29 de agosto de 2012

CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE BARRY SULLIVAN, ATOR A QUEM FALTOU SÓ CARISMA



Os fãs de faroestes lembram-se bem de Barry Sullivan, ator que em sua longa carreira que abrangeu quase cinco décadas, participou de muitos westerns. Barry Sullivan teve o principal papel masculino em “Dragões da Violência”, faroeste de Samuel Fuller que adquiriu o status de cult. Nesse western Sullivan atuou com Barbara Stanwyck, com quem já havia contracenado também em “Até a Última Bala” (The Maverick Queen). Esses dois filmes são significativos exemplos da carreira de Barry Sullivan, um ator quase sempre à sombra dos grandes astros.

Jovens atores na Broadway: Clift e Sullivan.
NO PALCO COM MONTY CLIFT - Patrick Barry Sullivan nasceu no dia 29 de agosto de 1912 em Nova York, cidade em que seu pai era funcionário público. O pai de Barry muito se esforçou para que, nos tempos da depressão, o filho estudasse Direito para se tornar um político. Na Universidade, porém, o jovem Barry que já atingira 1,91m de altura destacou-se mesmo no futebol americano e não nas letras jurídicas. Terminado o curso de Direito Barry trabalhou como vendedor numa loja e como ajudante num teatro da Broadway. Bem apanhado e com aquela imponente altura, Barry logo deixou de empurrar cenários e outras tarefas braçais para subir ao palco como ator. Estreou em 1936 na peça “I Want a Policeman” e a carreira de Sullivan no teatro continuou com outras duas peças que igualmente não fizeram sucesso. Em 1938 Barry Sullivan participou de uma quarta montagem que foi “Eye of the Sparrow” em um dos atores principais era um ator mais jovem que ele chamado Montgomery Clift. Essa peça teve apenas seis apresentações, sendo então cancelada por falta de público. Barry Sullivan pensou até em abandonar a carreira, o que só não aconteceu porque sua próxima tentativa como ator de teatro foi na montagem “O Homem que Veio para Jantar”, que com 739 apresentações permaneceu quase dois anos em cartaz. Numa das peças seguintes em que Barry Sullivan atuou (“Johnny 2 x 4”), em 1942, ele contracenou com uma jovem e magérrima atriz chamada Betty Bacall, que anos depois viria a se tornar a senhora Humphrey Bogart.

Albert Dekker e o elegante Barry Sullivan.
COWBOY DE BUTIQUE - Entre uma peça e outra em Nova York Barry Sullivan foi tentar a sorte em Hollywood e tudo que conseguiu foi uma pequena participação no seriado da Universal Pictures “A Volta do Besouro Verde”, de 1940, estrelado por Warren Hull (The Green Hornet) e Keye Luke (Kato). Três anos depois Barry Sullivan fez as malas e retornou a Los Angeles, desta vez disposto a encontrar um espaço na capital do cinema, entre outras coisas porque como ator de teatro em Nova York mal conseguia sustentar sua esposa e filho. Barry Sullivan havia se casado, aos 25 anos de idade, em 1937, com uma atriz chamada Marie Brown e o primeiro filho do casal, Johnny, sofria de doença mental. Simpático e com os requisitos físicos que Hollywood exigia, além da experiência em teatro, Barry Sullivan estreou para valer em 1943 em “Explosivo”, filme ‘B’ de ação, como terceiro nome do elenco. No mesmo ano Sullivan fez seu batismo no gênero western em “A Mulher da Cidade”, estrelado por Claire Trevor e Albert Dekker interpretando ‘Bat Masterson’. Nesse filme Barry Sullivan interpretou ‘King Kennedy’, um bandido tão bem vestido como os cowboys-cantores Gene Autry e Roy Rogers.

