Ele é um daqueles atores que podem ser classificados na lista dos “Rostos que não esquecemos e nomes que não lembramos”. Comum também é alguém exclamar quando ele surge na tela: “Esse ator sempre faz papel de louco!” E essa impressão se deve às tantas vezes em que R.G. Armstrong interpretou pregadores intransigentes e enlouquecidos atacando os pecadores, grande parte dessas atuações em faroestes e quatro deles dirigidos por Sam Peckinpah.
NADA DE IGREJA - Robert Golden Armstrong nasceu no dia 7 de abril de 1917, no condado de Wylam, em Birmingham, no Alabama. O pequeno Robert cresceu vendo seu pai tratar os filhos com extrema violência, agredindo-os fisicamente todos os dias e Robert apanhava junto. Os pais de Robert eram cristãos fundamentalistas e o sonho da senhora Armstrong era ver o filho Robert num púlpito pregando as lições da Bíblia. O problema é que isso nunca agradou ao menino que cresceu numa fazenda do Alabama. Quando foi para o colégio Robert era um dos mais altos e mais fortes da sua turma, destacando-se no futebol norte-americano. Ao chegar à faculdade o grandalhão Robert se interessou pela Literatura e passou a escrever poesia e peças para teatro, chegando mesmo a atuar em algumas delas. Recrutado pelo Exército, Robert adiou seus planos artísticos até retornar da II Guerra Mundial quando conseguiu uma bolsa na Universidade da Carolina do Norte, conseguindo o grau de Mestre em Arte Dramática. Naquela Universidade Robert ensinou por um ano mas não queria ensinar e sim ser um autor inspirado como seu ídolo William Faulkner.
AJUDA DE ELIA KAZAN - A vida teatral norte-americana centrava-se em Nova York, para onde Robert G. Armstrong se mudou e conheceu Eva Marie Saint que o introduziu no Actor’s Studio. Em 1954 Armstrong foi tentar a sorte em Hollywood e sua estréia no cinema se deu numa produção independente de baixo orçamento chamada “Garden of Eden”. Sem novas oportunidades na capital do cinema, Armstrong retornou a Nova York onde fez parte do elenco da peça “Gata em Teto de Zinco Quente”. Essa peça era o maior sucesso da Broadway, com Elia Kazan dirigindo o texto de Tennessee Williams que atingiu 694 apresentações. Já reconhecido como bom ator, Armstrong foi convidado para o papel principal de uma nova peça de Tennessee Williams que se chamou “Orpheus Descending”. Como muitos atores oriundos do Actor’s Studio faziam sucesso no cinema, lá foi Armstrong tentar novamente a sorte em Hollywood, só que desta vez ajudado por Elia Kazan. O famoso diretor lhe conseguiu um pequeno papel em “Um Rosto na Multidão” estrelado por seu ex-colega de turma da Universidade da Carolina do Norte, o ator Andy Griffith.
Acima Armstrong em "Caçada Humana" com Don Murray e Malcolm Atterbury na foto; abaixo com Audie Murphy. |
R.G. Armstrong em "Vidas em Fuga", com Marlon Brando; abaixo o judiado Jaguar XK-120 de Joanne Woodward com Marlon e R.G. observando. |
R.G. acima em "Pistoleiros do Entardecer"; no centro com o 'Major Dundeea Charlton Heston; abaixo enxotando 'Cable Hogue' Jason Robards. |
ENCONTRO COM SAM PECKINPAH - Em 1960 um fato importante ocorreria na carreira de R.G. Armstrong e não foi a sua participação no western “Ten Who Dared”, com Ben Keith e Ben Johnson no elenco. Foi nesse ano que Armstrong atuou no segundo episódio da série “The Westerner”, série criada e dirigida por um jovem chamado Sam Peckinpah. O diretor percebeu que R.G. possuía uma pouco comum expressão no olhar. Aquela expressão diabólica que Peckinpah sempre admirou. Sam e R.G. ficaram amigos e o próximo trabalho do diretor seria no cinema com o filme “Pistoleiros do Entardecer” (Ride the High Country). Nesse western havia para Armstrong um papel que ninguém faria melhor que ele, o de um fanático seguidor da Bíblia. Novamente dirigido pelo amigo Peckinpah, Armstrong praticamente repetiu o papel de fanático religioso em “Juramento de Vingança” (Major Dundee). Foram dezenas as participações de R.G. em séries de TV, mas na série policial “T.H.E Cat”, estrelada por Robert Loggia, Armstrong interpretou um Capitão da Polícia em doze episódios. Em 1966, mostrando versatilidade, R.G. foi um simpático fazendeiro em “Eldorado”, contracenando com John Wayne. Depois de alguns filmes menos notáveis, em 1970 R.G. se reencontrou com Sam Peckinpah em “A Morte Não Manda Recado” (The Ballad of Cable Hogue), interpretando um banqueiro sovina e sem visão comercial. Nesse mesmo ano R.G. atuou em “A Grande Esperança Branca”, drama sobre boxe de Martin Ritt.
