As produções de certos filmes se transformam em verdadeiras odisséias, como foi o caso de “Meu Ódio Será Sua Herança”. Do início do roteiro, passando pela tumultuada filmagem em locações nas cidades mexicanas de Torreón, Parras e Durango, até a chegada às telas dos cinemas, o western de Sam Peckinpah mexeu com os nervos de todos os envolvidos na produção. Porém muito mais que as dúzias de caixas de vodka e de tequila que Peckinpah consumiu nos quase dois anos dedicados a “The Wild Bunch”, o que mais deu dor de cabeça ao diretor foram os resultados de bilheteria alcançados pelo filme quando de seu lançamento. Segundo os dados divulgados pela Warner Bros. “Meu Ódio Será Sua Herança” teria sido um fracasso. Mas será isso verdade?
A temida Pauline Kael, crítica de cinema da revista "The New Yorker". |
POUCO ENTUSIASMO INICIAL - “Meu Ódio Será Sua Herança” teve exibições especiais, chamadas de ‘previews’ em maio de 1969, quase um ano depois de terminadas as filmagens. Após essas exibições tiveram início as histórias que diziam que espectadores abandonavam a sala de exibição e alguns até vomitavam horrorizados com o que viam na tela. O filme tinha nessas exibições prévias 150 minutos de duração e Peckinpah foi forçado a excluir algumas cenas, reduzindo “The Wild Bunch” em seis minutos. Em 28 de junho de 1969 o filme foi finalmente lançado comercialmente em apenas um cinema em Los Angeles e outro em Nova York, sendo imediatamente saudado por boa parte da crítica como um marco cinematográfico. Assim pensavam os críticos das revistas ‘Time’, ‘Life’ e da prestigiosa ‘The New Yorker’ (Pauline Kael) e do jornal 'The New York Times'. Não faltou, porém, quem dissesse que o filme era “o maior banho de sangue que o cinema já havia mostrado”, criticando acerbamente a violência exibida no filme. Isso deve ter ajudado a afugentar os espectadores quando em seguida “The Wild Bunch” foi lançado no Texas com intensa campanha publicitária que, à época custou 200 mil dólares (hoje um milhão e duzentos e cinqüenta mil dólares). Ao lançar o filme no Texas, a Warner Bros. procurava imitar o que era feito com os faroestes estrelados por John Wayne que eram primeiramente lançados naquele Estado onde faziam sucesso que repercutia nos outros Estados norte-americanos. Mesmo com o prenúncio de más bilheterias, o filme de Peckinpah foi lançado em 440 cinemas de todo o país. Depois de duas semanas de exibição com pouco entusiasmo do público, a Warner Bros. determinou que as cópias de “Meu Ódio Será Sua Herança” fossem recolhidas pelos distribuidores.
O crítico e cineasta inglês Alex Cox e o big boss da Warner, Steve Ross. |
EXIBIÇÃO COM ‘INTERMEZZO’ - É importante lembrar que os lucros da Warner Bros. haviam caído de dez milhões de dólares em 1967 (hoje 62 milhões de dólares), para meros 300 mil dólares em 1968 (dois milhões de dólares corrigidos hoje), o que provocou a venda do estúdio em 1969. Steve Ross, o novo dono implantou uma política administrativa diferente da anterior, política que não demorou a ser sentida e sobrou exatamente para Sam Peckinpah. Os distribuidores ingleses que viram “Meu Ódio Será Sua Herança” na semana inicial de lançamento em Nova York, exigiram que na Inglaterra o filme fosse igualmente exibido como ‘road-show’, o que quer dizer em poucos cinemas mas com tratamento de superprodução. E assim, em Londres, “The Wild Bunch” teve direito a cópia em 70 mm, som stereo (raro na época) e até mesmo um intermezzo entre a primeira e segunda parte do filme. A crítica inglesa liderada por Alex Cox reconheceu o novo western de Peckinpah como o melhor filme do ano. Mesmo assim a Warner Bros. não sabia o que fazer com aquele elefante branco que não dava lucro.
