14 de setembro de 2012

A ARMA DE UM BRAVO (Gun Glory) – WESTERN COM A BELEZA DE RHONDA FLEMING


Jean Simmons, Stewart Granger e Deborah Kerr
Profissão ruim - Depois de estrelar filmes como “Scaramouche”, “O Prisioneiro de Zenda”, “As Minas do Rei Salomão”, “O Belo Brumell” e “O Tesouro do Barba Rubra”, era difícil imaginar Stewart Granger como homem do Velho Oeste. Granger era o maior galã do cinema inglês dos anos 40 e foi ‘importado’ por Hollywood quase ao mesmo tempo que James Mason, Deborah Kerr e Jean Simmons. Amigo de Mason, amante de Deborah e marido por dez anos de Jean (1950 a 1960), Stewart Granger com sua vasta cabeleira semigrisalha tornou-se um dos principais galãs da Metro-Goldwyn-Mayer nos anos 50. Nesses anos Stewart teve nos braços, além das citadas Deborah Kerr e Jean Simmons, Ava Gardner, Elizabeth Taylor, Grace Kelly, Rita Hayworth e Rhonda Fleming. E não é que no final da vida o ator inglês escreveu sua biografia (“Sparks Fly Upwards”), desdenhando da profissão...


O par romântico Rhonda e Stewart;
James Gregory com Stewart Granger.
A volta do pistoleiro - Depois do incrível sucesso de bilheteria de “Gatilho Relâmpago” (1956), a MGM tentou repetir o êxito no ano seguinte produzindo “A Arma de um Bravo” (Gun Glory). O roteiro de William Ludwig havia sido escrito a partir de uma história de Philip Yordan, escritor-roteirista que muitas vezes serviu de ‘front’ para escritores caçados pelas bruxas seguidoras do senador McCarthy. O verdadeiro autor do orginal que se chamava “Man of the West” era mesmo Ben Maddow que, vítima da Lista Negra, não mais podia assinar seus trabalhos. Maddow foi também o autor de “Johnny Guitar”, entre outras histórias aproveitadas pelo cinema. “A Arma de um Bravo” tem ressonâncias com diversos outros westerns como “O Matador”, “Os Brutos Também Amam” e mesmo com “Gatilho Relâmpago”. Dirigido pelo veterano Roy Rowland, em “A Arma de um Bravo” Tom Early (Stewart Granger) é um ex-pistoleiro e ex-jogador que decide voltar para seu rancho, de onde saiu há alguns anos. Lá chegando encontra apenas seu filho no final da adolescência e fica sabendo que a esposa falecera. Early vai à cidade em busca de suprimentos e se depara com Jo (Rhonda Fleming) uma bonita viúva e depois com Grimsell (James Gregory), criador que pretende passar pela cidade com suas 20 mil cabeças de gado. Isso levará à destruição do lugarejo que começa a tomar forma inclusive com a construção de uma igreja sob as ordens de um pregador (Chill Wills). A cidade se revolta contra o perigo iminente e tenta reagir, sendo facilmente dominada por Grimsell e seus homens. Aquilo que o grupo armado liderado pelo pregador não conseguiu é facilmente realizado por Tom Early que detona com dinamite um enorme desfiladeiro, impedindo de vez a passagem do gado. Tom Early liquida ainda com o bando de Grimsell e encerra a condição de viuvez, tanto a sua como da bela Jo.

