O mesmo cinema que romantiza e idealiza enganosamente, se encarrega de mostrar a verdade das biografias de homens célebres. Um das mais polêmicas personalidades da história norte-americana foi o General George Armstrong Custer, a quem Hollywood, no início, retratou como mártir e herói e hoje é visto nas telas de modo muito diferente, para dizer o mínimo. Se no início da 2.ª Guerra Mundial foi importante para os Estados Unidos levantar o moral norte-americano construindo uma imagem fantasiosa de um grande herói, em tempos de pós-Vietnã a desmistificação veio de forma até cruel. E descobrimos que Custer era péssimo aluno, tendo sido o último colocado entre os 34 cadetes graduados em West Point em 1861. Suas notas eram assombrosamente baixas, somente se tornando 2.º Tenente porque já estava em curso a Guerra de Secessão e mais oficiais eram necessários para enfrentar o Sul que estava fortemente armado e liderado por generais como Robert Lee, Jeb Stuart e Thomas 'Stonewall' Jackson. E descobrimos que Custer era um homem egocêntrico e, usando um termo em moda, grande ‘marqueteiro’. E descobrimos que Custer era um sádico ávido por exterminar as nações indígenas. E descobrimos que, mesmo como estrategista, Custer foi um fracasso, levando à morte, em Little Big Horn, praticamente todo o 7.º Regimento de Cavalaria sob seu comando. Mas independente da verdade histórica, o apaixonado por cinema jamais deixará de se emocionar ao rever pela enésima vez Errol Flynn (Custer) sucumbir diante dos milhares de índios comandados por Anthony Quinn (Crazy Horse) na batalha final de “O intrépido General Custer”.
UM SÉCULO DE CUSTER NO CINEMA
Inúmeras vezes a vida de Custer foi levada ao cinema, outras tantas ele apareceu em filmes como personagem importante nas histórias do Velho Oeste. A TV não ficou atrás, explorou e até hoje explora a imagem do irriquieto oficial da Cavalaria Norte-Americana. A primeira vez que isso aconteceu foi em 1912, em “Custer’s Last Fight”, dirigido e protagonizado pelo então poderoso Francis Ford, que já lançava no cinema seu jovem irmão Jack (John) Ford. Era um filme de 30 minutos mas suficiente para iniciar a glorificação cinematográfica de Custer. Por diversas vezes a Batalha de Little Big Horn seria assunto de westerns no cinema mudo, sendo que as últimas e mais importantes foram em 1926 com produções estrelada por atores importantes como Dustin Farnum em “Flaming Frontier” e John Beck em “General Custer at Little Big Horn”. Custer estreou no cinema falado na pele do ator William Desmond em “O Fantasma Vingador” (The Last Frontier), seriado em 12 episódios estrelado por Creighton Chaney, que depois mudaria o nome para Lon Chaney Jr. Em 1936, o lendário general foi interpretado por John Miljan na superprodução de Cecil B. DeMille “Jornadas Heróicas” (The Plaisman), em que Gary Cooper interpreta Wild Bill Hickok. Em 1940 George Armstrong foi interpretado por Paul Kelly, em “O Bamba do Sertão” (Wyoming), estrelado por Wallace Beery; depois por Addison Richards em “Badlands of Dakota”, estrelado por Robert Stack; e ainda por Ronald Reagan, que foi Custer em “A Estrada de Santa Fé”, filme em que a estrela era Errol Flynn interpretando o general sulista Jeb Stuart, numa das muitas vezes em que foi dirigido pelo diretor Michael Curtiz. E viria, então, o mais famoso filme abordando a vida de Custer.
O INTRÉPIDO ERROL FLYNN
O ano era 1941 e a Warner escalou a dobradinha Michael Curtiz-Errol Flynn para mais um sucesso garantido que seria a biografia de George Armstrong Custer, exatamente num momento em que eclodia o maior conflito mundial de todos os tempos. Errol Flynn sempre gostou de uma boa confusão e avisou Jack Warner que não queria mais trabalhar com aquele húngaro maluco (Curtiz). Como o papel de Custer era talhado para Errol Flynn, Jack Warner substituiu o detestado diretor por Raoul Walsh que por sinal ficava muito mais à vontade no gênero western que o diretor de “As Aventuras de Robin Hood” e “Capitão Blood”. O filme biográfico se chamou “O Intrépido General Custer” (They Died With Their Boots On), fez um enorme sucesso, como não poderia deixar de ser, sucesso tão grande quanto as críticas negativas que sofreu por ser um filme sem nenhum compromisso com a verdade histórica, ou seja, típico da Hollywood da época de ouro do cinema. Porém, todo garoto, após ver o filme, sonhava ser tão heróico como Custer. E nas brincadeiras de mocinho a meninada gostava de morrer de forma épica como o Custer de Errol Flynn, com a espada em uma mão e o revólver na outra em meio aos ‘covardes’ índios. O que é o cinema se não uma fábrica de sonhos?