Nota do editor - Os valores em dólares que aparecerem neste texto do próximo parágrafo em diante estarão atualizados devidamente corrigidos pela inflação.
Grandes sucessos de 1969: "Bravura Indômita", "Butch Cassidy", "Bob & Ted & Carol & Alice", "Perdidos na Noite", "Sem Destino" e "Se Meu Fusca Falasse". |
OS GRANDES SUCESSOS DE 1969 - Ocorreram muitas mudanças na produção de filmes a partir de 1969 e um dos motivos dessas mudanças foi o road movie “Sem Destino” da Columbia, dirigido por Dennis Hopper, que custou dois milhões e meio e rendeu 375 milhões. Outro filme da Columbia de produção relativamente barata e que deu muito lucro foi “Bob & Ted & Carol & Alice”, que custou 12,5 milhões e rendeu 188 milhões. “Meu Ódio Será Sua Herança” havia custado, segundo informações iniciais da Warner Bros., 40 milhões e a baixa arrecadação obtida até então era um indicativo claro que os executivos da Warner Bros. estavam com uma bomba nas mãos. Era preciso desativar essa bomba antes que ela explodisse e causasse danos ainda maiores para o estúdio. Enquanto isso outros estúdios nadavam em lucros de filmes como “Butch Cassidy e Sundance Kid”, que custou à 20th Century-Fox os mesmos 40 milhões que o filme de Peckinpah, mas rendeu a fortuna de 605 milhões. A Paramount gastou 22 milhões para produzir “Bravura Indômita” e faturou 126 milhões nesse que foi o último grande sucesso de bilheteria de John Wayne no cinema. Outros filmes que deram boas bilheterias em 1969 foram “Perdidos na Noite” (MGM), que custou 22,5 milhões e rendeu 280 milhões; “Se Meu Fusca Falasse” (Walt Disney), que custou 12,5 milhões e foi um estouro nas bilheterias onde alcançou 320 milhões. Todos os estúdios ganhavam dinheiro, menos a Warner, mais uma razão para fazer o western de Peckinpah pelo menos se pagar.
Acima Phil Feldman e abaixo uma das muitas cenas cortadas. |
TESOURA ÁGIL - Phil Feldman, produtor ligado à Warner foi o homem que possibilitou a Sam Peckinpah torrar os 40 milhões de dólares no México com “Meu Ódio Será Sua Herança”. Sam e Feldman eram grandes amigos. Sam confiava em Feldman e este admirava profundamente o trabalho de Sam. E foi Feldman o escolhido pela Warner Bros. para transformar “The Wild Bunch”, que tinha 144 minutos de duração, num filme mais comercial. Feldman comandou o trabalho da reedição, conseguindo cortar doze minutos do western, o que deixou satisfeitos os executivos do estúdio e, claro, endoideceu ainda mais “Crazy Sam”. Ao saber da trama Peckinpah perguntou a Feldman o que estava acontecendo e o ‘amigo’ lhe garantiu que ninguém mexeria em “The Wild Bunch”. A Warner Bros. não fez o chamado ‘recall’ do filme, autorizando que os distribuidores em cada grande cidade procedessem aos cortes a partir de uma orientação do estúdio. As mais de 500 cópias do filme sofreram então mutilações de todo tipo, nem sempre obedecendo os cortes ‘autorizados’ por Feldman que deveriam excluir a sequência da batalha entre as tropas de Mapache (Emílio Fernández) e as de Pancho Villa, os flash-backs lembrados por Pike Bishop (William Holden) e parte da cena passada na aldeia onde viveu Angel (Jaime Sánchez). Segundo Peckinpah esses cortes deixaram o filme incompreensível mas para a Warner Bros. ele ficou muito melhor, graças às tesouras de todo território norte-americano comandadas por Feldman, o amigo de Peckinpah. Essas mesmas cópias vieram a circular indistintamente por outros países, levando diferentes espectadores a ver um filme com diferentes edições.
