14 de julho de 2012

TOP-TEN DE LUIZ ANTÔNIO DO AMARAL, QUE SE TORNOU FÃ DE JEAN SIMMONS


Mais do que propriamente um cinéfilo, Luiz Antônio do Amaral é um fã de faroestes, seu gênero de filmes preferido. E essa preferência, como não poderia deixar de ser, começou em sua infância, vivida num tempo em que a principal diversão da molecada era brincar de mocinho e bandido depois de vibrar nas matinês com seus heróis preferidos. No caso de Luiz Antônio do Amaral esses mocinhos eram Rocky Lane e Roy Rogers que o ajudaram a tomar gosto pelos faroestes. O garoto Luiz Antônio não perdia um só número dos gibis Rocky Lane, Roy Rogers, Flecha Ligeira e Cavaleiro Negro e lamentava que os dois últimos não aparecessem em filmes pois eram apenas heróis de histórias em quadrinhos.

Os gibis que Luiz Antônio não deixava de comprar e ler nos
seus tempos de garoto nos anos 50.

"Da Terra Nascem os Homens",
western marcante na vida de
Luiz Antônio do amaral.
Quando estava com 15 anos, em 1959, Luiz Antônio assistiu “Da Terra Nascem os Homens” e decididamente tornou-se fã de faroestes passando a assistir quase todos que eram exibidos nos cinemas. Isto quando ainda morava em São Paulo, mais exatamente no bairro de Vila Mariana, onde passou os primeiros 40 anos de sua vida. Mudando-se depois para a cidade de Promissão, distante 460 quilômetros da capital paulista, o comerciante Luiz Antônio manteve o hábito de assistir filmes, agora na televisão. Nos anos 80 muitos canais exibiam programações do tipo “Sessão Bang-Bang” e em seguida veio o tempo das fitas de vídeo VHS, que possibilitou a Luiz Antônio começar sua videoteca, hoje deveteca. Solicitado por WESTERNCINEMANIA a elaborar a lista de seus faroestes preferidos, Luiz Antônio se surpreendeu com a constatação que o gênero que mais filmes ele possui é justamente o faroeste. Longe do stress das grandes cidades (Promissão tem por volta de 36 mil habitantes), Luiz Antônio calmamente enfrentou o desafio de listar os dez melhores westerns, reclamando, como é normal, por ter que deixar de fora outros que considera excelentes. Abaixo o Top-Ten do paulistano Luiz Antônio do Amaral, que é fã de faroestes há mais de 60 anos, com muito orgulho.

  1.º) Matar ou Morrer (High Noon), 1952 – Fred Zinnemann
  2.º) A Árvore dos Enforcados (The Hanging Tree), 1959 – Delmer Daves
  3.º) Sete Homens e Um Destino (The Magnificent Seven), 1960 –
         John Sturges
  4.º) Onde Começa o Inferno (Rio Bravo), 1959 – Howard Hawks
  5.º) Dança com Lobos (Dances with Wolves), 1990 – Kevin Costner
  6.º) Da Terra Nascem os Homens (The Big Country), 1958 – 
         William Wyler
  7.º) Minha Vontade é Lei (Warlock), 1959 - Edward Dmytryk
  8.º) A Face Oculta (One-Eyed Jacks), 1960 – Marlon Brando
  9.º) Os Brutos Também Amam (Shane), 1953 – George Stevens
10.º) O Álamo (The Alamo), 1960 – John Wayne

Uma curiosidade facilmente constatada na lista de Luiz Antônio do Amaral é que, com exceção de “Dança com Lobos”, todos os demais westerns são da década de 50, o que corrobora a opinião daqueles que consideram ter sido aquela a melhor década para os faroestes no cinema.


Luiz Antônio do Amaral é um excelente contador de histórias, a maior parte delas vividas por ele próprio. Uma dessas histórias envolve um dos faroestes que Luiz Antônio mais gosta e, como acontece quase sempre, por razões sem dúvida muito nostálgicas.