R.G. em "Pat Garrett e Billy the Kid"; no centro com Luke Askew, Cliff Robertson e Wayne Sutherlin em "Sem Lei e Sem Esperança"; abaixo com Terence Hill em "Meu Nome é Ninguém". |
R. K. ARMSTRONG - Quando um filme torna-se Cult é porque poucos o assistiram. Esse foi o caso de “Sem Lei e Sem Esperança” (The Great Northfield Minesotta Raid) em que R.G. Armstrong tem um dos principais papéis como um bandido que se junta aos irmãos James e Younger. Muito aclamado também foi o filme seguinte de R.G. Armstrong, pela quarta e última vez sob a direção de Sam Peckinpah, “Pat Garrett and Billy the Kid”. Neste western primoroso R.G. em uma memorável atuação interpreta um sheriff que descarrega seus tormentos pessoais no prisioneiro Billy the Kid. Daí em diante R.G. Armstrong se tornou um dos atores coadjuvantes mais disputados do cinema e muitos roteiristas criavam personagens pensando nele. Nessa época R.G. havia se divorciado da primeira esposa, com quem permaneceu casado por 10 anos e com quem teve seus quatro filhos. Em 1973 o ator se casou novamente e fez sua única experiência no cinema europeu, numa pequena mas marcante atuação em “Meu Nome é Ninguém” (Il Mio Nome è Nessuno), estrelado por Henry Fonda. Acostumados a trocar nomes, a produção italiana creditou Armstrong nesse spaghetti-western como R. K. Armstrong. Com os faroestes em baixa, R.G. Armstrong atuava sem parar em outros gêneros, sempre se impondo com seu rosto de poucos amigos e olhar aterrador. Entre esses filmes os mais importantes foram “O Céu Pode esperar”, com Warren Beatty e “O Guarda-Costas”, de Bob Rafelson, com Jeff Bridges. 1976 marcou o fim do segundo casamento de Armstrong que entrava nos seus 60 anos de idade.
Uncle Lewis Vendredi |
Acima R.G. Armstrong como 'Pruneface'; abaixo fotos mais recentes. |
HOMEM AFÁVEL E EDUCADO - Um dos grandes sucessos do cinema de 1990 foi “Dick Tracy”, dirigido e produzido por Warren Beatty que o chamou para interpretar o cruel 'Pruneface' E Armstrong, ao lado de B'ig Boy Caprice '(Al Pacino), 'Mumbles' (Dustin Hoffman) e 'Flattop' (William Forshyte), formou um time incomparável de vilões que infernizaram a vida do famoso detetive criado por Chester Could para as histórias em quadrinhos. Depois de se divorciar da segunda esposa, em 1976, Armstrong só voltaria a se casar em 1993, então beirando os 80 anos. A nova esposa era uma moça 30 anos mais nova que fez o ator muito feliz. E mesmo octogenário Armstrong não parava de trabalhar, no cinema e na TV, como na refilmagem de “O Homem da Máscara de Ferro”, de 1998. Em 1999 R.G. Armstrong apareceu em “Purgatório”, western feito para a TV estrelado por Sam Shepard. Em 2001, aos 84 anos, R.G. fez o papel principal no terror “The Waking”, filme pouco digno para encerrar uma carreira tão brilhante em que assustou o público em mais de 80 filmes. Curiosamente, Robert Golden Armstrong, o ‘Bob’ para os amigos, é um homem afável, educado, caloroso, completamente diferente dos tipos que criou nos filmes. Armstrong ficou viúvo em 2003 e somente abandonou o cinema e os palcos devido a ter ficado praticamente cego. Bob completou 95 anos em abril último. Mas seus pequenos olhos nunca saíram das retinas dos cinéfilos, mesmo daqueles que não lembravam seu nome.