George Lucas e John Milius (à esquerda); Martin Scorsese (à direita), entusiasmados admiradores de "Meu Ódio Será Sua Herança". |
“MELHOR QUE RASTROS DE ÓDIO" - Lançado com nova metragem em todo o país e no Canadá com resultados distantes dos esperados, “Meu Ódio Será Sua Herança” havia contabilizado em seu primeiro ano de exibição apenas 47 milhões. Isso significa que matematicamente o filme não deu prejuízo e sim um pequeno lucro de sete milhões. Mas na Matemática do estúdio deveriam ser ainda incluídos nas despesas com “Meu Ódio Será Sua Herança” os gastos com distribuição, e a ‘mutilação’ das novas cópias, além de outros custos adicionais, somando um total de outros discutíveis 36 milhões. Além do produtor Phil Feldman, também Peckinpah e William Holden tinham, por contrato, direito a porcentagens do lucro líquido do filme. Como a Warner Bros. mostrava os imensos números vermelhos na rentabilidade daquele faroeste, nenhum dos três conseguiu um centavo além dos salários recebidos. Pouco visto nos cinemas, “Meu Ódio Será Sua Herança” adquiriu o status de obra-prima numa espécie de boca-a-boca promovido por gente como Martin Scorsese, John Millius e George Lucas. O diretor de “Guerra nas Estrelas” era um dos mais entusiasmados com o filme de Peckinpah, afirmando em entrevistas que aquele era “o melhor filme da história do cinema, melhor até que Rastros de Ódio”.
Sam e Bill Holden |
DIVIDENDOS A LONGUÍSSIMO PRAZO - Opiniões como essas obrigaram o relançamento mundial de “Meu Ódio Será Sua Herança’ ocorrido em 1976. Mais 52 milhões foram então contabilizados, mas segundo a complexa matemática da Warner Bros. “The Wild Bunch” continuava no vermelho. Dada a importância do western de Peckinpah, ocorreram outros relançamentos, até a morte do diretor, em 1984. Para azar de Sam, somente seus herdeiros é que passaram a receber dividendos referentes aos direitos de Peckinpah como diretor do filme, o mesmo acontecendo com Bill Holden, falecido em 1981. O produtor Feldman, que faleceu em 1991, teve mais sorte e recebeu alguns milhares de dólares liberados pelos contadores da Warner Bros.
"The Wild Bunch" no Espaço Unibanco em São Paulo em 1996; abaixo o Dome. |
A CAMPANHA DE SCORSESE - Já nos anos 90, Martin Scorsese encabeçou um movimento pela restauração de “Meu Ódio Será Sua Herança”, com sua metragem original de 144 minutos e 38 segundos, em cópia remasterizada e com som Dolby. Em 1995 cinéfilos do mundo todo puderam assistir “The Wild Bunch” no cinema novamente, com a chamada ‘director’s cut’ ainda melhorada tecnicamente. Em Los Angeles o relançamento ocorreu no Cinerama Dome. Outras 15 cidades norte-americanas (entre elas Nova York, São Francisco, Chicago e Boston) foram selecionadas para homenagear o filme de Peckinpah com novas exibições. Aqui em São Paulo essa cópia de “Meu Ódio Será Sua Herança”, foi exibida em 1996 durante um festival comemorativo ao cinquentenário da Warner Bros. e o cinema escolhido foi o Espaço Unibanco, na Rua Augusta. Durante uma semana o público pode apreciar um filme de cada gênero produzido pela Warner Bros., que sempre esteve entre os três maiores estúdios produtores de filmes. E foi no Espaço Unibanco Augusta que pude, finalmente, assistir à versão completa de “Meu Ódio Será Sua Herança” num cinema de verdade. Esse western extraordinário cresce consideravelmente quando assistido em tela grande e confesso que foi um momento de grande emoção. Até então conhecia-se o filme de Peckinpah em versões de 123, 132, 138 e 141 minutos e dependo da sorte o espectador conhecia uma versão mais ou menos próxima da original.
