Henry Hathaway |
Aos 70 anos de idade em 1968 Henry
Hathaway não pensava em se aposentar e poucos poderiam acreditar que ele ainda
fizesse dois ótimos westerns: “Bravura Indômita” (True Grit) em 1969 e “O
Parceiro do Diabo” (Shoot Out”) em 1971. “Pôquer de Sangue” (5 Card Stud), que
Hathaway realizou em 1968 parecia que poderia também resultar em um western
classe A e para isso Robert Mitchum e Dean Martin foram contratados para
liderar o elenco. Mitchum ficou em dúvida em aceitar ou não pois havia recebido
convite para interpretar ‘Pike Bishop’ no novo faroeste de Sam Peckinpah, “Meu
Ódio Será Sua Herança” (The Wild Bunch). Entre trabalhar com um diretor novo
com fama de difícil, Mitchum optou por trabalhar com o veterano Hathaway que também
gostava de gritar com os atores e que o dirigira em “Feitiço Branco” (1953),
sem que (o diretor) o desrespeitasse. E quem teria coragem para qualquer
desaforo com Bob Mitchum sem levar o devido troco? Uma curiosidade dessa
reunião era que tanto Mitchum quanto Martin desempenharam papéis de xerifes
bêbados em westerns de Howard Hawks. E Mitchum interpretaria um personagem
parecido com sua imortal criação do fanático pastor evangélico de “O Mensageiro
do Diabo”. A produção de “Pôquer de Sangue” foi de Hal B. Wallis, mesmo
produtor de “Cidade negra”, policial noir de 1950 com muitos pontos de
semelhança com o novo faroeste de Hathaway.
Acima Jerry Gatlin sendo enforcado; abaixo Dean Martin e Roddy McDowall |
A
mesa da morte - Numa mesa de pôquer na cidadezinha de Rincon um jogador
esconde uma carta e como castigo é linchado por um grupo liderado por Nick
Evers (Roddy McDowall). Van Morgan (Dean Martin), jogador profissional, tenta
sem êxito salvar o infeliz da forca. Chega então ao lugar o Reverendo Jonathan
Rudd (Robert Mitchum) e tem início uma série de execuções na cidade,
coincidentemente todos os mortos estavam na fatídica rodada de pôquer.
Aparentemente Nick Evers seria o responsável pelas mortes, forma de acobertar
ter ele comandado o linchamento. Descobre-se, porém, que o pregador é irmão do
jogador enforcado pelo grupo e se instalara em Rincon para executar a vingança.
Tanto Nick Evers quanto Van Morgan estão na lista do Reverendo que já matou os
demais participantes da mesa de pôquer. O Reverendo faz uso de uma arma
escondida em sua Bíblia quando se confronta, primeiro com Evers, a quem mata e
em seguida no duelo contra Van Morgan, momento final de sua vingança.
A mesa fatídica e Robert Mitchum |
Roddy McDowall e Robert Mitchum |
Cowboy
bizarro - Até a primeira metade “Pôquer de Sangue” mantém o
interesse do espectador na trama típica de filme de mistério policial. Perde,
no entanto esse atrativo quando contrapõe os dois possíveis responsáveis pela
série de assassinatos, o irascível jovem interpretado por Roddy McDowall e o
sinistro reverendo. Enquanto Robert Mitchum revive o psicótico religioso de “O
Mensageiro do Diabo”, McDowall lembra o perturbado Norman Bates de “Psicose”. Com
forte sotaque britânico, McDowall é um dos mais bizarros cowboys já vistos em
um western e, mesmo sem uma atuação vigorosa de Mitchum, fica claro que o
reverendo é o tenebroso assassino da série de mortes. Torna-se então um western
comum que se sustenta pela direção segura de Hathaway na condução de uma
história mais que previsível. E pouco ajuda o roteiro com personagens femininas
tantas vezes vistas em outros faroestes: uma bela jovem (Katherine Justice)
disputando com a prostituta de bom coração (Ginger Stevens) o amor do herói. O
triângulo não funciona não só porque forçado mas também pelas inexpressivas
participações das atrizes e evidente desinteresse de Dean Martin por seu
personagem. Mitchum até que se esforça um pouco mais.
Uma Bíblia perigosa |
A
Bíblia e o Colt - São justamente de Mitchum os melhores
momentos de “Pôquer de Sangue”, especialmente a tensa sequência de luta contra
o ator negro Yaphet Kotto. Mitchum é impressionante quando incute fúria a seus
personagens como nessa sequência e, vencido pela força física do gigantesco
Kotto (1,93m) faz uso a queima-roupa de seu revólver. Por sinal o reverendo
lembra que não só a Bíblia expressa verdades, mas também seu Colt, “primeiro
nome Samuel”, num inspirado trocadilho. O enfrentamento repetido duas vezes com
a Bíblia aberta nas mãos em pleno cemitério é igualmente expressivo com a
sagacidade do jogador-pistoleiro que percebe estar o livro de cabeça para
baixo. Ao final “Pôquer de Sangue” deixa a impressão que as boas ideias do
roteiro são desperdiçadas, assim como o talento dramático de Mitchum e o charme
de Dean Martin.
Muitos
atores característicos - Ruth Springford foi uma atriz que
pouco atuou no cinema, dedicando-se quase que totalmente à TV, tendo bom
desempenho, assim como Yaphet Kotto. Este em seu primeiro filme tentando seguir os passos de Sidney Poitier Uma pena Denver Pyle ser tão mal
aproveitado só aparecendo no início e no final do filme, enquanto o ótimo Ted
de Corsia, desta vez como xerife, atua menos tempo ainda. Entre os muitos nomes
constantes em westerns aparecem Jerry Gatlin, Roy Jenson, Don Collier, Boyd
‘Red’ Morgan, Chuck Hayward (na foto ao lado de arma em punho) e John Anderson. Roddy McDowall foi uma escolha no
mínimo esdrúxula.
Cartada
inexpressiva - Dean Martin canta a canção-título “5 Card Stud”, de
autoria de Ned Washington (letra) e Maurice Jarre, cuja melodia é trabalhada
incidentalmente pelo maestro francês durante todo o filme. Rodado em locações
em Durango, assim como a música de Jarre a cinematografia de Daniel L. Faap
pouco impressiona. Nesta rodada de pôquer dirigida por Henry Hathaway o
espectador mal consegue um par de ases porque os ases Martin e Mitchum jogam
com pouca vontade.
Adoro a resenha dos filmes apresentada em vosso site ,porém noto que nenhuma atriz parece ser boa...exceçao de Andy Dickson ...
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