Acima Howard Keel, Ava Gardner, Robert Taylor e Anthony Quinn em "A Bela e o Renegado"; abaixo o brinquedo preferido de Magno. |
Nascido em Fortaleza, em 1971, o menino
Magno Ponte foi em meados dos anos 70 pela primeira vez ao Cine São Luiz, na
capital cearense, para assistir “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, filme
estrelado por Gene Wilder. Foi o início do fascínio pelo cinema que cresceu
adolescência adiante e perdura até hoje. O brinquedo preferido de Magno, quando criança, era seu
Forte Apache com o qual se divertia portando cinturão, cartucheira e um
reluzente revólver de espoleta. O menino só trocava esses momentos de alegria
por outros que lhe produziam igual felicidade e que era a leitura dos gibis de faroeste
e assistir aos filmes do gênero exibidos pela televisão. “A Bela e o Renegado” (Ride,
Vaquero!), com Robert Taylor, Anthony Quinn e Ava Gardner, foi o primeiro
western que Magno assistiu pela telinha e a partir daí ele jamais perdia a ‘Sessão
Western’ da TV Globo e a ‘Segunda Sem Lei’, da TV Bandeirantes. Outros gêneros
de filmes também atraíam o cinéfilo iniciante que viu sua paixão pelo cinema
crescer, assim como crescia sua coleção de revistas dedicadas à 7.ª Arte, entre
elas ‘Cinemin’ e ‘Set’. Não satisfeito, Magno garimpava edições das clássicas ‘Cinelândia’
e ‘Filmelândia’ dos anos 50 e 60, muitas delas presenteadas por amigos e parentes, revistas que
se juntavam às internacionais que ele conseguia adquirir para aprofundar seu
conhecimento sobre cinema. E Magno folheava ‘O Cruzeiro’, ‘Manchete’, ‘Realidade’,
‘Veja’ e outras que lhe caíam em mãos, em busca de reportagens que falassem de filmes e artistas.
Algumas das revistas que Magno adquiriu em sua vida de cinéfilo. |
Durante alguns anos Magno anotava em
agendas todos os filmes que assistia, com as respectivas fichas técnicas,
aduzindo comentários e cotações que ele mesmo fazia. Com tamanho e precoce
conhecimento, Magno passou, aos 15 anos de idade, a colaborar com o programa ‘Noite
de Cinema’, da TV Educativa do Ceará, redigindo a coluna ‘Astros Inesquecíveis’.
Chegando à idade adulta, Magno diversificou seu interesse pelo cinema,
descobrindo cineastas de outros países, mesmo aqueles tidos como realizadores
de filmes considerados ‘de arte’. Casado e pai de dois filhos, Magno extrai de
sua vida profissional momentos para se dedicar à arte de modo geral, tendo
criado a página ‘Blog Cultural 10+’ no Facebook.
Nesse espaço do Facebook Magno promove discussões,
resgata memórias e cria listas, de sua autoria, sobre diversos temas culturais.
Ali o seguidor do ‘10+’ pode saber quem são os melhores, na opinião de Magno
Ponte, da música brasileira, internacional, rock, esportes e, claro, do cinema
em seus diversos gêneros. Um deles, o amado faroeste. Magno enviou para o
WESTERNCINEMANIA seu Top-Ten Westerns, enriquecido por pequenos comentários de sua autoria (em itálico) que
denotam o quanto ele é conhecedor do gênero que imortalizou John Wayne. Eis a seleta lista de Magno Ponte:
1.º) Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 –
John Ford
O
maior dos filmes americanos. Obra-prima que traz John Wayne em antológica
atuação numa jornada de vingança e resgate quando sua sobrinha é sequestrada
pelos índios e ele empreende uma busca angustiante que dura anos. Uma perfeição
em todos os sentidos, síntese de toda a mitologia do gênero, com fotografia,
elenco, roteiro e direção extraordinários.
A
grande sequência:
com o olhar assustadoramente frio e a expressão mais raivosa que o cinema já
mostrou, John Wayne atira nos olhos do índio morto para espanto dos que o
acompanham e para explicar em seguida: na crença indígena, aquele que não
possui olhos nunca terá o descanso dos mortos.
* * * * *
2.º) No Tempo das Diligências (1939) – John Ford
O
filme que deu status de obra de arte para os faroestes. Orson Welles disse
tê-lo visto dezenas de vezes para fazer “Cidadão Kane”. A diligência que
percorre o inóspito território americano contém o microcosmo da sociedade
americana no século XIX, com o pistoleiro, o vendedor, a prostituta, o médico
bêbado, a esposa grávida, o jogador, ameaçados o tempo inteiro pelos índios, no
início de forma sugestionada até tornar-se assustadoramente real.
A
grande sequência:
O ataque dos índios à diligência em fuga é um primor de montagem e emoção.
Insuperável e uma das imagens eternas da história do cinema.
