Ao lado de Randolph Scott, Audie Murphy dominou a década de 50 com os muitos faroestes que estrelou. Nos anos 60 a
carreira de ator do maior herói norte-americano da II Guerra Mundial entrou em
declínio, assim como o próprio gênero western. “Quadrilha do Inferno” (Posse
from Hell), lançado em 1961 foi o 23.º faroeste de Audie Murphy e o primeiro da
década de 60, que seria a sua última como ator. E certamente nenhum fã de Audie
Murphy saiu decepcionado com este movimentado faroeste.
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Acima os bandidos Vic Morrow, Lee Van Cleef, Henry Wills e Charles Horvath; abaixo os sete homens liderados por Audie Murphy. |
Caçada a um violento bando - O diretor de “Quadrilha
do Inferno” foi Herbert Coleman, ex-produtor associado de Alfred Hitchcock de quem foi assistente de direção em alguns dos melhores filmes do Mestre do
Suspense, entre eles “Janela Indiscreta”, “O Homem que Sabia Demais” e “Um
Corpo que Cai”. Portanto muito podia se esperar do primeiro filme de Coleman
como diretor, justamente “Quadrilha do Inferno”, mesmo sendo um faroeste de
médio orçamento da Universal. O autor da história “Posse from Hell” era Clair
Huffaker, responsável também pelas histórias de “Estrela de Fogo” (Flaming
Star), “Gigantes em Luta” (The War Wagon) e “Rio Conchos”, bem como pelo
roteiro de “Os Comancheiros”, entre outros westerns. “Quadrilha do Inferno”
começa com a chegada à cidade de Paradise de quatro foragidos da Prisão de
Sedalla. Na curta permanência em Paradise, o quarteto mata a sangue frio
algumas pessoas, leva onze mil dólares do banco local e parte levando como
refém a jovem Helen Caldwell (Zohra Lampert). Antes ferem gravemente o xerife
da cidade. Recém chegado a Paradise, para atuar como assistente do xerife,
Banner Cole (Audie Murphy) se vê responsável pela perseguição e captura dos
assassinos, conseguindo somente seis homens dispostos a acompanhá-lo. Após uma
extenuante perseguição aos bandidos, com o grupo se reduzindo a Cole e
ao inexperiente Seymour Kern (John Saxon), o bando de facínoras é liquidado e Helen Caldwell
resgatada.
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Rodolfo Acosta e Royal Dano abaixo Paul Carr. |
O
bêbado, o índio, o exibicionista - “Quadrilha do Inferno” tem uma
história nada inovadora, mas destaca-se dos muitos faroestes de Audie Murphy por
seu enredo com inúmeras situações incomuns aos filmes do ator. O começo de “Quadrilha
do Inferno” é visivelmente inspirado na primeira longa sequência inicial de
“Onde Começa o Inferno”, diferenciando-se dela pela violência do bando
comandado por Crip (Vic Morrow). Ao tentar reunir um grupo de captura o western
de Coleman já demonstra a insólita intenção de discutir problemas sociais
comuns ao Velho Oeste. Uma delas é a rejeição a Banner Cole por parte dos
cidadãos acuados de Paradise, isto devido ao seu obscuro passado de pistoleiro.
O desprezo ao índio Johnny Caddo (Rodolfo Acosta) é expresso nas palavras de Billy (Royal
Dano), o bêbado da cidade, que se diz “tão útil quanto um índio”,
desqualificando Johnny Caddo. E ainda o desespero de Helen Caldwell que após
ser currada pelos quatro bandidos sabe que seu futuro será se tornar uma
prostituta. Paralelamente a essas situações há os estereotipados personagens Jock
Wiley (Paul Carr), jovem exibicionista com seu par de revólveres; o também jovem
assistente bancário Seymour Kern, vindo de Nova York e adaptando-se aos rigores
do Velho Oeste; o vingativo Burt Hogan (Frank Overton) que participa da caçada
apenas para se vingar de um dos bandidos, pretenso assassino de seu irmão.
