11 de fevereiro de 2015

CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE LORNE GREENE, O CÉLEBRE ‘BEN CARTWRIGHT’


Lorne Greene como locutor da rádio oficial do
Canadá, transmitindo notícias da guerra.
Estima-se que pelo menos um bilhão de pessoas no mundo todo seja capaz de reconhecer o rosto de Lorne Greene. Isto porque em mais de 80 países foi ou ainda é exibido o seriado de TV “Bonanza”. Lorne Greene nasceu no dia 12 de fevereiro de 1915 em Ontário, Canadá. Seu nome de batismo era Lyon Himan Green, sendo que o sobrenome derivou de Grinovsky, pois seus pais (Daniel e Dora) eram judeus russos que imigraram para o Canadá. Daniel era sapateiro e queria uma profissão melhor para o filho que era chamado de Chaim. O jovem Chaim Green bacharelou-se em Direito na Queen’s University de Ontário, mas gostava de representar e desde cedo sua voz forte impressionava a todos. Tanto que o recém-formado, adotando o nome artístico ‘Lorne Greene’, foi trabalhar como locutor na Canadian Broadcasting Corporation, já em plena II Guerra Mundial. Como as notícias eram terríveis com o avanço do Eixo, a voz grave de barítono de Lorne Grenne fazia com que o noticiário se tornasse ainda mais ameaçador. Por isso o locutor de 25 anos foi apelidado ‘The Voice of Doom’ (A Voz Fatalista). Como todo locutor, Lorne Greene deveria entrar no ar com sua voz quando uma luz se acendesse, método pouco prático e sujeito a falhas. Foi então que Greene inventou e colocou em prática um relógio que marcava minutos e segundos regressivamente (countdown), invenção que passou a fazer parte de todos os estúdios no mundo inteiro. O emprego na CBC possibilitou a Lorne Greene contrair matrimônio com Rita Hands, em Toronto. O casal teve um casal de gêmeos.

Lorne Greene como O'Brien em "1984",
em cena com Eddie Albert.
Intérprete de personalidades - No início dos anos 50 Lorne Greene viajou a Nova York para fazer uma demonstração de sua invenção a um executivo da rede NBC. Nessa ocasião Greene foi apresentado ao produtor Fletcher Markle que fez uma proposta para o locutor canadense atuar como ator no programa de televisão “Studio One” que Markle produzia. Um dos programas foi o teleplay “1984”, baseado no livro de George Orwell, no qual Greene interpretou ‘O’Brien’.  A lendária Katherine Cornell assistiu essa exibição televisiva e impressionada com Greene o convidou para participar de uma peça que Katherine montava. Greene fez ainda participações em outras séries de televisão como “You Are There”, trabalhos que o levaram a ser contratado para seu primeiro filme, o tema bíblico “O Cálice Sagrado”. Coincidentemente esse seria também o primeiro filme de Paul Newman, que ficou com o papel principal enquanto Lorne Greene interpretou São Pedro, oitavo nome do elenco. Em seus próximos trabalhos a voz e a personalidade de Greene lhe renderam convites para interpretar outras personalidades, entre elas Ludwig Von Beethoven, William Pitt, Júlio César, Paulo de Tarso, Othello. Enquanto fazia trabalhos para a televisão Lorne Greene participou dos filmes “Ratos Humanos” (1955), com Edward G. Robinson e “Folhas Mortas” (1956), com Joan Crawford. Em 1957 veio a grande oportunidade para Lorne Greene quando a 20th Century-Fox adquiriu os direitos do  maior best-seller daqueles anos, o livro “Peyton Place”, de autoria de Grace Metalious. Um dos personagens mais detestáveis do livro era o áspero promotor de Peyton Place e para interpretá-lo o estúdio lembrou do ator de feições sérias e voz assustadoramente cruel. Mantendo o título do livro, o filme foi mal recebido pela crítica mas o sucesso de bilheteria foi enorme e Lorne Greene passou a ser muito mais conhecido pelo público e pelos produtores.

Lorne Greene como São Pedro, ao lado de Paul Newman em "O Cálice Sagrado";
à direita Greene como Júlio César ao lado de William Shatner como Lucius.

