27 de julho de 2011

O GRANDE GUERREIRO (CHIEF CRAZY HORSE) - ÉPICO SEM BATALHAS


George Sherman foi o diretor que mais vezes abordou a questão dos índios norte-americanos nos anos 50, dirigindo “Terra Selvagem” (Comanche Territory), “Coração Selvagem” (Tomahawk), “A Revolta dos Peles Vermelhas” (Battle at the Apache Pass), “A Grande Audácia” (War Arrow), “Comanche” e “O Grande Guerreiro” (Chief Crazy Horse) Porém essa meia dúzia de westerns não significa em absoluto uma preocupação maior do veterano diretor em resgatar a verdade histórica do maior genocídio que se tem notícia na história da humanidade. Como contratado da Universal Pictures, Sherman dirigia tudo que lhe caia nas mãos e depois de “Flechas de Fogo” (Broken Arrow) de Delmer Daves e “O Caminho do Diabo” (Devil’s Doorway) de Anthony Mann, virou moda fazer filmes simpáticos aos índios. E a Universal, menos por razões ideológicas e sim para ganhar dinheiro, fez de Sherman uma espécie de defensor dos índios. “O Grande Guerreiro” tem história e roteiro de Gerald Drayson Adams, um inglês que estudou em Oxford e aos 40 anos de idade passou a escrever para o cinema, mais exatamente para a Universal. Assim como Sherman, Drayson Adams também era pau para toda obra, tanto que terminou sua carreira de roteirista fazendo roteiros para os filmes de Elvis Presley. Seu roteiro romanceando a vida de Crazy Horse (Cavalo Louco) até que poderia ter rendido um bom filme.

Este menino transforma-se no grande
guerreiro Victor Mature
A PROFECIA LAKOTA - Antes de morrer o chefe Urso Cinzento (Morris Ankrum) faz uma profecia na qual um índio da nação Lakota Sioux conseguirá reunir todas as tribos indígenas para vencer os brancos que lhes tomaram seus territórios. Esse índio é Cavalo Louco (Victor Mature) que antes de cumprir sua épica missão tem que superar a inveja do rival Pequeno Grande Homem (Ray Danton) para se casar com Chale Negro (Suzan Ball). Cavalo Louco se casa com a bela índia e Pequeno Grande Homem deixa a tribo ressentido, conseguindo fazer parte da Cavalaria onde se torna sargento. Brancos inescrupulosos rompem o tratado de não-agressão aos índios e Cavalo Louco assume a liderança de sua tribo provocando sensíveis baixas em guerrilhas contra tropas da Cavalaria sediada em Forte Laramie. O General Custer é chamado e leva seu 7.º Regimento de Cavalaria a um confronto com Cavalo Louco que, cumprindo a profecia de Urso Cinzento, reúne as diversas nações e extermina com Custer e seus comandados. As demais nações indígenas satisfeitas com o resultado da Batalha de Little Big Horn, voltam a se dividir e enfraquecidas são vencidas pela Cavalaria. A profecia de Urso Cinzento dizia que Cavalo Louco seria morto por um índio Lakota e isso acontece quando Pequeno Grande Homem assassina Cavalo Louco à traição dentro do Forte Laramie.

GUERREIRO SEM GUERRAS – A Universal começou errando na escolha de Victor Mature como protagonista de “O Grande Guerreiro”. O simpático e fortíssimo ator de tantas aventuras históricas estava com 42 anos e com muitos quilos a mais do que o necessário para levar à tela a figura de um heróico e ainda jovem guerreiro. Mature até que está menos excessivo em seu característico modo de atuar, mas os trajes de guerreiro Lakota o transformam numa quase caricatura. Um ator mais jovem, próximo de Charlton Heston por exemplo, tornaria muito mais convincente o personagem-título. Filmado em Technicolor e Cinemascope, Sherman demonstra completo domínio no enquadramento da câmara, tanto nas belas panorãmicas quanto nos planos médios e close-ups, fazendo um filme tecnicamente belíssimo. A cinematografia é de Harold Lipstein e o conjunto é valorizado pela retumbante trilha sonora de Frank Skinner. A direção de arte é outro destaque de “O Grande Guerreiro”, o que torna difícil entender porque as cenas de batalha são tão curtas. Fica a impressão que o orçamento de “O Grande Guerreiro” estourou justamente quando foram filmadas as cenas de batalha. Fossem mais bem trabalhadas e essas cenas dariam o necessário tom épico ao filme. Na sequência do massacre de Little Big Horn vê-se apenas dezenas de índios e outras de soldados de Custer. Quando se imagina que a sangrenta batalha vai se iniciar há um corte rápido para uma nuvem escura, outro corte e no chão jazem meia dúzia de soldados do 7.º Regimento mortos com lanças espetadas. Em outra cena de batalha não há lutas corpo a corpo, tudo é filmado de longe e assiste-se a apenas duas quedas de cavalo. Decididamente isso é pouco para um filme sobre o heroísmo de um grande guerreiro e ainda em Cinemascope. Cavalo Louco mostra-se bem melhor expressando seu heroísmo com palavras diante dos representantes do Governo do que nas batalhas que o transformaram em um grande guerreiro.


