Foto feita durante as filmagens de "Ben-Hur", vendo-se William Wyler, o roteirista Christopher Fry, Gore Vidal e Charlton Heston com a túnica de Judah Ben-Hur. |
Aos 23 anos de idade, em 1948, o
escritor norte-americano Gore Vidal chocou os Estados Unidos com seu romance
“The City and the Pilar” no qual os personagens principais são homossexuais. O
jornal ‘The New York Times’ simplesmente se recusou a resenhar esse e outros
livros de Vidal, o que não impediu que seu talento fosse reconhecido, mesmo
tocando sempre no tema tabu da homossexualidade. Gore Vidal escrevia não só
romances mas também peças de teatro e teleplays que eram histórias escritas especialmente
para serem encenadas na televisão. Em 1958 Vidal foi contratado como roteirista
pela Metro-Goldwyn-Mayer e criou enorme polêmica quando trabalhando no roteiro
de “Ben-Hur”, enfatizou uma latente relação homossexual entre Ben-Hur e
Messala. A MGM alterou o texto para evitar que seu épico sofresse algum tipo de
campanha negativa. Certa ocasião Gore Vidal assistiu a um balé inspirado na
vida de Billy the Kid e ficou encantado com o que viu, escrevendo em seguida a
sua versão da história do jovem assassino, para ser encenada no The Philco
Television Playhouse. A peça chamou-se “The Death of Billy the Kid” e Vidal
sonhava com James Dean como protagonista. Dean, porém, estava preso às filmagens
de “Assim Caminha a Humanidade” que se prolongaram acima do esperado e Paul
Newman foi então convidado para substituir James Dean. O teleteatro “The Death
of Billy the Kid”, com direção de Robert Mulligan, foi ao ar na noite de 24 de
julho de 1955, obtendo êxito de público. Por ser exibida na televisão William
Bonney não foi mostrado como homossexual conforme Vidal deixara evidente em seu
texto. Em 1957 a Warner Bros. adquiriu os direitos de “The Death of Billy the
Kid” escalando o roteirista Leslie Stevens para reescrever a peça de Gore
Vidal. O western baseado no teleplay foi intitulado “The Left Handed Gun” (O
Pistoleiro Canhoto), recebendo o título nacional de “Um de Nós Morrerá”.
Paul Newman |
A
vingança de Billy the Kid - Arthur Penn, bastante respeitado por
seus trabalhos como diretor de teleteatros na televisão norte-americana estreou
no cinema dirigindo “Um de Nós Morrerá”. Essa versão da história de Billy the
Kid (William Bonney) se inicia com Billy como um cowboy que passa a trabalhar
para Tunstall (Colin Keith-Johnston), um inglês criador de gado no Condado de
Lincoln, no Novo México. Há uma guerra entre grupos de criadores rivais e
Tunstall é emboscado e morto por quatro homens. Billy descobre quem são os
assassinos de seu patrão e juntamente com os amigos Tom (James Best) e Charlie
(James Congdon) decide vingar a morte de Tunstall. Kid executa dois dos
assassinos. Perseguido Billy escapa com queimaduras de uma casa incediada e se
refugia na cidade de Madero juntamente com seus dois amigos. O governador do
Novo México decreta anistia para os que participaram da ‘Guerra do Condado de
Lincoln’. Mesmo assim Billy the Kid quer completar a vingança e comete novo
crime de morte. Seu amigo Pat Garrett (John Dehner) se torna xerife do Condado
de Lincoln e passa a procurar Billy e seus companheiros que fogem e são caçados
por Garrett e um grupo de delegados. Billy retorna a Madero onde é ajudado pelo
mexicano Saval (Martin Garralaga) e por sua esposa Celsa (Lita Milan), com quem
acaba se envolvendo amorosamente. Celsa ajuda Billy a se esconder de Garrett,
mas Billy é descoberto por Moultrie (Hurd Hatfield), escritor que publicava
histórias dos crimes de Billy Bonney. Moultrie denuncia a Garrett onde Billy se
encontra escondido, o xerife dá voz de prisão a Billy que simula reagir, mesmo
estando desarmado. Garrett dispara e mata o ex-amigo, finalizando sua vida de
crimes.
