31 de março de 2012

SÉRIES WESTERNS DE TV - "O TEXANO"


Assim como Jesse James, Billy the Kid, John Wesley Harding e outros notórios bandidos do Velho Oeste foram transformados em heróis pelo cinema, o mesmo aconteceu com Bill Longley, fora-da-lei que virou mocinho na TV, sendo interpretado por Rory Calhoun na série “O Texano”.

Acima o verdadeiro Bill Longley
O BANDIDO BILL LONGLEY - William Preston Longley nasceu em Austin, Texas e viveu apenas 27 anos, o suficiente para aterrorizar as cidades por onde passou, roubar bancos, desertar da Cavalaria dos Estados Unidos durante a Guerra de Secessão, assassinar pelo menos cinco pessoas (a primeira quando tinha 15 anos), até ser preso e executado em Galveston, no Texas. Esse sádico facínora era apropriadamente chamado de ‘Bloody Bill Longley’ ou também ‘The Texan’ e foi com este último apelido que a televisão o mostrou de maneira totalmente diferente da realidade. Na TV o bandido Bill Longley foi transformado num homem corajoso, defensor da lei e dos oprimidos, sendo rapidíssimo no gatilho. A história da série que no Brasil recebeu o título de “O Texano” começou quando Rory Calhoun e o produtor Victor M. Orsatti acreditaram que era o momento de lançar uma série de TV estrelada pelo ator. Calhoun e Orsatti já se conheciam pois Rory havia atuado no filme “Vôo para Hong-Kong” e nos faroestes “O Revólver Mercenário” (The Hired Gun), “A Lei do Oeste” (Ride Out for Revenge), “Dominó Kid, o Vingador” (Domino Kid), “O Poder da Vingança” (Apache Territory), todos produzidos por Orsatti para o cinema. Esses filmes custavam pouco e davam lucro, mas não o suficiente para deixar o produtor e o ator satisfeitos. Foi então que Rory Calhoun e Victor Orsatti decidiram criar a Rorvic Productions e produzir um seriado de aventuras para a televisão com a ação passada no mar, bem longe do Velho Oeste.

Rivais na TV: John Payne e Rory Calhoun
RORY CALHOUN X JOHN PAYNE - Victor M. Orsatti era vizinho de Desi Arnaz pois moravam na mesma rua e Desi era dono da famosa Desilu Productions em sociedade com a esposa Lucille Ball. Arnaz propôs então a Victor Orsatti que fizessem uma parceria e produ-zissem um projeto que a Desilu guardava há tempos com carinho numa prateleira, uma série faroeste que seria intitulada “O Texano”. Orsatti gostou da idéia e a Rorvic e a Desilu se juntaram para produzir a nova série estrelada por Rory Calhoun, ao custo de 40 mil dólares por episódio. O primeiro episódio foi ao ar no dia 29 de setembro de 1958 com o titulo “Law of the Gun”. A série era filmada nos estúdios da Desilu produtora que havia comprado todo o lote da extinta RKO Pictures. As cenas externas eram normalmente rodadas perto dali, em Iverson Ranch, em Los Angeles. A série “O Texano” era exibida pela CBS, às segundas-feiras à noite, com episódios de 25 minutos de duração, concorrendo no mesmo horário com a série “Restless Gun”, estrelada por John Payne, exibida pela NBC. “Restless Gun” já tinha um público cativo pois começara a ser exibida em 1957 e prejudicada por essa concorrência “O Texano” nunca chegou a ser uma série campeã de audiência sendo seu melhor resultado a 15.ª colocação nos índices de levantamento do número de telespectadores. A pergunta que cabe é por que a programação de duas séries faroestes no mesmo dia e mesmo horário. A explicação é simples: havia apenas três redes – a CBS, a ABC e a NBC – e nada menos que 48 séries westerns eram produzidas naquela temporada de 1958/59, ou seja, poucas opções de horários nas grades das emissoras.

À esquerda Rory Calhoun em "O Colosso de Rodes".
28 MILHÕES DE TELESPECTA-DORES - Mesmo sem ter alcançado grande audiência “O Texano” emplacou a segunda temporada e para desespero de Rory Calhoun que era sócio da Rorvic que era parceira da Desilu, ele pratica-mente não via a cor do dinheiro dos patrocinadores Viceroy (cigarros) e Lever (sabonete). A princípio Rory Calhoun estava bastante satisfeito com a série que estrelava na TV, afirmando que mesmo juntando muitos dos westerns que fizera para o cinema na década de 50, jamais conseguiria ser visto por 28 milhões de telespectadores numa só noite, que era o número que a Nielsen Ratings (o Ibope norte-americano) indicava como público de “O Texano”. Ao final da segunda temporada (1959/1960), a CBS manifestou interesse na continuação da exibição da série, mas Rory Calhoun entendeu que atuando apenas como ator ele poderia ganhar mais dinheiro que acumulando também a arriscada função de produtor. Após 78 episódios de “O Texano” Rory Calhoun fez as malas em 1960 e foi atuar na Europa, onde foi dirigido inicialmente por um quase desconhecido diretor italiano chamado Sergio Leone em “O Colosso de Rodes”. A seguir, ainda na Europa, Calhoun atuou em “O Segredo de Monte Cristo” e em “As Aventuras de Marco Polo”.

Acima à esquerda Rory e seu dublê
Reg Parton; à direita Douglas Kennedy,
o primeiro Bill Longley da TV;
abaixo Rory Calhoun e Lita Baron
PARTICIPAÇÃO DE LITA BARON - Rory Calhoun conhecia bem a história de Bill Longley, até porque em 1954 a série de TV “Histórias do Século” (Stories of the Century) havia focalizado o fora-da-lei, que foi interpretado naquele programa por Douglas Kennedy, de forma realista, mostrando-o como verdadeiro bandido. Calhoun, no entanto, queria que seu personagem ‘Bill Longley’ fosse uma espécie de Robin Hood do Oeste, o que sem dúvida conseguiu, ainda que distorcendo totalmente os fatos referentes à biografia de ‘Bill Longley’. Na série “O Texano” Rory Calhoun montava um cavalo pinto chamado Dominó e assim como nos filmes em que atuava, faroestes ou não, Calhoun era dublado nas cenas de perigo por Reg Parton. Algumas vezes creditado como Regis Parton, esse stuntman também atuava como ator no cinema, aparecendo também em vários episódios de “O Texano”. A então esposa de Rory Calhoun, a atriz espanhola Lita Baron, nascida em Almería, também participou de alguns episódios de “O Texano”, interpretando uma personagem chamada ‘Dolores’. Rory e Lita permaneceram casados por 22 anos (1948-1970). Durante a segunda temporada da série “O Texano” ocorreu a tentativa de contar histórias em três ou até mesmo em quatro episódios, com a intenção clara de segurar a audiência e ainda poder editar os episódios e posteriormente lançá-los como longa-metragem no cinema, o que acabou não acontecendo.