* * * * *
3.º) Os Imperdoáveis (Unforgiven), 1992 –
Clint Eastwood
Ganhador
dos Oscars de Melhor Filme e Melhor Diretor. Clint guardou o projeto por quase
20 anos esperando estar maduro o suficiente para interpretar o velho pistoleiro
recluso que, por necessidade, aceita um último contrato. Com atores
espetaculares e roteiro preciso, fez talvez o melhor filme dos últimos 25 anos
do cinema mundial.
A
grande sequência:
Para vingar o parceiro trucidado, exposto num saloon, o pistoleiro bêbado,
entre chuva, relâmpagos e trovões, mata cinco homens, não sem antes revelar sua
identidade para o assombro de todos. Respondendo a Gene Hackman que dizia não
merecer morrer desta forma,
ele fuzila: “Merecer não tem nada a ver com isso”. Uma poderosa e
impressionante fábula.
* * * * *
4.º) Onde Começa o Inferno (Rio Bravo), 1959 – Howard Hawks
Repleto
de ação e vigor, este western veio como resposta aos faroestes psicológicos
produzidos nesta década, em que um homem acuado buscava ajuda e sofria com a
solidão e consciência ante o perigo. Aqui, o gigante John Wayne enfrenta tudo e
todos, apenas com a ajuda de um bêbado, um velho deficiente e um jovem afoito,
para manter preso o irmão de um chefão do crime na cidade. Uma mistura perfeita
de ação, humor, interesse romântico e com a força da música do grande Dimitri
Tiomkin. Irretocável.
A
grande sequência:
A maior sequência inicial da história dos westerns, quase cinco minutos sem
vozes. Após ser derrubado por Dean Martin, um bêbado humilhado atrás de uma
moeda para beber que foi lançada numa escarradeira, o xerife Wayne,
ensanguentado, persegue um bandido que matara minutos antes outro cowboy no
saloon, até acertá-lo num rodopio com um rifle, massacrando seu rosto.
* * * * *
5.º) Paixão dos Fortes (My Darling
Clementine), 1946 – John Ford
Certa
vez perguntaram a John Ford o que era o cinema para ele. O mestre respondeu:
“Já viu Hery Fonda caminhando? Isto é cinema”. Outra imagem icônica é aquela em
que o delegado Wyatt Earp se equilibra numa cadeira à frente da delegacia. É a
reconstrução do famoso duelo no Ok Curral que contrapôs os irmãos Earp e o
jogador Doc Holliday contra a quadrilha Clanton. A música-tema e título ‘(Oh My
Darling) Clementine’ é um clássico e Victor Mature nunca esteve tão bem.
A
grande sequência: após
ter o irmão assassinado e aceitar o cargo de delegado em Tombstone, Earp é
interpelado pela quadrilha Clanton e revela seu nome e sobrenome para surpresa
e temor dos bandidos. Um dos mais bonitos filmes já feito no cinema americano.
Tudo inspirado, singelo e irrepreensível.
* * * * *
6.º) Pistoleiros do Entardecer (Ride the
High Country), 1962 – Sam Peckinpah
Faroeste
repleto de humanidade e nostalgia, retratando os conflitos de dois veteranos
contratados para escoltar uma quantia em ouro até o bando de uma cidade
distante. Com dois atores símbolos da época de ouro dos westerns, é um
maravilhoso filme sobre amizade, honra, saudosismo e valentia. Foi tão especial
a reunião num faroeste destas duas lendas vivas, que ocorre a lenda que Scott e
McCrea sortearam, qual nome sairia primeiro nos créditos do filme. Uma jóia rara.
Um dos mais emocionantes filmes do gênero, uma explosão de talento do jovem
diretor Peckinpah.
A
grande sequência:
para ler os termos do contrato da escolta, o veterano cowboy Scott vai ao
banheiro, na verdade um pretexto para usar os óculos reservadamente e não
demonstrar a velhice.
* * * * *
7.º) Os Brutos Também Amam (Shane), 1953 – George Stevens
Shane
é o forasteiro que chega junto do espectador numa região explorada por um
bandido e barão de gado e é acolhido por uma família de rancheiros. O fascínio
por Shane influenciará todos, especialmente o garoto, filho do casal, levando o
pistoleiro ao confronto com os bandidos. Shane é um sonho, um fantasma, ou um
anjo? Um dos mais belos faroestes do cinema, considerado o clássico dos
clássicos no gênero. Objeto de paixão e culto.
A
grande sequência:
O duelo final entre Alan ladd e um Jack Palance todo vestido de preto, onde a
câmera focaliza um cachorro sorrateiramente deixando o saloon e o garoto vendo
tudo por debaixo da porta. Depois disso, os gritos do garoto ecoando na nossa
mente... Shane... Shane... Shane... Shane...