Desde seus primeiros filmes Greene
nunca abriu mão de uma peruca.
Carreira indefinida - Na década de 50 quase todos os atores faziam westerns e Lorne Greene estrearia no gênero em “Desforra Fatal” (The Hard Man), filme de 1957. Nesse western estrelado por Guy Madison, Greene interpretou um vilão que domina uma cidade e parecia que Hollywood havia ganho um vilão tão marcante como o também canadense Raymond Burr. No ano seguinte Lorne Greene fez outro western, desta vez como uma figura simpática, o pai de Linda Cristal em “Cavalgada para o Inferno” (The Last of the Fast Guns), com Jock Mahoney e Gilbert Roland. Também em 1958 Greene participou do melodrama “A Angústia de Tua Ausência”. “O Corsário Sem Pátria”, produção de Cecil B. DeMille dirigida por Anthony Quinn teve como astros Yul Brynner e Charlton Heston, mas Lorne Greene se destaca em meio a um grande elenco de coadjuvantes. Em 1959 Greene atuou em “Armadilha Sangrenta”, policial com Richard Widmark e no western “O Mensageiro da Morte” (The Hangman), penúltimo filme de Michael Curtiz, estrelado por Robert Taylor. Neste faroeste Lorne Greene está ao lado da lei como um U.S. Marshal. Interpretando todo tipo de papel, Greene aguardava pelo papel de sua vida que não tardaria a chegar.

Lorne Greene com Lana Turner em "A Caldeira do Diabo"; discutindo com
Charlton Heston (Andrew Jackson) em "O Corsário Sem Pátria".

Lorne Greene como Ben Cartwright na
1.ª temporada da série "Bonanza".
A chegada a Ponderosa - A RKO dava seus últimos suspiros e tentava se recuperar produzindo para a televisão e uma das séries desse estúdio foi “Sailor of Fortune”, que contava as aventuras do Capitão Grant Mitchell, protagonizado por Lorne Greene. A série foi iniciada em 1955 com um piloto; teve 12 episódios na segunda temporada e 15 episódios na temporada final, 1957/1958, quando foi cancelada. Em 1959, finalmente, a sorte iria sorrir para valer para aquele canadense de voz marcante cujos cabelos começavam a rarear. Lorne Greene foi escolhido pelo produtor David Dortort para ser o patriarca da família Cartwright em uma série intitulada “Bonanza” que seria lançada a cores e com episódios de uma hora de duração. A bonança havia chegado para Lorne Greene pois pelos próximos 14 anos ele iria se dedicar quase que exclusivamente à série que conquistaria as famílias norte-americanas.

Greene em cena com Nancy Deale no
episódio "Death at Dawn".
Romance em “Bonanza” - Quando teve início a série “Bonanza” o casamento de 20 anos de Lorne Greene com Rita Hands não ia bem e terminou inevitavelmente em divórcio. Durante as filmagens do episódio “Death at Dawn”, em 1960, Lorne Greene conheceu a atriz Nancy Deale que teve pequena participação nesse episódio, nada que chamasse a atenção de alguém. Mas Nancy chamou e bastante a atenção do intérprete de Ben Cartwright, personagem três vezes viúvo. Lorne e Nancy começaram a namorar e se casaram em 17 de dezembro de 1961 e viveriam juntos até o final da vida de Lorne, 26 anos depois. Em 1968 o casal teve a filha Gilliam Greene que se tornou esposa de Sam Raimi, diretor de “Rápida e Mortal” (The Quick and the Dead) e da série de filmes “Homem Aranha”.

Nancy Deale e Lorne Greene, que um ano depois se casariam;
à direita Nancy Deale com Michael Landon.

