11 de agosto de 2012

CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE SAMUEL FULLER (12-8-2012)


O repórter Samuel Fuller
A vida de Samuel Michael Fuller daria um excelente filme, melhor ainda se dirigido por ele próprio... Nascido em 12 de agosto de 1912, aos 17 anos Samuel já exercia o jornalismo. Como repórter policial destacou-se ao descobrir erros no caso famoso da estranha morte da atriz Jeanne Eagels. Escritor de pulp fictions, Samuel Fuller escreveu seu primeiro roteiro para o cinema em 1936 e só parou de escrever quando serviu na 1.ª Divisão de Infantaria Norte-Americana durante a II Guerra Mundial. Fuller esteve em ação no Norte da África, na Sicília e no famoso Dia-D. Com a mesma altura de Audie Murphy (1,68), Samuel Fuller foi, assim como o ator, também bastante condecorado no conflito mundial, recebendo as medalhas Silver Star, Bronze Star e a mais valorizada de todas, a Purple Heart, por sua bravura e heroísmo nas batalhas. De retorno ao cinema, Fuller insatisfeito por ver seus roteiros serem filmados de forma que o desagradava, seguiu os passos de seu grande amigo Richard Brooks e passou da máquina de escrever para a direção de filmes.


Fuller acima; John Ireland atira em
Preston Foster em "Eu Matei Jesse
James"; Vincent Price em
"O Barão do Arizona".
DE ESCRITOR A CINEASTA - Aos 37 anos Fuller dirigiu seu primeiro filme, o western “Eu Matei Jesse James” (I Shot Jesse James), estrelado por John Ireland como o assassino Bob Ford. O roteiro de sua autoria demonstra a preocupação com o outro lado da história, no caso, Bob Ford que ganhou fama pelo ato covarde. Essa estréia como diretor, bem como o filme seguinte foram feitos para a pequeníssima produtora Lippert, sempre com orçamentos reduzidos. Em apenas onze (11) dias Fuller dirigiu “O Barão do Arizona” (The Baron of Arizona), faroeste com Vincent Price. Depois Fuller levou sua experiência como soldado para a tela dirigindo os filmes de guerra “Capacete de Aço” e “Baionetas Caladas”, nos quais mostra os horrores da guerra da qual foi testemunha. Passando a trabalhar para a 20th Century-Fox, Samuel Fuller dirigiu em seguida o noir “A Dama de Preto”. Seus filmes eram realizados com pequeno orçamento e sem nenhum grande astro das telas, ocupando o segmento ‘B’ do estúdio. Percebendo o potencial de Fuller, o chefão da Fox Darryl F. Zanuck lhe deu sinal verde para filmar o thriller “Anjo do Mal”. Filmado em plena guerra fria União Soviética-Estados Unidos, “Anjo do Mal” é um noir-político, com Richard Widmark, Jean Peters e Thelma Ritter no elenco, filme que colocou Samuel Fuller entre os diretores (e roteiristas) de talento. Já não mais como promessa e sim como uma realidade, Fuller dirigiu “Tormenta Sob os Mares”, com Richard Widmark, “Casa de Bambu”, com Robert Ryan e “No Umbral da China”, com Gene Barry.          Sempre filmando seus próprios roteiros, Fuller voltou ao western, desta vez na RKO, com “Renegando meu Sangue” (Run of the Arrow), filme daquele tempo em que virava moda ser simpático aos índios. Neste western o veterano da Civil War interpretado por Rod Steiger se casa com a índia Sarita Montiel, preferindo viver entre os índios. “Renegando meu Sangue” foi a primeira experiência de Samuel Fuller com o Cinemascope. A segunda, em 1957, seria um de seus melhores filmes e sem dúvida seu melhor western: “Dragões da Violência”.


