Lawrence Kasdan pertence a uma geração
de cineastas que decidiu reviver os bons tempos das matinês em que a garotada
vibrava com seriados de aventuras e com faroestes. Em 1980, aos 30 anos, Kasdan
escreveu o roteiro para o segundo episódio da série “Guerra nas Estrelas”, série
inspirada nos heróis interplanetários Flash Gordon e Buck Rogers, dos anos 30.
Em seguida Lawrence Kasdan escreveu um roteiro contando as primeiras aventuras
do arqueólogo aventureiro chamado Indiana Jones, baseando-se desta vez no
seriado “A Adaga de Salomão”, de 1943, estrelado por Rod Cameron. O filme se
chamou “Os Caçadores da Arca Perdida”. Faltava Kasdan homenagear os faroestes
que eram a essência da programação das matinês, tanto nos States como também no
Brasil. Foi então, em 1985, que Kasdan escreveu, produziu e dirigiu “Silverado,
um verdadeiro revival dos filmes de mocinho e bandido.
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Kevin Kline sendo dirigido por Kasdan. |
A LUTA DO BEM CONTRA O MAL - A Silverado
do título é uma cidade do Velho Oeste dominada por McKendrick (Ray Baker) um
barão do gado que controla Cobb (Brian Dennehy) o xerife da cidade. Chegam a
Silverado os irmãos Emmett (Scott Glenn) e Jake (Kevin Costner), acompanhados
de Paden (Kevin Kline), amigo recente. Junta-se a eles o negro Mal (Danny
Glover), cujo pai foi morto pelos homens de McKendrick. As ações ilegais de
McKendrick e Cobb revoltam os quatro amigos que decidem enfrentar o barão de
gado e seus pistoleiros, bando reforçado pelo xerife e seus delegados. Apesar
da diferença numérica, Emmett, Paden, Jake e Mal intrepidamente liquidam o
pequeno exército de antagonistas trazendo a paz a Silverado. Paden permanece na
cidade, Mal vai viver em outro Estado e os irmãos Emmett e Jake partem para
novas aventuras. Esse enredo simples cria situações repletas de ação que vão se
interligando em ritmo incessante, aquele mesmo ritmo dos saudosos faroestes feitos
às dúzias pelos pequenos estúdios da zona pobre de Hollywood.
NEM PSICOLOGISMO, NEM REVISIONISMO - A
proposta de Lawrence Kasdan com “Silverado” era fugir da tendência revisionista
que tomou conta dos faroestes no início dos anos 70. E Kasdan não queria
esbarrar no psicologismo que passou a dominar o gênero a partir de filmes como
“O Matador”, de 1950. “Silverado” deveria então ter diálogos sem nenhuma
complexidade, muita ação e um conjunto de situações vistas em centenas de
outros filmes. Se os diálogos deste faroeste de Kasdan não exigem muito
raciocínio do espectador para entender a história, isso não significa que sejam
feitos para mentes infantis que mal leram seu primeiro livro. Há frases
saborosas de cortante ironia e outras exemplarmente construídas dando perfeita
consistência ao roteiro. Além disso, há uma simetria de relações entre
personagens jamais vista em qualquer outro faroeste, autêntico jogo de xadrez
em que cada mocinho têm não só um inimigo especial mas também um envolvimento emocional
com uma determinada mulher.
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Brian Dennehy, o xerife corrupto. |
OS MOCINHOS E SEUS INIMIGOS - O inimigo
particular de Kevin Kline é o xerife (Brian Dennehy); o de Scott Glenn é o
barão de gado (Ray Baker); para Kevin Costner foi reservado o ajudante sádico
do xerife (Jeff Fahey); Danny Glover tem como desafeto o jogador traiçoeiro
(Jeff Goldblum). E cada um deles possui também relação particular com uma
mulher: Kevin Costner com a ex-namorada de Jeff Fahey (Amanda Wyss); Scott
Glenn com a jovem esperançosa da caravana (Rosanna Arquette); Danny Glover com
a própria irmã (Lynn Whitfield) que é dominada pelo gigolô Jeff Goldblum. A
mais complexa entre todas as relações é a desenvolvida pelo personagem de Kevin
Kline com Stella (Linda Hunt) a gerente do saloon 'The Midnight Star'. A feiosa
Linda Hunt com 1,45m de altura é a mulher estranha, filosofando a cada frase e
por quem o amargo Kevin Kline sente enorme carinho e respeito. Os diálogos
travados entre ambos são ambíguos e torna intrigante e singela a amizade dos
dois.