Peck como Capitão Ahab;
Heston como Moisés;
Luiz Antônio e seu ídolo.
Luiz Antônio gostava de Gregory Peck, de quem havia assistido “Moby Dick”, “As Neves do Kilimajaro” e “O Mundo em seus Braços”. Porém Luiz gostava mais de Charlton Heston, que havia visto em filmaços como “Os Dez Mandamentos”, “O Maior Espetáculo da Terra”, “O Segredo dos Incas”, “Selva Nua” e no faroeste “Trindade Violenta”. Como todo adolescente se imagina parecido com algum ator famoso, Luiz Antônio sorria feliz quando sua irmã lhe dizia que ele era parecido com Charlton Heston, com quem tinha mesmo certa semelhança. Quando soube que iria ser lançado um faroeste com os dois atores nos papéis principais, Luiz Antônio ficou ansioso. Era o ano de 1959 e o filme se chamava “Da Terra Nascem os Homens”, que foi lançado em São Paulo na primeira semana de setembro no Cine República, cinema que se vangloriava de possuir a maior tela do mundo, com seus 250 metros quadrados. O adolescente Luiz Antônio sabia que os filmes que eram lançados no Cine República depois de poucas semanas passavam no Cine Phenix, cinema situado na Rua Domingos de Morais, 892, na Vila Mariana, pertinho de sua casa. Luiz Antônio gostava bem mais do Cine Cruzeiro, que ficava na mesma Rua Domingos de Morais, distante dois quarteirões do Cine Phenix, mas para ver juntos Charlton Heston e Gregory Peck ele nem faria questão do cinema. Havia uma razão para Luiz Antônio preferir o Cine Cruzeiro e não era o fato de ele ser maior e mais confortável que o Cine Phenix, mas sim porque o pai de Luiz Antônio recebia todos os anos uma permanente que permitia ingresso gratuito para duas pessoas nos cinemas do Circuito Serrador, do qual fazia parte o Cine Cruzeiro.

Luiz Antônio fazia razoável sucesso com as meninas do bairro e aos 15 anos já havia tido quatro ou cinco namoradinhas. Seus amigos que não tinham igual facilidade para ‘dar cantadas’ nas garotas morriam de inveja do galã Luiz Antônio que até lembrava um pouco Charlton Heston. Mas havia na Rua França Pinto, travessa da Rua Domingos de Morais, uma menina morena clara de cabelos negros, rosto arredondado  e dona de um ar angelical, por quem Luiz Antônio ‘arrastava a maior asa’ como se dizia naquele tempo. O nome dela era Cláudia, filha de um capitão da Força Pública, homem cuja cara de bravo e as salientes divisas na farda afastavam qualquer jovem mais atrevido com idéia de namorar sua filha, que era o caso de Luiz Antônio. Para complicar mais as coisas Luiz Antônio era filho de um segundo tenente da Guarda Civil e na capital de São Paulo havia uma guerra surda entre as duas milícias cujos membros não se bicavam muito. A Guarda Civil era considerada uma polícia de elite e seus soldados gozavam de maior simpatia junto à população paulistana. Luiz Antônio até já havia se aproximado algumas vezes de Cláudia, inclusive convidando-a para ir ao cinema, mas a menina respondia sempre com evasivas.

Jean Simmons em cena de
"Da Terra Nascem os Homens".
E lá foi Luiz Antônio, juntamente com o amigo Joel, assistir “Da Terra Nascem os Homens” no Cine Phenix. Atônito viu surgir na tela aquela atriz que ele ainda não conhecia e que no filme interpretava a personagem ‘Julie Maragon’. Luiz Antônio perguntou a Joel se ela era Jean Simmons, mas o amigo que não entendia nada de cinema não soube responder. A atriz era mais parecida com a menina Cláudia que a própria mãe da Cláudia. Luiz Antônio assistiu àquele longo filme de quase três horas em verdadeiro êxtase pois via na tela não a atriz Jean Simmons, mas sim a menina Cláudia. Quando o filme terminou Luiz Antônio foi olhar os lobby-cards na entrada do Cine Phenix procurando fotos de Jean Simmons. A atriz inglesa interpretara um personagem delicado e sofrido mas que ao final fica com Gregory Peck para felicidade do público. Felicidade maior ainda era a de Luiz Antônio que não sabia se estava apaixonado por Jean Simmons ou pela menina Cláudia (ou pelas duas). Luiz Antônio voltou a assistir “Da Terra Nascem os Homens” no dia seguinte, totalizando cinco horas e meia em 24 horas, olhando para Jean Simmons na tela do Cine Phenix.

Inspirado pelo filme Luiz Antônio acertou nas frases românticas e Cláudia passou a namorar com ele. O primeiro e inesquecível passeio foi, como não poderia deixar de ser, no Parque do Ibirapuera numa tarde ensolarada. O namoro durou dois meses, com direito a beijos cada vez menos inocentes e que tinham como testemunhas outros casais que remavam no lago do Parque do Ibirapuera, pois Luiz e Cláudia se encontravam sempre durante o dia. O severo pai de Cláudia jamais permitiu que ela saísse à noite e se soubesse que a filha se encontrava com um rapaz filho de um tenente da Guarda Civil iria ficar muito mais bravo ainda. Cláudia gostava de Luiz Antônio mas não queria se apaixonar pois sabia que, no início do segundo semestre sua família se mudaria para Ribeirão Preto, onde seu pai iria comandar um batalhão naquela cidade. O último encontro foi doloroso para Luiz Antônio que pediu a ela que lhe escrevesse todos os dias. Em uma das cartas que ele recebeu Cláudia contou que estava namorando com um rapaz, colega de escola, também de Ribeirão Preto.

