3 de junho de 2025

ESTRONDO DE TAMBORES (A THUNDER OF DRUMS)

 


  No início dos anos 60, enquanto na TV as séries westerns ainda estavam entre as campeãs de audiência, no cinema o gênero experimentava o declínio e prova disso é que, em 1961, alguns grandes estúdios produziram um único western cada, como foi o caso da Columbia, Warner Bros., Paramount e MGM. O faroeste que a Metro produziu nesse ano foi “Estrondo de Tambores” (A Thunder of Drums), baseado em história de James Warner Bellah e com roteiro do mesmo Bellah, cujo nome é bastante conhecido pelos fãs de westerns, especialmente aqueles que apreciam filmes sobre a Cavalaria Norte-Americana. São de autoria de Bellah as histórias que John Ford usou em sua Trilogia da Cavalaria (“Sangue de Heróis”/Fort Apache, “Legião Invencível”/She Wore a Yellow Ribbon e “Rio Grande”/Rio Bravo), além de “Audazes e Malditos” (Sergeant Rutledge). E James Warner Bellah foi também o autor da história e um dos roteiristas da obra-prima “O Homem que Matou o Facínora” (The Man who Shot Liberty Valance). Esses títulos seriam mais que suficientes para recomendar “Estrondo de Tambores”, com a direção entregue a Joseph Newman, diretor que três anos antes havia dirigido o ótimo “Forte Massacre” (Fort Massacre). E o elenco desta produção da Metro foi liderado por Richard Boone, outra atração, ele que fazia sucesso como o Paladino do Oeste, na série de TV que esteve no ar por seis temporadas, entre 1957 e 1963, sempre entre as mais assistidas. Nas folgas entre os episódios como ‘The Paladin’, Boone teve marcante participação em “O Álamo” (The Alamo), de John Wayne, interpretando o General Sam Houston e vestiu novamente uniforme militar para ser o comandante do forte onde se passa a história de “Estrondo de Tambores”.


 Caça aos índios assassinos - Uma patrulha composta por soldados do Forte Canby é atacada por índios quando quatro soldados são mortos. Aparentemente são os mesmos índios também atacaram a casa de uma família de colonos matando-os e estuprando duas mulheres brancas. O Capitão Stephen Maddocks (Richard Boone) que comanda o forte exige que se descubra se os autores dos massacres são Comanches ou Apaches, onde eles estão e que paguem com suas vidas pelos assassinatos que cometeram. Chega ao Forte Canby o jovem e inexperiente Tenente Curtis McQuade (George Hamilton), recém formado pela Academia Militar e filho de um general do Exército que comandara o mesmo Forte Canby tendo, então, Maddocks sob seu comando. O Tenente McQuade encontra no forte a jovem Tracey Hamilton (Luana Patten) que está prestes a se casar com o Tenente Thomas Gresham (James Douglas), também lotado em Forte Canby. McQuade e Tracey se conheceram no Leste, onde mantiveram um caso e a antiga paixão é reacendida. Maddocks envia o Tenente Gresham comandando uma patrulha de sete soldados para localizar os índios e todos os oito homens da patrulha são brutalmente mortos. Após mais esta baixa em suas tropas, num total de doze num intervalo de poucos dias, o Capitão Maddocks reúne um destacamento maior que também é atacado pelos Apaches. Após dois confrontos os índios são abatidos e McQuade consegue provar a Maddock sua coragem e valor. A tropa retorna ao Forte Canby de onde Tracey Hamilton parte sozinha de volta para o Leste.

A Tropa sob o comando do Capitão Maddocks; a patrulha dizimada pelos Apaches

 A vida no Forte Canby - Deixe-se de lado a expectativa de “Estrondo de Tambores”, por ser uma história da Cavalaria de James Warner Bellah, resultar num western como os da trilogia dirigida por John Ford já que qualquer comparação seria imprópria. Feito isso, este filme de Joseph Newman consegue despertar razoável interesse na abordagem da rotina de um forte encravado no Velho Oeste. As reivindicações do capitão-comandante são só parcialmente atendidas; o número de soldados do forte é insuficiente para conter os ataques dos índios na circunscrição do forte; a alegria dos soldados no dia de receber o soldo (payday) que é gasto quase todo ele no consumo de whiskey; as intrigas que correm boca-a-boca; os momentos de descontração nos bailes; o temor das ordens do irascível capitão sempre pronto a humilhar um subordinado. A isso some-se a insatisfação do próprio Capitão Maddocks confinado ao Forte Canby sem nenhuma previsão de promoção em razão de um erro militar cometido no passado. Dois terços de “Estrondo de Tambores” são consumidos para mostrar a vida entre as muralhas do forte, no que o filme não deixa de ser bem sucedido. Isto apesar do triângulo amoroso pouco ou nada convincente inserido na história com a coincidência da chegada do Tenente McQuade na véspera do casamento da jovem Tracey com o Tenente (Gresham), ela que quase se tornara a senhora McQuade quando viviam no Leste. E mais ainda com a sequência de encontros fortuitos e troca de beijos sempre interrompidos pela chegada inesperada de um soldado ou mesmo do Capitão Maddocks.

