Lamont Johnson (acima) |
O western spaghetti teve,
inegavelmente, influencia sobre o gênero de modo geral revitalizando-o e
rompendo com modelos consagrados em décadas. E não são poucos os faroestes norte-americanos
que comprovam essa tese. Se o spaghetti chegou ao extremo da criatividade ao
filmar admiravelmente um trielo num cemitério, por que o faroeste norte-americano
não poderia filmar um confronto entre pistoleiros dentro de uma... plaza de
toros? É isso que acontece em “O Duelo” (A Gunfight), western dirigido por
Lamont Johnson em 1971 e escrito por Harold Jack Bloom. Este autor iniciou sua
carreira escrevendo e roteirizando em 1953 nada menos que “O Preço de um Homem”
(The Naked Spur), o melhor dos excelentes westerns de Anthony Mann. Este duelo levado
à tela em 1971 teve como contendores um astro dos faroestes que era Kirk
Douglas e o cantor Johnny Cash. Conhecido como ‘The Storyteller’ pelas
histórias que narrava em suas canções, muitas delas falando do Velho Oeste e
seus personagens, Johnny Cash até que demorou para levar para o cinema o ‘Man
in Black’ com que conquistou tantos fãs nos palcos.
Kirk Douglas e Johnny Cash |
Dois
veteranos pistoleiros - Abe Cross (Johnny Cash) é um
pistoleiro que faz uma parada numa pequena cidade do Texas, na fronteira com o
México. Nessa cidade vive o também ex-pistoleiro Will Tenneray (Kirk Douglas)
agora ganhando a vida no Reata Saloon da cidade. Tanto Cross quanto Tenneray
são veteranos do gatilho que já tiveram melhores dias, mas os habitantes da
cidade, assim que tomam conhecimento da presença de Cross, passam a fazer
apostas num possível confronto de ligeireza e pontaria entre os dois. Francisco
Alvarez (Raf Vallone), um comerciante local vê nesse duelo a possibilidade de
ganhar dinheiro não só com as apostas, mas promovendo o embate como um
espetáculo inusitado. O encontro ocorrerá em Bajo Rio, cidade vizinha além
fronteira, dentro da arena onde ocorrem touradas. A princípio contrariados com
a ideia, os dois acabam seduzidos pela possibilidade de ganhar um bom dinheiro,
especialmente porque apenas um irá sobreviver e poderá começar vida nova com a
pequena fortuna ganha no duelo. Tenneray é casado, tem um filho e sua esposa
luta inutilmente para convencê-lo a desistir da contenda que afinal ocorre
deixando-a viúva.
Raf Vallone e Keith Carradine |
Bolsa
de apostas - O diretor Lamont Johnson foi bastante premiado por seus muitos
trabalhos na televisão, mas fazer cinema é outra história e “O Duelo”, apesar
de alguns bons momentos, é um filme que jamais chega a empolgar. Francisco
Alvarez representa o oportunista que momentaneamente se torna empresário e sua
aposta maior é a possibilidade de Tenneray não sair vivo da peleja. Alvarez
manteve durante anos um caso com Nora (Jane Alexander), a esposa de Tenneray e
nutre a esperança de voltar a viver com ela. Nora tornando-se viúva em muito
facilitaria seu objetivo, além é claro, dos 10% que Alvarez receberá pela
promoção do ‘grandioso espetáculo’ que o Texas nunca presenciou. Mesmo percebido
por Abe Cross o mal explicado triângulo amoroso, “O Duelo” minimiza essa
subtrama que daria maior sabor ao filme e, ao invés disso, fixa-se longamente
na preparação do duelo. O roteiro também não explora devidamente a comoção que
se apossa dos moradores ávidos por conhecer quem é o mais rápido. O ponto alto
deste western acaba sendo a sequência com a presença de um repórter
sensacionalista que quer entrevistar os contendores. Estes espertamente cobram
para serem fotografados (“25 dólares cada
um”, diz astuciosamente Abe Cross) quando do nada surge um jovem pistoleiro
em busca da fama (Keith Carradine) desafiando um dos dois. Tanto faz ser Cross
como Tenneray pois o que interessa ao audacioso pretendente à fama é justamente
a glória de haver derrotado um atirador famoso e ambos o são. É Tenneray quem
se mostra mais rápido, matando o jovem pistoleiro e com isso fazendo com que
sua cotação suba ainda mais nas apostas.