PELES ESCURECIDAS - “O Grande Guerreiro” marcou a estréia no cinema de Ray Danton interpretando o índio Pequeno Grande Homem, personagem sem nenhuma relação com aquele criado por Dustin Hoffman em “Little Big Man”, de Arthur Penn. E não foram apenas Mature e Danton que interpretaram índios em “O Grande Guerreiro” pois muitos outros nomes conhecidos do elenco também atuaram com a pele escurecida pela maquiagem e com muita pintura no rosto, entre eles Keith Larsen, Robert Warwick, Morrin Ankrum, Pat Hogan e Paul Guilfoyle. O destaque como homem branco no filme é John Lund que interpreta o Major Twist e é também o narrador de “O Grande Guerreiro”. Dennis Weaver e David Janssen, que ficariam famosos posteriormente e James Westerfield têm pouquíssimas falas neste western de George Sherman.

ÚLTIMO FILME DE SUZAN BALL - A história de amor entre Cavalo Louco e Chale Negro é prejudicada pela grande diferença de idade entre Victor Mature e Suzan Ball. Além disso é inevitável que a atenção do espectador recaía sobre a infeliz atriz que fez o filme logo após a amputação de uma das pernas e visivelmente sofrendo do mal que lhe roubaria a vida. “O Grande Guerreiro” foi rodado inteiramente no Badlands National Park, em Black Hills, Dakota do Sul, a uma temperatura média de 40 graus que literalmente levou Suzan Ball ao esgotamento de suas parcas reservas físicas. Em algumas cenas Suzan está literalmente prostrada e o realismo das imagens é doloroso e constrangedor até mesmo para os atores que com ela contracenam. A atuação de Suzan acaba sendo mais heróica que as jornadas do grande guerreiro Crazy Horse.

Acima exemplar uso do Cinemascope; no centro Suzan Ball
filmando sob os 40 graus de Black Hills, South Dakota;
abaixo Suzan Ball visivelmente doente ao lado de Mature.


Um comentário:

  1. Volto a lamentar a triste e dolorosa historia de vida desta jovem e linda atriz, Suzan Ball.
    Tenho certeza que as cenas que rodou sofrendo do mal que lhe ceifaria a vida, devem ter saído com um realismo de doer! E para os que assistem ao filme sabendo que tal fato acontecia de fato, deve ter sido terrivel!
    Não recordo se vi este filme. E até estou com uma duvida sobre um titulo que consta em minha lista de filmes; tenho um filme com Victor Mature chamado O Ultimo Guerreiro. Não sei se se trata do mesmo O Grande Guerreiro, o que não duvido. De qualquer forma estou procurando ver O Grande Guerreiro para testemunhar tudo o quanto acabo de ler sobre Mature (e seu tipo mal selecionado para protagonista, assim como o sofrimento real de Ball). E também sobre as batalhas, um mal que ocorre por demais por falta ou fim das verbas estipuladas para a criação da fita. E o resultado é um final de pelicula prejudicado, até mesmo com um filme, como cita o editor, que poderia ter sido um cult, um classico, um filme marcante, não fossem as parcas cenas de lutas. Principalmente por se tratar do tema onde o General Custer perece sob a batuta dos indios, um fato real e que merecia melhor tratamento, recriação e esmero em cada take, se possível.
    Vi muitos filmes do Mature. E aquele que trabalha com a longilinea e bela Ester Williams, que tinha a mania de falar explicitamente de seus relacionamentos (de Jeff Chandler ela disse que ele gostava de se vestir de mulher, de Mature diz que era um garanhão que a satisfazia plenamenter), dentre outros, é um filme onde observei Mature estar muito bem. Na verdade não o achava o pior ator de Hollywood, pois esteve bem em O Titano da Fronteira, Paixão dos Fortes, Os Carrascos do Mar, O Beijo da Morte, Bandido Sanguinário e outros mais. Agora; não carecia se puxar muito por ele afim evitar surpresas sem muito agrado. Mas dava conta de seus recados quando lhe davam papeis que arrastava com sua plástica e caretas que as cenas exigiam. E a prova disso é sua extensa lista de fitas realizadas. E todos muito vistos.
    jurandir_lima@bol.com.br

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