O RORY CALHOUN BRASILEIRO - “O Texano” foi exibido no Brasil na década de 60 e tinha boa audiência entre as séries westerns. Entre os telespectadores daqueles anos havia um chamado Décio Maffezzoni, gaúcho de Erechim radicado em São Paulo e que certamente pode ser apontado como um dos grande fãs de Rory Calhoun. Décio sempre colecionou os filmes de Calhoun, seu ator favorito em qualquer gênero, especialmente nos faroestes e para ele nenhum outro ator, nem mesmo John Wayne ou Clint Eastwood, supera Rory Calhoun. Entre seus amigos o gaúcho Maffezzoni é conhecido como ‘Décio Rory Calhoun’, o que o enche de orgulhosa satisfação. Alguns episódios de “O Texano” podem ser encontrados no Brasil, geralmente dublados, e os fãs da série aguardam que seja lançado por aqui o box-set com 10 DVDs que foi lançado nos Estados Unidos em 2008. Essa caixa contém 70 dos 78 episódios exibidos originalmente, com excelente qualidade de áudio e imagem e comprovam que “O Texano” foi uma das inesquecíveis séries westerns da TV.
Nas fotos à direita Décio Rory Calhoun Maffezzoni (acima);
a caixa com as duas temporadas
de "O Texano" ainda não
lançada no Brasil.

Rory Calhoun

29 de março de 2012

WESTERN-TESTEMANIA N.º 10 - FILMES DE CAVALARIA DE JOHN FORD


John Ford foi o maior diretor de faroestes do cinema
e quando o assunto desses westerns era a Cavalaria
parece que John Ford dirigia com mais amor,
resultando invariavelmente em filmes clássicos.
Mostre que você conhece bem esses trabalhos de
John Ford, assim como particularidades sobre o
 Mestre, respondendo às seguintes perguntas:












28 de março de 2012

TOP-TEN WESTERNS DE JOÃO SALGADO, O COLECIONADOR DOS 30 MIL FILMES


João Salgado está, certamente, entre os maiores colecionadores particulares de filmes do mundo. Apaixonado por cinema, Salgado importou seu primeiro gravador de fita magnética em 1983, no formato pioneiro, o Betamax da Sony. Porém nem bem o concorrente Vídeo Cassete Recorder (VHS) se impôs e João Salgado passou a gravar filmes da TV nesse novo formato.

João Salgado revendo "No Tempo das Diligências"
UM COLECIO-NADOR PIONEI-RO - Desde o início da televisão no Brasil o sinal dos canais eram recebidos por antenas e foi assim que Salgado gravou os primeiros filmes de sua coleção. Em 1990 o colecionador Salgado passou a receber imagens através do canal UHF 29, em São Paulo, primeiro canal por assinatura do Brasil, sendo ele um dos raros assinantes iniciais. Fazendo parte da confraria dos amigos do western de São Paulo, o CAW, João Salgado fazia inveja aos demais sócios do clube ao comentar os filmes que gravava e que eram exibidos pelos Canais Showtime e TNT, isto num tempo em que muitos nem haviam ainda adquirido o primeiro gravador VHS. Em 1997 o colecionador João Salgado já gravava filmes há 15 anos e então possuía doze mil filmes, todos devidamente catalogados em um programa de computador que ele mesmo havia criado. Vale lembrar que naqueles dias uma minoria de brasileiros possuía o seu personal computer. Quase 30 anos depois de haver gravado seu primeiro filme, João Salgado ultrapassou a marca dos 30 mil filmes em sua coleção, a metade deles em Digital Video Disc, o DVD, processo que Salgado adotou em 1999. Nesse assombroso número não estão computadas as séries de TV que Salgado também aprecia e coleciona.

Salgado em seu escritório trabalhando
sob a inspiração de Ollie e Stan.
120 FILMES POR MÊS - O paulistano João Salgado é engenheiro eletrônico e professor universitário, sobrinho direto do General Júlio Marcondes Salgado, herói da Revolução Constitucionalista de 1932. O gosto pelo cinema começou ainda criança, no Cine São Luís no bairro do Tatuapé, transformando-se em verdadeira paixão na adolescência e na idade adulta. Os amigos de João Salgado testemunham que o colecionador mantém muitas vezes dois gravadores em funcionamento simultâneo gravando canais diferentes, o que explica a inacreditável média de 120 filmes gravados mensalmente, perto de 1.500 filmes por ano. Sem falar, é claro, naqueles DVDs originais que também são adquiridos. O leitor deve estar perguntando onde Salgado coloca tudo isso, não é mesmo? A espaçosa sala da casa desse colecionador tem 50 metros quadrados e enormes prateleiras que armazenam não só os DVDs mas também os muitos VHSs, CDs, long-plays e livros. Aposentado há alguns anos, Salgado passou a ter mais tempo para cuidar de sua expressiva coleção de filmes que tem uma explicação para ser tão grande: esse incansável colecionador é profundo conhecedor de cinema, como veremos nas listas de filmes que nos indicou, publicadas adiante. Mas além disso Salgado é dos raros colecionadores que não discrimina nenhum gênero ou artista. Em suas prateleiras há espaço para Marlon Brando e Arnold Scharzenegger, Laurence Olivier e Sylvester Stallone, ainda que os musicais de Fred Astaire, as comédias de Laurel & Hardy e Max Linder, o drama-noir “Laura” ou o faroeste “No Tempo das Diligências” ocupem lugares especialíssimos nessas estantes de Salgado.

Henry Fonda e John Wayne, atores dos melhores faroestes de João Salgado.

