A
Tipografia Brasil de Ernest Rothschild era uma das maiores de São Paulo,
responsável por todos os impressos da Companhia Sorocabana de Estrada de Ferro
e editora das famosas Agendas Comerciais Paulista e Paulistinha, presentes em quase
todos os escritórios brasileiros. Situada num enorme prédio de três pisos na
Rua Brigadeiro Tobias, a Tipografia Brasil possuía bem distribuídos os setores
de escritório, pautação, blocagem, tipografia, linotipia e impressão. A seção
de impressão ocupava boa parte do andar térreo com uma dúzia de máquinas
impressoras de grande porte. Havia também muitas impressoras menores como as
famosas Minervas e as então moderníssimas Original Heildelbergs. Pois era numa
Heildelberg que trabalhava um impressor amalucado chamado Fernando Machado, o
Gregory Peck da Tipografia Brasil.
A famosa impressora Original Heildelberg, capaz de produzir 5.000 impressos por hora. |
Seu ídolo, Gregory Peck - Cada faroeste que eu assistia na matinê
de domingo eu comentava na segunda-feira com Machado. Lembro de um faroeste que
muito me impressionou chamado "Gatilho Relâmpago", com Glenn Ford e
ao comentar o filme com Machado, ele, como sempre, passou a fazer comparações com
seu ator e faroestes preferidos. Para ele Gregory Peck era incomparável, o
melhor de todos os atores. E claro, os faroestes de Gregory Peck eram para
Machado os mais emocionantes do cinema. O impressor não se cansava de citar
"O Matador", "Céu Amarelo", "Resistência
Heróica", "Estigma da Crueldade" e um western mais recente intitulado
"Da Terra Nascem os Homens". Mas o filme que Machado mais admirava e
sempre citava como o melhor de todos era "Duelo ao Sol". Dos filmes
que Machado citava eu só havia assistido "Da Terra Nascem os Homens"
e até havia gostado muito mais de Charlton Heston que de Gregory Peck. Fui
falar isso para o Machado e ele com as carótidas inflamadas e o pomo de Adão querendo
saltar da garganta quis me convencer que Gregory Peck era insuperável.
Fernando Machado ou Gregory Peck? Difícil responder pois eram parecidos. |
Grande western lançado em São Paulo em abril de 1961, no Cine República. |
Cena que Fernando Machado imitava com a namorada Inês na Tipografia Brasil. |
Oi, Darci
ResponderExcluirSe todo mundo gostasse só de uma coisa, a vida seria sem graça.
Ótimo que o Machado tenha gostado muito de Duelos ao Sol. Assim, os filmes podem ser bem diferentes, para todos os gostos.
Um lindo relato de vidas que se cruzaram por motivos diversos, entre eles o faroeste Duelo ao Sol.
Um grande abraço
Janete, o Machado não gostava de Duelo ao Sol. Ele era simplesmente fanático. Creio que um caso para tratamento psicanalítico. Ele provocava as brigas com a moça para ser xingado, unhado e arranhado. Aí arrancava beijos à fora da moça que devia gostar muito dele... - Um abraço do Darci
ExcluirCaro Darci,
ResponderExcluirMuito bom de ler esse Cine Saudade. Achei divertido o seu jeito de contar o dia-a-dia na Tipografia Brasil. Que pessoa mais interessante o Impressor Felipe Machado Peck! Senti de perto a sua perda quando o corte no pessoal interrompeu seu convívio com ele. Desfrutei do afeto amistoso no reencontro ocasional do Cine República ligado ao sucesso do filmaço "Sete Homens e Um Destino". Muito especial o gosto de Felipe Machado pelo ator Gregory Peck. A mim fez bem saber desse espontãneo admirador do ator e, é claro, da sinceridade com que se declarava fã do western. Compartilho das predileções de Felipe Machado, confesso ter saudades dele sem nunca tê-lo conhecido. Abraços,
Cibele
Olá, Cibele - Você nem imagina o tipo que era o Fernando Machado. Cabia bem naquela seção "Meu Tipo Inesquecível" da Seleções do Readers Digest... E para ajudar ele se achava o próprio Lewt McCanles. Você lembrou bem daquela coisa chamada 'cortes de funcionários'. De repente perdia-se inúmeros amigos. E o pior que às vezes para sempre. Um abraço do Darci.
ExcluirA vida é assim mesmo... tanta gente com quem convivemos durante um tempo e depois desaparece para sempre, como o Shane "daquele" filme...
ResponderExcluirDarci, para um filme tão cheio de defeitos, até que vc. está dedicando muito espaço, heim? Tem certeza que ele não é "o melhor filme do mundo" também prá você?
E por falar em defeitos, a cena mais constrangedora para mim é aquela em que o Lionel Barrymore faz aquela cara mais compungida e diz "não vou atirar nessa bandeira". Putz! Mas a americanada deve ter adorado, não é?
(Nossa, esse comentário devia ser feito na outra matéria, não aqui).
Abraços
Olá, José Tadeu. Duelo ao Sol é um filme que tem muitos admiradores e portanto até merece uma matéria sobre os bastidores, uma resenha pessoal e o clip. Já o Cine Saudade foi apenas para aproveitar que o assunto é esse filme. Concordo com você que aquela cena do Lionel Barrymore merece entrar para os anais das piores coisas dos faroestes. Todos queríamos ver aquelas centenas de cowboys se bater contra a Cavalaria. Mas o produtor preferiu gastar dinheiro mostrando ao mundo Jennifer Jones.
ResponderExcluirUm abraço do Darci