INFLUÊNCIA DE TODA UMA GERAÇÃO - Essas exibições mais recentes de “Meu Ódio Será Sua Herança” renderam mais um mihão de dólares. Lançado em VHS e mais tarde em DVD e em Blue-Ray, “The Wild Bunch” nunca saiu de catálogo, constando das coleções de qualquer cinéfilo de verdade. Kip Dellinger, que era gerente de negócios de Sam Peckinpah em 1972, afirmou em 1995 que pelas suas contas “Meu Ódio Será Sua Herança” rendera por volta de 165 milhões dólares, o que faz com que esse faroeste não seja exatamente um fracasso. Após todas as trapalhadas e piruetas que o estúdio conseguiu arquitetar, não há dúvida que, mesmo não sendo um sucesso de bilheteria, o filme deu lucro para a Warner Bros. Talvez um lucro pequeno, incompatível mesmo com a grandeza desse faroeste que é não só um dos grandes filmes do gênero mas de toda a história do cinema. E se ‘Crazy Sam’ Peckinpah não viveu para saborear plenamente a glória de “The Wild Bunch”, ele bem sabia que havia feito um filme incomum, que causou impacto em toda uma geração de cineastas. Certamente isso ele sabia.
Mesmo brigão, beberrão, mas um poço de qualidades, Peckinpah deve ter padecido antes, durante e, principalmente, depois de seu filme pronto e lançado.
ResponderExcluirSó que ele não sabia que quase todos os grandes classicos do cinema nascem é assim.
De inicio não dão nada por ele, criticam (pois fazer isso todo mundo sabe) e vem então a não aceitação da fita, os prejuizos iniciais, e as porradas em cima.
Até que aparecem aqueles que têm visões privilegiadas, como o Millius, Scorcese e o Lucas, que descobrem na fita o que muitos cegos teimaram em não ver, e abrem o bico positivamente.
E aí O formidável filme vira cult. Passa a render, a ganhar fãs, a ter nome e tudo o mais.
Porém, aí já o criador da grande obr, depois de tanto sofrimento com um trabalho em que pareceu jogar todas suas cartas, já não consta mais do mundo dos viventes para saborear o que fez com tanto carinho, esmero e um espetacular senso de profissionalismo.
Não é a primeira vez que tal fato ocorreu dentro do cinema, mostrando como exemplo um filme muito querido por todos, que é Rastros de Ódio, que somente anos depois de feito caiu na notoriedade.
jurandir_lima@bol.com.br
Darci;
ResponderExcluirGrande quadro, mira perfeita, mas bala que jamais atingiu Chuck Connors.
Parabens pelo gosto altamente qualificado e pela precisão da foto.
Mas bem que poderia ser a cena onde Peck e Simmons se abraçam, em total silencio, no alpendre do velho Burl Ives, instantes depois do desfecho total da cena em andamento.
jurandir_lima@bol.com.br
Darci;
ResponderExcluirNo filme em pauta eu captei cenas muito sutís, mas que somente olhos atentos são capazes de apanhar.
Posso até lembrar uma onde Holden tenta montar no cavalo e sua dificuldade fica explicita diante dos olhos de seus comandados, que nada pronunciam, mas que sentem a lenta degradação fisica de seu grande comandante. Espetacular!
Outra é o desdem, o jeito falso e enganoso com que Emilio Fernandez se reporta aos homens de Holden, deixando quase que claro que algo muito ruim esperava por aqueles poucos homens muito em breve.
E o mais espetacular de tudo é o tom realista que Peckinpah incrusta no seu filme, que nunca parece que estamos assistindo a uma pelicula e sim vendo algo real.
E aquele tiroteio no final (tenho a fita completa e vou rever hoje na SKY), se não fosse a longa cena de Spielberg em A Procura do Soldado Ryan, naquele desembarque, esta cena do filme Meu Odio Será sua Herança, além de ser a segunda mais longa do cinema, é também a mais sangrenta.
Sem apor que Borgnine, Oates e Johnson, estão magnificos. E que o grande Ryan, assim como em os Profissionais, poderia ser descartado da fita. Seu papel mostra muito pouco, embora, depois da destruição final, ele mostra porque foi escolhido para o papel.