TOP-TEN - E por falar em faroeste, WESTERNCINEMANIA pediu a João Salgado que ele relacionasse os dez melhores faroestes de todos os tempos. Bastante solícito, o colecionador listou seu Top-Ten e ainda outros dez que considera ótimos, que são os seguintes:

1.º) “No Tempo das Diligências” (Stagecoach), 1939 – John Ford

2.º) “Paixão dos Fortes” (My Darling Clementine), 1946 – John Ford

3.º) “Consciências Mortas” (The Ox-Bow Incident), 1943 – William A. Wellman

4.º) “A Conquista do Oeste” (How the West Was Won), 1962 – Henry Hathaway, George Marshall, John Ford

5.º) “Viva Zapata” (Viva Zapata!), 1952 – Elia Kazan

6.º) “Winchester 73” (Winchester ’73), 1950 – Anthony Mann

7.º) “Gatilho Relâmpago” (The Fastest Gun Alive), 1956 – Russell Rouse

8.º) “Da Terra Nascem os Homens” (The Big Country), 1958 – William Wyler

9.º) “Marcha de Heróis” (The Horse Soldiers), 1959 – John Ford

10.º) “Vera Cruz”, 1954 – Robert Aldrich

Faroestes ótimos na opinião de João Salgado:

“A Arma de um Bravo” (Gun Glory), 1957 – Roy Rowland

“A Fera do Forte Bravo” (Escape from Fort Bravo), 1953 – John Sturges

“A Passagem da Noite” (Night Passage), 1957 – James Neilson

“Atire a Primeira Pedra” (Destry Rides Again), 1939 – George Marshall

“O Último Pôr-do-Sol” (The Last Sunset), 1961 – Robert Aldrich

“Região do Ódio” (The Far Country), 1954 – Anthony Mann

“O Rio das Almas Perdidas (River of no Return), 1954 – Otto Preminger

“Crepúsculo de uma Raça” (Cheyenne Autumn), 1964 – John Ford

“Estigma da Crueldade” (The Bravados), 1958 – Henry King

“Duelo ao Sol” (Duel in the Sun), 1946 – King Vidor

Um colecionador do porte de João Salgado é capaz de passar muito tempo falando de filmes e, distribuído por gêneros, eis os seus favoritos:

MUSICAIS Fora de série: Amor Sublime Amor – Cabaret – Cantando na Chuva – Um Dia em Nova York – My Fair Lady – Sete Noivas para Sete Irmãos – O Rei e Eu – Mulheres e Músicas – Belezas em Revista – Meias de Seda / Ótimos: Camelot – Carmen (Carlos Saura) – Escola de Sereias – O Rei do Jazz – Lili – Rua 42 – Convite à Dança – O Barco das Ilusões – Oklahoma – Quando Hollywood Dança.

DRAMAS Fora de série: Uma Rua Chamada Pecado – Cidadão Kane – As Três Faces de Eva – Amarcord – Caçada Humana (Arthur Penn) – Palavras ao Vento – Balada Sangrenta – Sindicato de Ladrões – O Selvagem – O Homem de Alcatraz / Ótimos: A Grande Ilusão – A Malvada – Almas em Suplício – A Um Passo da Eternidade – O Sol é para Todos – Crepúsculo dos Deuses – Doze Homens e Uma Sentença (1957) – O Fio da Navalha – Sementes de Violência – A Princesa e o Plebeu.

GUERRAFora de série: Os Deuses Vencidos – Apocalipse Now – Alexander Nevsky – A Cruz de Ferro – Esperança e Glória – A Grande Ilusão (Jean Renoir) – Inferno 17 – Sem Novidade no Front – O Julgamento de Nuremberg – O Mais Longo dos Dias / Ótimos: Sete Dias em Maio – Espírito Indomável – Passagem para Marselha – Fomos os Sacrificados – Horizonte de Glórias – A Raposa do Mar – Morte sem Glória – Mortos que Caminham – Amargo Triunfo – A Ponte do Rio Kwai.

AVENTURAFora de série: Ben-Hur – As Aventuras de Robin Hood – Os Caçadores da Arca Perdida – O Cangaceiro – Capitão Blood – El Cid – Excalibur – Gunga Din (1939) – King Kong (1933) – Os Sete Samurais / Ótimos: A Lenda de San Martin – O Homem que Queria ser Rei – Lawrence da Arábia – O Maior Espetáculo da Terra – As Minas do Rei Salomão (1951) – Robin e Marian – 20 Mil Léguas Submarinas – Spartacus – Simbad, o Marujo (1947).

COMÉDIASFora de série: As obras completas de Laurel & Hardy – Charles Chaplin – Totó – Harold Lloyd – Max Linder – Fernandel – Irmãos Marx – Buster Keaton / Ótimos: Férias em paris – Em Busca do Ouro – Esses Italianos – Esse Mundo é um Hospício – Quanto mais Quente Melhor – Irma la Douce – Mister Roberts – Não Tenho Troco – Nascida Ontem – Motorista Terremoto.

FICÇÃO-CIENTÍFICAFora de série: Viagem à Lua – Metrópolis – O Dia em que a Terra Parou – O Planeta Proibido – Sepultura para a Eternidade – A Aldeia dos Amaldiçoados – Alien, o 8.º Passageiro – Blade Runner, o Caçador de Andróides – Invasores de Corpos (1956) – 2001, Uma Odisséia no Espaço / Ótimos: Capricórnio Um – Barbarella – O Enigma de Andrômeda – O Primeiro Homem na Lua – O Incrível Homem que Encolheu – Guerra nas Estrelas – Contatos Imediatos de 3.º Grau – Terra VS. Discos Voadores – O Monstro da Lagoa Negra – O Monstro do Ártico.

POLICIAISFora de série: Inimigo Público – Scarface, A Vergonha de uma Nação – Uma Rajada de Balas – Laura – A Marca da Maldade – Relíquia Macabra – O Poderoso Chefão (I, II e III) – A Máscara de Dimitrios – Operação França (I e II) / Ótimos: Fuga do Passado – Homens de Respeito – Justiça Tardia – Pacto de Sangue – Chaga de Fogo – Os Assassinos (1946) – O Homem que Odiava as Mulheres – Al Capone – O Massacre de Chicago – A Mesa do Diabo.

AS BELEZAS DO CINEMA: Kim Novak – Cyd Charisse – Elizabeth Taylor – Ava Gardner – Rita Hayworth – Jane Russell – Rhonda Fleming – Kay Kendall – Ann Miller – Marilyn Monroe – Rossana Schiaffino – Virna Lisi – Silvana Mangano – Diana Dors – Brigitte Bardot – Sophia Loren – Catherine Deneuve – Greta Garbo – Cláudia Cardinalle – Louise Brooks.