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Singeleza no Velho Oeste. |
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O exibicionismo de Kevin Kostner. |
COLEÇÃO DE CLICHÊS - O melhor de
“Silverado”, porém, são as cenas de ação. Lawrence Kasdan certamente catalogou
todas as sequências que rotineiramente eram usadas em faroestes e as colocou no
roteiro. Desde estouro de boiada, passando por perseguições a cavalo, caravana
de assentadores, lutas em saloon, fuga de prisão, faca escondida na bota,
cowboy de ceroulas, a presença macabra da forca, a casa incendiada, até chegar
ao duelo final na cidade deserta com a igreja branca ao fundo, nada foi
esquecido em “Silverado”. E os personagens arquetípicos frequentes em centenas
de faroestes são facilmente reconhecidos, a começar pelo parrudo e corrupto
xerife. O personagem de Kevin Costner é uma soma de todos os melhores mocinhos
do cinema, saltando sobre o cavalo como, Rocky Lane e Tom Mix, acrobático como
Burt Lancaster e Errol Flynn, galanteador como Kirk Douglas e inventivo como
nenhum outro jamais conseguiu ser. Kasdan criou para Kevin Kostner a cena em
que ele dispara ao mesmo tempo para a esquerda e para a direita acertando dois
bandidos simultaneamente. E suas roupas fariam inveja a Shane e mesmo a Roy
Rogers.
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Lembrando "Matar ou Morrer" e lembrando "Meu Ódio Será Sua herança". |
REFERÊNCIAS A WESTERNS FAMOSOS - O que
não falta ainda em “Silverado” são as referências a famosos westerns do cinema
norte-americano. A porta que se abre no início do filme, a presença do menino
acompanhando o heroísmo de Jake (Kevin Costner), o duelo final numa cidade que
poderia se chamar Hadleyville, a amizade entre companheiros marca registrada
dos westerns de Howard Hawks. E referência maior é a presença constante dos
quatro mocinhos dispostos a sacrificar suas vidas ao se defrontar com a vilania
dos poderosos, faltando apenas a caminhada conjunta do mais célebre western de
Sam Peckinpah. Com todos esses ingredientes Lawrence Kasdan realizou um
faroeste trepidante, emocionante e radiante da mais simples e inocente alegria.
Exemplar reedição das festas que eram os faroestes com compromisso único com a
emoção e o fascínio causados no juvenil espectador em ritmo de Indiana Jones.
Filmado inteiramente em locações no Novo México, “Silverado” se ressente de uma
trilha sonora com mais personalidade e não tão próxima às compostas por John
Williams, modismo dos anos 80.
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Kevin Costner em "Silverado" e como Wyatt Earp. |
FRACA BILHETERIA - Kevin Kline, Brian
Dennehy, Danny Glover e Linda Hunt têm atuações brilhantes num elenco praticamente
sem deslizes. Os excessos de Kevin Costner são apropriados para o espírito do
filme que com 130 minutos não encontra espaço para desenvolver melhor os
personagens femininos das atrizes Rosanna Arquette, Amanda Wyss e Lynn
Whitfield. Desnecessária, talvez a fleugmática presença de John Cleese como
xerife da cidade de Turley. Esse xerife, após ver seu chapéu ser perfurado por
um tiro decide que ali termina sua jurisdição, frase que bem exemplifica o
humor que pontua o roteiro de Kasdan. “Silverado” custou 55 milhões de dólares
e rendeu 71 milhões de dólares, em valores atualizados, deixando de ser um
sucesso como os blockbusters “Guerra nas Estrelas” e “Indiana Jones”.