Prá variar outra excelente matéria. E sobre um ator que todo fã de faroeste, e não só, tem em alta conta. Muito grato por conhecer mais sobre o Armstrong, Jurandir.
ResponderExcluirLendo o texto lembrei de outro integrante do bando do Peckinpah, L.Q.Jones, que além de ser lembrado pelas inicias como o Armstrong tem uma carreria muito semelhante. Inclusive começaram no cinema na mesma época e, segundo acabo de conferir no IMDB, têm coincidentemente a mesma quantidade de participações em longas e séries de westerns: 65.
Depois do Pickens, do Oates, do Emilio Fernandez e agora do Armstrong, você está intimidado a fechar o bando selvagem de coadjuvantes do Peckinpah com o L.Q.Jones, Jurandir.
Edson Paiva
Edson, ainda ontem assisti a um western da HBO chamado The Jack Bull, com John Cusak. Que prazer enorme rever L.Q. Jones de cabelos brancos exibir sua personalidade. E falar em L.Q. é lembrar Strother Martin, dupla impagável em The Wild Bunch.
ResponderExcluirComo dizia Jeff Chandler em Encruzilhada dos Facínoras, my name is Darci...
Strother Martin,coadjuvante de primeira , estará na tela do cine Topázio,sala do Shopping Jaraguá,aqui em Indaiatuba.
ResponderExcluirNeste sábado,dia 30 de junho de 2012 será exibido o original BRAVURA INDÔMITA,com nosso astro maior John Wayne. Com direito a uma belo café da manhã, Sr Paulo,proprietário dos cinemas da cidade,fará
gentilmente esta exibição,que pode ser o embrião para o nosso
futuro Clube do faroeste. Vamos ver !! A sala com 190 lugares estará lotada,certamente. Quem estiver por perto,
está convidado !!
Lau Shane Mioli
A infancia de Armstrong deve ter sido igualzinha à minha com as de mais dois irmãos meus.
ResponderExcluirNós eramos tão traquinas (nascemos e fomos criados em beira de praia) que nossa mãe nos dava uma surra antes de ir para o trabalho, isso para que nos portassemos bem (nossa avó era quem ficava tomando conta da gente), e nova surra ao voltar, pelas queixas de nossa avo e tias, por tudo o que aprontamos no dia.
Mas eram duas surras quase que todos os dias.
Isso porque, quando ela estava de folga, sábados, domingos e feriados, apanhavamos mais. Apanhavamos, mas eramos todos muito felizes.
Eramos mesmo garotos endiabrados, além dela adorar bater.
De fato nunca juntei o nome R. G. Armstrong ao ator. Mas, conforme cita a resenha, o homem tem um rosto de semblante inesquecivel.
Assisti a muitos dos filmes relacionados e, o que mais me chamou a atenção foi Um Rosto na Multidão.
Vi esta fita entrando no cinema com documento falso, pois era impróprio até dezoito. Isso lá pelo inicio dos anos sessenta.
Porém, não lembro de nada da fita e nem de seu rosto, que deveria ainda ser jovem demais para os muitos filmes que vi com ele com idade já mais madura.