25 de março de 2012

A BABEL DIRIGIDA POR SERGIO LEONE EM "TRÊS HOMENS EM CONFLITO"


Aos 18 anos de idade, em 1948, Sergio Leone foi assistente de direção de Vittorio De Sica em “Ladrões de Bicicleta”. Após esse início Leone passou os próximos anos nessa função, auxiliando diretores menos famosos como Alessandro Blasetti, Mario Bonnard, Mario Camerini, Luigi Comencini e Mario Soldati. Foram mais de 30 os trabalhos de Leone como assistente de diretor, alguns desses trabalhos aprendendo o metier com gente do primeiro time entre os diretores norte-americanos como Mervyn LeRoy em “Quo Vadis”, Robert Wise em “Helena de Tróia” e Fred Zinnemann em “Uma Cruz à Beira do Abismo”. Sergio Leone era especialista como diretor de segunda unidade, aquele que geralmente é o responsável pelas desgastantes sequências que envolviam multidões como em “Os Últimos Dias de Pompéia”, de Mario Bonnard, “Ben-Hur”, de William Wyler e “Sodoma e Gomorra”, de Robert Aldrich. A primeira oportunidade de Leone como diretor só viria a acontecer em 1961 no épico “O Colosso de Rodes”, interpretado pelo ex-astro da série de TV “O Texano” Rory Calhoun.

Sequências das corridas em "Ben-Hur",
que Leone afirmava ter dirigido.
LEONE, O FANFARRÃO - Com 1,70 de altura e mais de 100 quilos de peso, Sergio Leone era um autêntico falastrão e costumava contar que fora o verdadeiro responsável pela corrida de quadrigas em “Ben-Hur”, mesmo sabendo-se que quem comandou aquelas inesquecíveis sequências foi Andrew Marton, diretor de segunda unidade, com a colaboração de Yakima Canutt. Mas ninguém pode negar a Leone a sua incrível criatividade, inventando formas dirigir que mais parecia coisa de um verdadeiro pazzo (louco) e um dos exemplos disso eram os diálogos em seus westerns-spaghettis. Eram produções pan-européias com dinheiro vindo de muitos países, assim como os atores que podiam ser italianos, espanhóis, alemães, franceses, gregos, turcos e até um ou outro norte-americano. E as filmagens, como se sabe, eram feitas em regiões da Espanha, especialmente no deserto de Almería, sob a direção de Leone que nada falava de Inglês e nem dos demais idiomas. Mesmo assim a comunicação e os diálogos dos filmes não eram problemas para Leone que como bom italiano se expressava bastante bem com as mãos e inventava métodos nada comuns.

Manetas de "Três Homens em Conflito"
em cenas com Eli Wallach. O da foto abaixo
é o norte-americano Al Mulock.
CONTANDO ATÉ DEZ - Sergio Leone pedia para os atores dizerem suas falas em seus próprios idiomas, o que muitas vezes levava a uma espera maior do que o necessário até que o próximo a falar percebesse que o outro já havia terminado seu texto. Eli Wallach nunca se esqueceu do que se passou em “Três Homens em Conflito” numa cena com um não-ator italiano, contratado por Leone porque não possuía um braço. O homem foi vestido com peças de farda de confederado e deveria discutir com Tuco, o personagem de Eli Wallach. Quando o maneta descobriu que Eli era norte-americano ficou nervoso xingando o ator e dizendo que o Exército dos EUA, durante a campanha na Itália na II Guerra Mundial, havia decepado seu braço. Eli ainda tentou retrucar dizendo “Non ho fatto” (não fui eu que fiz), mas o homem não se acalmava. Leone gritou com ele e pediu para que ele dissesse o pequeno texto, descobrindo que o homem não sabia ler. Então Leone pediu ao homem que contasse pausadamente até dez, em Italiano, acentuando com voz mais forte e mais alta a sucessão de números. E o pobre homem começou: “Uno, due, tre..." até chegar nervosamente ao dieci. Leone depois dublaria essa e todas as demais falas.

Leone conversando com as mãos com Clint
Eastwood e falando em Italiano com Morricone.
TEMPO PERDIDO NO ACTOR’S STUDIO - Na Itália praticamente todos os filmes passam dublados em Italiano e as produções italianas são dubladas em Espanhol, Francês e Inglês para distribuição naqueles mercados. Quando Eli Wallach teve a oportunidade de assistir a “Três Homens em Conflito”, dublado em Inglês, prestou atenção no diálogo com o soldado confederado maneta e para sua surpresa a dublagem ficara perfeita acompanhando os lábios do homem que contara até dez em italiano. Eli pensou consigo mesmo como havia sido inútil todos os anos de estudo no Actor’s Studio e de representações na Broadway, sempre tentando se aperfeiçoar para ver aquele homem contar até dez... E na primeira coletiva que Eli Wallach deu à imprensa italiana, quando abriu a boca para responder à pergunta inicial, todos desataram a rir sem parar. Foi necessário Leone explicar a ele que o dublador de ‘Tuco’ tinha uma bonita e profunda voz de barítono, enquanto a voz de Eli mais lembrava grunhidos estranhos. Só um homem com o talento de Sergio Leone seria capaz de fazer filmes que se tornariam clássicos, mesmo rodados naquela babel que eram os sets de produção na Espanha. Sem esquecer que esses filmes eram enriquecidos com a banda sonora acrescida ainda de excelente sonoplastia e as soberbas trilhas musicais de Ennio Morricone.

BLOG EM REFORMA


Amigos que gostam de ler sobre o faroeste:
o blog teve problemas e encontra-se em busca
de uma breve solução.
Obrigado pela paciência - Darci Fonseca

23 de março de 2012

REVISTA PARDNER N.º 10 - FOCALIZANDO NICOLAU JACINTHO, O ESTRANHO NO WESTERN



Já pode ser lida no blog da revista PARDNER
a edição n.º 10 de julho de 1999 e que entrevistou
Nicolau Jacintho Júnior, o Homem-Mistério da
confraria dos amigos do western, o CAW.
Essa edição totalmente digitalizada traz ainda
as seguintes matérias:
Achilles Hua analisando "E o Sangue Semeou a
Terra" na seção Westerns que Eu não esqueço;
Horses - Apresentando os mocinhos dos quadrinhos
e das telas e seus respectivos cavalos;
Seção Cactus City - Os bastidores do CAW;
Entrevistas do clube para mídias diversas;
"A Fogueira Congelada" - Conto enviado especialmente
para a PARDNER pelo canadense Don Franklin;
Seções "Melody Ranch" e "A Guerra da Secessão".
Para acessar entre no endereço abaixo:
http://pardnerwestern.blogspot.com.br/


21 de março de 2012

KARL MALDEN – UM ATOR TÃO FEIO QUANTO TALENTOSO – 22/03/1912


Karl Malden fez nove faroestes em sua longa carreira, alguns deles clássicos absolutos que estão entre os grandes westerns do cinema. Em todos esses filmes Karl Malden deixou sua marca fortíssima de grande ator, especialmente quando teve que interpretar personagens brutais.

