“Você cometeu dois erros: o primeiro ter enforcado o homem
errado; o segundo não ter completado o serviço.” Estas palavras Clint Eastwood pronunciou a cada um dos
homens que matou em “A Marca da Forca” (Hang ‘Em High) o primeiro western que
fez nos Estados Unidos após o retorno da Itália. Jed Cooper (Eastwood) é
encontrado pelo Capitão Wilson (Ed Begley), que comanda um grupo de vigilantes
e é acusado de haver matado um fazendeiro e ter roubado seu gado. O Capitão
Wilson ordena o enforcamento imediato de Jed Cooper que é deixado pendurado na
ponta de uma corda. Milagrosamente Cooper sobrevive com uma marca profunda no
pescoço e passa o resto do filme procurando Wilson e os demais que o enforcaram. Quando os
encontra Cooper repete a eles a famosa frase. Wilson e seus homens não são exatamente
uma quadrilha de ladrões, mas na hedionda sequência em que penduram Cooper, se
comportam de forma bárbara, saboreando o momento como se estivessem numa festa,
a festa do enforcamento. O Capitão Wilson comanda mais de uma dúzia de vigilantes e cinco deles foram interpretados por atores que merecem destaque. Um pela extrema crueldade, três por terem cega e delirantemente seguido o Capitão e terem por isso pago com a vida a atrocidade cometida: Ed Begley, L.Q. Jones, Alan
Hale Jr. e Bruce Dern; o quinto, e único a receber clemência, é Bob Steele, como se Clint
Eastwood estivesse respeitando o memorável passado do ator como mocinho dos
pequenos B-westerns.
Ed Begley –
Nascido Edward James Begley, em 1901 em Connecticutt, Begley começou a carreira
de ator ainda criança no teatro vaudeville, passando depois para o rádio e para
os palcos da Broadway. Seu maior sucesso como ator teatral foi em “O Vento Será Sua Herança”, interpretando por 806 vezes o advogado Matthew Brady, personagem
vivido no cinema por Fredric March no filme de 1960. Por esse trabalho Ed
Begley recebeu o Tony de Melhor Ator
de Teatro em 1956. Outro prêmio recebido por Ed Begley foi o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 1963
por sua atuação em “Doce Pássaro da Juventude”. Dos muitos filmes nos quais Ed
Begley atuou na sua longa carreira merecem ser lembrados “Rua Sem Nome”
(Richard Widmark), “Uma Vida por um Fio” (Barbara Stanwyck-Burt Lancaster), “Até
o Céu tem Limites” (Alan Ladd), “Cidade Negra” (Charlton Heston), “A Hora da
Vingança” (Humphrey Bogart), “Doze Homens e uma Sentença” (Henry Fonda),
“Homens em Fúria” (Harry Belafonte). Os faroestes que contaram com a
participação de Ed Begley foram “O Paladino dos Pampas” (Joel McCrea), “A Ferro
e Fogo” (Stephen McNally), “Teimosa e Valente” (Howard Duff) e “O Último
Tiro/Firecreek” (Henry Fonda-James Stewart). Ed Begley faleceu vítima de um
ataque cardíaco em 1970, em Los Angeles e era o pai do ator Ed Begley Jr.