Uma beleza de filme do qual nem toquei na musica!
jurandir_lima@bol.com.br
Só posso invejar o Darci pela oportunidade de ter assistido a essa obra-prima, ainda por cima restaurada, nas telas do cinema. Como "The Wild Bunch" esse título brasileiro não parece saído de um novelão mexicano?) é uma obra eterna e sempre reverenciada espero que algum dia ele volte a uma mostra dessas que acontecem com frequencia e eu possa ter o privilégio de também vê-lo numa tela grande.
ResponderExcluirEdson Paiva
Edson, fui ao Espaço Unibanco em 1996, com máquina fotográfica na mão. Na hora da caminhada do Wild Bunch disparei o flash por duas vezes para fotografar a cena. Acho que todos que estavam na sala naquela hora (umas 50 pessoas) devem ter entendido a razão desse gesto reprovável. Eu só não entendi a razão de a Warner ter escolhido o filme de Peckinpah e não Rastros de Ódio para representar o gênero western no cinquentenário do estúdio. Outra curiosidade: o musical escolhido naquela semana foi Cantando na Chuva, que sempre foi da Metro, até o grupo Warner comprar o acervo da MGM. Foi outro que consegui assistir em tela grande. Nos anos 80 a filha do Hitchcock liberou seis filmes do pai que foram exibidos numa semana inteira no Cine Metro, aqui em São Paulo. Assisti Janela Indiscreta, O Homem que Sabia Demais e The Rope. Essas experiências são únicas e inesquecíveis. E bate aquela saudade dos cinemões...
ResponderExcluirDarci
És um sortudo, Darci! E essa história da máquina fotográfica é sensacional. Coisa de fã, por isso perfeitamente desculpável.
ResponderExcluirAinda que eu goste um pouquinho mais de "Rastros de Ódio" acho que preferiria ver "The Wild Bunch" a ele caso tivesse que escolher apenas um dos dois. Ver o Monument Valley numa tela grande deve ser inesquecível mas determinadas sequências deste clássico do Peckinpah num telão que faça jus ao filme deve ser um prazer indescritível.
Aqueles filmes do Hitchcock eu tive a chance de ver como você. Foi em 1985, em Juiz de Fora, no meu primeiro ano fora de "casa de papai/mamãe", quando morava numa república de estudantes e economizava todos os trocados possíveis para ir ao cinema.
Para ver o ciclo do Hitchcock, "Alien, o 8º Passageiro" e outros que também estavam sendo relançados por aqueles tempos, tive de fazer acordos na faxina da república para consigar trocados extras e assistir a tudo. Nunca lavei tanto chão, pia de cozinha e banheiro na vida. Mas valeu a pena.
Edson Paiva
Correção e desculpas;
ResponderExcluirCitei no meu comentário de 01/07, às 12,41hs., duas ocorrencias erroneamente;
1 - citei que Holden cai do cavalo explicitanto sua decadencia fisica e que seus parceiros apenas olhan a cena numa critica muda.
Acabei de rever a fita e errei duas vezes nesta cena.
a - ele cai do cavalo porque o suporte do estribo se rompe(ainda o vemos guardando-o no alforje), embora seja verdade que estão envelhecendo para aquela vida dura.
b - ao contrário do que citei do comportamento de seus companheiros, existem sim muitas falas a respeito da ocorrencia (a queda de Holdem). Principalmente de Oates e Johnson, que não observaram a razão real da queda do lider e o criticam por ele nem mais estar podendo montar num cavalo, quanto mais comandar um bando daqueles (ainda estão amargurados depois do problemas das arruelas em vez do ouro).
2 - citei que o Robert Ryan tem um papel dispensável na fita, meio nulo e tal qual ocorreu em Os Profissionais.
Voltei a errar. O papel de Ryan é de uma importancia e grandeza tanto quanto a de Holden, já que está ativo todo o desenrolar da fita, tem boas falas, além de haver sido outrora parceiro de Holden e cruzaram muitos problemas lado a lado (vemos isso mais de uma vez em flash-back).