Stewart Granger com a arma do bravo e um
imaculado lenço branco no pescoço.
Aposentadoria adiada - O espectador pode gostar de “A Arma de um Bravo” desde que aceite uma história na qual há um barão do gado que possui uma manada com 20 mil cabeças e quer, a caminho da ferrovia, passar dentro de uma pequena cidade. Com a maior desfaçatez o criador diz “Não havia pessoas aqui quando da última vez que passei com meu gado. Agora eles estão no meu caminho. Pior para eles!” E o espectador deve fechar os olhos para o fato de um homem ter a sorte de retornar para casa, se saber viúvo e, no primeiro passeio à cidade, encontrar uma Rhonda Fleming também viúva e carente. E, finalmente, o espectador não deve duvidar que um homem sozinho, com algumas bananas de dinamite e uma boa mira com o rifle consiga explodir rochas monumentais, ainda que mais pareçam feitas de barro. Afora isso este western do normalmente pouco inspirado Rowland é assistível, entre outras coisas pela presença da atriz principal, mais bela do que nunca. Tom Early quer abandonar a vida de pistoleiro e jogador errante, mas assim como Gregory Peck em “O Matador” e Glenn Ford em “Gatilho Relâmpago”, encontra quem queira ganhar fama provando ser mais rápido que ele. E assim como Alan Ladd em “Shane”, Tom Early toma as dores da comunidade local e enfrenta o todo poderoso da região. Porém os ingredientes que tornaram aqueles filmes clássicos não são desenvolvidos com a maestria de Henry King, Russell Rouse e George Stevens.

Chill Wills (acima); abaixo Rhonda e Steve Rowland.
Teocracia no Velho Oeste - Rowland consegue tornar cada passo do filme inteiramente previsível e desperdiça uma subtrama interessante contida na história original. Tom Early é o pai de Tom Jr. (Steve Rowland), um rapaz de idade imprecisa mas que não deixa de notar como é bonita a mulher de nome Jo que o pai trouxe para casa. Apaixonada pelo pai, a muito ingênua Jo nem se dá conta, ao lavar a cabeça do jovem, que aquele gesto inocente pode despertar desejos irreprimíveis no futuro enteado. E isso até acontece, mas o incidente tem um desfecho simplista e moralista. Não se pode esquecer que o roteirista William Ludwig era quem escrevia as histórias para a série ‘Andy Hardy’ (Mickey Rooney), que abarrotaram os cofres da MGM de dinheiro nos anos 40. Outra subtrama menos comum em faroestes é a não bem explicada obsessão do bandido Gunn (Arch Johnson) pelo bandido mais jovem e exibicionista Blondie (Rayford Barnes) baleado em duelo por Tom Early. Chama a atenção também a liderança exercida pelo pregador nos cidadãos da cidade. Uma espécie de Capitão-Reverendo Samuel Johnston Clayton (Ward Bond) de “Rastros de Ódio”, o personagem de Chill Wills leva a crer que o sistema político da pequena cidade, ainda sem xerife ou juiz, é a teocracia.

Granger, Gregory, Arch Johnson, Steve Rowland
(no chão) e Rhonda Fleming.
A ambiguidade suprimida - Tanto os temas ambíguos como o político certamente deviam ter sido melhor desenvolvidos na história de Ben Maddow. O escritor vítima da Lista Negra de Hollywood foi mais feliz quando teve “Johnny Guitar”, também repleto de ambiguidades levado ao cinema e tornado um Western Cult. Mas quem nasceu para ser Roy Rowland jamais poderia chegar a Nicholas Ray e a prova disso é “A Arma de um Bravo” que resultou em apenas um western rotineiro, o que é uma pena. Ponto positivo no filme de Rowland é a boa interpretação de Stewart Granger, sempre um ator bastante simpático, além de correto. O filme não dá maior oportunidade ao ótimo James Gregory em sua interpretação como o rico criador. Chill Wills repete o tipo exuberante de outros filmes, chegando até a cantar, ele que no início de carreira era membro do “The Avalon Boys”. Boa interpretação também de Jacques Aubuchon como o ressentido comerciante apaixonado por Rhonda Fleming. Os bandidos da estranha amizade são o violento Arch Johnson e Rayford Barnes. Procurando agradar ao público jovem, Roy Rowland num exemplo de nepotismo hollywoodiano deu para seu filho Steve Rowland o papel de Tom Early Jr., mas Steve é ruim de doer, o mais fraco do elenco. Destaque para as presenças dos conhecidos William Fawcett, Lane Bradford e Bud Osborne. Mas a melhor coisa do filme é mesmo Rhonda Fleming.

