19 de setembro de 2012

QUADRILHAS DOS FAROESTES (XI) – BURL IVES E A QUADRILHA MALDITA


Na produção de “A Quadrilha Maldita” (Day of the Outlaw) a United Artists destinou a maior parte do orçamento do filme para as difíceis locações em pleno inverno em Mount Bachelor, no Oregon. No elenco de “A Quadrilha Maldita” não há nenhuma grande estrela de Hollywood, ainda que ninguém tenha dúvidas quanto ao talento de Robert Ryan e de Burl Ives. Quando assinou o contrato para atuar neste faroeste de André De Toth, o rotundo folksinger Burl Ives ainda não havia sido premiado com o Oscar por sua destacada atuação em “Da Terra Nascem os Homens”. Tanto Ives quanto Ryan eram atores relativamente baratos, recebendo por filme menos que a décima parte do milhão de dólares que já cobravam em 1959 William Holden e Elizabeth Taylor para atuar em um filme. O restante do elenco de “A Quadrilha Maldita” é igualmente composto por atores pouco conhecidos. No entanto isso não impediu que o bando de seis homens maus chefiado por Burl Ives (Captain Jack Bruhn) nesse faroeste se tornasse bastante lembrado pelo horror que faz a população da pequena cidade de Bitter passar. Burl Ives é o mais conhecido, mas Jack Lambert (Tex), Lance Fuller (Pace), David Nelson (Gene), Frank De Kova (Cheyenne Denver), Paul Wexler (Vause) e Jack Woody (Shorty) merecem ser apresentados nesta seção ‘Grandes Quadrilhas dos westerns’.

Burl Ives
Burl Ives – Nascido em 1909 em Illinois, com o nome de Burle Icle Ivanhoe Ives, desde jovem Burl Ives mostrou propensão para a música, aprendendo a tocar banjo. Com 21 anos já se apresentava nas rádios norte-americanas, tornando-se popular como cantor de canções folclóricas. Seu talento parecia proporcional a seu tamanho e Burl Ives logo passou a fazer cinema e teatro. Em 1952 o grande sucesso da Broadway era “Paint Your Wagon”, levado ao cinema anos depois como “Os Aventureiros do Ouro”. Claro que Burl Ives interpretava o mineirador ‘Ben Runson’, que no cinema foi vivido por Lee Marvin. Mas seu maior sucesso no teatro foi como ‘Big Daddy’ na montagem “Gata em Teto de Zinco Quente”, que teve 694 apresentações. No cinema Ives havia estreado em 1946, no filme “Smoky”, com Fred MacMurray. Atuou depois em “Serras Sangrentas”, um dos primeiros faroestes de Audie Murphy, ficando depois cinco anos sem fazer um filme por razões políticas. Burl Ives foi um dos acusados de simpatizar com os comunistas e teve que depor diante do Comitê de Atividades Anti-Americanas. Em seu depoimento Ives denunciou para a comissão o nome de Pete Seeger, cantor folk como ele. As portas de Hollywood acabaram fechadas para Burl Ives que só voltou ao cinema pelas mãos de Elia Kazan em “Vidas Amargas”. Ives repetiu na tela seu papel em “Gata em Teto de Zinco Quente”, em 1958, mesmo ano em que impressionou crítica e público com sua atuação em “Da Terra Nascem os Homens”, que lhe valeu um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, levando para casa também um Golden Globe por esse western. Curiosamente, a carreira como ator de Burl Ives não prosseguiu com a mesma força e seu melhor trabalho após aquelas premiações foi em “A Quadrilha Maldita”, filmado quando Ives tinha 50 anos de idade. Nas três últimas décadas de sua vida Ives dedicou-se mais à carreira de cantor, sempre como grande vendedor de álbuns com canções folclóricas. Mas Burl cantava e bem qualquer tipo de música, como comprova sua maravilhosa interpretação de “Mexicali Rose”, que deve ter deixado Gene Autry morto de inveja. Burl Ives era um inveterado apreciador de charutos, o que lhe custou um câncer na boca que o levou à morte em 14 de abril de 1995, em sua casa em Anacortes, em Washington.