Barbara Stanwyck em "Dragões da
Violência"; Jean-Paul Belmondo e Samuel
Fuller em "O Demônio das Onze Horas".
A NOTORIEDADE COM “DRAGÕES DA VIOLÊNCIA” - Samuel Fuller voltou à Fox para realizar “Dragões da Violência” em que a rua cenográfica do estúdio é a mesma vista em tantos filmes da Fox, como “Consciências Mortas” (The Ox-Bow Incident) e “Flechas de Fogo” (Broken Arrow), assim como seria palco também de “Quem Foi Jesse James?” (The True Story of Jesse James), “Fúria no Alasca” (North to Alaska) e “Minha Vontade é Lei” (Warlock). O interior da mansão do Rancho Dragoon é o mesmo set utilizado em “...E o Vento Levou”, apenas ligeiramente modificado. “Dragões da Violência” não obteve sucesso de bilheteria quando de seu lançamento, vindo a ser um dos muitos westerns descobertos pela crítica francesa. Entre os jovens críticos da Nouvelle Vague estava Jean-Luc Godard que venerava tanto o estilo de Samuel Fuller que em “Pierrot Le Fou” (O Demônio das Onze Horas) convidou Fuller para, em uma cena do filme, explicar o que era cinema. Com seu inseparável charuto Fuller respondeu sucintamente: “Amor – Ódio – Violência – Ação – Morte. Em uma só palavra; Emoção”.

S
Peter Breck em "Paixões que
Alucinam" e Constance Towers em
"O Beijo Amargo" (abaixo).
AM E LEE, HERÓIS DE GUE
RRA - A carreira de Samuel Fuller prosseguiu em 1959 com “Proibido” (Verbotten), filme de guerra exibido no Cine Art-Palácio (em São Paulo), em 1960 e que nunca mais foi reprisado, exibido na TV ou lançado em VHS/DVD. Samuel Fuller acabou marcado como diretor de filmes “B”, dirigindo os policiais “Quimono Escarlate” e “A Lei dos Marginais”, este último estrelado por Cliff Robertson. Em 1962 Fuller dirigiu para a Warner Bros. “Mortos que Caminham” (com Jeff Chandler), outro filme de guerra. Seus filmes seguintes, filmados com pequenos orçamentos estão entre os que se tornariam cults: “Paixões que Alucinam” (sobre um jornalista oportunista) e “O Beijo Amargo” (sobre a nova vida de uma ex-prostituta). Em 1962 Samuel Fuller se encontraria com Lee Marvin, que assim como ele havia sido herói de guerra. O encontro ocorreu no episódio “It Tolls for Thee”, da 1.ª temporada da série de TV “Laramie”, no qual Lee é o ator convidado. Diretor e ator tornaram-se grandes amigos e a ascensão de Lee Marvin, que se tornou um dos atores mais bem pagos do cinema, impediu que voltasse a trabalhar juntos de imediato. Esse episódio dirigido por Sam faz parte do DVD “Quando os Homens são Maus”, que reuniu também o episódio “Reckoning”, também da série “Laramie”, com Charles Bronson no elenco.

Sam Fuller e seu alter-ego Lee Marvin
em "Agonia e Glória".
UMA OBRA-PRIMA E A EUROPA - Diretor incompreendido e cujos filmes não faziam sucesso de bilheteria Sam Fuller foi, em 1969, filmar no México, onde dirigiu o suspense “Shark”, com a inusitada reunião de Burt Reynolds com Silvia Pinal. Fuller passou os próximos onze anos tentando levantar recursos para filmar seu grande projeto chamado “Agonia e Glória” (The Big Red One). Para esse filme de guerra baseado nas experiências do próprio diretor em campos de batalha, Fuller pode voltar a dirigir seu alter-ego Lee Marvin. “Agonia e Glória” recebeu vários prêmios e críticas bastante favoráveis, o que contribuiu para que Fuller, aos 70 anos de idade dirigisse “Cão Branco”, estranho filme em que um enorme cão branco é programado para matar negros. Amado pelos franceses, Fuller foi convidado por produtores franceses para dirigir o policial “Ladrões do Amanhecer”, rodado na França em 1984. Mais uma vez na Europa, Samuel Fuller dirigiu em 1989 “Uma Rua sem Volta”, coprodução franco-portuguesa estrelada por Keith Carradine. O último trabalho de Samuel Fuller foi “Le Madonne et le Dragon”, produzido pelo Canal+ francês.

Sam Fuller e o cão branco; abaixo com Lee Marvin.

