Clint Eastwood em pontas nos filmes "Tarântula" e"A Revanche do Monstro". |
Quando já se tornara um dos maiores
nomes da indústria cinematográfica, Clint Eastwood declarou que “Emboscada em
Cimarron Pass” (Ambush at Cimarron Pass) era o pior filme de todos os tempos.
Pois foi nesse pequeno faroeste, ainda em início de carreira, que o futuro
grande astro teve uma de suas melhores oportunidades para se tornar conhecido
do público. Certamente a frase de Clint se deve a ter ele guardado
ressentimentos de seu início no cinema quando se submeteu a insignificantes
participações em filmes B, como nas pontas que fez em três filmes estrelados
pelo pouco lembrado John Agar. E se houve um assunto que Clint sempre quis
esquecer, evitando mesmo tocar, foi a generosa proteção que recebeu do diretor
Arthur Lubin. Fascinado pela bela estampa de Eastwood, Lubin sempre encontrava
uma maneira de escalá-lo nos filmes que dirigia ou produzia para a Universal.
Depois de mais duas pequenas participações em filmes da agonizante RKO, Clint
apareceu, em 1958, em “Emboscada em Cimarron Pass”, faroeste B destinado a
complementar programas duplos da 20th Century-Fox. Quase 60 anos depois, este
filme é lançado em excelente cópia na caixa ‘Clint Eastwood – Western Collection’,
acompanhando “Os Abutres Têm Fome” (Two Mules for Sister Sara) e “Por uns
Dólares a Mais” (Per Qualche Dollaro in Più).
Scott Brady |
Apaches
em busca de rifles - O Sargento Matt Blake (Scott Brady)
comanda um destacamento de cinco soldados, cuja missão é transportar 36 rifles
e conduzir o traficante de armas Corbin (Baynes Barron) até o Forte Waverly. No
trajeto encontram um grupo de homens, entre eles Sam Prescott (Frank Gerstle)
um ex-capitão confederado e Keith Williams (Clint Eastwood), ex-soldado do
exército sulista. Índios Apaches querem se apoderar dos rifles e ameaçam o
grupo, sendo que numa das investidas deixam próximo ao grupo a mulher Teresa
Santos (Margia Dean) que haviam sequestrado e cuja família exterminaram. Os
índios roubam os cavalos dos homens brancos que são obrigados a fazer o trajeto
a pé carregando os pesados rifles de repetição. Após algumas tentativas de se
apoderar das armas, os Apaches tentam uma emboscada num local chamado ‘Cimarron
Pass’, mas são surpreendidos pelos adversários que conseguem liquidá-los.
Scott Brady e Clint Eastwood observam um homem morto pelos Apaches. |
750
dólares de salário - A história de “Emboscada em Cimarron
Pass” lembra a de “O Sabre e a Flecha” (Last of the Comanches), western estrelado
por Broderick Crawford. Nesse filme um grupo de soldados e alguns brancos são
sitiados por índios em um abandonado forte no deserto. Assim como naquele
western de 1953, pouco a pouco o grupo de homens brancos vai sofrendo baixas,
além de sofrer com a falta de água e as agruras da longa caminhada rumo ao
Forte Waverly. Diferentemente de “O Sabre e a Flecha”, dirigido pelo competente
André De Toth e filmado em Technicolor, “Emboscada em Cimarron Pass” é uma
produção limitada pelos parcos recursos financeiros. A Regal Productions
dispendeu o ‘exagero’ de 25 mil dólares para ter no elenco um nome de relativo
prestígio – Scott Brady – para atrair o público. Os demais atores eram pouco
conhecidos e por isso mesmo baratearam a produção. Clint Eastwood, terceiro
nome do elenco recebeu 750 dólares pelas três semanas de trabalho, tempo que
levou para o filme ser rodado, parte nos conhecidíssimos cenários do Iverson
Ranch e parte em estúdio, ainda que não haja no filme nenhuma sequência passada
em interiores. O ‘milagre’, como se sabe, é conseguido com rochas e vegetação
artificiais e o horizonte pintado num fundo infinito. Para ajudar na contenção
de gastos, o diretor Jodie Copelan fazia sua estreia na função, que acabou
sendo seu único trabalho como diretor de cinema.
Margia Dean com Clint Eastwood (acima) e com Scott Brady (abaixo). |
Mulher
insinuante - Com tanta economia e desprovido de qualquer pretensão, até
que “Emboscada em Cimarron Pass” é um western satisfatório e que extrapola a
simples curiosidade de ver Clint Eastwood em seu primeiro papel relevante no
cinema. Filme com 72 minutos de duração, tem seus melhores momentos nas
sequências de ação que no desenvolvimento das subtramas. Entre estas está o ressentimento
de Keith Williams contra os yankees vitoriosos na Guerra Civil recém-finda; a
presença da mulher que se insinua junto a Keith e mais tarde se envolve com o
Sargento Blake; já o presumido mistério sobre o juiz Stanfield (Irving Bacon) e
a presença do prisioneiro contrabandista de armas pouco acrescentam ao filme.
Bob Morgan foi o único stuntmen utilizado e pode ser reconhecido facilmente ao
substituir Scott Brady na luta corporal contra um índio Apache. A notar a bem
fotografada sequência em que o Cabo Schwitzer (Ken Mayer) é alvejado por duas
flechas. Como em muitos e muitos outros westerns os homens brancos são
mostrados como mais espertos que os índios, sendo fácil e risivelmente
dominados pelos túnicas azuis.