No mais, ratifico que se trata de um grande filme e dotado de momentos que somente o diretor de Pistoleiros do Entardecer teria a sensibilidade de mostrar, como a cena no final da fita do passarinho que Johnson brinca com ele sobre o tórax nu e, momentos após, o animalzinho agoniza desprezado e sozinho naquele espaço enorme para seu tamanho diminuto.
Um instante marcante e que, com certeza, passa por muitos desapercebido.
Para se fazer um grande filme tem que se ter sensibilidade, apuro na arte, e não deixar passar sem captar momentos que para muitos não teria qualquer importancia, mas que fazem parte da vida, do dia a dia e de todos os momentos.
jurandir_lima@bol.com.br
Jurandir, o flash-back mostrando que Pike Bishop (William Holden) e Deke Thornton (Robert Ryan) já se conheciam é fundamental para a compreensão do filme. Num filme em que todos os atores etão quase perfeitos Robert Ryan consegue se sobressair como o amargurado Thornton. Após a batalha no quartel de Mapache um urubu pousa num corpo inanimado, algo parecido com Coffer e T.C. disputando botas velhas após o frustrado assalto ao banco. É um daqueles filmes que passam para a história do cinema. - Darci
ResponderExcluirEdson, gostei desse pouquinho. É justamente o que faz com que o western de Ford seja incomparável. Vou lhe mandar por e-mail a foto que tirei na ocasião. Depois daquilo, com a expansão da Internet, a foto dos quatro caminhando em direção à mesa de Mapache aparece em todo lugar. O DVD duplo mostra como nasceu a idéia daquela cena, idéia genial de Peckinpah. Darci
ResponderExcluirDarci, é sempre difícil hierarquizar determinados filmes em nossas preferências mas alguns sempre ficam algumas polegadas à frente dos outros, não?
ResponderExcluirTenho o dvd duplo de "The Wild Bunch" e também de "Rastros de Ódio". Uso a internet como meio de se conseguir faroestes com frequência mas os grandes clássicos exigem dvds originais. E de preferência duplos, com incontáveis extras.
A sequência da caminhada para a morte dos quatro bandoleiros é um primor de bem realizada. E absolutamente convincente. Ainda que fossem bandidos sanguinários e sem escrúpulos o gesto de enfrentar Mapache sabendo que jamais escapariam é crível e coerente com o que acontece ao longo do filme.
Faz tanto sentido que cá da poltrona chegamos a pensar que se estivéssemos com eles faríamos o mesmo, ignorando as consequências do ato suicida.
Um filme de um diretor "cabra macho", com personagens "cabras machos". Excluindo exibidores e o estúdio, todos ali tinham "culhões". Coisa raríssima na indústria cinematográfica hoje em dia.
Ontem enviei a matéria para um amigo igualmente fã de "Wild Bunch". Claro que ele elogiou muito o texto.
Após conhecer em detalhes a via crucis que o filme enfrentou ele concluiu assim: "Peckinpah hoje está lá na Grande Pradaria Celestial, totalmente borracho, com uma garrafa de tequila nas mãos e xingando a tudo e todos".
Concordo plenamente. E acrescentaria: estaria também gargalhando alucinadamente ao perceber o status de obra-prima que o filme adquiriu com o tempo.
Edson Paiva
P.S. Aguardando a foto, Darci
Edson, os quatro da caminhada contra Mapache eram os chamados 'vencidos pela vida' num tempo que nem mais era o tempo deles. Curiosamente a missão suicida se originou de mais uma injustiça de um poderoso contra um idealista (Angel). Nem todos os homens neste mundo have the balls, como você bem disse em Português. É só haver oportunidade para a covardia se manifestar. Peckinpah não era assim e jamais se dobrou aos poderosos dos estúdios. De uma forma ou de outra fazia as coisas a sua maneira num meio em que, por contrato, o corte final era direito dos estúdios. Por falar em edição, The Wild Bunch sequer concorreu ao Oscar de melhor edição, na mais grosseira injustiça entre tantas da tal academia. Esse filme de Peckinpah parece ter sido editado por Sergei Eisenstein. - Darci
ResponderExcluirDarci/Paiva;
ResponderExcluirFico lendo seus comentários e me sinto perdido em meio a tantas descobertas e ditos mais que bem encaixados.
