George Cukor raramente é citado entre os grandes diretores de cinema, mas é reconhecido como o melhor diretor de atrizes que Hollywood já teve. Cukor dirigiu Greta Garbo em “A Dama das Camélias”, Norma Shearer em “Romeu e Julieta”, Judy Holiday em “Nascida Ontem”, Ingrid Bergman em “À Meia-Luz”, Judy Garland em “Nasce uma Estrela”, Katharine Hepburn várias vezes, a melhor delas em “Núpcias de Escândalo”, Audrey Hepburn em “My Fair Lady”. A lista de grandes atrizes que foram dirigidas por Cukor é longa mas vale lembrar ainda o melhor filme de Marilyn Monroe que foi “Adorável Pecadora”, excetuados, é claro, os dois dirigidos por Billy Wilder. Em 1959 George Cukor foi contratado pela Paramount para dirigir “Jogadora Infernal” (Heller in Pink Tights), e realizou um das mais agradáveis comédias-românticas ambientadas no Velho Oeste.
Adah Merken e abaixo o escritor Louis L'Amour |
ADAH MENKEN SE TORNA ANGELA ROSSINI - Louis L’Amour foi um dos mais prolíficos autores de história sobre o Velho Oeste, uma delas chamada “Heller With a Gun”, baseada na vida da célebre atriz Adah Isaacs Menken. Em seus 32 anos de curta existência Adah levou a arte teatral para as cidades habitadas por homens broncos nos quais despertava também desejo e paixão. A história de L’Amour virou um projeto cinematográfico que foi parar nas mãos de Carlo Ponti que associado à Paramount pediu ao próprio Louis L’Amour que escrevesse o roteiro para um filme que se chamaria “Heller in Pink Tights” (Jogadora Infernal) e que seria estrelado por sua esposa Sophia Loren. L’Amour pediu uma quantia proibitiva e foram então chamados Dudley Nichols (“No Tempo das Diligências”) e Walter Bernstein (“Sete Homens e um Destino”) para trabalhar num roteiro sob medida para a exuberante Sophia. Para completar o time envolvido em “Jogadora Infernal”, a direção só poderia caber a um diretor renomado e competente, sendo então chamado George Cukor, que nunca havia feito um western em seus mais de 30 anos de carreira. Anthony Quinn foi contratado como co-star interpretando Thomas Healy, o empresário da atriz Angela Rossini no western-comédia que deveria catapultar de vez ao estrelato a carreira de Sophia em Hollywood.
Páris (Quinn) e Helena (Sophia); abaixo a arte chega a Cheyenne. |
Steve Forrest e George Mathews, sucumbindo aos encantos de Sophia Loren. |
UMA TENTADORA ATRIZ - “Jogadora Infernal” poderia até ser um faroeste bastante movimentado nos padrões clássicos de um western. Há no filme a presença de um ameaçador pistoleiro profissional (Steve Forrest), de bandidos comandados pelo impiedoso manda-chuvas de Bonanza (Ramon Novarro) e ainda há os violentos e traiçoeiros índios. Porém o roteiro e a direção de George Cukor privilegiaram as desventuras do grupo teatral junto aos palcos num delicioso tom de comédia com diversos personagens engraçados. Um deles é Sam Pierce (George Matthews) o dono do Teatro Pierce em Cheyenne. Em nome da moral e dos bons costumes Pierce censura a exibição da peça “A Bela Helena” pelo adultério cometido por Helena que trai o esposo Menelau traindo-o com Páris. Mas o hipócrita Pierce quer de todo modo levar Angela Rossini para seu escritório onde ele a espera sofregamente “vinte e quatro horas por dia”. Tom Healy sofre com a leviandade de Angela que a cada pecadilho beija o amigo empresário que em certo momento lhe diz: “Isso foi por algo que você fez ou que você vai fazer?”. Embora com menor ênfase, Cukor explora o conflito da atriz veterana (Eileen Heckart) que se recusa a envelhecer, bem como o desejo de sua filha de 20 anos (Margareth o’Brien), ansiosa por se tornar mulher. Pena, para ela, que a opção possível para conhecer o sexo seja Tom Healy que não é o tipo de homem que goste de levar uma mulher para a cama. Ainda que as sequências de ação se resumam a poucos minutos, “Jogadora Infernal” é daqueles filmes que envolvem o espectador pela trama e por seus personagens.
Sophia e Tony Quinn. |
UM WESTERN PARA SOPHIA LOREN - “Jogadora Infernal” foi inteiramente concebido para o estrelato de Sophia Loren que está irresistivelmente atraente nos deslumbrantes vertidos e corpets criados pela figurinista Edith Head. Loura pela primeira vez num filme norte-americano, Sophia lembra a atriz das comédias italianas da fase inicial de sua carreira. Anthony Quinn é um excepcional ator que torna qualquer papel importante e faz com que o empresário teatral e ator ‘Tom Healy’ seja mais uma grande criação em sua galeria de tipos. Sophia pediu a Carlo Ponti que contratasse Clint Walker para interpretar o pistoleiro ‘Clint Mabry’, mas o papel acabou ficando para Steve Forrest e o irmão de Dana Andrews certamente se sai melhor do que sairia o gigante do seriado de TV “Cheyenne”. Ramon Novarro, o primeiro Ben-Hur do cinema interpreta o vilão em seu ultimo papel para o cinema. Outro veterano do cinema mudo é Edmund Lowe como membro da troupe de atores que tem ainda a divertida Eileen Heickart e a ex-atriz infantil Margareth O’Brien. Frank Silvera tem pequena participação e George Mathews é figura dominante nas cenas em que aparece.
