17 de agosto de 2012

COM A LEI E A ORDEM (Law and Order) – RONALD REAGAN PRÓXIMO DO OK CORRAL


Poster do primeiro "Law and Order", com Walter Huston e
Harry Carey. Incomparável western para William K. Everson.
A história de W.R. Burnett “Law and Order” foi levada pela primeira vez ao cinema em 1932, dirigida por Edward L. Cahn com roteiro adaptado por John Huston. Para William K. Everson este filme que também recebeu o título de “Guns A’Blazin” foi um dos melhores westerns dos anos 30, apenas não conseguindo maior projeção por não possuir em seu elenco um astro de primeiríssima grandeza, mesmo contando com Walter Huston e Harry Carey no elenco. Afirmou o notável historiador que se o jovem John Wayne houvesse interpretado um dos dois jovens irmãos de Frame Johnson (Walter Huston) e o primeiro “Law and Order” rivalizaria em importância com “No Tempo das Diligências”. A história de W.R. Burnett voltou a ser filmada em 1953, desta vez dirigida por Nathan Juran e estrelada por Ronald Reagan e com o mesmo título “Law and Order”, sendo lançada no Brasil como “Duelo de Morte” e recebendo no lançamento em DVD o novo título “Com a Lei e a Ordem”.


Ronald Reagan em momento de 'Wyatt Earp'. 
WYATT EARP MUDA DE NOME E DE CIDADE - William Riley Burnett foi o primeiro a escrever sobre o lendário Wyatt Earp, ainda que se utilizando de nomes fictícios. Em sua novela Burnett deu a Earp o nome de Frame Johnson e chamou seus irmãos Luther e Jimmy de Virgil e Morgan. Também os Clanton ganharam nomes diferentes e a condição de donos da cidade de Cottonwood, para onde foi Frame Johnson após deixar o cargo de xerife de Tombstone, cidade que pacificara. Na história real Wyatt Earp apaziguara Dodge City antes de partir para Tombstone. E na história verdadeira ocorreu o polêmico duelo próximo ao Curral OK, fato omitido em “Law and Order”, assim como omitida é a figura de Doc Holiday. Frame Johnson (Ronald Reagan), seus irmãos Luther (Alex Nicol) e Jimmy (Russell Johnson) deixam Tombstone acompanhados pelo agente funerário Denver Cahoon (Chubby Johnson). Cahoon segue os três irmãos porque sem o xerife Frame, “as pessoas morrerão de velhice em Tombstone”, diz Cahoon. Jeannie (Dorothy Malone), namorada de Frame promete a ele que assim que vender seu saloon irá também para Cottonwood para ser a esposa do futuro rancheiro que ele pretende ser.

Preston Sturges, o elegante vilão da mão enluvada.
O MARSHAL DE COTTONWOOD – A cidade de Cottonwood não é assim tão pacífica como Frame imaginava pois é dominada por Kurt Durling (Preston Foster), cujos filhos se incumbem de provocar turbulências na cidade. Esses filhos são Jed (Jack Kelly) e Frank Durling (Dennis Weaver), devidamente acobertados pelo xerife Fin Elder (Barry Kelley), marionete de Kurt Durling. A população de Cottonwood não satisfeita com as arbitrariedades de Curling, pede a Frame para que ele se torne ‘marshal’ (Delegado Federal) da cidade, cargo que Frame rejeita e que é aceito por seu irmão Luther. O novo Delegado Federal é morto por Frank Durling, fato que leva Frame Johnson a repensar sua vida, adiar o sonho da aposentadoria e aceitar o cargo vago. Com a insígnia de ‘marshal’ Frame liquida Kurt Durling e traz a paz para Cottonwood, assim como o fizera antes em Tombstone, podendo então pendurar de vez seu cinturão e viver com a linda Jeannie.

Ronald Reagan e Russell Johnson
LONGE DA MITIFICAÇÃO - Em 1953 a televisão já ameaçava fortemente o cinema, não ainda, porém, com as dezenas de séries faroestes que seriam produzidas para a nova mídia nos anos seguintes. Tal situação iria se refletir na produção de westerns mais bem elaborados, chamados de classe A, com atores famosos e diretores renomados. “Com a Lei e a Ordem” é mais um pequeno e despretensioso western daquele período e que, como muitos, era chamado ‘faroeste de rotina’. Os faroestes da Universal International eram sempre bem produzidos e com elencos repletos de atores jovens contratados pelo estúdio. Este não foge à regra e cumpre sua missão de agradar aos fãs do gênero, mantendo o interesse do espectador, especialmente se ele esquecer qualquer comparação com tantos filmes que abordaram, antes e depois dele, o tiroteio do OK Corral. “Com a Lei e a Ordem” não se interessa por nenhum tipo de estudo sobre a mitificação do lendário homem da lei, longe disso. Pretende sim, que a ação se faça sempre presente, entremeada por poucos momentos de romance. O máximo que se permite nesse retrato do Velho Oeste é o juiz da cidade se declarar impotente diante da força de Kurt Durling. Mesmo o personagem Luther ‘Lute’ Johnson que se interessa em seguir os passos do irmão ao aceitar o cargo de Delegado Federal não é melhor desenvolvido, o que igualmente acontece com o irmão mais novo (Jimmy) que se revolta a ponto de disparar contra Frame, o afamado xerife de Tombstone.