Jack Lambert
Jack Lambert – Ninguém se esquece de “Os Assassinos”, de 1946, filme noir que revelou Burt Lancaster e Ava Gardner. Mas a fisionomia do ator coadjuvante que interpretou o gângster ‘Dum-Dum’ Clarke jamais foi esquecida. Feio, olhos esticados como se fosse mestiço oriental, queixo quadrado, esse conjunto formava a imagem de um perfeito facínora. Esse ator era Jack Lambert, descendente de escoceses e nascido em Nova York em 1920. Lambert estudou para ser Professor de Língua Inglesa, mas alunos e amigos lhe disseram que com aquele ar assustador de homem mau, ele deveria tentar a sorte no cinema. Foi o que Lambert fez e após algumas pontas foi notado como um dos bandidos de “Rua dos Conflitos” (Abilene Town), de 1946, estrelado por Randolph Scott e com uma jovem atriz chamada Rhonda Fleming também no elenco. A partir daí, por dezenas de vezes, Jack Lambert interpretou invariavelmente homens maus em filmes policiais e em westerns. Lambert esteve no elenco dos policiais “Força do Mal” (John Garfield), “Rastros do Inferno” (Robert Ryan), “Até o Céu tem Limites” (Alan Ladd), “Um Preço para cada Crime” (Humphrey Bogart), “A Morte num Beijo” (Ralph Meeker), “Dominados pelo Ódio” (Charles Bronson) e “A Bela do Bas-Fond” (Robert Taylor). Entre os melhores westerns em que Jack Lambert atuou estão “A Filha da Foragida”, “A Bela Lil” e “O Rio dos Homens Maus” (todos com George Montgomery), “E o Sangue Semeou a Terra” (James Stewart), “A Bela Bandida” (Jane Russell), “Vera Cruz”, “Punido pelo Próprio Sangue” (Richard Widmark) e “A Conquista do Oeste”. “Os Quatro Heróis do Texas” (Dean Martin), em 1963 foi o último filme de Jack Lambert que continuou atuando por algum tempo na televisão.  A impressionante caracterização de Klaus Kinski como ‘Loco’ em “O Grande Silêncio”, certamente deve muito ao ‘Tex’ de Jack Lambert em “A Quadrilha do Inferno”. Lambert faleceu em 18 de fevereiro de 2000 de complicações cardíacas, num hospital na cidade de Carmel, onde residia. Lambert era viúvo e morava com seu filho.

Lance Fuller
Lance Fuller – Alguns atores têm tudo para dar certo em suas carreiras mas no entanto não conseguem o sucesso esperado. Foi o que aconteceu com Lance Fuller que aos 15 anos estreava no cinema em “Frankenstein Encontra Lobisomem”, com Bela Lugosi e Lon Chaney Jr., filme de 1943. Seu próximo filme deveria ser “Virtude Selvagem” (com Gregory Peck), mas o filme demorou a ser iniciado e Lance Fuller, então com 17 anos estava velho demais para o papel que ficou com Claude Jarman Jr. De ascendência francesa, inglesa e cherokee, Lance Fuller nasceu em Somerset, Kentucky, em 1928 e ainda adolescente teve pequenas participações em filmes importantes como “Uma Aventura na Martinica” (com Humphrey Bogart), “Tudo por uma Mulher” (com Gary Cooper) e “Almas Perversas” (com Edward G. Robinson). Ao tornar-se adulto Lance Fuller fez diversos faroestes enquanto aguardava a grande oportunidade de sua carreira. Entre esses faroestes estão “A Grande Audácia” (Jeff Chandler), “Herança Sagrada” (Rock Hudson), “Marcados pela Violência” (Richard Egan) e “Montana, Terra do Ódio” (Barbara Stanwyck). Lance Fuller fez um dos papéis principais nos westerns “Apache Woman” (de Roger Corman), “Kentucky Rifle” (com Chill Wills) e “Frontier Woman”, todas produções baratas mas que ajudaram a tornar Lance Fuller mais conhecido, especialmente pela sua boa pinta. O problema é que ele era chamado apenas para filmes B, muitos deles sci-fi ou terror, como “Guerra entre Planetas” e “The She-Creature”. Em 1958 Lance Fuller conseguiu um bom papel em “O Pequeno Rincão de Deus”, de Anthony Mann (com Robert Ryan) e no ano seguinte ocorreu sua participação em “A Quadrilha Maldita”. Depois desses filmes Lance Fuller passou a encontrar trabalho mais na televisão e nos poucos filmes que fez, como “O Enigma de Andrômeda”, sequer foi creditado. A última participação de Lance Fuller no cinema foi em 1975, no drama “Crime e Paixão” (com Burt Reynolds), após o que abandonou a carreira de ator. Lance Fuller foi casado por um ano e meio com a escultural Joi Lansing, uma das rivais de Marilyn Monroe em início de carreira. Lance Fuller faleceu em Los Angeles aos 73 anos, em 2001, após longa enfermidade.