Jean Simmons com Kirk Douglas,
Burt Lancaster e Rock Hudson.
Nem Cláudia e nem Jean Simmons jamais saíram da cabeça de Luiz Antônio. Cláudia ele nunca mais viu, mas Jean Simmons ele reencontrou nas telas seguidamente em “O Vale das Paixões”, “Entre Deus e o Pecado” e “Spartacus”. Claro que Jean Simmons passou a ser sua atriz preferida. Em 1962, no luxuoso Cine Regina, em São Paulo, ocorreu o relançamento de “Da Terra Nascem os Homens” e Luiz Antônio assistiu ao western por mais duas vezes. A próxima vez que conseguiu assistir a esse clássico do faroeste foi quando a televisão o exibiu e Luiz já estava casado há anos, sendo que sua esposa em nada lembrava Jean Simmons e menos ainda a nunca esquecida Claúdia. Uma grande alegria Luiz Antônio teve quando “Da Terra Nascem os Homens” foi lançado em VHS pela Tocantins Vídeo. Ele comprou a cópia ‘selada’ que tinha uma imagem terrivelmente embaçada. Ainda bem que alguns anos depois chegou o DVD com imagem perfeita onde Luiz Antônio pode ver com nitidez a beleza e talento de Jean Simmons e recordar da namoradinha Cláudia, sempre com uma teimosa lágrima que insiste em se fazer presente em seus olhos.

Parte do quadro dos filmes em cartaz publicado no jornal
"O Estado de S. Paulo", edição de 5 de maio de 1959.


Antes de ir ao cinema em São Paulo, nos anos 50 e 60 era quase
obrigatória a consulta da Bolsa de Cinema da Folha de S. Paulo.
"Da Terra Nascem os Homens" está em 6.º lugar enquanto "Balas que
não Erram", western de Audie Murphy é um dos últimos colocados.


Página do jornal Folha de S. Paulo do dia 27 de setembro de 1959
com publicidade dos filmes em cartaz na capital paulista.


Publicidades do western "Da Terra Nascem os Homens" com o filme lançado
no Cine República e semanas depois chegando aos bairros de São Paulo.


3 comentários:

  1. Que bom gosto do Luiz Antônio, a Jean Simmons era bela e excelente atriz.

    O Falcão Maltês

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  2. É, meu caro Luiz Antonio.Imagino perfeitamente o seu sentimento ao ter de escolher entre tantos filmes maravilhosos, apenas dez deles.
    Foi um tormento pelo qual todos nós passamos. Por isso é que digo; entendo seu sofrimento. Não é fácil mas, como não há outro jeito, eles terminam no papel.

    Uma historia de vida para contar, não amigo Luiz? Tal qual todos nós que vivemos a mesma época. E ver estes cartazes de filmes, tantos titulos conhecidissimos, tudo isso é também me fazer dar uma volta no tempo e me deliciar com tantas boas lembranças. Que beleza!

    Uma maravilha tudo isso, assim como o amigo tem muitas e muitas razões para venerar Da Terra Nascem os Homens. Um grandioso e, para o amigo, histórico faroeste.
    E se a Jean Simmons lembra a sua Claudia, então, de fato, ela era uma garota mesmo linda. Parabens pelo bom gosto.

    Uma grande lista. Grande mesmo. Posso até dizer que, sete deles, fazem parte de minha lista.

    Espero que o amigo siga apreciando o Mania e fazendo, ao menos vez por outra, um comentário no blog.
    É que temos por aqui uma boa turma que adora conversar sobre faroestes.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  3. As melhores histórias parecem ser mesmo as reais, as que vivemos. Elas nos tocam de uma forma definitiva. Acho que muitos de nós já tivemos amores meio estranhos, desses de se apaixonar por uma pessoa praticamente inalcançável, como uma atriz distante, ou, pelo menos, um amor inesquecível, daqueles que levamos sempre como uma lembrança do que poderia ter sido... mas não vou mais falar muito a esse respeito, pois sou suspeito, por ser um, de fato, grande entusiasta do Amor (o sentimento maior, mas que exige consistência, o que muitos de nós demoramos muito para alcançar, isso quando conseguimos). Mudando pra lista do caro Luiz, são westerns maravilhosos, e que fazem parte de algum modo, da sua história. Gostaria, ainda, de mandar um forte abraço ao grande cinéfilo, especialmente porque, embora, não nos conheçamos pessoalmente, me senti bastante identificado, pois, além de ambos gostarmos de cinema e western, gostamos de histórias, parece que gostamos das coisas que realmente têm valor na vida, etc. Isso e mais alguma coisa deu para perceber nesse belo post.
    Grande abraço ainda pra você, Darci, e aos amigos, com quem dividimos esses gostos e histórias.

    Vinícius Lemarc

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