Primeira versão de "The Great Gatsby",
com Alan Ladd na piscina da mansão.
PREJUDICANDO ALAN LADD - Contratado pela Paramount, nesse estúdio Barry Sullivan fez seus filmes seguintes, entre eles “A Mulher que não Sabia Amar”, coadjuvando Ginger Rogers e Ray Milland, drama classe ‘A’. Em 1944 Sullivan contracenou pela primeira vez com Alan Ladd em “Nunca é Tarde”, e seu nome vinha em quarto lugar nos créditos, atrás dos nomes de Ladd, Loretta Young e Susan Hayward. Seguiram-se algumas comédias mas percebia-se que o olhar um tanto sinistro de Barry Sullivan era ideal para suspenses e policiais. Vieram então títulos como “Delírio”, “O Segredo de uma Mulher” e “O Gângster”, em que desempenhou o papel-título, liderando o elenco. Emprestado à Columbia, Barry atuou em “Paula”, policial noir estrelado por Glenn Ford. Em 1949 Barry Sullivan atuou em nada menos que quatro filmes sendo que o mais importante deles foi “Até o Céu tem Limites” (The Great Gatsby). Quinto nome do elenco nesse drama de sucesso escrito por F. Scott Fitzgerald, Barry Sullivan declarou que havia certa dificuldade quando ele contracenava com Alan Ladd, principal galã da Paramount. Devido à diferença de quase 30 centímetros na altura dos dois atores, o estúdio exigia que fosse colocada uma plataforma na qual Ladd subia e disfarçava sua pequena estatura.

Acima Barry Sullivan com Arlene Dahl e
Joel McCrea; abaixo com Broderick Crawford,
à esquerda e com Kirk Douglas.
ESPEZINHADO POR KIRK DOUGLAS - Nesse ano de 1949 Barry Sullivan estrelou o faroeste “O Último Malfeitor” (Bad Men of Tombstone), interpretando o bandido regenerado ‘Tom Horn’ e com Broderick Crawford como o bandidão verdadeiro. O nome de Barry Sullivan sempre oscilou nos créditos, por vezes aparecendo acima dos demais nomes e também como coadjuvante, o que era garantia de bom desempenho, muitas vezes melhor que os dos principais astros do filme. E foi como coadjuvante que Sullivan atuou em “Sangue de Bravos” (The Outriders), western com Joel McCrea em que ambos são ex-confederados que escoltam uma caravana. Chegando a atuar em até quatro filmes por ano, Barry Sullivan podia ser visto em qualquer gênero, mesmo em musicais como “Romance Carioca”, “Amor Vai, Amor Vem”, “Os Três Xarás” e “Eva na Marinha”, todos da fase de Barry Sullivan na MGM. Em 1951, outro western na carreira de Barry, como coadjuvante em “Inside Straight” com David Brian e Arlene Dahl nos papéis principais. Em 1952, também na MGM, Barry Sullivan atuou em “Assim Estava Escrito”, excepcional drama de Vincente Minnelli sobre os bastidores do cinema. Barry Sullivan teve elogiado desempenho interpretando um diretor que sofre nas mãos do inescrupuloso chefe de estúdio Kirk Douglas.

Cena de "Julie": Louis Jourdan, Doris Day,
Ann Robinson e um atento Barry Sullivan;
abaixo Barry beijando Claudette Colbert.
O PREFERIDO DAS GRANDES ATRIZES - Em 1953 Barry Sullivan filmou pela primeira vez ao lado de Barbara Stanwyck, no drama “Vida Contra Vida”, de John Sturges. Tornou-se uma constante na carreira de Barry Sullivan ele ser escolhido para secundar grandes estrelas, aquelas que exigiam sempre seus nomes nos créditos antes mesmo do título do filme. Barry Sullivan já havia atuado com outras atrizes famosas como Lana Turner, Loretta Young, Greer Garson, Bette Davis e Joan Crawford e todas gostavam de contracenar com ele pois não se sentiam ameaçadas. As próximas atrizes de renome que contracenariam com Sullivan seriam Claudette Colbert e Doris Day, respectivamente no western “O Drama de uma Consciência” (Texas Lady) e no suspense “Julie”. Neste último Barry é o amigo que ajuda a aterrorizada Doris Day, esposa do maníaco Louis Jourdan. Pode-se dizer que a carreira de Sullivan desenhou-se da seguinte maneira: em filmes de produção barata ele era o astro; em produções mais elaboradas e caras ele passava à condição de coadjuvante. Foi o que aconteceu no grande sucesso de bilheteria “Comandos do Ar”, de Anthony Mann, com James Stewart.

Barry Sullivan com Katy Jurado, Mona Freeman, Dennis
O'Keffe; à direita Barry Sullivan com Barbara Stanwyck 
e Scott Brady, em pose para a publicidade.
O MELHOR WESTERN COM SAM FULLER - A década de 50 foi um período em que se produziu muitos faroestes e Barry atuou bastante no gênero. Barry se reencontrou com Barbara Stanwyck em “Até a Última Bala” (The Maverick Queen), western em que ‘Kit Banion’ (Barbara) cansada de ‘Butch Cassidy’ (Scott Brady) se apaixona pelo agente da Pinkerton Agency interpretado por Sullivan que por pouco não rouba o filme da grande estrela. Em “Pagaram com o Próprio Sangue” (Dragoon Wells Massacre), Sullivan interpreta um perigoso assassino e lidera o elenco desta produção da Allied Artists. Sem dúvida o melhor dos faroestes de Barry Sullivan foi “Dragões da Violência” (Forty Guns), em que pela última vez contracenou com sua amiga Barbara Stanwyck. [Ler mais sobre esse filme na resenha postada neste blog.] No drama “Herança de um Forçado” (The Way to the Gold), Barry interpreta um policial e Jeffrey Hunter um ex-prisioneiro.

