10 de setembro de 2011

O CIÚME DE CLINT EASTWOOD EM “JOSEY WALES O FORA-DA-LEI”


Philip Kaufman havia escrito e dirigido em 1972 um western muito elogiado pela crítica que foi “Sem Lei e Sem esperança” (The Great Northfield Minnesotta Raid), filme que narrou a mais famosa aventura de Jesse James (Robert Duvall), ao lado de Cole Younger (Cliff Robertson). Quando a produtora Malpaso, de Clint Eastwood conseguiu aprovação da Warner Bros. para iniciar a pré-produção de “Josey Wales, o Fora-da-Lei” (Outlaw Josey Wales), em 1975, Philip Kaufman foi contratado para escrever o roteiro e dirigir esse novo western de Clint Eastwood, baseado no livro de Forrest Carter. Kaufman, que era um daqueles diretores puxados para a intelectualidade, foi também incumbido de verificar as diversas locações em que “Josey Wales” seria rodado. Finalmente as filmagens foram iniciadas em Lake Powell, no Arizona e no elenco estava uma pouco conhecida atriz chamada Sondra Locke. A contratação de Sondra desagradou Kaufman pois não fora ele quem a indicara e sim Clint Eastwood que tivera um rápido contato com a atriz dois anos antes, quando Sondra não foi aprovada para o elenco de “Interlúdio de Amor” (Breezy), dirigido por Clint Eastwood. No primeiro dia de filmagens de “Josey Wales”, quando Sondra e Clint se encontraram pela primeira vez, ambos se sentiram atraídos um pelo outro. Clint a convidou para jantarem juntos à noite, mas Sondra já havia combinado jantar com Philip Kaufman. O diretor usou o pretexto de conversarem para melhor desenvolver o personagem de Laura Lee, que seria interpretado por Sondra. A atriz falou para Clint participar também do jantar mas Clint não aceitou jantar a três.

A DISPUTA POR SONDRA LOCKE - À noite, durante o jantar, Sondra só pensava em Clint e nem prestava a atenção no que Kaufman dizia. Porém ela não esqueceu de ele ter dito que seu casamento com Rose Kaufman não ia muito bem e que Rose aceitava os relacionamentos que eventualmente podiam ocorrer durante uma filmagem, típica cantada de homem casado. A certa altura Philip Kaufman colocou sua mão sobre a de Sondra e apertando-a. Sondra imediatamente pediu licença e foi para seu quarto no hotel onde a equipe estava hospedada. Lá chegando Sondra encontrou um recado de Clint perguntando: “Podemos jantar amanhã?” Sondra e Clint nem esperaram para conversar à noite pois passaram o dia juntos. Onde Clint estivesse Sondra estava junto a ele, recebendo de Clint todas as atenções. Trocando em miúdos, o namoro havia começado. Sondra era casada com um artista homossexual e Clint era casado há mais de 20 anos com Maggie Johnson mas viviam separados e toda Hollywood sabia que Clint era não só o Number One das bilheterias mas também o primeiro entre os garanhões da terra do cinema, apreciando especialmente as louras como Sondra Locke.

CLINT DEMITE O DIRETOR - Philip Kaufman tinha um estilo de trabalhar diferente do de Clint Eastwood. Muitas vezes Clint filmava o próprio ensaio e gritava “print”, ou seja, podiam revelar os negativos, meio assim como fazia John Ford. O lema de Clint Eastwood como produtor-diretor sempre foi “Abaixo do Cronograma e Abaixo do Orçamento”. Ao perceber que Philip iria fazer um filme assim naquela linha ‘contemplativa’, começou a irritação de Clint. Kaufman se apegava a pequenos detalhes e para Clint o diretor dar muita atenção a detalhes é sinônimo de prejuízo certo. A primeira semana foi de mal a pior no aspecto das filmagens, mas Clint e Sondra estavam no paraíso no campo sentimental. No primeiro dia da segunda semana de filmagem havia uma cena em que os bandidos chefiados por John Quade atacam o local onde se encontra a família de Laura Lee (Sondra) e tentam estuprá-la. Philip Kaufman mostrou como a cena deveria ser feita segurando por trás Sondra Locke, que teve o vestido e ficando praticamente nua. Terminado o ensaio da sequência, Clint Eastwood informou que as filmagens estavam suspensas, para espanto de todos, principalmente de Kaufman. Clint pediu a Robert Daley, seu braço direito na Malpaso, que informasse a Philip Kaufman que ele estava despedido das filmagens. Foi dado um informe geral que Clint passaria a dirigir “Josey Wales, o Fora-da-Lei”.