Acima o álbum que continha a faixa
"Ringo"; baixo o álbum natalino.
“Ringo” em primeiro lugar - Um capítulo especial da carreira artística de Lorne Greene é aquele em que foi, de forma um tanto oportunista, lançado como cantor-declamador. A gravadora RCA Victor queria faturar um pouco mais com a fama e o vozeirão de Lorne Greene, o que a indústria fonográfica faria também com John Wayne, Walter Breenan e outros, todas vozes especialíssimas que o público adorava ouvir nos antigos vitrolões ou pick-ups portáteis. Em 1963 a RCA lançou o álbum natalino “Christmas at Ponderosa”, com todos os Cartwrights cantando, disco que vendeu razoavelmente bem. Percebendo que dos quatro atores Lorne Greene era o que tinha potencial musical menos ruim, a RCA em 1964 produziu “Welcome to Ponderosa”, disco solo de Greene que canta mal mas declama bem. Uma das faixas contava a história do célebre pistoleiro Johnny Ringo. Se um por cento dos fãs de “Bonanza” comprassem o álbum a RCA estaria satisfeita, mas ocorreu então a grande surpresa. Um disc-jockey de uma rádio da cidade de Lubbock, no Texas tocou a faixa “Ringo” uma única vez e centenas de pedidos foram feitos para que repetisse a canção. A loja de discos local solicitou à RCA Victor a remessa de 1.200 cópias do compacto que ainda não existia, o que levou a gravadora a prensar de um dia para o outro as cópias solicitadas. O sucesso se espalhou por todo o Texas e rapidamente por todo Estados Unidos. Num tempo em que o Billboard revezava semanalmente como campeões absolutos de vendagem The Beatles e The Supremes, ninguém menos que Lorne Greene desbancou esses grupos chegando ao primeiríssimo lugar com “Ringo”. Lorne Greene gravou diversos outros álbuns, num total de sete, mas nunca mais conseguiu repetir o sucesso de “Ringo”. Até porque Greene podia ser bom declamando, mas como cantor era um ótimo viúvo pai de três filhos...

Lorne Greene como o detetive
Wade Griffin na série "Griff".
O detetive Lorne Greene – Após 14 temporadas e depois de ter se transformado na mais querida série western da televisão, a série “Bonanza” foi encerrada abruptamente em 1973. Lorne Greene viu-se então numa situação para a qual não estava preparado, ou seja, não iria mais viver Ben Cartwright e dar lições semanais de integridade, fidalguia e até uma certa nobreza nos gestos e atitudes. Aproveitando a popularidade de Greene nunca faltaram convites para novos trabalhos, os quais ele podia escolher os que lhe fossem mais vantajosos financeira e artisticamente. Problemas financeiros Lorne Greene jamais teria na vida pois a série “Bonanza” o tornou um homem rico e as constantes reprises do programa proviam sua conta bancária com nada desprezíveis centenas de dólares. Porém as escolhas de Greene não foram as mais acertadas pois seu próximo trabalho na TV, como o detetive particular Wade Griffin na série “Griff” durou apenas 13 episódios, sendo cancelada. Aparentemente o público não aceitou Lorne Greene longe da Ponderosa. Do Japão veio o convite da Toho Filmes para Greene interpretar um embaixador norte-americano, liderando o elenco de “A Submersão do Japão”, filme de 1973. Voltando aos Estados Unidos depois dessa experiência internacional Greene teria que se contentar com papéis de coadjuvantes.

Acima Lorne Greene como pai de Ava
Gardner; abaixo Greene como o
Comandante Adama.
O Comandante Adama - Em 1974 a 20th Century-Fox reuniu um grande elenco para a superprodução “Terremoto”. Entre Charlton Heston, George Kennedy, Walter Matthau, Geneviève Bujold, Victoria Principal, Lloyd Nolan e Richard Roundtree, Lorne Greene interpretava... o pai de Ava Gardner. Nada demais, não fosse o fato da bela Ava ser apenas sete anos mais nova que Greene. Aos 60 anos de idade a carreira de Greene parecia estar chegando ao final pois ele só era convidado para pequenas participações em séries de televisão, como ocorreu no sucesso de público que foi “Raízes”. Porém em 1978, após o êxito sem precedentes de “Star Wars” no cinema, a Universal aproveitando o momento lançou a série sci-fi “Battlestar Galactica” (Galactica: A Astronave de Combate”. George Lucas e a Fox acionaram judicialmente a Universal acusando-a de plágio, mas a Universal acabou ganhando a causa na Justiça norte-americana. Lorne Greene, nos 21 episódios que foram produzidos de “Battlestar Galactica”, interpretou o Comandante Adama nas duas temporadas da série. Em 1980 a Universal voltou a produzir a série com o título “Galactica 1980” e do elenco anterior apenas Lorne Greene permaneceu como o Comandante Adama. Com a diferença que Adama agora aparecia com bigode e cavanhaque. Esta continuação teve apenas dez episódios.