Barry Sullivan e Barbara Stanwyck, amigos na vida real.

Barry com Audie Murphy;
abaixo com Gita Hall.
VENCENDO AUDIE MURPHY - Acostumado a ser coadjuvante, Barry Sullivan atuou como galã de Lana Turner em “Vítima de uma Paixão”, drama que tinha no elenco um desconhecido ator escocês chamado Sean Connery. Nos pôsteres do lançamento do filme, em 1958, o destaque masculino é Barry Sullivan. Com o sucesso de Connery alguns anos depois como James Bond, o filme foi relançado e Barry Sullivan desapareceu do pôster, dando lugar a Sean Connery ao lado de Lana Turner. Coisas do cinema... De 1958 é também “Abutres do Mar”, refilmagem de “Lobo do Mar” em que Sullivan interpreta Wolf Larsen, personagem vivido anteriormente por Edward G. Robinson. Barry Sullivan havia se divorciado da primeira esposa depois de 20 anos de casamento e em “Abutres do Mar” conheceu a atriz Gita Hall com quem se casou e com quem viveria três anos. Dessa união nasceu a filha Patricia Sullivan. Barry Sullivan encerrou a década de 50 com o faroeste “Matar por Dever” (Seven Ways to Sundown”, estrelado por Audie Murphy, desta vez com uma estrela de xerife no peito. Quem dá trabalho ao xerife Murphy é Barry Sullivan interpretando estupendamente o bandido da história. Audie leva a melhor ao final, mas no quesito interpretação toma uma surra de Barry Sullivan.

Barry Sullivan e Clu Gulagher
‘PAT GARRETT’ NA TV - Barry Sullivan fez um hiato em sua carreira no cinema retornando à Broadway em 1954 para substituir Henry Fonda na peça “The Caine Mutiny Court Martial”. Apenas um ator muito conceituado poderia substituir o extraordinário Henry Fonda e Barry Sullivan não fez feio. A peça foi levada ao cinema e exibida no Brasil como “A Nave da Revolta”, com Humphrey Bogart no papel do neurótico oficial da Marinha. Atuando bastante também na TV, Barry Sullivan teve a oportunidade de estrelar série própria na televisão quando esta começava a vencer a guerra contra o cinema. Em 1960 Sullivan interpretou ‘Pat Garrett’ no seriado “The Tall Man”, em que tinha a companhia do ‘Billy the Kid’ interpretado por Clu Gulagher. A série teve 75 episódios, ficando no ar por duas temporadas sem que Pat Garrett matasse Billy the Kid, uma vez que na série caçavam juntos os bandidos. O que deu bastante publicidade ao seriado foram as brigas entre Barry e sua esposa Gita Hall, entreveros fartamente documentados pela imprensa, até que o casamento terminou em divórcio. Em 1962 Barry se casou novamente com Desiree Sumarra, atriz que nunca conseguiu destaque no cinema e de quem Barry se divorciou em 1965.

Barry Sullivan em "O Perigo Caminha ao meu
Lado" e com Robert Redford (acima); abaixo
com Scott Brady e Lon Chaney Jr. em
"Diligência para o Inferno".
BARRY COM NORMA BENGELL - Entre os muitos veteranos que atuaram nos westerns do produtor A.C. Lyles, esteve Barry Sullivan, que interpretando um sheriff liderou o elenco de “Diligência para o Inferno” (Stage to Thunder Rock). Ainda para Lyles Sullivan foi o primeiro nome do elenco de veteranos de “O Perigo Caminha ao meu Lado” (Buckskin). O incansável Barry Sullivan nunca deixou de ser requisitado e entre os principais filmes em atuou nos anos 60 estão “Chama Ardente”, com Carol Linley e “Shark”, dirigido por Samuel Fuller. Barry Sullivan atuou em “O Planeta dos Vampiros”, uma sci-fi à italiana, contracenando com a nossa Norma Bengell na fase européia daquela que foi uma de nossas maiores estrelas. Sullivan retornou ao faroeste no grande sucesso “Willie Boy” (Tell them Willie Boy is Here), com Robert Redford e Robert Blake como ‘Willie Boy’. Em 1969 Barry Sullivan estrelou um western feito para a TV intitulado “Esta Terra Selvagem”, com George C. Scott no elenco.