Um excelente ator, um homem de expressões atipicas, pessoa de um olhar marcante e de uma fisionomia de traços fortes e cheia de formas diversas de expressões.
Entretanto, em El Dorado ele tem um papel muito diferente aos muitos em que o vi atuando, já que faz um fazendeiro decente, cheio de filhos e tem uma atuação acima da média, mesmo aparecendo muito pouco durante todo o filme.
Mas, é sempre bom quando um ator se encaixa no perfil de uma caracteristica que um diretor admira. Isso facilita em muito trabalhos de procuras, além do cineasta saber que quem está fazendo determinado papel é um profissional que jamais lhe dará dores de cabeça.
É o caso de Duke para Ford, De Niro e Di Caprio para Scorcese, Stewart para Mann, da Bibi Anderson para o Bergman, Paulette Goddard para De Mille, assim como muitas outras boas pareceias diretor/ator que funcionaram a contento.
E o trabalho de Armstrong com o Peckinpah deve ter sido assim.
O que me impressionou mais em tudo isso foi saber, melhor, entrar na realidade, de que Eva Marie Saint, aquela jovem belissima de Intriga Internacional/59, de Hitchcock, a A Arvore da Vida/57, de Dmytryk, já está tão idosa quanto o Armstrong.
Apenas uma observação sobre a atriz, por ter um rosto de traços meio rústicos, mas muito belo, que me marcou por anos a fio por tudo o que me mostrou no filme que condisero o melhor dos trabalhos do Mestre do Suspense.
jurandir_lima@bol.com.br
Amigo Paiva;
ResponderExcluirO bom companheiro deve estar desejoso de me falar algo, ou trocar algum comentário com este bahiano aqui, já que cita meu nome duas vezes no lugar do Darci. O que, aliás, me dá muita honra.
Assim, caro companheiro, esteja completamente à vontade para trocar diálogos com seu amigo bahiano, já que é sempre uma grata satisfação falar de cinema com o querido amigo.
jurandir_lima@bol.com.br
Shane;
ResponderExcluirSou bahiano com um orgulho arretado. Adoro minha Boa Terra, assim como as pessoas deste lugar. Vivo numa das mais belas cidades do nosso "sucateado" pais.
No entanto, em momentos como este que citas em seu comentário, não imaginas o quanto gostaria de ser paulista e poder participar, ao lado de toda essa gama de amantes de faroestes, de oportunidades como a que ocorreu no ultimo dia 30, no cine Topázio, no Shoping Jaraguá, em Indaiatuba.
Com toda certeza que deve ter sido um momento inesquecivel e, afirmo para o amigo, o quanto adoraria saber de mais detalhes desta deliciosa ocorrencia. Não nos negue este prazer.
Com minhas invejas e com um abraço do bahiano.
jurandir_lima@bol.com.br
Darci, não conhecia esse western com o John Cusack, um ator com quem compartilho a idade e por isso acompanho desde jovem, quando fazia leves e bacanas comédias românticas para adolescentes. Valeu a dica.
ResponderExcluirCaramba, não é que novamente citei você, Jurandir, quando queria me referir ao Darci? Deve ser distração típica de fim de semestre letivo, quando vejo dezenas e dezenas de nomes em provas a corrigir e diários de classe para fazer.
Sorry, meus camaradas!
Jurandir, essas surras conseguiram te consertar?
Edson Paula
Edson, já passei por isso. E olha que era no tempo em que a educação na escola pública era mais levada a sério. Quanto a ser confundido com o Jurandir, deu para perceber o equívoco que é quase um elogio. Darci
ResponderExcluirPS - É Paiva ou Paula?
Darci, o Armstrong nos deixou no último dia 27 de julho. Mais um ator de westerns memoráveis que se vai.
ExcluirNo link abaixo, ao final da matéria, tem um pequeno texto registrando seu falecimento.
http://veja.abril.com.br/blog/temporadas/falecimentos/notas-de-falecimentos-julho-de-2012/
Edson Paula de Paiva
P.S. Como pode ver são os dois sobrenomes, amigo.