A sensual Rhonda Fleming despertando a sexualidade de Steve Rowland.


O casal Stewart Granger e Jean Simmons.
A estonteante Rhonda Fleming - Uma das mais belas ruivas do cinema, Rhonda Fleming está exuberante em “A Arma de um Bravo”, ainda que vestida sem nenhum glamour. O melhor momento do filme é dela, na cena em que provoca involuntariamente o filho de Tom Early, sequência deliciosamente excitante. Atriz de limitados recursos interpretativos, com sua extraordinária beleza e cativante sorriso, Rhonda faz a alegria do público masculino e certamente a inveja das mulheres. Stewart Granger se apaixonou de tal forma pela América que comprou até um rancho no qual criava cavalos. O cavalo branco que monta esplendidamente em “A Arma de um Bravo” era de sua propriedade. Granger e a esposa Jean Simmons se naturalizaram cidadãos norte-americanos e Jean visitou as locações onde o marido filmava, local próximo de onde ela atuava ao mesmo tempo em “Da Terra Nascem os Homens”. Curiosamente, a canção “Ninety and Nine”, que abre “A Arma de um Bravo” é interpretada por Burl Ives que tem destacada atuação no clássico western de William Wyler. Após a separação do casal Stewart Granger e Jean Simmons, o ator inglês renunciou à cidadania norte-americana. Granger fez quatro faroestes nos Estados Unidos e outros três na Alemanha, interpretando 'Old Surehand' na série "Winnetou" baseada em histórias de Karl May. O melhor momento de Stewart Granger em westerns foi ao lado de John Wayne no movimentado "Fúria no Alasca", de Henry Hathaway.







6 comentários:

  1. Não consigo gostar de Granger. Ele me passa antipatia. Mas a beleza da ruiva Rhonda Fleming vale qualquer filme.

    O Falcão Maltês

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  2. José Fernandes de Campos15 de setembro de 2012 às 15:41

    Valeu Falcão Maltez. Stwart Granger era dose, mas Rhonda era muito boa atriz alem de ser bonita e simpatica. É só assistir NO SILENCIO DE UMA CIDADE de Frits Lang, SILENCIO NAS TREVAS de Siodmak. Pena que nunca consegui assistir FUGA DO PASSADO. bAté derepente

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  3. José Fernandes de Campos15 de setembro de 2012 às 15:44

    Onde está o Sr. Jurandir que nunca mais li seus comentários? Escreva qualquer dia pois você colabora muito com o blog.

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  4. Olhaí, na foto com o elenco, James Gregory está identificado como... Stewart Granger.
    No mais, um abraço e parabéns pelo blog. Divino maravilhoso.

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  5. Olá, José Tadeu, grato pela correção. Foi uma dessas cochiladas que de vez em quando acontecem. Vou corrigir já.
    Um abraço do Darci

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  6. Prezado Darci,
    "A Arma de Um Bravo" (Gun Glory) é um western plenamente assistível com ótima fotografia, excelentes locações, boas interpretações do elenco. Apesar da direção de Roy Rowland ser mais ou menos rotineira conta com a beleza deslumbrante de Rhonda Fleming, na época, uma das mais belas atrizes do cinema norte-americano e uma das minhas favoritas.

    Em 1970 quando o seu então marido Hall Bartlett filmava “Capitães de Areia” (The Sandpit Generais), aqui em Salvador, tive o prazer de conhecer pessoalmente Rhonda Fleming que além de ser extremamente bonita ao vivo, mostrou-se acessível e de muito bom humor com todos que se aproximavam para conhecê-la.

    RH não participou do elenco do filme, veio para acompanhar o seu filho Kent Lane que era o personagem principal do romance de Jorge Amado, transportado pala primeira vez para o cinema.

    Paralelamente os italianos filmavam em Itapoã a produção “O Cangaceiro” com Tomas Millian e Esmeralda Barros, se a minha memória não está falhando(não sei por que o seu nome não consta no elenco desse filme e em sua filmografia).

    Mario Peixoto Alves

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