REGRA CLINT EASTWOOD - Kaufman tomou o primeiro avião para Los Angeles e no dia seguinte estava no escritório da DGA (Directors Guild of America) prestando queixa contra Clint. A base da reclamação é que todos os contratos assinados por diretores contêm uma cláusula segundo a qual, feita a pré-produção e iniciadas as filmagens, nenhum ator poderia demitir um diretor. Porém neste caso Kaufman estava sendo demitido não pelo ator Clint Eastwood, mas sim pelo produtor que não era outro senão o próprio Clint. O caso foi parar na mesa de Robert Wise, então presidente do DGA que imediatamente determinou que as filmagens fossem suspensas. Pelos estatutos dessa espécie de sindicato dos diretores, um diretor dispensado só poderia ser substituído por outro diretor. Acontece que Clint já havia dirigido cinco outros filmes e aparentemente estava dentro das normas do Directors Guild ao assumir a direção de “Josey Wales, o Fora-da-Lei”. A Warner Bros. decidiu intervir com sua força de maior estúdio norte-americano e acabou conseguindo um acordo com Kaufman que nunca revelou quanto recebeu mas que transpirou que foi 500 mil dólares (hoje mais de dois milhões de dólares). Foi aplicada uma multa de 50 mil dólares a Clint Eastwood, multa que certamente foi paga pela Warner Bros. O Conselho Deliberativo do Directors Guild criou então uma regra que passou a ser chamada de “Eastwood Rule” (Regulamento Eastwood), segundo a qual nenhum diretor demitido depois de iniciado um filme poderá ser substituído por alguém do elenco ou da equipe técnica envolvida nesse filme.

Phil Kaufman (à direita) com o cinegrafista Sven Nykvist

O BOM, O MAU E O MUITO FEIO - “Josey Wales, o Fora-da-Lei” foi um dos maiores sucessos de bilheteria de 1976 e para muitos é o melhor western de Clint Eastwood, melhor até que o premiado “Os Imperdoáveis” (Unforgiven). Depois de "Josey Wales" Philip Kaufman passou três anos sem dirigir, fazendo-o no remake de “Invasores de Corpos” que originalmente fora dirigido por Don Siegel, grande amigo de Clint. Kaufman conquistou a crítica em 1983 com “Os Eleitos - Onde o Futuro Começa”, dirigindo depois “A Insustentável Leveza do Ser”, “Henry e June – Delírios Eróticos” e “Sol Nascente”, este com Sean Connery. Já o romance de Sondra Locke com Clint Eastwood resultou numa das mais tempestuosas relações da história de Hollywood com a corajosa atriz processando (e vencendo!) Clint Eastwood e e a Warner Bros. nos tribunais. E ela ainda ganharia dinheiro escrevendo um livro chamado “The Good, the Bad and the Very Ugly”, mostrando um Clint Eastwood pouco conhecido dos fãs de cinema.

8 comentários:

  1. Que história interessante a dos bastidores desse western! Não tinha a menor idéia de todos esses acontecimentos. E gosto muito desse filme, de fato um dos melhores do grande Clint.

    Sempre achei Sondra Locke, na época desse filme, ainda nos anos 70, belíssima. Pouco depois, já nos 80, a beleza sumiu misteriosamente. Ela parecia ser uma artista bem diferente das demais atrizes daquele período.
    Chegou a dirigir e interpretar filmes de temáticas ousadas em termos de sexo. E sempre fiquei com a impressão de que ela era parecida com seus personagens. Enfim, valeu mesmo conhecer o curioso início de seu romance com o Eastwood.

    Darci, chegou a ler o livro escrito por ela sobre o mais icônico cowboy americano depois de John Wayne? Se leu, dá prá contar algumas "fofoquinhas" sobre o Eastwood aqui?

    Edson Paiva

    ResponderExcluir
  2. Olá, Édson. Quem contou essa passagem, com riqueza de detalhes, foi a própria Sondra. Esse livro é imprescindível para que se conheça melhor Clint Eastwood.