David Nelson
David Nelson – Filho dos conhecidos Harriet e Ozzie Nelson e irmão mais velho de Ricky Nelson, David Nelson nasceu em Nova York em 1936. Aos 16 anos David estreava no programa “As Aventuras de Ozzie e Harriet”, enorme sucesso na televisão norte-americana, série na qual atuavam os pais e o irmão Ricky, então com 12 anos. A série durou 14 temporadas tendo um total de 435 episódios. Conhecido em todo país devido a essa série de TV, David Nelson fez parte do elenco de “A Caldeira do Diabo”, melodrama de grande sucesso filmado em 1957, com Lana Turner. A presença de David Nelson e da também jovem Venetia Stevenson no elenco de “A Quadrilha Maldita” certamente foi mais para atrair o público jovem. Venetia foi casada com Russ Tamblyn e posteriormente com Don Everly, um dos The Everly Brothers. David nunca levou sua carreira como ator de cinema a sério, preferindo dedicar-se mais a seu trabalho na série que era sucesso garantido na televisão. Quando “As Aventuras de Ozzie e Harriet” foi cancelada, David praticamente abandonou a carreira de ator. Sua última participação no cinema foi na escrachante comédia-musical “Cry-Baby”, de John Waters, estrelada por Johnny Depp, filme de 1990. David Nelson foi casado por 14 anos com a atriz June Blair, de quem se divorciou para casar com Yvonne O’Connor. David viveu com a segunda esposa até falecer em 11 de janeiro de 2011, aos 74 anos de idade. A doença que levou David Nelson à morte foi um câncer no cólon. Ricky Nelson, quatro anos mais novo que David, faleceu prematuramente aos 45 anos em 1985, num desastre aéreo.

Frank DeKova
Frank DeKova – Nascido em Nova York, em 1910, Frank DeKova começou a carreira de ator no teatro, atuando na peça “Detective Story”. Essa montagem teve 581 representações, sendo levada ao cinema por William Wyler com o título “Chaga de Fogo”, com Kirk Douglas no papel principal. O olhar sinistro e ameaçador e a facilidade para compor tipos multirraciais fez de DeKova um dos atores preferidos para filmes policiais e westerns. Sua estréia no cinema foi como o italiano ‘Cuio’ no policial “O Incógnito”, num elenco que tinha Broderick Crawford, Neville Brand, Ernest Borgnine e Charles Bronson. Essa estréia foi equivalente a um curso intensivo de como ser um bom ‘Homem-Mau’, o que DeKova faria pelo resto da vida nas telas. Seu segundo filme foi como o ‘Coronel Guajardo’, em “Viva Zapata!”. Nem sempre creditado por suas participações, é longa a lista de filmes em que Frank DeKova deu sua contribuição, interpretando personagens das mais variadas etnias. Frank DeKova pode ser visto em “O Manto Sagrado”, “Todos Irmãos Eram Valentes”, “Rebelião na Índia”, “Santiago”, “Os Dez Mandamentos”, “Os Irmãos Karamazov”, “O Rei dos Facínoras”, “Atlântida, o Continente Perdido” e “A Maior História de Todos os Tempos”. Nos faroestes Frank DeKova raramente deixou de interpretar um nativo, por sinal o único em “A Quadrilha Maldita”, como ‘Cheyenne Denver’. Entre os westerns em que DeKova atuou estão “Rio da Aventura” (Kirk Douglas), “O Último Guerreiro” (Charlton Heston), “Rajadas de Ódio” (Alan Ladd), “Um Certo Capitão Lockhart” (James Stewart), “O Justiceiro Mascarado” (Clayton Moore), “Renegando meu Sangue” (Rod Steiger), “Como Nasce um Bravo” (Glenn Ford) e “A Encruzilhada dos Facínoras” (Jeff Chandler). A partir dos anos 60 Frank DeKova dedicou-se mais à televisão, interpretando o personagem ‘Chief Wild Eagle’ (um índio, é claro), na série “F-Troop”, estrelada por Forrest Tucker. A série ficou no ar por duas temporadas e DeKova atuou em 63 dos 65 episódios. Frank DeKova faleceu aos 71 anos, em 15 de outubro de 1981, na cidade de Sepúlveda, na Califórnia.