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O janota a cavalo é John Saxon; o obtuso ex-capitão é Robert Keith. |
Psicologismos
a granel - Banner Cole tem profundo desprezo pelos seis homens que o
acompanham na caçada, dizendo a eles “Por que vocês não voltam? Nenhum de vocês
vale nada!” Essa frase exagerada deveria ser dita só à quase cômica figura de
Jeremiah Brown (Robert Keith), ex-capitão da Cavalaria do Exército e que se julga um expert táticas de abordagem. O pobre capitão provoca risos em cada
uma de suas desastradas sugestões. No entanto, no decorrer da perseguição Cole
descobre a nobreza do caráter do índio Johnny Caddo, bem como sua valentia e
experiência. O janota Seymour Kern é outro que se transforma durante a
jornada, passando a ganhar a simpatia do líder Cole. E mesmo a jovem violentada
acaba conquistando o amargo e ambíguo Cole cuja relação de amizade com o xerife
morto não é bem explicada. Cole diz ao moribundo xerife baleado pelo bandido
Crip, que irá atrás dos foras-da-lei “por amor a você”. Quanto a Seymour Kern
(John Saxon), Cole passa a estimá-lo a ponto de carregar nas costas o moço do
Leste por alguns quilômetros para lhe salvar a vida, valendo lembrar que Saxon tinha no mínimo o mesmo peso de Murphy. Poucos faroestes de Audie
Murphy refletiram antes sobre um conjunto de temas tão variados como “Quadrilha
do Inferno”, não lhe faltando sequer uma menção ao macarthismo do início da
década de 50.
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Uma das espetaculares mortes do filme; Zohra Lampert; Allan Lane com bigode sendo olhado por Rodolfo Acosta.
Rocky Lane fica em cena por 20 segundos. |
'Estilo
Elvis' de interpretar - À parte suas intenções sociais e
psicológicas, “Quadrilha do Inferno” vale mesmo por ser um filme tenso e com
muitos momentos de excelente ação, filme enriquecido por um ótimo elenco de
apoio. Algumas das mortes são quase tão impactantes quanto a de ‘Stonewall Torrey’
(Elisha Cook Jr.) em “Os Brutos Também Amam”, com corpos literalmente voando
pelo efeito dos tiros das espingardas de grosso calibre. As alternâncias entre
caçadores e caçados é inquietante e a sucessão de mortes deixa o espectador em
suspense quanto ao final. E se há algo que Audie Murphy sabia fazer era comportar-se
como valente personagem, espécie de compensação à sua limitação como ator. E
não é que Murphy encontra em “Quadrilha do Inferno” uma leading-lady à altura
em Zohra Lampert. A técnica de interpretação dessa atriz lembra a todo momento a técnica de Elvis
Presley, com quem ela até se parece um pouco. Há, porém, a compensação dos
excelentes coadjuvantes Ray Teal, Robert Keith, Royal Dano. Os fãs de Rocky Lane
devem se contentar com os exatos 20 segundos em que o querido mocinho surge na tela
com o rosto encoberto por um vasto bigode, recebendo dois balaços disparados pelo psicótico Crip.
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Vic Morrow matando; Lee Van Cleef morrendo. |
O
sumiço dos bandidos - “Quadrilha do Inferno” passa longe
de ser um grande filme devido a ter um script onde convivem frases ótimas e
outras sem nenhuma inspiração. Some-se ao roteiro desigual o incrível não
aprofundamento da presença dos quatro bandidos que após cinco minutos de filme
só reaparecem para serem mortos. E entre os bandidos estão nada menos que Vic Morrow, sempre
tentando ser Marlon Brando; outro bandido é Lee Van Cleef implorando piedade
para não morrer como o fizera antes em “Estigma da Crueladade”. Completam o
quarteto, sem maiores chances, Henry Wills e Charles Horvath. Quem se aproveita
do vazio de interpretações é Rodolfo Acosta em um de seus melhores momentos em
um faroeste, melhores justamente por serrm mais amplos. E destaque também para
John Saxon que se sai razoavelmente bem como o novaiorquino que faz um
intensivo e engraçado aprendizado da vida do Velho Oeste. O espectador vai
reconhecer a região onde “Quadrilha do Inferno” foi filmado, esperando a todo
momento que surja Randolph Scott que tanto cavalgou por Alabama Hills, na
Califórnia, onde o filme de Coleman foi rodado, com cenas também nas Dunas de Olancha,
também na Califórnia. E, claro que por economia, as cenas noturnas foram todas elas
rodadas em disfarçados cenários de estúdio. Por economia também, a trilha
sonora é uma colcha de retalhos dos estoques da Universal, com peças compostas
por diversos maestros (entre eles Henry Mancini) para outros filmes. “Quadrilha
do Inferno” é, sem dúvida, um dos cinco melhores westerns de Audie Murphy.
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A amizade de Audie Murphy e John Saxon, aumentando gradativamente.