CUSTER, UM ETERNO PERSONAGEM
Errol Flynn encarnou o definitivo General Custer nas telas, e o fantasma desse general rondava o cinema e seus roteiristas, até que em 1951 o ator James Millican (“Matar ou Morrer”), trouxe Custer novamente para as telas no filme “Sanha Selvagem” (Warpath), estrelado por Edmond O’Brien e pela linda atriz iniciante Polly Bergen. No ano seguinte Custer foi revivido por Sheb Wooley (também de “Matar ou Morrer”) em uma ‘pontinha’ em “O Último Baluarte” (Bugles in the Afternoon), estrelado por Ray Milland. Em 1958 foi a vez de Walt Disney se aproveitar da fama do lendário General Custer num western para toda família chamado “Tonka, o Bravo Comanche” (Tonka). Sal Mineo é um jovem índio dono do cavalo Tonka e Custer foi interpretado por Britt Lomond. Somente em 1968 o cinema se lembraria outra vez de Custer, em “As Espingardas do Faroeste”, uma refilmagem de “The Plainsman”, desta vez com Don Murray no papel que fora de Gary Cooper (Wild Bill Hickok), enquanto Custer foi interpretado por um ainda sério Leslie Nielsen. 1967 seria um grande ano para a figura de Custer pois o respeitado diretor Robert Siodmak dirigiu “Os Bravos não se Rendem” (Custer of the West), ambicioso filme programado para o processo Cinerama e que era para ser dirigido por Akira Kurosawa. O ator inglês Robert Shaw é quem interpreta Custer, coadjuvado por um elenco onde se destacam Robert Ryan e Jeffrrey Hunter. Nesse mesmo ano a TV norte-americana colocou no ar a série “Custer”, com Wayne Maunder vivendo o intrépido general e Slim Pickens também no elenco. A série durou apenas 17 episódios, não fazendo sucesso. Aproveitando os cenários da série foi produzido o longa-metragem “Os Bravos Nunca Morrem” (The Legend of Custer) para o cinema com o mesmo elenco da série da TV, ou seja, Wayne Maunder interpretou Custer também na tela grande.
UM ÍNDIO CENTENÁRIO FALA DE CUSTER
“O Pequeno Grande Homem” foi talvez a produção mais cara envolvendo a presença do General Custer. O filme é narrado pelo índio Jack Crabb (Dustin Hoffman) que atingiu a idade centenária, sobrevivente de Little Big Horn e que conviveu com Custer. E é ele quem conta de forma realísta quem foi o mais famoso general da Cavalaria dos Estados Unidos. Quem interpreta Custer é Richard Mulligan e o massacre de Washita River, em 1868, é um dos pontos altos deste que foi um dos principais westerns da década de 70, não apenas por ser um western soberbo, mas por contar a história de Custer como nunca havia sido contada no cinema. O grande destaque do elenco é Chief Dan George, índio de 71 anos que teria outra brilhante atuação em “Josey Wales, o Fora-da-Lei”. E para quem achava que os europeus já haviam cansado de brincar de mocinho, eis que em 1974, o diretor italiano Marco Ferreri (de “A Comilança” e “A Crônica do Amor Louco”) decide dar a sua visão de Little Big Horn. Para isso reuniu Michel Picolli, Philippe Noiret, Ugo Tognazzi e Catherine Deneuve para uma insólita recriação da vida de Custer. Ah, George Armstrong é interpretado por Marcello Mastroianni. Essa absurda comédia intitulada “Não Toque na Moça Branca” (Touche pas à La Femme Blanche), apesar do elenco foi um fracasso de bilheteria.
Acima, à esquerda, Richard Mulligan em "O Pequeno Grande Homem"; à direita Marcello Mastroianni como o General Custer e Phillip Noiret |
100 ANOS DE GENERAL CUSTER NO CINEMA
Custer esperaria mais 12 anos para que, em 1991, outro filme focalizasse sua vida em “Son of the Morning Star”, produzido para a TV e com o personagem principal de General Custer interpretado por Gary Cole. Com 187 minutos, esse western é original porque a vida de Custer é contada a partir da visão de sua mulher Libbie (Rosanna Arquette) e de Kate Bighead (Buffy St. Mary). O papel de Custer foi oferecido a Kevin Costner que vinha do grande sucesso com “Dança com Lobos” e não aceitou a proposta de trabalho para essa produção para a TV. E foi a mesma televisão que incansavelmente tem produzido séries e filmes em que Custer é lembrado. Em 2009, foi produzido para o cinema “Uma Noite no Museu 2” e entre Napoleão, Ivan o Terrível, Al Capone, Átila e Lincoln, surge o General Custer. Notícias dão conta que está prestes a ser iniciada a produção de “The Hard Ride”, que, se não houver mudanças terá Val Kilmer de volta à sela novamente, ao lado de Wes Studi e Don Murray, num western passado em 1876 em que o ator Christopher Atkins (o menino de “A Lagoa Azul”) interpretará George Armstrong Custer. Exatamente 100 anos após Francis Ford e por certo muito longe de ser a última vez que o lendário General do 7.º Regimento da Cavalaria surja orgulhoso e garbosamente nas telas.
Errol Flynn fez aniversário 20/06, esta semana é dele!!!
ResponderExcluirAdoro este filme, um dos meus preferidos do Errol.
Um dos poucos filmes que retrata o Custer romanticamente, vale a pena ver.
E Errol ficou muito bem neste uniforme " Yanque ", rs
Você sonhava em ser Custer e eu em ser a amada dele, rs
ResponderExcluirAssisti o filme com o Errol Flynn no cine Anchieta, em São Vicente, nos anos 50... Que saudades!!!
ResponderExcluirOlá, por acaso foi o Vadeco quem postou o comentário sobre o Cine anchieta, em São Vicente?
ResponderExcluirOlá. Acho que faltou o filme "Enterrem meu coração na curva do rio", de 2007, dirigido por Yves Simoneau.
ResponderExcluirEm o último samurai tb falam sobre o general Custer...
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