Paul Wexler e Jack Woody
Paul Wexler e Jack Woody – Os dois membros menos conhecidos da quadrilha liderada por Burl Ives são Paul Wexler e Jack Woody. Curiosamente, Wexler nasceu em 23 de maio de 1929, no Oregon, mesmo Estado em que foi filmado “A Quadrilha Maldita”, vindo a falecer aos 50 anos, em 21 de novembro de 1979. Bastante parecido com Timothy Carey, o rosto comprido de Paul Wexler lhe valeu até interpretar um personagem chamado ‘Horseface’ (Cara-de-Cavalo) em “Lafitte, o Corsário”, versão de 1959, dirigida por Anthony Quinn. Mesmo tendo aparecido em inúmeros westerns como “Homens Indomáveis”, “Quem Foi Jesse James”, “O Drama de uma Consciência”, “Rajadas de Ódio”, “Homem até o Fim” e “Desbravando o Oeste”, jamais Paul Wexler  passou para o time dos coadjuvantes reconhecidos pelos cinéfilos. O mesmo pode ser dito de Jack Woody, nascido no Kansas em 2 de outubro de 1896 com o nome de Frank Brian Woody. Iniciando no cinema com quase 40 anos de idade como stuntman na série “Mr. Moto”, estrelada por Peter Lorre, Woody desenvolveu sua carreira ora como doublê, ora como ator coadjuvante. Era bastante comum diretores entregarem pequenos papéis, quase figurações, aos stuntmen, forma de estes ganharem um dinheirinho a mais. Isso aconteceu muitas vezes com Jacky Woody que dublou e atuou em diversos filmes de Randolph Scott, entre eles “Ouro da Discórdia”, “O Pistoleiro”, “Alma de Renegado”, “Torrentes da Vingança” e “Feras Humanas”. O alto e magro Jack Woody pode ser visto também em “Renegado Heróico” (Gary Cooper) e “O Sabre e a Flecha” (Broderick Crawford). Outro filme importante em que Woddy atuou foi no grande sucesso em 3.ª Dimensão “Museu de Cera” (Vincent Price). “A Quadrilha Maldita” foi o último trabalho de Jacky Woody no cinema e Woody faleceu em 27 de fevereiro de 1969, em Los Angeles.

2 comentários:

  1. José Fernandes de Campos20 de setembro de 2012 às 13:38

    É darci, sóvocê para informar aos seus seguidores que existem muitos westerns que não são comentados com assiduidade, mas são pequenas perolas no G~enero, como este magistral QUADRILHA MALDITA. Não estáincluido no meu top 10 ou 20 mas é uma senhora estória contada com grande mestria pelo TOTH com cenas nunca retratadas no cinema através do western. Toth dá MAIS ENFASE AOS MORADORES DA CIDADE ATORMENTADOS COM AS SUAS DÚVIDAS, FRAQUEZAS com seus dias atormentados pelo bando. Não é muito interessantefalar da estória para não frustar quem quer assistir. O roteiro feito por um Yordan inspirado é umprimor. Os diaLÓGOS SÃO TÃO FORTES QUE SÃO CAPAZES DE ATINGIR EM CHEIO O ESTOMAGO DE QUEM ESTA ASSISTINDO. o FINAL É SIMPLESMENTE arrebataDOR. Vamos terminar para falar da trilha do muito ignorado Alexander Courage. O tipo da trilha que não se sobrepóe as cenas, mas - atentem - APARECE SEMPRE NA HORA CERTA> Recomendo a todos que assistam pois não vão se arrepender. O filme só poderia ter sido filmado em P & B para destacar as montanhas e o vilarejo. Uma pequena jóia escondida. Até derepente

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  2. O José Fernandes tem razão. Este filme é uma jóia escondida.
    Burl Ives ,como sempre,magistral,embora se pareça muito com
    o personagem de "Da terra nascem os homens".O ator/cantor é um
    dos grandes atores americanos, e assim como foi Ernest Borgnine,
    sempre vale a pena assistir filme com o Burl.
    Quadrilha maldita,é filme prá se rever,agora muito bem lembrado na
    matéria do Darci !! Um abraço a todos !!
    Lau Shane Mioli

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