Malden acima com Gregory Peck e com um
penteado esquisito em "O Matador"; em
"A Árvore dos Enforcados" e com
Brando em "A Face Oculta".
TRÊS WESTERNS CLÁSSICOS - A estréia de Karl Malden nos faroestes se deu em 1950, em “O Matador” (The Gunfighter), de Henry King, precursor dos westerns psicológicos com influência direta em muitos outros filmes do gênero. Foi estrelado por Gregory Peck e com Karl Malden interpretando o bartender Mac. Nove anos depois, em 1959, Malden voltaria a fazer outro western, intitulado “A Árvore dos Enforcados” (The Hanging Tree), estrelado por Gary Cooper. A direção coube a Delmer Daves que adoeceu durante as filmagens e foi substituído por duas semanas pelo próprio Karl Malden que dirigiu diversas cenas nesse faroeste melodramático e tenso. Nele Malden interpretou o desprezível vilão Frenchy Plante, contrastando com a frieza de Gary Cooper. Depois de diversos trabalhos com Marlon Brando no palco e no cinema, em 1961 Malden e Brando se reencontraram em “A Face Oculta” (One-Eyed Jacks), brilhante e insólito filme, o único dirigido por Marlon Brando. Karl Malden mais uma vez interpreta um personagem sádico cujos olhos lampejam de prazer ao chicotear Brando numa cena violentíssima para aquele tempo.

Malden em "A Conquista do Oeste";
em "Crepúsculo de uma Raça";
em "Nevada Smith"; em "Califórnia,
Terra do Ouro"; e em "Os Dois
Indomáveis".
DEMAIS FAROESTES - Em 1962 foi lançada a superprodução em Cinerama “A Conquista do Oeste” (How the West Was Won), com elenco quase todo ele composto por grandes astros, entre eles Karl Malden interpretando com uma risível barba postiça o pioneiro ‘Zebulon Prescott’. Em sua carreira Karl Malden ainda não havia sido dirigido por John Ford, o que ocorreu em “Crepúsculo de uma Raça” (Cheyenne Autumn), despedida do Velho Mestre das suas amadas pradarias. Malden tem nesse filme de 1964 um dos principais papéis como um cruel e alcoólatra capitão da Cavalaria, com comportamento prussiano. Outro grande trabalho de Karl Malden num faroeste, outra vez como vilão foi em “Nevada Smith”, de Henry Hathaway, filme de 1966 protagonizado por Steve McQueen e com Karl Malden vivendo um bandido que ao final implora desesperadamente para ser morto por McQueen. Em 1967 Karl Malden continuou no Velho Oeste, desta vez durante a corrida do ouro na Califórnia e interpretando um simpático juiz no filme “Califórnia, Terra do Ouro” (The Adventures of Bullwhip Griffin), western-comédia dirigido por James Neilson e com Roddy McDowall como ‘Bullwhip Griffin’. Em 1968 e pelo terceiro ano seguido, Karl Malden atuou em um western desta vez intitulado “Duas Pátrias para um Bandido” (Blue), dirigido por Silvio Narizzano e protagonizado pelo inglês Terence Stamp, com Karl Malden fazendo o possível para tornar o filme interessante. O último western que contou com participação de Karl Malden foi “Os Dois Indomáveis” (Wild Rovers), de Blake Edwards num momento de folga da série Pink Panther. Os indomáveis do título são William Holden e Ryan O’Neal que decidem abandonar o patrão Karl Malden, dono do rancho onde trabalham e que inconformado procura vingança. Malden não mais voltaria ao faroeste em sua carreira no cinema de 35 anos e que se estenderia ainda por mais de duas décadas.

Karl Malden em início de carreira.
DE OPERÁRIO A ATOR - No dia 22 de março de 1912 nascia em Chicago o menino Mladen George Sekulovich, filho de pai sérvio (Petar) e mãe tcheca (Minnie) que imigraram para os Estados Unidos. Quando tinha cinco anos a família do pequeno Mladen (pais e três filhos) se mudou para a cidade de Gary, Indiana, onde o velho Sekulovich conseguiu emprego numa fábrica de aço. Apesar de ter aprendido a falar Inglês apenas aos cinco anos, o bom aluno Mladen entrou para a Emerson High School onde se destacou como jogador de basketball esporte no qual quebrou por duas vezes o nariz. Essas fraturas lhe valeram as profundas cicatrizes e o nariz deformado, obra de algum açougueiro que se fez passar por cirurgião plástico em Indiana. Mladen entrou para a Universidade de Arkansas mas não conseguiu permanecer por lá pois a bolsa conseguida foi cassada quando descobriram que ele jogava basquete e não futebol americano. O rapaz voltou então para Indiana e foi trabalhar com aço, como seu pai. Tudo indicava que Mladen seria mais um dos milhões de operários que ajudavam a fazer dos Estados Unidos a maior potência econômica mundial, não fosse o dom que ele tinha para a Arte Dramática. Com o pouco dinheiro que juntou Mldaden se mudou para Chicago onde passou a freqüentar o Instituto de Arte de Chicago e mais tarde a Goodman Theatre Dramatic School, também em Chicago. Lá Mladen conheceu a colega de classe Mona Greenberg com quem passou a namorar, conseguindo alguns trabalhos no rádio e no teatro e mesmo no cinema, onde aos 24 anos fez sua estréia numa ponta em “Charlie Chan na Ópera”, filme da série de mistério estrelada por Warner Oland.

