Michae Curtiz e Errol Flynn no set de "Capitão Blood". |
A Warner Bros. tinha sob contratos
Errol Flynn, Olivia De Havilland e o diretor Michael Curtiz. Esse trio fez a
incrível soma de sete filmes juntos e Flynn foi dirigido 12 vezes por Michael
Curtiz, ainda que não suportasse o tirânico diretor húngaro. A trilogia de
aventuras (“Capitão Blood”, “A Carga da Brigada Ligeira” e “As Aventuras de
Robin Hood”) dirigida por Curtiz nos anos 30, tendo Flynn e Olivia como par
romântico tornou-se imediatamente clássica, obtendo grande sucesso. A Warner
Bros. decidiu então mudar o cenário e incumbi-los de novas aventuras, agora no
Velho Oeste, sem no entanto obter o mesmo êxito artístico dos capa-e-espadas.
Esse foi o caso do primeiro western do trio Curtiz-Flynn-De Havilland,
intitulado “Uma Cidade que Surge” (Dodge City).
Guinn 'Big Boy' Williams, Errol Flynn e Alan Hale chegando a Dodge City. |
Acima Gloria Holden e Bobs Watson; abaixo Errol Flynn e Bruce Cabot. |
A
minimizada presença da mulher - Este faroeste de Michael Curtiz foi
bem produzido, com bela cinematografia em Technicolor do diretor de fotografia
Sol Polito, música de Max Steiner e um elenco enorme. Gastou-se muito para
filmar certas sequências de “Uma Cidade que Surge”, entre elas as tomadas da
cidade sempre movimentada e repleta de gente, e a verdadeira guerra que se
trava no ‘Lady Gay’. Com tudo isso, “Uma Cidade que Surge” resultou num filme
vazio com intenção principal de mostrar o heroísmo do pseudo Wyatt Earp e seu
romance com a mocinha. Apenas como complemento das ininterruptas ações toca-se
na importância da imprensa na formação da nova cidade, quando poderia ser
melhor desenvolvida a força do corajoso jornal local. Somente em 1962, com “O
Homem que Matou o Facínora” o faroeste aprofundaria a presença desse órgão essencial na
formação do Velho Oeste. E não há como negar que John Ford esboçou seu Liberty
Valance na figura do bandido Yancey que usava um pequeno chicote para espancar
o jornalista Joe Clemens. E a melhor história contida no roteiro de Robert
Buckner é a da família Cole que vê o pai Matt Cole (John Litel) ser
covardemente assassinado, ficando a viúva Cole (Gloria Holden) com o encargo de
criar Harry Cole (Bobs Watson) o filho ainda pequeno. Posteriormente o menino
vem a falecer tragicamente num toque de sentimentalismo desnecessário cuja
intenção não é outra senão a de comover a plateia. A senhora Cole é a mais
apropriada representante feminina do Velho Oeste, onde maridos morriam por
razões diversas e à mulher cabia criar os filhos. Em compensação prevalece na
tela a insonsa personagem de Olivia de Havilland.
Olivia De Havilland fazendo-se de difícil para Errol Flynn; abaixo Guinn 'Big Boy' Williams com Ann Sheridan. |
História
simples e movimentada - “Uma Cidade que Surge” fez grande
sucesso quando de seu lançamento em 1939, sucesso idêntico aos westerns “Jesse
James”, “Aliança de Aço” e “Ao Rufar dos Tambores”. Faroestes melhores como os
clássicos “No Tempo das Diligências” e “Atire a Primeira Pedra”, também
lançados em 1939, obtiveram bilheterias inferiores a esses faroestes. E 1939
foi ainda o ano do lançamento de “A Lei da Fronteira”, com Randolph Scott como
Wyatt Earp mesmo. Entre todos esses filmes, o de Michael Curtiz é, sem dúvida,
o mais movimentado, com características próximas dos westerns B com ação
incessante e história simples e portanto dirigido a um público menos exigente,
o que explica seu estrondoso sucesso. Além disso Errol Flynn, aos 30 anos de
idade era uma das maiores estrelas de Hollywood. Porém como cowboy Errol Flynn não
convence pois é bonito demais, suave demais e elegante demais. Quando Flynn
coloca em prática sua habilidade de conquistador as sequências resultam
inconvincentes pois como em todos os filmes que fizeram juntos, Olivia De
Havilland faz o tipo inocente e difícil de ser conquistada. E há o desperdício
total da voluptuosa Ann Sheridan como saloon-girl, Ann que seria muito melhor
aproveitada nos filmes seguintes tornando-se a ‘Oomph Girl’ e uma das mulheres
mais desejadas da América ao lado de Rita Hayworth. Curiosamente, Errol Flynn faleceu com 50 anos de idade e Ann Sheridan com somente 51.
Começam as brigas no 'Lady Gay' após a canção "Dixie's Land"; abaixo Bruce Cabot e Vitor Jory. |
Rancores
lembrados em canções - Interessante notar em “Uma Cidade
que Surge” a sequência no ‘Lady Gay’ em que se toca no palco do saloon “Marching Through
Georgia” enquanto sulistas comandados por um acordeão iniciam ao mesmo tempo a
cantoria de “Dixie’s Land” tentando abafar a canção nortista. A guerra já havia
terminado, mas ressentimentos permaneciam bastante vivos. Três anos mais tarde no
clássico “Casablanca” dirigido por Michael Curtiz, um dos filmes mais queridos do cinema, observa-se
sequência parecida. É quando os alemães liderados pelo major Heinrich Strasser
(Conrad Veidt), entoam Die Watch am Rhein”, abafados pelas vozes de Victor Laszlo
(Paul Henreid), Capitão Renault (Claude Rains) e os franceses presentes no
‘Rick’s’, em Casablanca, cantando “A Marselhesa”. Michael Curtiz conseguiu um
efeito emocionante em “Casablanca”, o que não ocorreu em “Uma Cidade que
Surge”, numa cena apenas engraçada. Errol Flynn que interpretaria o General J.E.B. Stuart no western de 1940
“A Estrada de Santa Fé”, também dirigido por Michael Curtiz, personificaria
muito melhor o empavonado George Armstrong Custer em seu western seguinte “O
Intrépido General Custer”. A melhor performance de “Uma Cidade que Surge” é a
de Bruce Cabot como o inescrupuloso bandido Jeff Surrett. Ótima a atriz Gloria
Holden, apesar de aparecer pouco. Olivia De Havilland se mostraria admirável
atriz após abandonar a persona para ela criada na Warner Bros., especialmente
quando ao lado de Errol Flynn. Ótimo o grande elenco de coadjuvantes, com
destaque especial para Victor Jory. Ann Sheridan e Ward Bond com poucas
oportunidades. O menino Bobs Watson parecia dar início à série de garotos
chatos que abundariam em faroestes futuros. E é esse personagem que nos mostra
que já havia sim ‘flanelinhas’ de cavalos no Velho Oeste, mais precisamente em Dodge City.
O 'Lady Gay Saloon' destruído por uma incrível briga entre seus clientes. |
O pôster de "Uma Cidade que Surge" dá destaque a Ann Sheridan (à direita) na tentativa de atrair mais espectadores. No entanto a atriz pouco aparece no filme, o que é uma pena. |
Western magnifico.Grande blog.
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