Assim como John Ford e Henry King, Henry Hathaway era diretor contratado da 20th Century-Fox. Ford se desligou do estúdio mas Hathaway e King continuaram na Fox até praticamente o fim de suas longas carreiras como diretores. E como Ford e King, Henry Hathaway dirigiu para o estúdio todo tipo de filme, alguns deles westerns e que ótimos westerns, merecendo ser lembrados “O Correio do Inferno” (Rawhide), 1951, “Nevada Smith”, 1966, “Pôquer de Sangue” (5 Card Stud), 1968, “Os Filhos de Katie Elder” (The Sons of Katie Elder), 1965 e outros, entre estes três dos cinco segmentos de “A Conquista do Oeste”. Hathaway será sempre lembrado por “Bravura Indômita” (True Grit), 1969, que deu um Oscar a John Wayne, mas também inesquecível entre os westerns de Hathaway é “Fúria no Alasca” (North to Alaska), um western quase comédia com John Wayne. Nunca considerado para entrar no panteão do grandes diretores, Henry Hathaway brilhou na maior parte dos filmes que dirigiu e “Caçada Humana” (From Hell to Texas) comprova essa afirmação.
O ator Don Murray era uma das apostas da Fox para ser um dos novos galã do estúdio nos anos 50, isto depois de passar vários anos atuando nas produções para a TV. E Murray não poderia ser lançado no cinema de maneira melhor pois foi contracenando com Marilyn Monroe em “Bus Sop” (Nunca Fui Santa), que ele se tornou conhecido do grande público. A imagem de Don Murray era invariavelmente a de homem íntegro e sua fisionomia expressava isso naturalmente. Alto e tranquilo, Don lembrava vagamente o jeito de Gary Cooper e não demorou para o público vê-lo em um western quando a Fox o escalou para uma produção de orçamento médio que foi “Caçada Humana”, que seria todo filmado em Alabama Hills e Lone Pine. Nesse western Don Murray interpreta Tod Lohman, um cowboy que acidentalmente em uma briga mata um dos filhos de Hunter Boyd (R.G. Armstrong), poderoso fazendeiro que reúne um bando armado para capturar ou mesmo matar Lohman. Durante a perseguição outro filho de Boyd é morto o que mais aumenta o seu desejo de vingança. Em sua fuga Lohman conhece Amos Bradley (Chill Wills) e Juanita (Diane Varsi), a filha adotiva de Amos, que o ajudam. Outros homens do grupo perseguidor vão morrendo em diferentes situações e quando só restam Hunter Boyd e seu filho Tom Boyd (Dennis Hopper), Lohman salva a vida de Tom e Hunter finalmente desiste de matar o desafeto que ele próprio criara, entendendo ser Lohman um homem de bem.
O perseguido (Don Murray) e os seus caçadores Rodolfo Acosta, R.G. Armstrong e Dennis Hopper |
“Caçada Humana” gira em torno de uma implacável perseguição para que ocorra uma vingança. E Tod Lohman é um homem do Oeste, porém sem a rudeza de espírito pois não é um matador, ainda que tenha reagido e matado Hal Carmody (John Larch), braço direito de Hunter Boyd. A índole de Lohman é expressa quando ele sacrifica seu cavalo que havia levado um tiro de Tom Boyd, mas se recusa a matar um outro cavalo que teimava em acompanhá-lo, em sequência que não deixa dúvidas sobre seu caráter. Lohman está mais para um pacifista que atraí desgraças que levam a mortes em série, mesmo que ao reagir contra quem atira nele, procura sempre não atingir mortalmente o oponente. Cowboy tímido, tem vergonha de se despir diante de Juanita que o obriga a tomar banho por estar fedendo como um bode. Seu temperamento em muito é regrado pelo pedido de sua mãe para que procure fazer o bem sempre, pedido escrito em uma bíblia que ela deixou para ele antes de morrer e que ele carrega sempre consigo. Lohman procura de todas as formas evitar que seus problemas com Boyd envolva aqueles que o cercam e Hunter Boyd diz não entender porque todos gostam tanto do assassino de seu filho. Além de Amos Bradley, também o comerciante itinerante Jake Leffertfinger (Jay C. Flippen), o barmen da cidade de Pueblo e um religioso protegem o pseudo assassino a quem Juanita vê como o homem ideal para ela amar.
Chill Wills, o pai feliz já imaginando ter conseguido um marido (Murray) para a filha (Diane Varsi); Jay C. Flippen com Don Murray; Diane não contém o desejo por Murray. |
Em “Paixão dos Fortes” (My Darling Clementine), Old Man Clanton (Walter Brennan) jura vingança ao ver um de seus filhos ser morto, o que gera uma vingança familiar, assim como ocorre em “Estigma da crueldade” (The Bravados) e em “Nevada Smith”. Nesses westerns há bandidos envolvidos, o que não ocorre em “Caçada Humana”, o que o torna um faroeste diferente. O que não falta, no entanto neste filme de Hathaway é a tensão que está presente durante todos os 100 minutos de sua duração. Diversos confrontos havendo até mesmo uma perseguição de comanches à carroça do velho Leffertfinger, na qual Tod Lohman tem seu momento de John Wayne /Yakima Canutt andando sobre os six black horses que puxam a carroça. Ao final desse ataque, quando escapam dos índios graças à sabedoria do experiente comerciante, Leffertfinger diz a única frase engraçada num western sério: “Acho que o uísque que vendi para esses comanches não era de boa qualidade”. O roteiro tenta dar uma leveza quando a família de Amos entra em cena, com sua alegre esposa rodeada por seis filhas e a señora Amos Bradley é eficiente não só na arte de trazer filhas ao mundo, mas também consegue extrair três balas do corpo do marido. O momento culminante de “Caçada Humana” ocorre em seu final quando Lohman, ao invés de atirar em Tom Boyd, que está com o corpo em chamas, salta sobre ele conseguindo apagar o fogo que começava a queimar inteiramente o filho de Hunter Boyd. Momento não só culminante mas também emocionante e que demonstra definitivamente o tipo de homem que era o cowboy perseguido. Só assim para o pai sedento por vingança enxergar a verdade.
Chill Wills com a esposa e a prole feminina; Margo, com inacreditável habilidade cirúrgica. |
Western de orçamento médio, “Caçada Humana” merecia muito maior publicidade e seria mais lembrado se o par central fosse composto por grandes nomes do cinema, o que não era exatamente os casos de Don Murray e Diane Varsi. Murray está bem como o cowboy quase justiçado por quem decide ser a lei, capturando, julgando e condenando um homem. Diane tenta aparecer masculinizada no início do filme, ela que é toda delicadeza. Porém o destaque fica mesmo para o excelente grupo de coadjuvantes, a começar por R.G. Armstrong, desta vez distante do tipo neurótico-psicótico que costumava interpretar e mais uma vez em excelente atuação. Chill Wills e Jay C. Flippen não ficam atrás e completam o trio das melhores interpretações. Dennis Hopper ainda não havia aperfeiçoado o homem mau que demonstraria no cinema no futuro e tanto Rodolfo Acosta quanto John Larch têm poucas oportunidades. A cópia utilizada para esta resenha é de uma gravação do antigo canal Telecine Classic, com imagem sofrível, mas que em nada diminui a excelência de “Caçada Humana”.
A impressionante sequência em que Don Murray salva a vida de Dennis Hopper; o implacável R.G. Armstrong finalmente se penitencia. |
Don Murray como Tod Lohman |
Bom faroeste.
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