Wim Wenders e seu ator Samuel Fuller.
ATOR MUITO ESPECIAL - Nos últimos anos de sua vida Samuel Fuller passou a ser um desses diretores muito cultuados, bastante homenageados. Há na cidade finlandesa de Sondänkyla uma rua com seu nome (Samuel Fuller Street) e ele é citado nominalmente em muitos filmes. Muitos diretores copiam ou homenageiam cenas criadas por Fuller, sendo a mais famosa delas a visão de dentro do cano de uma arma (de “Dragões da Violência”), utilizada nas aberturas dos filmes de James Bond ao som do tema de 007 de autoria de John Berry. Jean-Luc Godard confessou que a maior influência em seus primeiros filmes, principalmente “Acossado”, veio do estilo rápido e cru de Samuel Fuller. Para sobreviver nos anos 70 e 80 Samuel Fuller trabalhou bastante como ator, sendo os principais filmes em que teve significativas pequenas participações foram: “O Amigo Americano”, “Hammett – Mistério em Chinatown”, “O Estado das Coisas” e “O Fim da Violência” todos de Wim Wenders; “1941, Uma Guerra Muito Louca”, de Steven Spielberg; “O sangue dos Outros”, de Claude Chabrol.


Sam nos anos 90.
CENTENÁRIO DE NASCIMENTO - Samuel Fuller foi casado com Martha Downes Fuller, de quem se divorciou em 1959.  Sam voltou a se casar em 1967, desta vez com a atriz e escritora Christa Lang, que lhe deu um filho e o acompanhou até sua morte em 30 de outubro de 1997, morte devida a causas naturais. Samuel Fuller era um homem excêntrico, que jamais abandonou seus enormes charutos com os quais quase tocava o rosto dos interlocutores quando conversava. Dono de um humor cáustico, uma de suas frases famosas foi: “Van Gogh foi para mim uma grande inspiração. Ele era um cara para quem a vida era trabalho e trabalho era vida. Eu sempre quis ser como ele, menos naquela bobagem de cortar a orelha fora.”. Perguntado o que achava de ser um diretor Cult, Fuller respondeu: “Eu adoro essa coisa, mas queria juntar 100 ou 200 milhões de dólares de lucro e ainda continuar a fazer filmes artísticos.” Certamente, em muitos lugares do mundo, fãs renderão no dia de hoje (12 de agosto de 2012), homenagem a Samuel Fuller em comemoração à data do centenário de seu nascimento. 

Sam em quatro momentos, um deles com Nicholas Ray.


3 comentários:

  1. Olá, gostei particularmente do seu trabalho aqui.
    Fiz também uma homenagem a Fuller, que ainda vai na 1ª parte... espero que goste. Cumprimentos.

    http://davidlfurtado.wordpress.com/2012/08/12/centenario-samuel-fuller-o-jornalista-e-o-soldado/

    ResponderExcluir
  2. Tenho observado, com atenção especial, que o Mania enaltece sempre alguém do mundo do cinema quando algo muito especial ocorre com ele. Mesmo após estes terem sido comentado há pouco tempo atrás.

    Vejo essas ilustrações e comentários de suas vidas como uma verdadeira e merecida premiação ao idolo por tudo que ele nos deu em suas carreiras, quer de ator, atriz, diretor, produtor, maestro, roteirista, escritor, coadjuvante, ou o que tenha sido no mundo do cinema.

    Acho esta ação um ato primoroso, não apenas pelos conteudos de seus trechos, mas como a informação da ocorrencia e o justo premio a quem muito merece.

    E Samuel Fuller está agora sendo ilustrado nesta resenha por seu valor, numa matéria não apenas de qualidade inegável e elogiável, mas que nos abre os olhos para o que, ainda, nos era desconhecido, assim como não nos deixa por no desterro tão importante homem da tão amada sétima arte.
    jurandir_lima@bol.com.br

    ResponderExcluir
  3. Olá, novamente. Como já vi que aqui fazem um trabalho sério e foram o blog que melhor assinalou o Centenário de Fuller, penso que esta entrevista exclusiva com a filha de Samuel Fuller, Samantha, vos interessará. Lembro também, pois poderá ser do vosso interesse, que recordei a carreira e vida de Samuel Fuller em 5 artigos de fundo, além de ter conduzido a entrevista. Continuem o bom trabalho e, já agora, apoiem e divulguem o projeto de Samantha Fuller, "A Fuller Life". Obrigado, David. Link:

    http://davidlfurtado.wordpress.com/2012/09/01/samantha-fuller-em-entrevista-exclusiva-ao-wandrin-star-a-filha-unica-de-samuel-fuller-realiza-documentario-sobre-o-pai/

    ResponderExcluir