Sequência espetacular das flechadas penetrando o corpo de Ken Mayer. |
Scott Brady |
‘Mocinhos’
na TV - Scott Brady é lembrado por muitos por sua vaga semelhança
com Marlon Brando, ambos nascidos em 1924 e que começaram no cinema
praticamente ao mesmo tempo. Sem o carisma de Brando, Scott Brady viu-se
confinado aos dramas e filmes policiais de menor orçamento, passando em seguida
a estrelar westerns-B. Em 1954 interpretou ‘Dancin’ Kid’ em “Johnny Guitar”, o
ponto mais alto de sua carreira, protagonizando depois na TV a série western “Shotgun
Slade”, série que durou duas temporadas (1959/1961). Exatamente em 1959, outra
série western (bem melhor sucedida que a de Brady) foi lançada com o título “Rawhide”
e tornando conhecido do público telespectador o jovem Clint Eastwood. Com
atuação discreta, Clint não consegue deixar entrever o grande astro que se
tornaria em pouco tempo. A atriz Margie Dean foi ex-Miss Califórnia em 1939,
aos 18 anos, e apenas isso explica sua presença no cinema pois é uma atriz sem
nenhum talento interpretativo. Do restante do elenco o ator mais conhecido é
Irving Bacon, veterano ator característico no cinema desde 1915 com extensa pequenas
participações em incontáveis filmes. Apenas em 1941 (segundo o site IMDb),
Bacon participou de 27 películas, entre elas “O Intrépido General Custer” (They
Died With Their Boots On).
Clint Eastwood |
Wilhem
Scream presente - Curioso como um filme de produção
barata como “Emboscada em Cimarron Pass” teve uma trilha musical de tão
excelente qualidade, assinada por Paul Satwell e por Bert Shefter. Quando um
ator é varado por uma lança, ouve-se o famoso ‘Wilhem Scream’, grito que o
cinema nunca abandonou. Para os fãs de Clint Eastwood, que não são poucos, este
pequeno faroeste é imperdível, mesmo modesto e em preto e branco. Afinal de
contas, Clint Eastwood, ainda que com reduzido número de westerns em sua filmografia,
é o maior nome do gênero em todos os tempos, atrás, é claro, apenas de John
Wayne.
Scott Brady com Clint Eastwood, observados por Frank Gerstle e John Damler. |
O sargento Matt Blake lutando contra um Apache. Mas é possível perceber que esse Matt Blake é o dublê Bob Morgan e não o ator Scott Brady. |
A cópia de "Emboscada em Cimarron Pass" foi gentilmente cedida pelo cinéfilo Marcelo Cardoso.
Grande Darci!
ResponderExcluirÉ sempre bom vir aprender em seu blog! Não conhecia esse filme de Eastwood. Na verdade conheço bem pouco de sua filmografia, o ator não está entre os meus preferidos. Inclusive fiquei surpreso com a sua colocação, que Eastwood é o maior nome do western depois de John Wayne! Obviamente que eu jamais ousaria discordar de você, um mestre no conhecimento desse gênero, entretanto, acho que Wayne, em toda a sua grandeza, esta tão isolado no primeiro lugar do pódio, que o segundo colocado está anos luz distante!
Grande abraço e parabéns pela postagem!
Olá, Jefferson - Você é pródigo em elogios e isso entusiasma, não tenha dúvidas. Interessante a questão que você levantou na comparação entre Clint e outros atores que cavalgaram pelo Velho Oeste em filmes. Gary Cooper, Henry Fonda, Kirk Douglas, Burt Lancaster e Anthony Quinn foram gigantes da tela, mas nenhum vendeu tantos ingressos quanto Clint Eastwood, atrás apenas de John Wayne entre os All Time Top Money Makers de Hollywood. Além disso Clint venceu não só como ator mas também como diretor. Clint fez um número razoável de westerns, alguns deles excelentes, sem contar que foi fundamental na criação da vertente européia do western. Poderíamos pensar ainda em Randolph Scott, Audie Murphy, Joel McCrea, George Montgomery, Rory Calhoun outros, cujos filmes raramente chegaram a ser clássicos. Por tudo isso considero Clint Eastwood tão importante. Que carreira a desse moço!!!
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ResponderExcluirCaros amigos, para saber com riqueza de detalhes toda a bigrafia de Clint Eastwood, sugiro a
leitura do livro, "Clint Eastwood - Nada Censurado" de
Marc Eliot - de 2009 - Editora Nova Fronteira.
Titulo Original : American Rebel - The Life of Clint
Eastwood.
Forte abraço.
Gaspar Eli Severino
"é um western satisfatório e que extrapola a simples curiosidade de ver Clint Eastwood em seu primeiro papel relevante no cinema". Penso igualzinho.
ResponderExcluirBem simples, porém eficiente! Enfim, assistível! Clint, como todos já sabem, em começo de carreira, e com vários diálogos e boa presença, ao contrário do que aconteceu no ótimo "Crimes Vingados"!
"Afinal de contas, Clint Eastwood, ainda que com reduzido número de westerns em sua filmografia, é o maior nome do gênero em todos os tempos, atrás, é claro, apenas de John Wayne."
ResponderExcluirHá controvérsia, pois muitos preferem Randolph Scott!