Chubby Johnson acima com Ronald Reagan; abaixo Dennis
Weaver disparando contra Alex Nicol.
A TENEBROSA MÃO ESQUERDA - Em “Com a Lei e a Ordem”, o elegante vilão Kurt Durling está mais para o Clanton de Lyle Bettger em “Sem Lei e Sem Alma” que para o Old Man Clanton imortalizado por Walter Brennan em “Paixão dos Fortes”. Desta vez o vilão principal é o ótimo Preston Foster que como Kurt Durling teve a mão esquerda destruída, em algum momento de sua vida, por um tiro disparado por Frame Johnson. Essa mão esquerda é vista sempre com uma luva preta e torna o personagem ainda mais amedrontador. Mesmo maneta Preston Foster trava com Ronald Reagan uma espetacular luta corporal de vários minutos naquele que poderia ser o clímax do filme. Outros vilões interessantes são os irmãos Durling interpretados por Jack Kelly e Dennis Weaver, atores que brilhariam bastante nos anos seguintes nas futuras séries de TV “Maverick” (Kelly) e “Gunsmoke” e “McCloud” (Weaver). Mesmo com o mocinho Frame contando ajuda de dois irmãos, o roteiro de “Com a Lei e a Ordem” encontrou lugar para a figura engraçada do agente funerário interpretado por Chubby Johnson levando seu carro fúnebre de uma cidade para outra. No mesmo ano de 1953 Chubby conduziu uma diligência que seguia para Dakota, desta vez com Doris ‘Calamity Jane’ Day na boléia em “Ardida Como Pimenta”. Nenhum destaque maior no elenco de apoio, com Alex Nicol reservando-se para torturar um certo capitão Lockhart no ano seguinte.


Kurt Durling (Preston Foster) e seus filhos Frank (Dennis Weaver) e Jed (Jack Kelly).


Reagan montando seu cavalo Baby Tar.
GRANDE, FEIO E ESTÚPIDO - Inevitável atração com sua beleza e sensualidade, Dorothy Malone tem em “Com a Lei e a Ordem” um dos papéis menos relevantes e discretos de sua carreira, não passando de mero e delicioso enfeite. Curiosamente Dorothy (Jeannie no filme) tem oportunidade de dizer a Frame Johnson (Ronald Reagan) que ele “é grande, feio e estúpido”. Por suas convicções ideológicas e carreira política, Ronald Reagan se tornou um dos atores mais massacrados do cinema. Está certo que ele não podia ser considerado um ator de grandes recursos interpretativos, mas não era também o canastrão em que a crítica implacavelmente o transformou, tendo provado isso em “Em Cada Coração um Pecado”. Reagan, que tem poucos faroestes em sua filmografia, era um cowboy perfeito, muito bom de briga e excepcional cavaleiro montando nos faroestes o cavalo ‘Baby Tar’, de sua propriedade. Reagan poderia ter se tornado um Randolph Scott menor, caso tivesse feito mais westerns pois estampa de cowboy não lhe faltava. E como bandidão o futuro presidente se deu melhor ainda, como se vê em “Os Assassinos”, de Don Siegel.


Acima o gênio musical Henry Mancini e
o diretor Nathan Juran; abaixo espetacular
ação de um dos stuntmen dublando
Ronald Reagan.
A MÚSICA DE HENRY MANCINI - O que torna “Com a Lei e a Ordem” ainda mais interessante é a presença, como figurantes, de inúmeros atores veteranos dos faroestes B, entre eles Kermit Maynard, Buddy Roosevelt, Jack Ingram, Ethan Laidlaw, Dale Van Sickel, Tom Steele, Kenneth MacDonald, Tristram Coffin, Stanley Blinstone e Lane Bradford. E as boas sequências de ação são vividas por doublês que eram verdadeiros ases como os já citados Maynard, Van Sickel, Steele e ainda Boyd ‘Red’ Morgan e Richard Farnsworth. Outra atração é a trilha musical composta por um jovem maestro contratado pela Universal chamado Henry Mancini que em poucos anos escreveria algumas das mais memoráveis trilhas musicais do cinema. O diretor Nathan Juran, austro-húngaro (rumeno) de nascimento, foi durante muitos anos diretor de arte em Hollywood, tendo recebido um Oscar na categoria por “Como era Verde o meu Vale” (1942), além de uma indicação por “O Fio da Navalha” (1947). Nos anos 50 Nathan Juran passou para a direção, tendo dirigido Audie Murphy em três westerns: “A Morte tem seu Preço”, “Ronda da Vingança” e “Tambores da Morte”. Juran voltou ao faroeste em “A Dois Passos da Forca”, com Fred MacMurray, dedicando-se depois ao gênero ficção-científica (“A Mulher de 15 Metros de altura”) e passando mais tarde para a TV. “Com a Lei e a Ordem” é diversão garantida.


A maravilhosa mocinha Dorothy Malone.


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