    ResponderExcluir
  3. Darci, certamente o livro deve ser muito interessante. A imagem do Eastwood que chega a nós brasileiros é de ser ele muito bom camarada. Todos os atores que com ele contracenaram ou foram por ele dirigidos o elogiam bastante. E nas poucas entrevistas e alguns documentários que tive chance de ver ele parece ser um cara sereno e apaixonado pelo que faz. Mas como ninguém é perfeito...

    Por outro lado, temos de apurar se a Sondra Locke tem credibilidade. Ela sempre me pareceu meio "doidona" demais. Lembro sempre do personagem dela no policial "Rota Suicida", com o Clint. Sempre achei que ela não estava só interpretando ali.

    Um abraço,
    Edson

    ResponderExcluir
  4. Édson, você tem razão quando diz que ninguém é perfeito. Eu li também uma biografia do Clint de autoria de Marc Eliot e o que se percebe é que anjo o Clint não era. Mas você conhece alguém com o chamado 'conjunto da obra' dele? E ainda filmando aos 81 anos? Isso é o que vale mais. O resto é só para encher o blog...

    ResponderExcluir
  5. Darci, assino embaixo de seu último comentário. A obra do Eastwood é que nos interessa como fãs e apreciadores de cinema.
    E creio que não deve ter entre os grandes nomes do cinema alguém que tenha uma trajetória como a dele no sentido de que quanto mais passa o tempo mais melhoram seus filmes.

    O normal é no fim da carreira o nível cair e com Clint foi exatamente o oposto. Um filmaço atrás do outro. E aposto que ele ainda roda mais uma ou duas obras-primas antes de aposentar as armas.
    Talvez só o John Huston lembre, um pouco, a trajetória do Eastwood pois também deixou-nos um fim de carreira bem interessante por volta dos 80 anos.

    Edson

    ResponderExcluir
  6. Nada mais que um novo enfoque sobre o comportamento extra telas de um astro.
    Desnecessário por em vistas que Eastwood, apesar de um astro famoso e muito querido por muitos cinéfilos, não deixa de ser um ser humano como todos nós. E se ficarmos dando valores acima do preciso para cada ocorrencia conhecida de nossos herois, por certo que iremos passar a detestar todos eles e esquecer que nós, como eles, também cometemos nossos deslizes. E deslizes que muitas vezes são muito mais sérios àqueles que passamos a conhecer de nossos queridos astros, estrelas diretores e outros.
    Portanto, é muito delicioso tomar ciencia destas passagens. Porém, muito mais a título de fofoca que fazer de tais momentos encartes muitos mais profundos que eles os são, passando a ver estas criaturas com olhos envesgados.
    jurandir_lima@bol.com.br

    ResponderExcluir
  7. Edson e Darci;

    Gosto de ver cada post lotado de comentários. É um sinal reconfortante que o blog vai bem.
    Mas não é isso somente que tenho para por em pauta.O que desejava por para os dois amigos comentaristas e editor é que, jamais faço um comentário depois de ler tudo o que já comentaram. Nunca os leio antes e sim depois. E, coincidentemente, muitas vezes o que digo bate de encontro a algo que já está escrito. Só que eu os faço depois destes e sem os ler. Ou seja; somente leio os outros comentários após por minhas opiniões.
    Desta forma nada do que disse neste comentário, ou em outro qualquer, tem a ver com absolutamente nada do que já está escrito.
    Abraço a ambos e ressalvo que achei legal o ping pong Edson x Darci. Legal mesmo.
    jurandir_lima@bol.com.br

    ResponderExcluir
  8. Grande postagem de nosso honrado "Blondie".
    Será que um dia ainda poderemos vê-lo junto a Eli Wallach (Paco) em alguma convenção Western.
    Tivemos agora em Setembro o Almeria Festival 2011 na Espanha onde tivemos o encontro de vários atores entre eles Nicholetta Machiaveli, Fabio Testi, Dan Van Husen e Craic Hill.
    Em Março tivemos na California, o Hollywood Festival com presenças de Michael Forest, Brett Halsey, Mark Damon, Hunt Powers, Robert Woods, Richard Harrison e outros.
    É bom ver que existam pessoas que estão tabalhando para trazer nossos ídolos mais próximos de seus fãs preservando e populariando-os para as gerações futuras.
    Vamos aguardar as novidades.
    Parabéns mais uma vez.
    www.bangbangitaliana.blogspot.com

    ResponderExcluir