“Cavaleiro Solitário” (Pale Rider), de Clint Eastwood, produzido também em
1985, custou 15 milhões de dólares e rendeu 88 milhões. Mesmo assim Lawrence
Kasdan insistiria no faroeste em 1994, escrevendo e dirigindo “Wyatt Earp”,
monumental fracasso que o afastou definitivamente do gênero. Mas a prova de
amor pelo faroeste já havia sido dada por Kasdan com “Silverado”, o retorno do
western às inesquecíveis matinês dominicais.
EMOÇÃO!
O Kasdan teve a idéia genial, em 1985, de despertar o cinema para o faroeste, genero que começou a fenecer do final de 60 para a década de 70.
ResponderExcluirEmbora nesta décaca, 1970, ainda fossem feitos alguns bons faroestes (Justiceiro Implacável/75, Os Cawboys/72, The Big Jake/71 e O Ultimo Pistoleiro/76, todos estes com nosso idolo maior, o Duke, dentre mais alguns outros de menor importancia.
De forma que o genero pareceu morrer por ali em definitivo quando, o L Kasdan nos presenteou com um faroeste tipicamente agitado e muito bem feito.
Juntando um elenco de estrelas, onde o Grover faz seu trabalho sem deixar vez para reclames, e Linda Hunt está muito bem como a bar-woman, o restante do elenco têm, quase todos, seus papeis muito bem definidos e bem interpretados.
Às excessões de Goldburn, que somente penetra na trama para dar movimento ao já muito ativo western, e o Kostner, perdido num ambito que nunca foi seu e que não precisava dele ali com aquelas pieguices fora de contexto.
O Kline, que parece somente deslanchar sob os comandos de Irwin Winkler (vide Tempo de Despertar/01 e De Lovely/04, uma formidável cinebiografia de Cole Porter onde o ator está formidável, dá conta de seu recado, embora desse para observar que ainda deixa muito a desejar ali.
O dono exclusivo do filme é o formidável Brian Dennehy, que já havia roubado do mosntrengo Stallone o filme Rambo, Programado para Matar/82, do Ted Ketcheff, e agora reapresenta outro perfeito show de interpretação superando até o muito bom Scott Glenn ( vide Os Eleitos/83, do P Kaufmann), um ator de qualidade e que faz com perfeição tudo que lhe cai nas mãos.
Um bom faroeste do Kasdan, que em 1994 voltaria a nos presentear com outra beleza de fita, Wyatt Earp, onde desta vez o Kostner parece ter entrado no ritimo, já que em 1990 fez o seu premiado Dança com Lobos e já parecia conhecer os caminhos corretos para um bom trabalho.
jurandir_lima@bol.com.br
achado o seu rumo e que em
Um ótimo western, que deu a impressão na época que o gênero poderia render filmes com maior frequência. No mesmo ano Clint Eastwood fez "O Cavaleiro Solitário", mas infelizmente os longas continuaram esporádicos nestes últimos vinte e cinco anos.
ResponderExcluirAbraço
GRANDE FILME> BOM ELENCO> CENOGRAFIA PERFEITA> BRIAN ROUBANDO O FILME É DEMAIS, PARABENS PARA QUEM COMENTOU. E O COSTNER?
ResponderExcluirEstou citando (e elogiando) seu blog (junto com o Bang Bang à Italiana) em um sobre jogos, já que vão lançar um sobre o tema "Faroeste" para RPG de mesa.
ResponderExcluirAbraços e parabéns.
Ah, desculope, se precisar conferir é saiadamasmorra.blogspot.com . Abraços
ResponderExcluirExcelente faroeste, inesquecível! Silverado tem todos os clichês dos velhos westerns o que nos faz recordar os grandes clássicos de todos os tempos. É um filme que não complica, é direto, agradável e ao mesmo tempo não é um filme bobo. Ao contrário, o elenco é excelente contando com grandes atuações e o final embora previsível não decepciona. Vale a pena rever sempre.
ResponderExcluirMuito bom. Excelente. Entra entre os 20 melhores.
ResponderExcluirFilme silverado beijando a irmã de Mel na cadeia
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