ONDE IMPERAM AS BALAS (Red Sundown) – BOM FAROESTE APESAR DOS CLICHÊS

“Onde Imperam as Balas” (Red Sundown) é um western produzido em 1956 pela Universal International, dirigido por Jack Arnold e que tem muitos pontos em comum com faroestes influentes como “O Matador” e “Matar ou Morrer”. Rory Calhoun interpreta Alec Longmire, pistoleiro que quer se redimir do passado e aposentar seu revólver, assim como o Johnny Ringo do clássico de Henry King de 1950. Corta para “Matar ou Morrer” e Alec Longmire passa a ter problemas parecidos com os de Will Kane, o xerife de Hadleyville interpretado por Gary Cooper. Bandidos, uma ex-namorada mexicana e o próprio xerife da cidade atrapalham os planos de aposentadoria imediata de Longmire, bem como de futuro casamento com a loura e prendada Caroline (Martha Hyer). E há ainda em “Onde Imperam as Balas” uma pitada de “Shane” na figura não de um, mas de dois meninos (a óbvia presença alegórica do espectador) que acompanham cada passo do mocinho, torcendo para que ele aja como herói.

James Millican e Rory Calhoun.

Ouça um bom conselho... - O que pode levar um pistoleiro a se arrepender da vida errante que leva e passar para o lado do bem? É improvável, mas no caso de Alec Longmire foram os conselhos dados pouco antes de morrer por um outro pistoleiro de nome Bud Purvis (James Millican). Somados aos conselhos do amigo, houve ateriormente a morte de um irmão de Longmire, pistoleiro como ele, comprovando que quem quiser viver mais deve mesmo se tornar rancheiro e levar uma vida pacata. Mas isso não é fácil numa cidade chamada Durango, dominada por Rufus Henshaw (Robert Midletton) o poderoso local que faz com os pequenos sitiantes as maldades típicas, o que parece ser a obrigação de todo pretendente a barão do gado. Não sem razão Henshaw tem o mesmo nome (Rufus) de um dos Rykers de “Os Brutos Também Amam”. E como bom Rufus, Henshaw contrata um temido pistoleiro para assustar as vítimas. Alec Longmire liquida o pistoleiro Chett Swann (Grant Williams), coloca Rufus na cadeia, e como prêmio ganha a mocinha Caroline, filha do xerife Murphy (Dean Jagger).

Trevor Bardette

Xerife, um trabalho sem perspectivas - Contado dessa maneira pode ficar a impressão que “Onde Imperam as Balas” seja uma reunião de clichês que resultou num faroeste desinteressante. Nada disso. Dirigido pelo competente Jack Arnold, o filme inova com um insólito prólogo de 20 minutos que mostra uma desavença entre os amigos Longmire-Purvis (Calhoun e Millican) e o bando de Rod Zellman (Leo Gordon). Numa sequência bastante violenta Purvis morre não sem antes salvar a vida de Longmire. Zellman e seu bando desaparecem da história que passa a se desenrolar em Durango. Jack Arnold cria então sequências perfeitas como a luta dentro de um saloon entre Rory Calhoun e Robert Middleton; duas cenas tensas confrontando Rory Calhoun e Grant Williams antes do duelo final. Pena que o pistoleiro use como escudo a mocinha Caroline, igualzinho como Ian MacDonald fez com Grace Kelly em “Matar ou Morrer”. Tudo que aqui foi narrado se passa em enxutos 82 minutos com direito ainda a comentários sobre a falta de perspectivas para homens da lei no Velho Oeste em contundentes e amargos discursos do pistoleiro Chett Swann e de Rufus Henshaw. Este último, com incrível naturalidade tenta aliciar o xerife Murphy e seu delegado Longmire propondo-lhes que ajude seu império a crescer deixando a lei de lado. É a corrupção exercida por quem conhece o lado fraco dos homens, mesmo aqueles que têm todas as obrigações em troca de baixo salário. Esta tudo nesta história de Lewis B. Patten roteirizada por Martin Berkeley.

À espreita do assassino, ação covarde do pistoleiro, o triângulo amoroso,
a mexicana... Você já viu tudo isso em "Matar ou Morrer".
Abaixo os pirralhos seguindo os passos de Joey Starrett.
Nas fotos Dean Jagger, Rory Calhoun, Grant Williams, Martha Hyer,
Lita Baron; os meninos são Scotty Morrow e David Kasday.

Robert Middleton elegante, robusto e infame.

Robert Middleton ocupando todos os espaços – Rory Calhoun que era um misto de Ronald Reagan com Victor Mature, é sempre convincente como mocinho. O mesmo não se pode dizer de Martha Hyer, aqui puro enfeite. O outro destaque feminino é Lita Baron, espanhola de Almería, então esposa de Rory Calhoun na vida real. Dean Jagger é imbatível quando interpreta homens de personalidade fraca, mas quem rouba todas as cenas em que aparece é Robert Middleton, exercitando seu cinismo de homem mau com enorme charme, elegância, humor e robustez. Muito bom também Trevor Bardette, de tantos seriados e faroestes ‘B’, com participação importante mostrando o bom ator que era. Filme de estréia de Grant Williams com os maneirismos interpretativos tão em voga em meados de 50, a la James Dean, Brando e Paul Newman. Uma pena a pequena participação de Leo Gordon e para compensar há a presença por segundos na tela de Lee Van Cleef, num curioso flash de “Dinastia do Terror”, em que é baleado por Rory Calhoun. John Doucette, Steve Darrell também participam de “Onde Imperam as Balas”, assim como Chuck Roberson e Chuck Hayward.

A espetacular luta entre Robert Middleton e Rory Calhoun; abaixo a consciência
de Alec Longmire revive cenas de "Dinastia do Terror", com Lee Van Cleef.

James Millican

Último filme de James Millican - “Onde Imperam as Balas” foi o último filme de James Millican, ótimo ator que merecia melhor sorte na tela e na vida. Millican faleceu aos 45 anos. Em todas as oportunidades que teve no cinema, muitas delas em faroestes, Millican esteve sempre bem, como o delegado que se acovarda em “Matar ou Morrer”. Assim como Leo Gordon, o personagem de James Millican participa apenas dos primeiros 20 minutos do filme, o suficiente no entanto, para mostrar que sua morte foi uma perda enorme para os elencos de apoio do cinema. Jack Arnold é mais lembrado pelos seus clássicos ‘B’ de ficção-científica como “O Monstro da Lagoa Negra”, “Tarantula” e “O Incrível Homem que Encolheu”. Dele também é o cult “Escola do Vício” e Arnold dirigiu “Balas que não Erram”, que está entre os melhores westerns de Audie Murphy. Exemplo perfeito dos faroestes ‘B’ dos anos 50, “Onde Imperam as Balas” não estaria completo se não tivesse uma canção narrativa que abre e fecha o filme. Essa canção foi composta e interpretada por Terry Gilkyson e intitula-se justamente “Red Sundown”. Tanto a música como o cantor-compositor foram rapidamente esquecidos, mas “Onde Imperam as Balas” merece ser lembrado como um daqueles faroestes bem dirigidos e movimentados que dava gosto de assistir.

Destaques de "Onde Imperam as Balas": Martha Hyer, Dean Jagger e
Grant Williams; Leo Gordon em participação especial.

O mocinho Rory Calhoun; na segunda foto com James Millican.