOhn Wayne que sempre lhe arrumava pequenos papéis em seus filmes.
ResponderExcluirJosé Tadeu, escreva, por favor, para darci.fonseca@yahoo.com.br
Um abraço do Darci
Aacabo de rever " Abutres Humanos" com Alan Ladd e Robert Preston e lá estava o Hank Worden mais uma vez !!!
ResponderExcluirComo na maioria das vezes,nada ou pouco falou !! É uma figura
interessante,que esteve em dezenas de westerns. Parece que estava sempre disponível nos "set" de filmagem .
Abraços !!!!!
Consultei rapidamente a filmografia de Hank Worden e vi que ele participou de mais de 230
ResponderExcluirfilmes,seriados,séries tv e outros. Imaginem,em
muitos deles não foi creditada a participação !!
Acho que é um recordista,se esta informação não estiver errada !! Que coisa !!!! Vale a pena
se aprofundar nesta biografia !!Abraços !!
Lau Shane - Em 1994 publiquei na revista Mocinhos e Bandidos uma matéria intitulada "Alguém Lembra de Hank Worden? Pois Clint Eastwood lembrou". Acredito que tenha sido a primeira vez no Brasil que Hank Worden tenha sido focalizado. Breve ele estará aqui no Westerncinemania.
ResponderExcluirO ator que mais apareceu em filmes foi Tom London, que trabalhou em 316 westerns, 102 filmes não-westerns e 48 seriados, num total de 466 aparições no cinema, inclusive em "Matar ou Morrer". Depois de Tom London vem Bud Osborne, que atuou em 384 westerns, 12 não-westerns e 35 seriado, totalizando 431 participações.
Você, no caso de Hank Worden, deve ter consultado o site IMDb, que inclui também trabalhos feitos para a televisão. Se contarmos os trabalhos feitos para a TV, Tom London chega a 630 filmes e Bud Osborne chega a 616, segundo a própria Internet Movie Database. Como se vê nunca faltou trabalho para esses característicos. - Um abraço do Darci.