A INSPIRAÇÃO DE GEORGE CUKOR - George Cukor após assistir a versão final de “Jogadora Infernal”, ficou indignado com a edição orientada pelos produtores, chegando a renegar o filme, tantas são as tomadas e close-ups da estrela Sophia Loren. Cukor rende verdadeiro tributo ao teatro e a seus personagens que no Velho Oeste de alguma forma contribuíram para a sua diversão e formação cultural. Importante lembrar que John Ford já havia mostrado esse aspecto em “Paixão dos Fortes” (My Darling Clementine) e em “Caravana de Bravos” (Wagonmaster). O teatro foi um tema recorrente na obra de George Cukor (vide filmes citados no primeiro parágrafo) e o personagem de Anthony Quinn é uma espécie de Pigmaleão, o Prof. Higgins de “My Fair Lady”. Duas sequências em especial mostram uma certa irreverência de Cukor com aquele território em formação interagindo com a cultura: a primeira quando o frio pistoleiro interpretado por Steve Forrest foge do teatro amarrado ao cavalo travestido de 'Mazeppa', a personagem de Sophia Loren na peça encenada; a segunda, igualmente inventiva e engraçada é quando os índios descobrem os figurinos e peças de cenografia nos carroções abandonados da Companhia Healy e cobertos com sedas coloridas e capacetes da Idade Antiga fazem a mais engraçada festa índia já levada ao cinema, verdadeira inspiração para Priscilla, a Rainha do Deserto. Tudo neste brilhante, alegre e enternecedor western de George Cukor.
Acima cena de 'Mazeppa'; abaixo o arco-íris dos índios de George Cukor. |
Apesar do elenco espetacular, o filme é fraquinho. E Sophia loura não sei não...
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Caro Nahud, sua opinião conflita com a minha modesta opinião e conflita também com as opiniões dos conceituados Phil Hardy e Edward Buscombe. Mas você fica na companhia de Leonald Maltin.
ResponderExcluirDarci
Adoraria rever Jogadora Infernal mais recentemente para por um melhor e mais atualizado comentário, embora lembre de muitos detalhes deste, onde a bela Loren é o espetáculo.
ResponderExcluirA ocorrencia de Cukor quanto à montagem desastrosa do seu filme é uma cena repetida à exuatão pelos produtores. Um caso que podemos citar e reconhecer ligeiramente e mais proximo é o de Nick Ray com seu faroeste Quem Foi Jesse James. Fita que o diretor chega a citar como algo estranho e detestável para ele.
Se Jogadora Infernal já é uma fita muito agradável com tantos cortes dos closes da linda italiana, pode-se imagina-lo com todos os que Cukor fez, já que este é um filme feito com exclusividade para a Loren.
Um aspecto que me trouxe ligeiro interesse e admiração foi o bastante regular Steve Forrest ser irmão de Dana Andrews, fato que desconhecia completamente, assim como concordo que ele se sai muito melhor que o grandalhão Walker sairia.
De todos os angulos que desejemos ver a coisa, um filme onde o excelente Quinn contracena com a lindissima italiana Loren, jamais poderia ser uma fita fadada ao negativo.
Por pior que fosse o roteiro eles, por si só, com mais as mãos do bom diretor de atrizes, o Cukor, saberiam dar um ar de satisfatoriedade à pelicula.
O casal já havia se encontrado um ano antes no regular e meio sombrio filme de Martin Ritt, A Orquídea Negra.
jurandir_lima@bol.com.br
Na minha opinião, ADORÁVEL PECADORA ( Let´s Make Love/ 1960), não é o melhor filme de Marilyn. Só vale mesmo por ela! Como comédia musical, deixa a desejar. E foi o seu marido Arthur Miller quem aumentou a sua participação na trama. Devido a uma greve de roteiristas, o dramaturgo foi convido para escrever algumas falas para a sua esposa e acabou por centralizar a trama em torno da sua personagem, Amanda, enfraquecendo todos os personagens masculinos que não passam de caricaturas no filme! Na minha opinião, George Cukor não era o diretor ideal para Marilyn Monroe, uma atriz inteligente, criativa, formada pelo Actor´s Studio, na tradição de seu amigo Marlon Brando. Cukor dirigia bem as estrelas profissionais: aquelas que davam apenas o que o papel exigia. Marilyn era muito mais! A verdade é que George Cukor tinha um ritmo muito lento de direção. Apesar de todos os problemas com as filmagens do inacabado " Something´s got to Give " ( 1962 ), as cenas de Marilyn poderiam ter sido todas rodadas antes de sua morte. Quando ela estava no estúdio, Cukor gastava horas tentando filmá-la com um cachorrinho teimoso ou então um dia inteiro para cenas na piscina. E exigia centenas de " takes " desnecessários! Isso é tão certo que, depois de ser sido despedida e , por fim, recontratada pela Fox para terminar o filme ( com um salário ainda maior ), Marilyn decidiu trocar o diretor por Jean Negulesco. As filmagens recomeçariam 7 de agosto de 1962. Marilyn foi encontrada morta em 5 de agosto.
ResponderExcluirAdriano Miranda-Franca-SP
Olá, Adriano - Respeitando sua opinião, Adorável Pecadora foi o melhor momento de Marilyn no cinema, excetuados, claro, as comédias com Billy Wilder. Curioso você chamar de caricaturas as saborosas participações de Yves Montand, Wilfrid Hyde-White e Tony Randall, todos excelentes atores e, no caso, comediantes. George Cukor foi comprovadamente um excelente diretor, especialmente de mulheres. Darci Fonseca
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