Bruce Dern – Nenhum
outro ator pode se vangloriar de ter matado John Wayne, ter apunhalado Charlton
Heston, ter humilhado Kirk Douglas e quase enforcado Clint Eastwood. Bruce Dern
é o autor dessa proeza. Dern é um dos grandes atores de uma geração que teve
Gene Hackman, Jack Nicholson, Dustin Hoffman, Jane Fonda e pouquíssimos outros tão
bons quanto eles. Tendo atuado em mais de cem filmes, na maioria deles Bruce
Dern aterrorizou os personagens principais com sua maldade e ar alucinado em
papéis de psicopatas. Nascido em 1936, em Chicago, Bruce Dern estreou no cinema
em “Rio Violento” (Montgomery Clift), em 1960 e fez filmes pilotando
motocicleta (“Os Anjos Selvagens”) ou falando sobre drogas (“Viagem ao Mundo da
Alucinação”), ambos com o amigo Peter Fonda. Duas de suas melhores atuações no
cinema foram ao lado de Jane Fonda em “A Noite dos Desesperados” e “Amargo
Regresso”, pelo qual foi indicado ao Oscar, deixando de receber o prêmio em
mais uma flagrante injustiça da Academia. Nos faroestes Bruce Dern, sempre como
vilão, atuou em “Gigantes em Luta” (John Wayne-Kirk Douglas), “E o Bravo Ficou
Só” (Charlton Heston), “Uma Cidade Contra o Xerife” (James Garner), “Ambição
Acima da Lei” (Kirk Douglas), “Os Cowboys” (John Wayne) e “Wild Bill” (Jeff
Bridges). Bruce Dern é o pai da atriz Laura Dern. [Leia uma biografia mais completa de Bruce Dern neste blog]
L.Q. Jones –
Justice Ellis McQueen Jr. nasceu no Texas em 1927 e não fez justiça ao nome de
batismo, pelo menos com os personagens que interpretou no cinema. Só dirigido
por Sam Peckinpah L.Q. Jones esteve na pele de algum tipo de fora-da-lei em
“Pistoleiros do Entardecer”, “Juramento de Vingança”, “Meu Ódio Será sua
Herança”, “A Morte não Manda Recado” e “Pat Garrett e Billy the Kid”, o que fez
de L.Q. Jones um dos atores preferidos de Peckinpah. L.Q. Jones foi levado para
Hollywood por Fess Parker, estreando no cinema em 1955 no drama de guerra “Qual
Será o Nosso Amanhã?” (Tab Hunter). Depois disso nunca mais parou de fazer
filmes, sempre como coadjuvante. L.Q. Jones apareceu em três filmes de Elvis
Presley, que foram “Ama-me com Ternura”, “Estrela de Fogo” e “Joe é Muito Vivo”.
Jones pode ser visto também em “Fibra de Herói” (Randolph Scott), “Minha
Vontade é Lei”(Henry Fonda-Anthony Quinn), “Cimarron” (Glenn Ford), “O Inferno é para os
Heróis" (com Steve McQueen e o amigo Fess Parker), “Abatendo Um a Um” e “Rifles
Apaches” (ambos com Audie Murphy), “Nevada Smith” (Steve McQueen), “Caçada
Sádica” (Gene Hackman) e “McQuade, o Lobo Solitário” (Chuck Norris). Já com os
cabelos grisalhos e um vasto bigode, L.Q. Jones marcou presença em filmes mais
recentes como “Cassino” (Robert De Niro), “A Máscara do Zorro” (Antonio Banderas)
e “Justiça de um Bravo” (John Cusak). Mas a imagem inesquecível de L.Q. Jones
será sempre a do esfarrapado membro da atrapalhada guarda da estrada de ferro
que disputa com Strother Martin as botas de um cadáver em “Meu Ódio Será Sua Herança”.
Alan Hale Jr. – Filho
de Alan Hale, conhecido ator coadjuvante de tantos sucessos da Warner Bros.,
Alan Hale Mackahan Jr. nasceu em 1921 em Los Angeles. Seguindo os passos do pai
começou no cinema aos 12 anos em “Idade Perigosa” (Frankie Darro). Como ator
adulto Alan Hale Jr. mostrou a mesma simpatia do pai na maioria dos filmes que
fez, entre eles “Horas de Tormenta” (Bette Davis), “Nossos Mortos Serão
Vingados” (Brian Donlevy), “Corações Enamorados” (Frank Sinatra-Doris Day),
“Pecado e Redenção” (Robert Taylor), “Mares Violentos” (John Wayne), “Hino de uma
Consciência” (Rock Hudson) e “Periscópio à Vista” (James Garner). Quando Alan Hale-pai
faleceu, em 1950, Alan Hale Jr. adotou o nome artístico do genitor, excluindo o
‘Jr.’, o que sempre causava confusão na cabeça dos cinéfilos. Nos faroestes, simplesmente
como Alan Hale, ele esteve tanto ao lado da lei como contra ela com a mesma desenvoltura.