Tanto que, mesmo desejoso de acrescentar algo, não encontro mais nada, já que os bons e queridos amantes do faroeste, dissertam tudo em detalhes e na mais verdadeira das verdades.
Porém, observei que a caminhada daqueles quatro ali (perfeitos), já parecia prenunciar, para os homens de Mapache, algo tétrico por vir.
Tanto que, durante toda a caminhada dos quatro, até o primeiro tido em Mapache, muitos dos homens do bandido, que se encontravam sentados ou a palestrarem, se levantam e, além de ficarem olhando e de armas às mãos para os homens, ainda fazem alguns comentários uns com outros, além de os seguirem.
Aqueles semblantes deveriam estar dizendo muito para aqueles homens de Mapache, a ponto de sua caminhada deixar muitos deles inquietos.
E a cena de Edmund O'Brien convidando Ryan para mais um pouco de aventura, é outro grande momento. Ryan, depois de pensar um instante, olha para o sorridente velho, se ergue e partem juntos sob risos prazeirosos do velho e muito bom O'Brien.
Um filme ainda para serem descobertas muitas cenas que somente com o passar do tempo e muitas mais vezes visto o filme é que iremos descobrindo e nos apaixonando.
jurandir_lima@bol.com.br
A sociedade norte americana em geral, é bastante hipócrita e patologicamente conservadora.
ResponderExcluirUm povo bem acostumado com violência, não era para sair de cinema vomitando por ver cenas muito próximas das reais, numa película, pois o massacre promovido por eles no Vietnã, estava bem ali. Não me consta cidadãos vomitando pelas ruas, quando as cenas da barbárie chegava pela televisão.
É o nefasto efeito MANADA, dos críticos, quando algum, acende o pavio da detonação de uma obra, em geral, todos correm atrás, com o fósforo aceso na mão, sem o mínimo de questionamento.
Tudo que é novo, diferente do corriqueiro, corre o risco de cegamente não ser aceito e explodido no início e as vezes para sempre. Exemplos tem de monte em todos os níveis, que foge deste comentário enumerá-los.
Parece que a regra é comum:O QUE É NOVO É SEMPRE RUIM, ATÉ QUE ALGUÉM DE CREDIBILIDADE FAÇA UMA REVISÃO, FALE A FAVOR, VIRA OBRA DE ARTE, VIRA CULT E VIRA O MÁXIMO.
Já vi este filme antes, muitas vezes, desculpe o trocadilho,
já vi esta conversa antes, em outras películas de western do velho continente, mas considero normal.
Eu nunca fui ver um filme porque alguém falou bem ou mal.
O que me interessa é se gostei e me divertiu ou não, crítico é em geral um abutre, gosta de desgraças, não paga ingresso, dificilmente se retrata e pra sorte das artes erra muito mais que acerta.
Sam Peckinpah viveu o inferno na terra, com críticos e produtores e ainda o charam de louco. QUEM ERAM OS LOUCOS?
Sou novo nesse excelente blog, mas de início gostaria de dizer que respeito as opiniões, mas não vejo tanta coisa assim nesse filme. Para mim tem muito exagero. conseguem ver até o que não existe nesse filme. Tem um início movimentado com um tiroteio e mortes com mortes em câmera lenta. O miolo do filme é lento com muitas cenas muitos diálogos que poderiam ser cortadas. Alguns atores são antipáticos, não acrescentam nada. Já o final é que é de fato tecnicamente muito bem realizado. resumindo tem umas partes razoáveis, outras boas, umas bem ruins e outras excelentes, como no final.
ResponderExcluirAntonio Trocate
Se fala merecidamente na atuação dos atores principais mas aqueles coadjuvantes mereciam um Oscar. Estou falando dos dois malucos que correm para roubar as botas e os pertences dos mortos nos tiroteios.Soberbos. Sem falar no chefe impiedoso da expedição que contrata Roberto Ryan.
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