1 de novembro de 2011

HISTÓRIAS DO ÁLAMO - JAMES ARNESS: DOIS METROS DE INGRATIDÃO


É bastante conhecida a história de como James Arness se tornou Matt Dillon, indicado que foi por John Wayne para atuar na série "Gunsmoke". Duke havia sido convidado por Norman MacDonnell, criador da nova série a ser lançada pela CBS em 1956. Mas Wayne ganhava muito dinheiro com o cinema e não precisava da TV (nunca precisou!) e como tinha sua própria produtora, a Batjac, que mantinha sob contrato o ator James Arness que há dez anos andava atrás de melhores oportunidades. Quando John Wayne falou para o grandalhão que iria indicá-lo para MacDonnell, Arness hesitou e comentou: “Mas como é que fica a minha carreira?” Duke olhou para ele e respondeu: “Carreira? Que carreira? Você nunca vai deixar de ser coadjuvante. Seu melhor papel no cinema foi fazendo aquele papel de Monstro" (John Wayne se referia ao filme “O Monstro do Ártico”, em que Arness interpretou ‘The Thing’ (A Coisa). Arness pensou bem, assinou contrato e passou para a história da televisão com os 20 anos e 635 episódios da série, além, é claro de entrar para o rol dos milionários.

MATT DILLON SIM, SAM HOUSTON NÃO - O sonho da vida de John Wayne era filmar “O Álamo”, superprodução que deveria contar com grande elenco. James Arness já era um nome importante no cenário artístico e foi nele que John Wayne pensou para interpretar Sam Houston. Para isso Michael Wayne (filho de John) entrou em contato com Andrew V. McLaglen que costumeiramente dirigia episódios de “Gunsmoke” para que ele marcasse um encontro com James Arness. McLaglen era grande amigo de John Wayne devendo ao Duke seu início de carreira como diretor quando era também contratado da Batjac. Ficou acertada uma reunião no próprio local onde era rodada a série da CBS. John Wayne foi pessoalmente com seu filho Michael e três advogados da Batjac para acertar os detalhes do contrato para a participação de James Arness em “O Álamo”. Lá esperaram até que Arness voltasse das filmagens de mais um episódio da série. Esperaram, esperaram, esperaram e nada de Arness aparecer, até que souberam que ele havia ido embora sem dar maiores explicações. Ninguém jamais fizera isso com John Wayne, já respeitado como o maior nome das bilheterias do cinema norte-americano. O Duke desistiu ali mesmo de James Arness e, como se sabe, Sam Houston acabou sendo interpretado por outro astro em grande evidência na TV, Richard Boone de “O Paladino do Oeste”, que não só criou um inesquecível Sam Houston como também se tornou grande amigo de John Wayne com quem fez outros dois faroestes, “Jake, o Grandão” (Big Jake) e “O Último Pistoleiro” (The Shootist).

Rock Hudson e Duke ficaram amigos;
James Arness longe de John Wayne
JAMES ARNESS ESNOBA O DUKE OUTRA VEZ - “O Álamo” quase acabou com a saúde de John Wayne e os cinco maços de cigarros que ele fumava durante as filmagens desse épico se manifestariam alguns anos depois, destruindo um de seus pulmões. Ver a morte de perto ajudou a fazer de John Wayne uma pessoa ainda melhor e capaz até de esquecer ingratidões como a de James Arness. Para compensar o prejuízo que teve com “O Álamo” (o filme deu lucro, mas não para Wayne), Duke trabalhava sem parar e em 1969 iria filmar para a 20th Century-Fox um western sobre a Guerra Civil chamado “Jamais Foram Vencidos” (The Undefeated) em que um coronel nortista se torna admirador de um coronel sulista. Vale lembrar que nos contratos que John Wayne assinava havia sempre uma cláusula em que o Duke podia escolher o diretor, a leading-lady e os co-stars. O filme seria dirigido por Andrew V. McLaglen e este numa conversa com John Wayne ouviu o Duke dizer que a parte do Coronel Sulista seria perfeita para... James Arness. Andy McLaglen quase não acreditou no que ouvira, mas respeitava o tino de John Wayne para fazer ótimos faroestes e mais uma vez foi atrás de James Arness. Quando o Matt Dillon da TV ouviu a proposta exclamou: “Mas o Duke ainda pensa em mim? Ele não está mais bravo comigo?” (certamente lembrando-se do episódio de dez anos atrás). Arness inicialmente pareceu interessado no projeto e ficou de dar uma resposta, o que nunca aconteceu. E Rock Hudson, já distante dos tempos das deliciosas comédias com Doris Day, foi quem ficou com o papel. John Wayne e Rock Hudson fizeram grande amizade durante as filmagens de “Jamais Foram Vencidos” e foi uma pena que o filme de McLaglen tenha sido apenas bom e não tenha feito muito sucesso.

Na foto acima James Arness posa com Alec
Baldwin (Col. Travis) e Brian Keith (Davy
Crockett em "Álamo - 13 Dias para a Glória"




A BATALHA DO ÁLAMO NA TV - A ingratidão de James Arness com John Wayne foi proporcional ao tamanho do intérprete de Matt Dillon. Certamente sem a ajuda de Wayne, James Arness precisaria de muita sorte para se tornar um astro tão famoso e rico. Curiosamente, em 1987 foi produzido para a televisão uma nova versão da heróica defesa do Álamo, dirigida por Burt Kennedy e intitulada “Álamo – 13 Dias para a Glória” em que James Arness interpreta Jim Bowie, ficando o personagem de Sam Houston para Lorne Greene, o Benjamin Cartwright de “Bonanza”. “O Álamo” de John Wayne foi um filme com muitas histórias, entre elas essa da imperdoável ingratidão de James Arness justamente para John Wayne, o mais importante cowboy do cinema em todos os tempos. A ingratidão de James Arness foi proporcional ao seu tamanho.


3 comentários:

  1. "A ingratidão de James Arness foi proporcional ao seu tamanho"
    Tudo foi dito. Triste saber que Arness chegou a isso, pois ouvia falar justamente o oposto em sua relação ao "Duke". De qualquer forma, ninguém é perfeito, e mesmo sua ingratidão e seu tamanho já se foram com ele há 5 meses, restando apenas boas reminiscências de seu inesquecível Matt Dillon. Realmente, Wayne não merecia.

    ResponderExcluir
  2. Mas que homenzinho menor que pequeno! Que mente diminuta e que caráter derrapante! Como fazer tanto assim a quem tudo ele devia no mundo do cinema? Famoso e riquissimo em nome, claro que sim, do Duke e...Bem, deixemos isso de lado. O Duke pode ter sentido a ingratidão, mas não ficou mais pobre ou menos solidário na vida, já que deu a mão a muitos mais como McLaglen, Randy Scott, Boone, Gail Russell, o mal agradecido Arness e outros que desconheço mas que sei se fizeram saído das mãos ou ditames do Duke. Deixa para lá. A vida é assim mesmo. Você dá a mão e toma um pontapé.
    Quanto a Jamais Foram Vencidos, até que gostei da fita. Principalmente pelo conjunto que o originou; Duke, Hudson e o diretor McLaglen.
    jurandir_lima@bol.com.br

    ResponderExcluir