Acima "Truckline Cafe"; abaixo Stella Adler;
Lee Strasberg; e Malden como paraquedista

 em "Rua Madeleine, 13".
BROADWAY E HOLLYWOOD - Mladen e Mona se casaram em 1938 e decidiram ir para Nova York, onde Karl se juntou ao já conhecido The Group Theatre do qual Lee Strasberg foi um dos criadores. Faziam parte desse grupo Elia Kazan, Stella Adler, Clifford Odets, e muitos outros nomes que em pouco tempo se tornariam famosos. Mladen Sekulovich fez sua estréia na Broadway na peça “Golden Boy”, que foi representada 250 vezes com elenco formado pelos atores Luther Adler, Lee J. Cobb, Howard Da Silva, Frances Farmer, Elia Kazan, Martin Ritt e Michael Gordon, os três últimos mais conhecidos anos depois como diretores de cinema. Como seu nome era quase impronunciável e precisava ser mudado, pois de feio já lhe bastava o nariz, Mladen adotou então o nome artístico de Karl Malden com o qual continuou a atuar incessantemente na Broadway com o The Group Theatre. Mesmo assim Malden ‘reestreou’ no cinema, agora com nome novo, no filme “Não Cobiçarás a Mulher Alheia”, estrelado por Charles Laughton e Carole Lombard. Na década de 40 Karl Malden atuou em 12 peças na Broadway e em apenas cinco filmes, entre eles “Rua Madelene, 13”, com James Cagney e “O Beijo da Morte”, com Victor Mature, ambos dirigidos por Henry Hathaway; e “O Justiceiro”, de Elia Kazan, com Dana Andrews. No teatro, em 1946, estreou uma peça chamada “Truckline Café” que pouca gente assistiu nas apenas 13 apresentações que durou. Karl Malden atuou nessa peça e também estava no elenco um jovem ator chamado Marlon Brando que assombraria o mundo da interpretação e se tornaria grande amigo de Malden.

Vivien, Brando, Kim Hunter e Malden;
Karl Malden e Vivien Leigh.
A CONSAGRAÇÃO NO CINEMA - Durante os anos de 1943 a 1945 Karl Malden interrompeu sua carreira para servir como sub-oficial da Força Aérea dos Estados Unidos durante a II Guerra Mundial. De retorno ao teatro, em 1947, Malden atuou numa montagem que causou enorme repercussão, escrita por Tennessee Williams e dirigida por Elia Kazan chamada “Um Bonde Chamado Desejo”, com Jessica Tandy, Kim Hunter e Marlon Brando como ‘Stanley Kowalski’. Só se falava na admiração que Marlon Brando causava com seu charme e maneira de atuar, mas ninguém deixava de notar o excelente ator que era o desajeitado e narigudo Karl Malden. A peça foi representada 855 vezes, num sucesso estrondoso e tanto Brando como Malden já eram nomes consagrados à espera de melhores oportunidades no cinema. Por sinal os produtores faziam filas nas portas dos agentes dos dois atores. Karl Malden atuou em “O Matador”, em “Passos da Noite”, com Dana Andrews e em “Até o Último Homem”, com Richard Widmark. “Um Bonde Chamado Desejo” foi grande êxito na Broadway e logo levada ao cinema com o título nacional “Uma Rua Chamada Pecado”, dirigida pelo próprio Elia Kazan e praticamente com o mesmo elenco da Broadway. Vivien Leigh substituiu Jessica Tandy e o filme concorreu a doze categorias na premiação do Oscar em 1952, ficando com quatro estatuetas, uma delas para Karl Malden como Melhor Ator Coadjuvante. O ex-forjador de aço estava consagrado como ator.

Acima Karl Malden em cenas de
"Boneca de Carne" com Carroll
Baker e Eli Wallach; com Tyrone
Power; com Montgomery Clift;
e com Brando e Eva Marie Saint
TIPOS CARACTERÍSTICOS - Nos próximos três anos Karl Malden faria nada menos que oito filmes, impressionando em todos eles com a força de sua presença e atuações marcantes, ainda que invariavelmente como coadjuvante. Os principais filmes foram “Missão Perigosa em Trieste”, com Tyrone Power; “A Fúria do Desejo”, com Charlton Heston, com Malden interpretando o marido traído de Jennifer Jones; “A Tortura do Silêncio”, de Hitchcock, com Montgomery Clift. Em “O Fantasma da Rua Morgue” Karl Malden interpretou o papel principal, ‘Dr. Marais’. Malden começou a se identificar com personagens de policiais, até que em 1954, novamente sob a direção de Elia Kazan e ao lado de Marlon Brando, Malden interpretou o 'Padre Barry', atuação que lhe valeu outra indicação para o Oscar. 'Padre Berry' era um padre muito diferente daqueles que o cinema normalmente mostrava, como aquele simpático e bondoso clérigo criado por Bing Crosby em “O Bom Pastor”. O 'Padre Berry' de Karl Malden, dava a impressão que se preciso fosse seria capaz de falar palavrões e dar uns tapas no gângster Lee J. Cobb. Malden viria a interpretar outros padres no cinema, assim como mais uma vez um marido traído em “Boneca de Carne”, outro filme de Elia Kazan, com Carroll Baker e Eli Wallach, filme que a igreja católica condenou e pediu que fosse retirado de cartaz. Malden usaria batina também em “Pollyana”, filme com Hayley Mills e em “O Grande Impostor”, com Tony Curtis, isto já nos anos 60, tempo em que atuou em “A Face Oculta”.

Malden com Burt Lancaster; em "Patton"; cego em
"O Gato de Nove Caudas"; com Michael Douglas
em "São Francisco Urgente".
POLICIAL EM SÃO FRANCISCO - Os anos 60 foram excelentes para Karl Malden, década na qual atuou em 18 filmes, cinco deles os já referidos westerns. Os melhores filmes desse período foram “O Homem de Alcatraz”, com Burt Lancaster; “Em Busca de um Sonho”, com Natalie Wood e Rosalind Russell; “A Mesa do Diabo”, com Steve McQueen. Na década de 70, quando Malden se aproximava dos 60 anos de idade ele atuou em “Patton”, protagonizado por George C. Scott. Nesse tempo muitos atores norte-americanos foram filmar na Itália, geralmente emprestando seu conhecidos nomes aos westerns-spaghetti, mas Karl Malden filmou naquele país o policial “O Gato de Nove Caudas”, dirigido por Dario Argento, com Karl interpretando um cego; e atuou na coprodução franco-espanhola “Um Verão para Matar”, interpretando um chefe de polícia. Em muitos filmes Karl Malden havia sido policial e não estranhou quando foi convidado a participar da série de TV “São Francisco Urgente” para interpretar o Tenente-Detetive Mike Stone. Porém jamais poderia supor o sucesso que a série faria, ficando no ar por cinco temporadas num total de 120 episódios. A dupla Karl Malden-Michael Douglas nunca foi esquecida pelos fãs de séries policiais da TV. Os anos 70 foram pródigos em filmes sobre grandes desastres de todo tipo e Malden atuou em “O Dramático Reencontro do Poseidon”, com Michael Caine e em “Meteoro”, com Sean Connery e Natalie Wood, filmes que não enalteceram a carreira de nenhum de seus participantes.