Alegre diálogo entre Pat Garrett e Billy the Kid. |
Billy the Kid assediando Celsa. |
A morte do desarmado Billy the Kid. |
Paul Newman à beira dos histrionismo. |
Pistoleiro
irritante - Arthur Penn viria a se tornar um importante diretor com
alguns de seus futuros filmes, especialmente sua obra-prima “Uma Rajada de
Balas” (Bonnie and Clyde). Em “Um de Nós Morrerá”, porém, Penn prima por uma
direção de atores bastante teatral, fruto dos anos de trabalho dirigindo
teleteatros que nada mais eram que teatros televisados, isto até o
aperfeiçoamento do vídeo-tape que passou a ser usado em 1956. Com o vídeo-tape
as produções para a televisão se aproximaram mais do cinema. E para comprometer
ainda mais o trabalho de Penn, Paul Newman fez o que quis diante das câmaras,
não contido pelo diretor e exagerando nos maneirismos típicos do ‘Method’ (de
interpretar) aprendido no Actors Studio. Newman compõe o pistoleiro mais
irritante do cinema numa interpretação que nem mesmo Marlon Brando em seus mais
exagerados trabalhos seria capaz de sobrepujar. Fica a impressão que Newman
queria provar que podia ser mais James Dean que o próprio Dean, já transformado
em mito do cinema em 1958, três anos após sua morte. Em meio a tantos senões o
talento de Arthur Penn pode ser percebido especialmente em quatro sequências de
mortes: a morte do guarda que toma conta do prisioneiro Billy the Kid e é
alvejado por este; o xerife Moon (Wally Brown) que quando morto por Billy
esmaga seu rosto contra o vidro de uma janela; a morte de Ollinger (Denver
Pyle), provavelmente a primeira vez que se usou o processo de slow-motion num
faroeste; e a morte do próprio Billy, final de uma primorosa sequência que são
os cinco minutos derradeiros do filme.
A morte do personagem de Denver Pyle em câmara lenta em 1958. |
James Best só e com Paul Newman. |
Destaque
para James Best - A descoberta da traição da esposa
por parte de Saval é um momento magnífico, mais ainda por conter o subtexto de
Celsa nada sentir por Billy, que não teria sido o homem que ela imaginava.
Segue-se o arrependimento de Billy e sua conscientização que é uma criatura
quase abjeta. O preto e branco da filmagem reforça o clima trágico do final de
“Um de Nós Morrerá” ainda que não salve o western de Penn tão eivado de lapsos
do roteiro e indefinição de onde o filme quer chegar. James Best é a melhor presença
do filme, livre desta vez de seus tiques interpretativos e mostrando que
poderia ser melhor aproveitado como ator sério, ele que fazia a América rir
toda semana como o atrapalhado xerife Roscoe P. Coltrane na série “The Dukes of
Hazzard”. Denver Pyle (Uncle Jesse Duke dessa mesma série), que viria a ser o
xerife que sofre bullying por parte de Bonnie e Clyde num excepcional momento
de “Uma Rajada de Balas”, participa pouco em “Um de Nós Morrerá”. John Dehner
está nos limites de sua limitada capacidade interpretativa e Hurd Hatfield
cansa o espectador a cada vez que entra em cena. A bela Lita Milan está bem
neste que foi um de seus últimos trabalhos como atriz antes de abandonar a
carreira para se casar com o filho do ditador Trujillo, da República Dominicana.
John Dierkes realça qualquer personagem que intérprete, no caso McSween. E
merece ser lembrado Martin Garralaga como o amigo traído de Billy the Kid.
Kris Kristofferson em "Pat Garrett and Billy the Kid" repetindo o gesto de Paul Newman (Cristo?). |
Paul Newman dá as instruções de filmagem sob o olhar resignado de Arthur Penn (de branco). Ao lado de Newman o ator inglês Colin-Keith Johnston e ao fundo, próximo à cãmara, John Dierkes. |
Paul Newman, Nestor Paiva e Hurd Hatfield, que interpreta o escritor. |
Pôsteres de vários países de "Um de Nós Morrerá". |
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