Muitas pessoas já perderam a conta de quantas vezes assistiram “Rastros de Ódio”. E a cada revisão é sempre aquela mesma intensa emoção sentida aos primeiros acordes que antecedem as vozes do conjunto “The Sons of Pioneers” interpretando a canção “The Searchers” (What makes a man to wander / What makes a man to roam...) até a abertura da porta que descortina o Monument Valley e a chegada de Ethan Edwards. O primeiro nome dos créditos – C.V. WHITNEY – chama a atenção pois era um nome estranho jamais visto em outro filme. Quem seria afinal C.V. Whitney?
Cornelius Vanderbilt Whitney ("Sonny") |
TRATATIVAS COMERCIAIS - As tratativas foram iniciadas e foi acertado que John Ford receberia 125 mil dólares e mais 10% dos lucros do filme para dirigi-lo, o que hoje representaria pouco mais de um milhão de dólares e mais os 10% dos lucros do filme. John Wayne, por sua vez, receberia 500 mil dólares (valor hoje correspondente a 4,2 milhões de dólares) porém sem participação nos lucros. O passo seguinte seria escolher um estúdio para fazer uma parceria para a distribuição do filme. A Metro-Goldwyn-Mayer aceitou participar mas na base de 50% e 50%, o que não foi aceito. A Columbia fez uma proposta mais vantajosa na base de 35% para o estúdio e 65% para o produtor que é quem entraria com o dinheiro. A Warner Bros. fez proposta igual de 35% e 65%, mas com algumas vantagens na questão dos impostos para “Sonny” Whitney que só discutia negócios cercado por seu time de economistas. Jack Warner ganhou a parada e como “Sonny” nada entendia de cinema, Merian C. Cooper e Patrick Ford, o filho de John Ford seriam os produtores executivos, aqueles que cuidam de todos os detalhes de filmagem, começando pela contratação de técnicos e atores.
À esquerda Merian C. Cooper quando das filmagens de "King Kong"; abaixo John Wayne e John Ford descansam sob o sol inclemente de Monument Valley, cenário de "Rastros de Ódio".
A dura vida de bilionário: Whitney e uma de suas quatro esposas |
O LUCRO DE “SONNY” – C.V. Whitney quase abandonou o projeto quando soube que o custo final da produção apresentado seria de 3,5 milhões de dólares, o mesmo acontecendo com Jack Warner quando descobriu que haveria locações em Monument Valley para onde deveriam ser transportados todos os equipamentos técnicos pertencentes ao estúdio. Com muita conversa Merian C. Cooper superou as dificuldades com Cornelius V. Whitney, enquanto foi necessário o próprio John Wayne ter um diálogo olho no olho com Jack Warner, ocasião em que o ator ameaçou nunca mais fazer um filme para aquele estúdio. O custo final de “Rastros de Ódio” foi de 3.750.000 dólares e quem complementou o orçamento foi mesmo Whitney. Corrigido pela inflação o custo do filme hoje teria sido de 38 milhões de dólares. Lançado nos Estados Unidos em março de 1956, “Rastros de Ódio” rendeu em seu primeiro ano de exibição aproximadamente cinco milhões de dólares. Considerando-se que “Rastros de Ódio” tenha rendido no resto do mundo outros cinco milhões de dólares, C.V. Whitney teve um lucro de pelo menos 2,75 milhões de dólares, enquanto John Ford embolsou posteriormente 275 mil dólares.
LEGADO À ARTE - Aconselhado por seus assessores financeiros, “Sonny” Whitney voltou suas atenções para a televisão, comprando logo meia dúzia de estações naquele novo e próspero meio de comunicação e entretenimento. Os números indicavam que cada ano menos espectadores iam ao cinema enquanto crescia de forma incontida o número de televisores nos lares norte-americanos. Mesmo assim a C.V. Whitney Productions produziria dois filmes de orçamentos bastante modestos que foram “The Missouri Traveller”, com Brandon De Wilde e Lee Marvin, em 1958 e “Ódio Destruidor”, com Patrick Wayne e Dennis Hopper, em 1959. C.V. Whitney faleceu em 1992, aos 93 anos de idade e é para os fãs de faroestes um nome importante pois a ele se deve a realização da obra máxima de John Ford, da melhor atuação de John Wayne no cinema e, sem nenhuma dúvida, de um dos melhores filmes de todos os tempos independentemente de gênero. Uma verdadeira obra de arte que é “Rastros de Ódio”.
Ethan Edwards retornando para uma casa que nunca será sua |
Geralmente costumamos mais a creditar o diretor como o único autor de uma obra cinematográfica, e bem como os atores que desempenham espetacularmente seus personagens. Todavia, não se pode deixar de registrar o papel destes que investem até o último centavo para a materialização de um sonho para as platéias do mundo todo.
ResponderExcluir"The Searchers" figura entre meus 10 filmes favoritos, um dos maiores westerns de todos os tempos, e um cineasta MESTRE, John Ford.
Paulo Néry
Você tem razão, Paulo. E sabemos que muitos produtores eram os verdadeiros diretores do filme, como Selznick, não é mesmo?
ResponderExcluir"Gone With The Wind" que o diga...
ResponderExcluirTambém tem exceções. Os diretores que também eram PRODUTORES, como o grandioso Cecil B. DeMille. Já estes são duplamente autores, não acha?
Paulo, os franceses inventaram o tal 'filme de autor' que é aquele em que o diretor, independentemente de quem o produz consegue colocar sua marca seja estética ou sócio-ideológica. Acho que essa é uma discussão inócua pois mesmo diretores da chamada linha de produção de Hollywood, como Michael Curtiz e JOhn Ford fizeram grandes filmes. alguns até muito mais que apenas grandes filmes.
ResponderExcluirQuanto a "Rastros de Ódio" eu sou bastante radical pois não considero apenas o melhor de todos os westerns, mas o melhor filme de todos os tempos.
Por isso que disse que "The Searchers" eu considerei entre meus dez filmes favoritos, independendo do gênero, mas sem sombra de dúvida, além de um clássico do Western, é um dos maiores filmes de todos os tempos, só reconhecido como obra prima tempos depois de seu lançamento. Antes tarde do que nunca.
ResponderExcluirÉ vivendo e aprendendo.
ResponderExcluirPosso ter visto este nome diversas vezes. Porém, jamais fiz tal ligação. Mesmo porque eu somente atentava para os astros, diretores, companhia (Warner, Columbia, Fox, Universal,etc), para o processo de cores e ano de produção dos filmes.
Rastros de Ódio é um grande filme. Bom mesmo. Sua abertura e seu fechamento é simplesmente um achado. Perfeitos e tão sombrios que, por si só, já conota o que será a pelicula. Tem uma boa historia, grandes interpretações (exceto a de Jeffey Hunter), é bem dirigido e possui muitos outros atributos positivos. No entanto, não é, para mim, de tanta grandeza assim como enunciam em termos de faroeste. Já vi muitos bastante melhores. Porém não tirarei jamais o perfeccionismo de sua qualidade. Muito bom, mas não o meu numero um.
jurandir_lima@bol.com.br