* * * * *
8.º) Era Uma Vez no Oeste (C’Era Una Volta Il West), 1968) – Sergio
Leone
Uma
fazendeira viúva enfrenta pistoleiros e políticos em meio à construção da
ferrovia e chegada da civilização ao velho oeste americano. O genial diretor
Leone promove uma fusão do western clássico americano com a violência explícita
dos westerns spaghetti italianos, resultando numa grande homenagem ao gênero,
com sensibilidade e preciosismos excepcionais. A trilha sonora célebre de Ennio
Morricone, a presença mítica de Henry Fonda como vilão e o som da harmônica de
Bronson (melhor que nunca) são arrepiantes e por si só icônicas. Uma obra-prima
sob todas as perspectivas. Sem esquecer da musa Cláudia Cardinalle, uma das
mais belas da história.
A
grande sequência: O início do filme na ferrovia com Woody Strode, Jack Elam e
Al Mulock esperando Charles Bronson descer do trem para um duelo mortal. Cheio
de clima e suspense. Show.
* * * * *
9.º) Meu Ódio Será Sua Herança (The Wild Bunch), 1969 – Sam Peckinaph
Talvez
o mais impressionante faroeste de todos os tempos, com um diretor genial
comandando um elenco magnífico em cenas de absoluto impacto, repletas de
violência, crueza e arrebatamento. William Holden está excepcional como o
mercenário que comanda uma quadrilha em assaltos e golpes, sem escrúpulos ou
arrependimentos, até surpreendentemente se redimir ao adotar um código de honra
insuspeito e suicida. Com violência gráfica e em câmera lenta, é um dos últimos
clássicos do gênero western do cinema americano, absolutamente brilhante e
essencial.
A
grande sequência:
Ao se verem cercados pelo exército mexicano numa fortaleza e enfurecidos pela
tortura de seu amigo, William Holden e Ernest Borgnine se entreolham e
consentem, com júbilo, um grand finale suicida mas honrado. Não antes de matarem muitas dezenas de inimigos.
* * * * *
10.º) O Matador (The Gunfighter), 1950 –
Henry King
O
título de mais rápido gatilho do oeste acompanha a vida do pistoleiro Johnny
Ringo, que agora deseja descanso e uma vida simples e feliz com sua esposa e
filho. Mas a maldição dessa fama nefasta e o currículo de 15 mortes o perseguem
e instigam carreiristas a confrontá-lo a todo instante. Considerado o mais
importante e seminal dos faroestes psicológicos, este clássico traz o galã Gregory
Peck descaracterizado em papel de vilão, de bigode, mas com presença cênica
imponente.
A
grande sequência:
Após ser atingido, pelas costas, por um jovem arrivista, o pistoleiro Johnny
Ringo sente a libertação e projeta o inferno que o covarde e oportunista
bandido herdará. Catarse.
* * * * *
Parte do acervo de livros, revistas e filmes que Magno Ponte coleciona há mais de um quarto de século. |
"Cidadão Kane", que Magno Ponte considera o primeiro entre os 'Filmes Indispensáveis', conforme publicação na página 'Blog Cultural 10+' no Facebook. |
Magno Ponte ao lado de Audrey Hepburn (como Holly Golightly), na tela do Cine São Luiz, em Fortaleza. A foto foi feita por ocasião de visita do cinéfilo ao Museu de Cera Madame Tussauds, em Londres. |
Alô, amigos!
ResponderExcluirUma das melhores listas que já vi. Boas escolhas. 60 % delas também estão entre os meus 10 do gênero, incluindo o excelente "The Gunfighter", do Rei Henry. Comentários sucintos e objetivos, destacando os melhores momentos de cada filme. Parabéns ao Magno pelo Top-Ten e ao Darci pelas sempre agradáveis ilustrações.
Um abraço!
Thomaz, obrigado pelo comentário!! Nossas listas são bem parecidas e mesmo nas divergências, destaco dois filmes de sua relação de que gosto muito e que são pouco comentados nos Top Ten: 'Jesse James' ( com uma reunião inesquecível de Tyrone Power, Henry Fonda e Randolph Scott) e o surpreendente e desbravador 'A Grande Jornada'com John Wayne aos 23 anos. Seus outros dois westerns divergentes são clássicos absolutos como 'Matar ou Morrer' e 'Três Homens em Conflito', ambos excelentes. Um abraço!
ResponderExcluirDarci, aproveito a oportunidade para agradecer o espaço e a forma cordial, generosa e criativa com que você me inseriu no seu Blog. Para mim foi uma grande honra poder compor este seletíssimo grupo de articulistas do TOP TEN. Obrigado e um grande abraço!!!
ResponderExcluirOlá, Magno - O blog é quem agradece sua preciosa colaboração. Um abraço do Darci.
ExcluirParabéns Magno pelo trabalho de pesquisa e amor ao cinema! Com certeza não deve ter sido fácil ranquear tanto clássico! Siga em frente.
ResponderExcluirDo seu fã e amigo, Edson Arruda
Parabéns Magno pela nrilhanbr contribuição. Não deve ter sido fácil classificar tanto clássico!
ResponderExcluirShow