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O mocinho Audie Murphy; os melhores do filme, Rodolfo Acosta e John Saxon; uma cena comum aos faroestes depois de "Shane". |
Prezado Darci,
ResponderExcluirConsidero “A Quadrilha do Inferno” (Posse from Hell) um dos melhores westerns de Audie Murphy, inclusive as atuações do elenco suporte, incluído a mocinha Zorah Lampert, elevam a produção acima da média dos filmes B.
Audie Murphy, como atestado pelos “stuntmen” que trabalharam com ele em diversos filmes, nunca usava substitutos nas cenas de ação, era imbatível nas lutas corporais e desconhecia o tamanho do oponente.
O autor William Honner em entrevista com Lee Van Cleef para o seu livro “Bad At The Bijou” , fez elogios à sua performance no filme “A Quadrilha no Inferno” (Posse From Hell) em seguida Van Cleef respondeu “Eu detesto aquele filme, por alguma razão. Eu não sei exatamente porque, mas todas as vezes que ele é exibido na TV desligo de imediato. Nunca vi o filme”.
A explicação mais provável é que após as filmagens de “O Homem que Luta So” (Ride Lonesome) quando Van Cleef se deslocava de Lone Pine para Los Angeles, sofreu acidente de automóvel e sua perna direita quase ficou sem movimento fazendo com que ele perdesse alguns convites e logo em seguida se divorciou da mulher, ficando desempregado e começou a beber. Lee Van Cleef reergueu-se quando foi contratado por Sergio Leone.
Sobre Allan “Rocky” Lane o produtor Gordon Kay conta ao autor Boyd Magers que Audie Murphy era amigo de Lane e pediu para Kay usá-lo em “A Quadrilha do Inferno” então Kay disse para Murphy: “Allan é um problema, vive sempre envolvendo o assistente do diretor e eu não gosto disso, mas vou usá-lo”. Continuando diz: “ Porém, quando Allan chegou para filmar a sua parte, foi logo perguntando onde ficava o seu camarim . Voltei-me para ele e disse Allan deixe disso, você não está na Republic e, também, não é mais um astro. Só assim, Lane comportou-se e fez sua parte”.
Mario Peixoto Alves
Olá Mário - Quando da filmagem de Quadrilha do Inferno,Allan Rocky Lane devia estar numa situação tão difícil que certamente não cabia fazer nenhuma exigência. Acredito que deva ter recebido pela escala do sindicato dos atores e sua presença em cena foi de 20 segundos. Entrou no saloon e levou um tiro, o que é melancólico para quem tanto o admirou como os milhões de fãs de suas séries da Republic. Só discordo de você quanto a Zohra Lampert, cuja atuação não gostei. - Um abraço do Darci
ResponderExcluirgostaria de baixar este filme e outros c/audie murphy
ResponderExcluirÓtimo filme
ResponderExcluirDepois de 13 anos revi hoje esse muito bom faroeste com um dos reis do gênero!
ResponderExcluirCleef aparece bem pouco, mesmo para coadjuvante, e Lone Pine embelezando como sempre todo e qq filme!
Meu ranking atual dos 32 filmes que vi com ele até agora:
TOPS – 9 --------------------------
COM O DEDO NO GATILHO
A RONDA DA VINGANÇA
ABATENDO UM A UM
MATAR POR DEVER
TRAIÇÃO CRUEL
TAMBORES DA MORTE
BALAS PARA UM BANDIDO
NA ROTA DOS PRÓSCRITOS
A PASSAGEM DA NOITE
MUITO BONS – 22-----------------------
O BANDOLEIRO TEMERÁRIO / O TEXANO
O PISTOLEIRO RELAMPAGO
GATILHOS EM DUELO
DUELO SANGRENTO
RIFLES DA DESFORRA
BALAS QUE NÃO ERRAM
A MORTE TEM SEU PREÇO
ANTRO DA PERDIÇÃO
ONDE IMPERA A TRAIÇÃO
MATAR OU CAIR
HONRA DE SELVAGENS
O RENEGADO DO FORTE PETTICOAT
ANTRO DE DESALMADOS
OS CAVALEIROS DA BANDEIRA NEGRA
BANDOLEIROS DO ARIZONA
JORNADA SANGRENTA
SERRAS SANGRENTAS
BATALHA EM RIACHO COMANCHE / FÚRIA DE BRUTOS
UM HOMEM CONTRA O DESTINO / À SOMBRA DO MAL
RIFLES APACHES
QUADRILHA DO INFERNO
O ÚLTIMO DUELO
BONS – 1-------------------
A GLÓRIA DE UM COVARDE