Malden e Brando grandes amigos em
"A Face Oculta"; 40 anos depois as opiniões
divergiram sobre Elia Kazan.
DISCÓRDIA COM MARLON BRANDO - Nos anos 80 Karl Malden chegara aos 70 anos de idade e continuava em atividade, mais na TV que no cinema. Ainda assim atuou na continuação de “Golpe de Mestre – Parte II” (sem Paul Newman e Robert Redford) e em “Querem me Enlouquecer”, em 1987, em que interpretou o pai de Barbara Streisand, filme com que Malden se despediu do cinema. Continuou, no entanto, atuando na TV, inclusive no telefilme intitulado “Back to the Streets of San Francisco”, em 1992, sem a presença de Michael Douglas então em grande evidência no cinema. Bastante querido no meio cinematográfico, Karl Malden foi eleito em 1988 presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, mantendo-se no posto até 1993. Em 1999, quando já não era mais presidente da Academia, foi um dos membros que teve a iniciativa de premiar Elia Kazan com um Oscar Honorário pela contribuição ao cinema. Malden indicou Marlon Brando para fazer a entrega do prêmio na cerimônia de 1999. Brando porém se recusou a comparecer por não concordar com o prêmio para Kazan. A entrega foi então feita por Robert De Niro.

Malden como garoto-propaganda da American
Express por 21 anos; com a esposa Mona
e abaixo com a filha Carla e a esposa Mona.
CENTENÁRIO DE NASCIMENTO - Certa ocasião, quando estava hospedado num hotel em Londres, Karl Malden teve seu quarto invadido por um ladrão que lhe roubou praticamente tudo, deixando apenas os travellers check da American Express, que estavam em nome do ator. Essa operadora de cartões resolveu então fazer de Karl Malden seu ‘garoto-propaganda’ e Malden apareceu em comerciais em jornais, revistas e na TV de 1968 a 1989, sempre com a frase “Não saia de casa sem eles”. Em suas memórias Malden disse que depois de tantos e tantos trabalhos no cinema e no teatro, somente era reconhecido nas ruas como “o homem do American Express”... Karl Malden concorreu quatro vezes ao Emmy como Melhor Ator da Televisão por sua participação na série “San Francisco Urgente”, mas acabou ganhando esse prêmio por seu trabalho no telefilme “Fatal Vision”, em 1984, no qual se reencontrou com Eva Marie Saint, que levou para o The Group Theatre nos anos 40 quando ela era uma jovenzinha. Malden ganhou ou concorreu a praticamente todos os prêmios mais importantes do cinema, mas um dos mais honrosos que recebeu foi o Golden Boot Award, que premia, desde 1983 os artistas que contribuíram para enriquecer o gênero Western, como fez Karl Malden a cada vez que colocava botas, chapéu e montava num cavalo para exibir seu talento de ator. Karl Malden ficou casado por 71 anos com Mona Greenberg, com quem teve duas filhas. A única coisa que separou o casal Malden foi a morte do ator (por velhice mesmo) em 2009, aos 97 anos, num belo exemplo aos artistas colecionadores de divórcio. Karl Malden completaria um século de vida no dia 22 de março de 2012 e CINESTERNMANIA lembra com alegria desse talentoso e inesquecível ator.

Antonio Nahud Jr. disse certa vez que o rosto de Karl Malden era
uma verdadeira caricatura. Mesmo assim Malden era o ator preferido
dos caricaturistas; no centro trabalho do Neto do blog Cinemascope.

19 de março de 2012

OS WESTERNS CAMPEÕES DE BILHETERIA


Há exatas duas décadas um western não fica entre os dez filmes de maior bilheteria do ano. A última vez que isso aconteceu foi em 1991 com o western-comédia “Amigos, Sempre Amigos”, em que o veterano Jack Palance teve participação como coadjuvante ganhando até um Oscar. Olhando-se as listas anuais dos filmes que mais levaram público aos cinemas, isto desde o início do cinema falado, percebe-se que os faroestes de modo geral não podem ser considerados sucessos de bilheteria. Esporadicamente alguns deles foram os campeões em algumas temporadas e isso aconteceu apenas por três vezes desde 1929, ou seja, nos últimos 82 anos, o que sem dúvida é pouco. Mas uma análise mais completa leva a perceber que em 59 desses 82 anos não havia nenhum western entre os dez campeões anuais de bilheteria. Parece inacreditável diante de tantos e tantos faroestes que o tempo se encarregou de transformar em obras-primas do cinema ou em verdadeiros clássicos do gênero. A pesquisa que segue foi feita com dados disponíveis na Wikipedia, números que diferem muitas vezes dos resultados publicados pela revista “Variety” ou daqueles da Chronicle of the Movies, editado em colaboração com a Kobal Collection.

CAMPEÕES DE BILHETERIA - Os três faroestes campeões foram “Viva Villa!”, de 1934, western que biografou Pancho Villa (Wallace Beery), daquele jeito que só o cinema norte-americano é capaz de fazer, com direção de Jack Conway. Em 1969 Hollywood romanceou a vida dos foras-da-lei Butch Cassidy e Sundance Kid interpretados pelos galãs Paul Newman e Robert Redford e todo mundo foi ao cinema assistir a esse filme de George Roy Hill intitulado “Butch Cassidy” aqui no Brasil. Por sinal esse é o faroeste que mais arrecadou no mundo todo em todos os tempos, segundo as estatísticas do Box-Office Mojo. O terceiro grande campeão foi a comédia-western “Banzé no Oeste”, de 1974, dirigida por Mel Brooks e com o judeu Gene Wilder e o negro Cleavon Little como os mocinhos do escrachado faroeste.