Lorne Greene novamente como Adama em "Galactica 1980"; à direita
Greene entre Richard Hatch e Dirk Benedict em "Battlestar Galactica".

Lorne Greene com Julie Adams;
o selo em homenagem ao ator.
Premiações e condecorações - Em 1981 Irwin Allen, famoso produtor-diretor de filmes de ficção, produziu a série “Code Red” e mais uma vez o nome de Lorne Greene foi lembrado para ser o comandante de um batalhão que lutava em tempos e lugares variados. A veterana Julie Adams também fez parte do elenco, mas somente Lorne Greene participou dos 19 episódios da série. A carreira de Lorne Greene chegava ao final e os convites rareavam enquanto os prêmios e condecorações eram cada vez mais constantes. No Canadá Lorne Greene foi um dos primeiros atores a ter a honra de ver seu rosto estampado em selo oficial do correio canadense. Greene já havia recebido o título de Oficial da Ordem do Canadá, uma das mais altas honrarias do país. E nos tempos de “Bonanza” (1970) Lorne Greene já havia sido recebido o Western Heritage Awards, ao lado de David Dortort, Michael Landon e Dan Blocker.


Anúncio de "Álamo: 13 Dias de Glória".
Lembrança eterna - O último trabalho importante de Lorne Greene como ator foi no TV Movie “Álamo: 13 Dias de Glória” (The Alamo: Thirteen Days of Glory). Sob a direção de Burt Kennedy e num elenco que teve James Arness (Jim Bowie), Alec Baldwin (Coronel Travis) e Brian Keith (David Crockett), Lorne Greene interpretou o General Sam Houston. Nesse tempo já havia sido diagnosticado um câncer na próstata e Greene submeteu-se a uma cirurgia. Em 1987 teve inicio a pré-produção de uma série para reviver “Bonanza” e Lorne Greene chegou a assinar contrato com David Dortort para esse trabalho. Estrelariam a série Michael Landon Jr., filho de Michael Landon e Gillian Greene, filha de Lorne Greene. O estado de saúde de Greene alterou os planos e ele ficou fora da produção. Quando esta foi retomada, foi filmado um piloto da série e nenhum episódio mais. Nesse mesmo ano Greene voltou ao hospital para nova cirurgia, desta vez uma úlcera. Seguiu-se uma pneumonia fatal que roubou a vida de Lorne Greene em 11 de setembro de 1987, aos 72 anos de idade. O ator deixou viúva sua esposa Nancy Deale Greene e ainda filhos e netos. Lorne Greene será sempre lembrado pelo público como o querido ‘Ben Cartwright’ e ele foi uma das principais razões do sucesso da série, sucesso que perdura até hoje. No Brasil o Canal TCM exibe ininterruptamente, desde 2007 a série “Bonanza” com audiência garantida por milhares de antigos e novos fãs. Estes certamente já fizeram com que o número de pessoas capazes de reconhecer Lorne Greene seja bem maior que um bilhão.

A filha de Lorne Greene e o filho de Michael Landon na série "Bonanza
Revival" que nunca foi ao ar devido à morte de Lorne Greene.

Lorne Greene com a esposa Nancy no set de "Bonanza" e em diversas
outras ocasiões mostrando um casamento bem sucedido.

4 comentários:

  1. Maratonando Galactica aqui. No imaginário dos fãs de ficção-científica ele tem um lugar de respeito.

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  2. Assisto bonanza até hoje! Série q ajudou uma geração a se formar com integridade!

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  3. O tempo voa! Bonanza marcou minha infância.

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