Barry Sullivan como 'Chisum'
‘CHISUM’ COM SAM PECKINPAH - Na década de 70 Barry Sullivan passou a aparecer muito mais na televisão que no cinema, merecendo destaque sua pequena participação como ‘Chisum’ em “Pat Garrett e Billy the Kid” de Sam Peckinpah. Em algumas versões desse western o personagem de Barry Sullivan simplesmente desaparece, cortado na sala de edição para encurtar o filme. O próximo faroeste do qual Sullivan participou foi “Cavalgada Infernal” (Take a Hard Ride), co-produção espanhola-norte-americana, com Jim Brown e Lee Van Cleef. Vieram depois o suspense “Destinados a Morrer” (com George Kennedy) e o filme-catástrofe com elenco estelar que foi “Terremoto”, com Charlton Heston. Em 1977 Barry Sullivan interpretou um bispo no retumbante sucesso “Alguém Lá em Cima Gosta de Mim”, com George Burns e o cantor John Denver. Anthony Quinn, três anos mais novo que Barry Sullivan, fazia filme atrás de filme em todas as partes do mundo. Um deles foi o filme de aventura “Caravanas”, filmado no Irã pré-Khomeini e com Barry Sullivan no elenco. Este filme de 1978 poderia ter sido a despedida de Barry Sullivan do cinema, mas o veterano ator faria ainda, em 1987, uma pequena participação no filme canadense “The Last Straws”.

Barry Sullivan, no centro, no casamento da filha Patsy:
Gary Webb,irmão de Jimmy com o neto de Barry
no colo, Patsy e o esposo Jimmy Webb; abaixo o
genro Jimmy Webb com Richard Harris; a filha Patsy.
O CARISMA QUE FALTOU - Barry Sullivan teve três filhos. Do primeiro casamento são Johnny, deficiente mental e Jenny Sullivan que se tornou escritora e foi casada com o roqueiro Jim Messina (Buffalo Springfield e Poco). Do casamento de Barry com Gita Hall nasceu Patricia Sullivan, que aos 12 anos de idade era modelo-infantil, conhecida como Patsy Sullivan. Mais tarde Patricia se casou com o compositor Jimmy Webb, autor de clássicos como “By the Time I Get to Phoenix”, “Up, up and Away”, “Wichita Lineman”, “Galveston” e do mega-hit “MacArthur Park”, sucesso principalmente na voz do ator Richard Harris. Patsy e Webb deram seis netos a Barry Sullivan que, retirado do cinema, tornou-se escritor vindo a falecer em sua casa em Sherman Oaks, na Califórnia, no dia 6 de junho de 1994, aos 82 anos de idade. Ótimo ator e querido no mundo do cinema, o que teria faltado para Barry Sullivan ter sido um astro de primeira grandeza? A resposta só pode ser que Barry não possuía aquela coisa chamada carisma, indispensável para que o público fizesse dele outro Clark Gable ou Gary Cooper.

Barry Sullivan em várias poses e com Marilyn Maxwell.


2 comentários:

  1. JOSÉ FERNANDES DE CAMPOS21 de setembro de 2012 às 17:07

    Mais uma vez parabéns Darci. Atraves deste artigo tomei conhecimento que o grande Webb é casado com uma das filhas de Sullivan. Webb foi e será sempre meu idolo na musica americana. O disco A TRAMP SHINING todo interpretado por Richard Harris é o Lp da minha vida. SensacionaL

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  2. Muito boa sua matéria, Darci, apesar de que a estou lendo 12 anos depois de ter sido produzida. Falha minha !!! Mas sempre admirei Barry Sullivan e a primeira vez que o vi foi no filme que passou no cinema de minha terra em 1959, com o título de "Cada crime tem seu preço", no papel de um bandido - Tom Horn, e que depois passou a se chamar "O Último Malfeitor". Minha turma de moleques gostou tanto dele que, nas brincadeiras de mocinho e bandido, todos queriam ser o Tom Horn !!! Bons tempos ...
    Mas realmente gostei de sua matéria, muito boa, para um grande ator menosprezado, mas que soube se manter em bom nível. Abraços.

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