7 de junho de 2017

A NOITE DOS PISTOLEIROS (ROUGH NIGHT IN JERICHO) – DEAN MARTIN COMO HOMEM MAU


Dean Martin, um ator que irradiava simpatia por todos os poros, jamais havia interpretado um homem mau no cinema e isto veio a acontecer em 1967, no western “A Noite dos Pistoleiros” (Rough Night in Jericho). A história de autoria de Marvin H. Alpert teve roteiro do próprio Alpert em parceria com Sidney Boehm, de quem se poderia esperar boa dose de violência. Boehm foi o roteirista de “Os Corruptos” e “Sábado Violento”, dois filmes marcantes por suas cenas de extrema violência, isto quando Hollywod, ainda sob o Código Hays, evitava chocar as plateias. Mas não é o vilão Dean Martin quem participa da mais brutal sequência deste western e sim Slim Pickens em luta com George Peppard. Mesmo Peppard nunca teve no cinema a imagem de homem agressivo e parece que tanto Martin quando Peppard estão fora de seus personagens costumeiros. O western norte-americano começava a mudar e “A Noite dos Pistoleiros”, dirigido por Arnold Laven, indica essa direção que Sam Peckinpah norteava com seus filmes. Vale lembrar que o faroeste anterior de Laven foi “Assim Morrem os Bravos” (The Glory Guys), com roteiro de Peckinpah.


Dean Martin; George Peppard
51% de tudo - Alex Flood (Dean Martin) e Dolan (George Peppard) são dois ex-homens da lei que cansados de arriscar a vida a troco de um salário irrisório decide mudar de vida. Flood se instala em Jericho onde passa a dominar a vida local sendo sócio de tudo que gere dinheiro. Contenta-se com 51% de qualquer coisa, o suficiente para ser respeitado por todos, inclusive pelo bando que comanda. Flood enforca sumariamente seus desafetos e muda o xerife que não o obedece, tencionando ser sócio majoritário da companhia de diligências da viúva Molly Lang (Jean Simmons). Dolan chega a Jericho numa diligência da empresa de Molly em companhia de Ben Hickman (John McIntire), outro ex-homem da lei, sendo no caminho intimidado por Flood, que dispara várias vezes contra a diligência. Dolan se interessa por Molly e para piorar as coisas ganha de Flood no pôquer, o suficiente para que seja intimado a deixar a cidade. Tudo muda quando Flood destrói o armazém de Ryan (Richard O’Brien), o que faz com que Dolan convença alguns homens a enfrentar o poderoso pequeno exército de Flood. Emboscado este vê seu bando ser dizimado e foge, sendo perseguido por Dolan que o enfrenta num confronto mortal.

Violência exacerbada - “A Noite dos Pistoleiros” não é um western com muita ação, resumindo-se a três sequências os momentos de maior emoção, uma delas excepcionalmente bem filmada. É quando Yarbrough (Slim Pickens), braço direito de Flood e que faz uso de um chicote quando necessário, enfrenta Dolan. Ao contrário das lutas travadas com punhos, os dois homens usam o que estiver à mão e a morte de Yarbrough é animalesca com Dolan extravasando sua fúria incontida. Yarbrough apertando o pescoço de Molly com um seus enormes braços diz que poderá quebrar o pescoço da mulher com mais um mínimo aperto. Mesmo a sequência em que Flood dá uma lição a um provocador em seu saloon, bate com a cabeça do infeliz várias vezes contra o balcão, algo poucas vezes visto no western e menos ainda porque é Dean Martin quem comete a brutalidade. Flood querendo saber se Molly dormiu ou não com Dolan e não obtendo resposta, desfere violentos tapas na mulher em mais uma sequência de selvageria.

George Peppard em luta Slim Pickens

Jean Simmons e Dean Martin
Sensação de ‘já vi esse filme’ - O roteiro repete lugar comum de tantos e tantos westerns com a chegada de um forasteiro que provoca uma sublevação contra o tirânico opressor. A inferioridade numérica é compensada pela astúcia do herói, aqui um profissional de pôquer que considera todas as probabilidades, conforme repete várias vezes. A disputa pela mesma mulher, uma bela e arrojada viúva como sempre, completa o quadro que leva ao previsível desfecho. Salvaria o filme diálogos que fossem mais divertidos uma vez que a ironia perpassa todas as conversas travadas entre Dolan e Flood. O que se vê, no entanto, são colóquios maçantes na maior parte do filme. Ben Hickman é quem faz subir a qualidade não só interpretativa como, coincidentemente dos diálogos. E claro, a presença do violento Yarbrough.

Jean Simmons
A beleza madura de Jean Simmons - Fora de seu padrão interpretativo, Dean Martin faz o que pode para tornar o abusivo Flood convincente como vilão. George Peppard tenta interpretar um jogador elegante ao estilo daqueles que ninguém melhor que Henry Fonda era capaz de compor. Jean Simmons já sem o frescor de sua beleza tantas vezes vista no cinema sempre agrada, boa atriz que era. Em uma sequência Jean entorna garrafa e meia de whisky com George Peppard, ela que na vida real teve sérios problemas com a bebida. Em nenhum filme do qual participa, John McIntire deixa de impressionar e neste, mais uma vez, ele mostra que era um dos grandes característicos do cinema norte-americano. Slim Pickens desta vez menos espalhafatoso tem marcante participação como capanga de Dean Martin.

Dean Martin
Centenário de nascimento - Realizado no período de transição que precedeu a inequívoca influência dos westerns-spaghetti, “A Noite dos Pistoleiros” é um faroeste que guarda a influência do modelo que Hollywood consagrou ao mesmo tempo em que busca renovar a linguagem do gênero com uma dose maior de violência. Nada memorável, seja na filmografia de Arnold Laven ou na dos principais intérpretes, este filme recebeu uma única indicação nas dezenas de Top-Ten Westerns publicados neste blog. Quem o listou foi o cinéfilo José Correia Dantas que admirava o estilo de atuar de Dean Martin, tanto que procurava, nas reuniões da confraria paulistana de westernmaníacos, se trajar como esse grande astro nascido no dia 7 de junho de 1917. Exatamente na data da publicação desta postagem transcorre portanto o centenário de nascimento do querido ator-cantor nascido como Dino Paul Crocetti.



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