Eis alguns dos westerns em que Alan Hale atuou: “O Matador” (Gregory Peck),
“Floresta Maldita” (Kirk Douglas), “Renegado Heróico (Gary Cooper), “Homens
Indomáveis” (John Payne), “O Último Matador” (Scott Brady), “Antro da Perdição”
(Audie Murphy), “Sangue Aventureiro” (Robert Taylor), “Um Homem Solitário” (Ray
Milland), “A Um Passo da Morte” (Kirk Douglas), “O Rio dos Homens Maus” (George
Montgomery), “Quem foi Jesse James” (Robert Wagner). Atuando bastante na TV,
Alan Hale interpretou ‘Skipper’, personagem fixo na série de TV “A Ilha dos
Birutas” que ficou no ar por três temporadas, de 1964 a 1967. Alan Hale Jr.
faleceu em consequência de um câncer em 1990, em Los Angeles, aos 69 anos.
Bob Steele – Filhos
gêmeos do diretor Robert North Bradbury e nascidos no Oregon no dia 23 de
janeiro de 1907, os pequenos Robert Adrian Bradbury e William C. Bradbury
fizeram seus primeiros filmes em 1920, quando tinham apenas 13 anos. O filme se chamou “The Adventures of
Bob and Bill”. Bill não fez carreira, mas o irmão Bob,
adotando nome artístico de Bob Steele,
se tornou um dos mais queridos mocinhos das matinês fazendo mais de cem
westerns-B como herói. Com apenas 1,65m de altura, Bob era adorado pelos
pequenos fãs porque ninguém brigava como ele, fosse qual fosse o tamanho dos
bandidões. Daí seu apelido ‘Battlin’ Bob’. Desde a Glendale High School, onde
foi colega de John Wayne, Bob se destacou no boxe, chegando mesmo a lutar
profissionalmente. Como mocinho Bob Steele passou por quase todos os pequenos
estúdios que produziam aqueles faroestes de 60 minutos para as matinês. Um dos
personagens mais famosos de Bob Steele foi ‘Tucson Smith’ na série ‘Three Mesquiteers’,
da Republic, grande sucesso daquele estúdio. Bob Steele foi também um dos ‘Trail
Blazers’ na série feita para a Monogram. Bob Steele atuou em filmes mais
importantes, como “Carícia Fatal” (Burgess Meredith), “À Beira do Abismo” e “Um
Preço para Cada Crime” (os dois com Humphrey Bogart). A partir dos anos 50 Bob Steele
se tornou coadjuvante em muitos faroestes e prolongou sua carreira por mais 25
anos, nunca deixando de ser reconhecido pelos seus antigos fãs. Dessa lista
fazem parte, entre outros, “Mercadores de Intriga” e “O Estouro da Manada” (ambos
com Joel McCrea), “Bandeira da Desordem” e “Desafio à Bala” (ambos com Rod
Cameron), “Entardecer Sangrento” (Randolph Scott), “O Rei do Laço” (Dean
Martin-Jerry Lewis), “Os Quatro Heróis do Texas” (Frank Sinatra), “Shenandoah”
(James Stewart), “O Domador de Cidades” (Dana Andrews), “Império da Vingança” e
“Dólares Malditos” (os dois com Dan Duryea), “Os Renegados” (Dean Martin), “O
Grande Roubo do Banco” (Kim Novak). Bob Steele atuou em quatro filmes do amigo
John Wayne: “Quando um Homem é Homem”, “Onde Começa o Inferno”, “Os
Comancheiros” e “Rio Lobo”. Dos muitos westerns estrelados por Audie Murphy, Bob
Steele apareceu em seis: “Tambores da Morte”, “Balas que não Erram”, “Com o
Dedo o Gatilho”, “Na Rota dos Proscritos”, “Balas para um Bandido”, e “Gatilhos
em Duelo”. A despedida de Bob Steele das telas foi como um guarda de banco em
“Charley Warrick”, com Walter Matthau, em 1973. Bob Steele faleceu aos 81 anos,
em 21 de dezembro de 1988, na Califórnia.
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