ELI WALLACH E O SOMBRERO DE CALVERA

“Vera Cruz”, o famoso western de Robert Aldrich com Gary Cooper e Burt Lancaster foi filmado inteiramente no México, nas cidades de Chapultepec e Cuernavaca e completado nos estúdios de Churubusco. Quando “Vera Cruz” foi lançado no México houve uma enorme insatisfação do Governo Mexicano pela forma como os mexicanos foram mostrados, sempre esfarrapados, sujos e vivendo como mendigos. A partir daí, por decreto presidencial, os novos filmes rodados no México passaram a seguir algumas regras como mostrar os cidadãos mexicanos como pessoas nobres, limpas e educadas. E para controlar as filmagens haveria sempre uma espécie de censor participando dos filmes. Para “Siete Hombres y Un Destino” (Sete Homens e Um Destino/The Magnificent Seven), o novo western a ser rodado no México, foi destacado como censor o conhecido diretor-ator mexicano Emílio Fernández, apelidado de ‘El Índio’. Fernández era muito temido por ser temperamental e por haver dado um tiro nos escrotos de um crítico que havia falado mal de seu filme “La Perla”. Em “Sete Homens e Um Destino” Emílio Fernández constava da ficha técnica e da folha de pagamento como assistente de diretor, função que já havia exercido em “Domínio de Bárbaros” (The Fugitive), em que foi assistente de direção de John Ford. El Índio foi também assistente de direção de “O Passado Não Perdoa” (The Unforgiven), de John Huston. Quando a equipe e o elenco de “Sete Homens e Um Destino” chegou ao México, foram todos apresentados a Emílio Fernández. El Índio, de cara, simpatizou com Eli Wallach.

Eli Wallach (acima) e o diretor John
Sturges, que reduziu o sombrero

SOMBRERO E TEQUILA - Eli Wallach foi, na década de 50, um dos mais requisitados atores da Broadway e “Sete Homens e Um Destino” seria seu quarto filme e primeiro western. Wallach que havia assistido a “Os Sete Samurais”, de Akira Kurosawa, acreditava que iria interpretar o papel vivido por Toshiro Mifune, no clássico japonês no qual “Sete Homens e Um Destino” se baseou. Mas John Sturges informou a Eli que ele seria ‘Calvera’, o chefe dos bandidos. Emílio Fernández disse a Eli Wallach que para ser um mexicano autêntico ele teria que usar um chapéu típico e levou o ator novaiorquino até uma loja em Ciudad del México, a capital mexicana. El Índio escolheu o modelo do chapeú, um sombrero preto enorme cujo diâmetro era de 1,20m. Eli ficou espantado mas confiou em Fernández, até porque não queria contrariá-lo. El Índio levou Eli para uma bodega onde pediu uma garrafa de tequila, colocando o sombrero sobre a mesa que era redonda, cobrindo-a inteiramente. Eli tomou o primeiro copo enquanto Emílio tomou dois, quando Eli criou coragem e comentou que o sombrero era grande demais e que ele não conseguiria montar a cavalo com aquele chapéu. Emílio, do alto de sua experiência, disse que o chapéu estava “perfecto”. No terceiro copo de tequila Eli Wallach começou a achar que o chapéu era de bom tamanho. Depois do quarto copo de tequila Eli não viu mais nada, indo para o hotel dormir, enquanto El Índio ficou e esvaziou a garrafa. No dia seguinte foram para Cuernavaca, onde seriam feitas as primeiras tomadas. Eli completamente de ressaca e Emílio nem parecia ter bebido. Eli Wallach todo feliz mostrou o gigantesco sombrero para John Sturges. O diretor pegou o sombrero nas mãos e sem dizer uma só palavra fez um sinal a um assistente de produção pedindo uma tesoura e cortou mais da metade da aba do chapéu. Então falou para Eli Wallach: “Este aqui é o seu chapéu, Calvera!”

O SOMBRERO DE CALVERA - “Sete Homens e Um Destino”, foi um dos maiores sucessos de bilheteria de 1960, tendo continuação em quatro outros filmes, um recorde para os faroestes “A”. Eli Wallach teve uma magnífica atuação, bem como um punhado de atores que foram revelados no filme de Sturges. Os mexicanos de “Sete Homens e Um Destino” aparecem no western relativamente bem vestidos, alguns com roupas imaculadas para agradar Emílio Fernández e ao Governo Mexicano. Já o sombrero de Calvera...