Jane Alexandre; Jane Alexander e Kirk Douglas |
A arena de touros assiste a um duelo. |
Aparato
de grande evento - O circo em que se transforma a
pequena plaza de toros de Bajo Rios tem o aparato dos grandes eventos. Marcado
para as quatro horas da tarde, a quarta badalada do sino da igreja próxima é o
sinal para que os contendores saquem suas armas diante de centenas e centenas
de olhares sequiosos e que testemunham o embate que só faltou ser chamado de ‘o
duelo do século’. Mesmo com todo esse presumivelmente interessante cenário e
ainda os expressivos Kirk Douglas e Johnny Cash, o resultado é de uma frieza
ímpar, perdendo-se o que poderia ser uma notável variação nos westerns
norte-americanos. O mesmo Kirk Douglas que viveu em “Duelo de Titãs” (The Last
Train from Gun Hill) e em “O Último Pôr-do-Sol” (The Last Sunset) grandes
showdowns do faroeste, certamente se decepcionou com este duelo numa arena de
touros. Para complementar, Lamont Johnson filma ainda um resultado diferente
que se passa na aturdida imaginação da viúva Tenneray. Nada mais despropositado
e desnecessário, ainda que a intenção tenha sido ressaltar a amargura da
vitória para Abe Cross que como castigo escuta um tedioso discurso da namorada
Jenny Simms (Karen Black).
Karen Black e Johnny Cash; Robert Wilke |
Johnny
Cash vitorioso no duelo - Kirk Douglas cria seu personagem,
como não poderia deixar de ser, com a característica dose de tormento pessoal,
não deixando de ser vibrante e sem esquecer o exibicionismo no domínio do Colt
e sobre um cavalo. Em sua última cena salta sobre a montaria mostrando-se em
forma aos 56 anos de idade. Com tudo que Douglas e sua vasta experiência faz, é
Johnny Cash quem vence o duelo de interpretações com seu desalentado Abe Cross.
Uma pena mesmo que a carreira de Cash como ator tenha se resumido a apenas mais
dois trabalhos como ator no cinema. Cash teve ainda diversas participações
especiais em séries de TV. Jane Alexander deixa a impressão de ter sido
subaproveitada como Nora Tenneray e Karen Black se sai bem como a simpática
saloon girl que se envolve com o pistoleiro. Estranho ver o antigo galã italiano
Raf Vallone num faroeste que tem ainda as pequenas participações de Robert
Wilke e Keith Carradine. Este, da dinastia de John Carradine, ganharia um Oscar
de Melhor Canção em 1976, com “I’m Easy”, de sua autoria, para o filme “Nashville”.
O menino Eric Douglas interpreta o filho de Kirk Douglas, ele que era filho do
ator na vida real. O destino aprontou uma tristeza para Kirk Douglas que viu,
em 2004, o irmão de Michael Douglas morrer de overdose de drogas aos 46 aos de
idade.
Kirk Douglas e Johnny Cash |
Produção
apache - Johnny Cash canta a canção-título “A Gunfight”, que ele
mesmo compôs bem ao seu estilo de contador de histórias com suas narrativas
canções. Um fato que diferencia “O Duelo” de todos os demais westerns é ter
sido o filme produzido totalmente com recursos da tribo Apache Jicarilla. O
dinheiro adveio dos investimentos que os Jicarillas possuíam, oriundo da
exploração de petróleo e minério em suas terras. Mesmo avisados que no filme
não haveria índios os Jicarillas não se importaram pois visavam mesmo era o
lucro que porventura o filme rendesse, o que não chegou a acontecer pois pouca
gente foi aos cinemas assistir “O Duelo”. Kirk Douglas teria que esperar até
1975 para voltar a fazer um western, quando atuou em “Ambição Acima da Lei”
(Posse), este sim um faroeste à altura do renome do grande ator.
A cópia de “O Duelo” foi gentilmente
cedida a este blog pelo cinéfilo e colecionador Marcelo Cardoso.
Note-se o originalíssimo título do filme em sua versão italiana. |
Muito ruim esse filme!!!
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