“O Diabo Feito Mulher” (Rancho Notorius), 1952, é um western fascinante, obra do talento de Fritz Lang e da sensualidade de Marlene Dietrich. Ele vienense e ela berlinense, aclamados pelas suas brilhantes carreiras no cinema e com belos trabalhos no gênero western que evidentemente não poderia ser o preferido de nenhum dos dois. Marlene reedita e amplia sua maravilhosa criação como “Frenchy” de “Atire a Primeira Pedra”, ainda que sem a alegria e o viço deste filme realizado 12 anos antes. Em “Rancho Notorius” Marlene estava já com 51 anos Lang, com trânsito nos mais diversos tipos de filmes, várias obras-primas expressionistas em seu tempo no cinema alemão, diversos clássicos em filmes noir, havia dirigido os faroestes “A Volta de Frank James” e “Os Conquistadores”. O início dos anos 50 propiciou diversos western muito influentes como “Flechas de Fogo”, “Winchester 73”, “Matar ou Morrer” e até mesmo “Os Brutos Também Amam”, que foi rodado em 1951 e lançado dois anos depois. “Rancho Notorius”, também se transformou em western de grande influência. A começar pelo pioneiro uso da canção “Legend of Chuck-A-Luck”, cantada por Bill Lee nos créditos e pontuando o western, o que seria feito também em “Matar ou Morrer” e em muitos outros filmes. Desnecessário dizer o quanto Nicholas Ray assistiu várias vezes o filme de Lang para realizar seu “Johnny Guitar”. E se Fritz Lang não foi o primeiro a filmar um western noir, antes dele ninguém havia se atrevido a filmar um western noir em cores. Ressalte-se que “Rancho Notorius” foi filmado exatamente no período em que Howard Hughes quebrou a RKO Radio Pictures, reduzindo drasticamente o orçamento deste e de outros filmes. Vale lembrar também que Lang e Marlene se detestavam o que em nada deve ter ajudado a fazer de “Rancho Notorius” o belo western que resultou.
Marlene e Arthur Kennedy |
Marlene, Jack Elam e Francis McDonald |
A ESTRELA DO ELENCO - Nem Arthur Kennedy ou Mel Ferrer jamais tiveram status de astros como Marlene Dietrich merecia ter coadjuvando-a em “Rancho Notorius”. Mesmo assim ambos estão bastante bem no filme, especialmente Kennedy, sempre um ator corretíssimo e intenso nas cenas dramáticas. O grande elenco de coadjuvantes é uma festa para os cinéfilos e é composto por Jack Elam (ótimo ainda em início de carreira), William Frawley (o ‘Fred Mertz’ de “I Love Lucy”), Frank Ferguson, Francis McDonald, Rodd Redwing, George Reeves (ainda na fase Super-Homem), Lane Chandler, John Doucette, William Haade, Tom London, Fuzzy Knight, I. Stanford Joley, Fred Graham, Kermit Maynard, Pierce Lyden e Harry Woods em pequena mas marcante aparição. O assassino ‘Kinch’ é interpretado por Lloyd Cough. Esse ator foi convocado pela HUAC, comissão investigadora criada por Joseph McCarthy e invocou seu direito de permanecer calado, sendo seu nome colocado na lista negra da Caça às Bruxas, exatamente quando “Rancho Notorius” foi filmado. O nefasto Howard Hughes não podendo excluir o personagem ‘Kinch’, fundamental ao filme, retirou o nome de Lloyd Cough dos créditos e cartzaes, apesar de ser este ator o quarto personagem em importância no filme. Coisas de gente que acredita que ditadores e seus lacaios possam apagar da história atos de homens de coragem como Cough. E “Rancho Notorius” é todo de La Dietrich, divina ainda aos 50 anos em seu último grande trabalho como atriz principal. Ainda a veríamos em estupendas interpretações em “Testemunha de Acusação” e em “A Marca da Maldade”, mas não tão bela e sensual como no filme de Fritz Lang. Muito do que Marlene criou em “Rancho Notorius” determinou a construção de personagens como ‘Vienna’ em “Johnny Guitar” e ‘Jessica Drummond’ em “Dragões da Violência”, mas nenhuma destas com a sensualidade de Marlene Dietrich. Só uma atriz como ela poderia convencer interpretando uma mulher do Velho Oeste com o sotaque germânico que mais irresistível a tornou. “Rancho Notorius” é, sem dúvida, um grande western em um momento maior do gênero no cinema.
Verdadeiramente O Diabo Feito Mulher é um filme marcante e muito bem feito. Falei aqui, acredito que mais de uma vez, em Barbara Stanwick fazendo Viena, no filme de Ray. No entanto, a Marlene atenderia também muito bem àquela interpretação, apesar de Barbara estar sempre em primeiro lugar para aquele trabalho.
ResponderExcluirNunca fui muito fã desta atriz. Possivelmente sua falta de beleza não me tenha feito observa-la melhor ou valoriza-la além de meus pontos a ela divergido. Não desconheço entretanto sua qualidade como atriz pois, uma interpretação como a deste filme não se deixa nas mãos de alguém sem sua qualidade. Porém ainda gosto mais dela em Testemunha de Acusação, onde tem mais qualidade e desenvoltura em seu papel, presenteando-nos com uma intrerpretação cheia de marcas positivas. Não vi Marca da Maldade, uma vez não conseguir acompanhar as legendas na TV para poder então por avalizção no seu desempenho.
jurandir_lima@bol.com.br
Eu quero assistir esse filme
ResponderExcluirO filme é ótimo eu já assisti a muito anos
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