Richard Boone dançando com Luana Patten; Arthur O'Connell, James Douglas e George Hamilton; Luana Patten e James Douglas; Duane Eddy e seu violão

 Um soldado mau caráter - Após muita conversa e pouca ação, vem o aguardado final de “Estrondo de Tambores” quando a Cavalaria parte para encontrar os índios e é emboscada pelos Apaches, em situação confusa com o Capitão Maddocks dando ordens ambíguas. E o ponto alto que poderia ser o confronto decisivo é decepcionante e despido de emoção e ritmo, sem uso de stuntmen e sem as lutas corpo a corpo e quedas de cavalos tradicionais nos melhores westerns. Em nada ajuda o excesso de frases de fundo psico-filósofico expressas pelo Capitão Maddock cuja didática consiste em humilhar todos sob seu comando. O único momento de ação na parte inicial ocorre quando o Tenente McQuade é extorquido pelo soldado Hanna (Charles Bronson) com quem trava luta feroz interrompida pela chegada de Maddock. Hanna havia presenciado diálogo comprometedor entre McQuade e Tracey e tenta tirar proveito disso cobrando McQuade pelo seu silêncio. Na econômica sequência inicial do filme, quando do ataque de Apaches, que sequer são mostrados, ao rancho da família Detweiler, a menina Laurie sofre um trauma que a deixa muda e sem reações sendo assim encontrada. E ao final do filme, sem maiores explicações a menina parece se recuperar e é enviada à casa de uma tia no Leste. Assim como o romance proibido entre McQuade e Tracey, a presença da menina Laurie é mal resolvida pelo roteiro. James Warner Bellah publicava suas histórias em forma de pulps e é provável que essas situações façam sentido no livro, o que não ocorre no roteiro escrito pelo próprio Bellah.

Carole Wells; Charles Bronson, Slim Pickens e Tammy Marihugh;  George Hamilton e Charles Bronson; Charles Bronson

 Charles Bronson o destaque do filme - A Metro-Goldwyn-Mayer entendeu ser esta aventura de Cavalaria uma boa oportunidade para impulsionar as carreiras de George Hamilton (que não decolava), James Douglas, Richard Chamberlain (em seu segundo filme e ainda antes da série de TV “Dr. Kildare”) e de Luana Patten (ex-atriz infantil). Porém quem domina este western com atuações seguras são os ‘veteranos’ Richard Boone, Arthur O’Connell e Charles Bronson, este aos 40 anos e já com uma década atuando em mais de trinta filmes, alguns deles westerns clássicos. Seu personagem é cínico, obcecado por mulheres e irresponsável a ponto de estar sempre devendo ao Exército. E quem diria que, de todo o elenco, Bronson seria poucos anos mais tarde uma sensação nas bilheteria do cinema! Claro que Boone é o destaque maior com sua presença forte e voz tonitruante, contrastando com os galãs Hamilton e James Douglas impecavelmente fardados e ainda o também bonitão Richard Chamberlain. Luana Patten, cuja beleza lembra um pouco Romy Schneider, pouco tem a fazer a não ser não conseguir evitar os abraços e beijos de Hamilton, seu ex-noivo. O diretor Newman não foi capaz de explorar o talento de comediante de Slim Pickens para dar um pouco de leveza ao filme. Como era moda nos westerns daqueles anos colocar jovens artistas da música nos elencos, desta vez foi o guitarrista Duane Eddy quem foi usado para atrair os fãs de rock’n’roll. Muito boa a música de Harry Sukman bem como a fotografia de William W. Spencer, que ajudam a fazer “Estrondo de Tambores” merecer ser assistido. Curiosamente a sequência final parece ter sido inspirada em “Casablanca”, com a amizade que nasce entre o Capitão Maddocks e o Tenente McQuade. E é de Maddocks a frase “o melhor soldado é o solteiro porque a única coisa que ele tem a perder é a solidão”.

George Hamilton e Richard Chamberlain; Charles Bronson e Slim Pickens; Duane Eddy; Arthur O'Connell, George Hamilton, Charles Bronson e Slim Pickens


Richard Boone

 Bellah, um patriota extremado - “Estrondo de Tambores” foi um western logo esquecido, em parte por sua qualidade mediana e mais ainda porque quando foi produzido já se iniciara uma revisão da mentalidade que por décadas imperou em Hollywood vendo os nativos como selvagens, ecoando a frase do General Sheridan que “índio bom é índio morto”. Segundo o filho de James Warner Bellah, o pai era um homem misantropo e racista e que odiava os índios. Bellah lutou nas duas grandes guerras mundiais e se tornou membro da Society of Colonial Wars, uma associação patriótica criada para defesa e preservação das colônias norte-americanas espalhadas pelo mundo. O roteiro de Bellah trata os Apaches como seres que devem ser mortos e nada é mostrado no filme sobre eles ou suas razões para lutar, a não ser que são responsáveis por ataques covardes e cruéis contra os brancos e contra a Cavalaria. Por sinal, no combate com os túnicas azuis os Apaches sequer sdemonstram saber lutar e são presas fáceis da Cavalaria, a não ser quando, como foi dito, atacam covardemente. “A Thunder of Drums” foi o último livro escrito por James Warner Bellah e é provável que nos dias atuais seus livros voltem a fazer sucesso.

 

Acima à direita James Warner Bellah; abaixo à esquerda Richard Boone, Duane Eddy e Joseph Newman; abaixo à direita o militar James Warner Bellah.

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