QUATRO WESTERNS VICE-CAMPEÕES - Costuma-se dizer que ser vice e ser nada é a mesma coisa, mas não deixa de ser uma honra ser o segundo filme de maior bilheteria no ano, o que apenas quatro westerns conseguiram ao longo da história do cinema falado. O primeiro vice-campeão foi o épico “Cimarron” que em 1931 foi também o vencedor do Oscar de Melhor Filme do Ano. “Cimarron” foi estrelado por Richard Dix e dirigido por Wesley Ruggles. Dez anos depois, em 1941, Errol Flynn interpretou de forma inesquecível a descaradamente irreal biografia do General Custer em “O Intrépido General Custer”, com direção de Raoul Walsh, filme que foi o segundo mais visto daquele ano. Em 1946 Gregory Peck e Jennifer Jones arrastaram-se sob o sol e arrastaram o público romântico para os cinemas em “Duelo ao Sol”, de King Vidor, transformando esse faroeste no vice-campeão de bilheteria do ano. A última vez que um western foi vice-campeão de arrecadação foi em 1963, “A Conquista do Oeste”, filme produzido no processo Cinerama, cujos ingressos custavam o dobro de um ingresso normal. Com elenco all-star e diretores do calibre de John Ford, Henry Hathaway, George Marshal e Richard Thorpe (este último não creditado), “A Conquista do Oeste” foi lançado em 1962, mas apenas em 1963, quando chegou aos cinemas normais, aqueles sem equipamento para projetar um filme em Cinerama, é que conseguiu ser o vice-campeão do ano.

JOHN WAYNE, SEMPRE SUCESSO -Medalhas de Bronze, ou seja, terceiros colocados em público, apenas dois westerns conseguiram: “Rio Vermelho”, de Howard Hawks e com John Wayne, em 1948 e “Os Brutos Também Amam”, de George Stevens e com Alan Ladd, em 1953. Com presença em seis filmes da lista, John Wayne é o ator mais constante nos westerns de sucesso, seguido por Errol Flynn e Lee Marvin, com quatro participações. Com três participações James Stewart e Jack Palance. E o lendário Clint Eastwood somente apareceu uma vez e ainda assim num western que está mais para musical. A surpresa é descobrir que Michael Curtiz é o diretor que com três westerns mais vezes apareceu nas listas anuais que mais espectadores levaram ao cinema, seguido por John Ford e Henry Hathaway com dois filmes e meio cada um (o meio se deve a “A Conquista do Oeste”. Entre as mocinhas, longe de ser uma típica heroína dos faroestes, Olivia de Havilland, apareceu nos quatro faroestes de Errol Flynn, ator com quem contracenou oito vezes. Vale a pena conhecer quais são os 28 faroestes que conseguiram a proeza de ficar entre os dez mais vistos nos anos de seus lançamentos e certamente o leitor vai notar a ausência de westerns como “Matar ou Morrer”, “Sete Homens e um Destino”, “Vera Cruz”, “Da Terra Nascem os Homens” e tantos outros que foram incontestavelmente grandes sucessos, mas não o suficiente para ficar, no ano de seus lançamentos, entre os dez campeões de bilheteria. Eis a lista:

1929 – 8.º – “No Velho Arizona” (In Old Arizona), de Irving Cummins, com Warner Baxter.

1931 – 2.º – “Cimarron”, de Wesley Ruggles, com Richard Dix.

1934 – 1.º - “Viva Villa!”, de Jack Conway, com Wallace Beery.

1939 – 4.º - “Uma Cidade que Surge” (Dodge City), de Michael Curtiz, com Errol Flynn; 6.º - “Jesse James”, de Henry King, com Tyrone Power e Henry Fonda.

1940 – 5.º - “A Estrada de Santa Fé” (Santa Fé Trail), de Michael Curtiz, com Errol Flynn; 8.º - “Caravana de Ouro” (Virginia City), de Michael Curtiz, com Errol Flynn e Randolph Scott.

1941 – 2.º - “O Intrépido General Custer” (They Died with Their Boots on), de Raoul Walsh, com Errol Flynn

1946 – 2.º - "Duelo ao Sol" (Duel in the Sun), de King Vidor, com Gregory Peck.

1948 – 3.º - “Rio Vermelho” (Red River), de Howard Hawks, com John Wayne.

1953 – 3.º - “Os Brutos Também Amam” (Shane), de George Stevens, com Alan Ladd e Jack Palance.

1956 – 6.º - “Rastros de Ódio” (The Searchers), de John Ford, com John Wayne.

1957 – 9.º - “Sem Lei e Sem Alma” (Gunfight at the OK Corral), de John Sturges, com Burt Lancaster e Kirk Douglas.

1959 – 9.º - “Onde Começa o Inferno” (Rio Bravo), de Howard Hawks, com John Wayne e Dean Martin.

1960 – 5.º - “O Álamo” (The Alamo), de e com John Wayne e com Richard Widmark.

1962 – 10.º - “O Homem que Matou o Facínora” (The Man Who Shot Liberty Valance), de John Ford, com John Wayne, James Stewart e Lee Marvin.

1963 – 2.º - “A Conquista do Oeste” (How the West Was Won), de Henry Hathaway, George Marshall e John Ford, com grande elenco.

1965 – 7.º - “Dívida de Sangue” (Cat Ballou), de Elliot Silverstein, com Lee Marvin; 9.º - “Shenandoah”, de Andrew V. McLaglen, com James Stewart.

1966 – 8.º - “Os Profissionais” (The Professionals), de Richard Brooks, com Lee Marvin, Burt Lancaster e Jack Palance.

1969 – 1.º - “Butch Cassidy” (Butch Cassidy and the Sundance Kid), de George Roy Hill, com Paul Newman e Robert Redford; 6.º - “Os Aventureiros do Ouro” (Paint Your Wagon), de Joshua Logan, com Lee Marvin e Clint Eastwood; 7.º - “Bravura Indômita” (True Grit), de Henry Hathaway, com John Wayne.

1970 – 7.º - “O Pequeno Grande Homem” (Little Big Man), de Arthur Penn, com Dustin Hoffman.

1971 – 7.º - “Mais Forte que a Vingança” (Jeremiah Johnson), de Sydney Pollack, com Robert Redford.

1974 – 1.º - “Banzé no Oeste” (Blazing Saddles), de Mel Brooks, com Gene Wilder e Cleavon Little.

1990 – 4.º - “Dança com Lobos” (Dances with Wolves), de e com Kevin Costner.

1991 – 10.º - “Amigos, Sempre Amigos” (City Slickers), de Ron Underwood, com Billy Crystal e Jack Palance.

Os atores que mais atuaram nos westerns de melhores bilheterias:
Lee Marvin, John Wayne, Jack Palance, James Stewart e Errol Flynn;
Olivia de Havilland (leading-lady de Errol Flynn) e o diretor Michael Curtis.