12 de junho de 2011

POR QUE CLINT EASTWOOD VIROU AS COSTAS PARA O WESTERN?


Por mais filmes que Clint Eastwood tente sua imagem será sempre identificada com o Velho Oeste, mais especialmente com a figura do pistoleiro de poucas palavras e muitas vezes sem nome. Senão houvesse John Wayne, por certo Clint Eastwood seria sempre o primeiro nome de ator a ser lembrado quando o assunto fosse o faroeste como gênero cinematográfico. Nos anos 50 a carreira de Clint não estava indo a lugar nenhum, até que se tornou o vaqueiro ‘Rowdy Yates’ na série de TV “Rawhide”. Ainda no western Clint tornou-se célebre pelas mãos de Sergio Leone na trilogia dos dólares. Mesmo como ‘Dirty Harry’, Clint Eastwood jamais deixou de ser um cowboy na cidade grande. Alguns de seus western posteriores estão entre os melhores do cinema, como “Josey Wales”, “O Cavaleiro Solitário” e “Os Imperdoáveis”. Por sinal, o reconhecimento da crítica ao ator e cineasta Clint Eastwood confirmou-se com este último western, assim como a própria Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood lembrou que ele existia dando-lhe prêmios. Ora, por que então Clint Eastwood virou as costas para o western?

QUASE 20 ANOS LONGE DOS WESTERNS - Clint é um verdadeiro fenômeno por estar em plena atividade aos 81 anos. Seu último filme como diretor, rodado em 2011 (”J. Edgar”) biografando o discutido e eterno diretor do FBI J. Edgar Hoover deve ser lançado ainda neste ano. Depois de “Os Imperdoáveis”, filmado em 1992, Clint Eastwood participou de 16 filmes, dirigindo 15 deles (só não dirigiu “Na Linha de Fogo”) atuando em nove deles e nenhum desses 16 filmes foi um faroeste. Em “Cowboys do Espaço”, que Clint dirigiu e atuou em 2000, teve no elenco três notórios cowboys (ele próprio, Tommy Lee Jones e James Garner), transformando-os em... astronautas. Alguém que esteja lendo este texto vai dizer: “Ah, mas Clint já está velho demais para filmar um western.” Outro completará tentando justificar: “Ele é o dono da Malpaso, a produtora de seus filmes e como westerns não dão dinheiro, o produtor Clint Eastwood procura outros gêneros.” Alguns dos filmes que Clint dirigiu e/ou atuou nos últimos 19 anos, depois de “Os Imperdoáveis”, certamente foram mais difíceis de fazer que qualquer western. Quanto à questão de dinheiro, se é que nesta altura da vida Clint Eastwood ainda precisa de mais dinheiro, multimilionário que é, vale à pena fazer um rápido levantamento de quanto renderam seus filmes.

(O levantamento abaixo foi feito por Cinewestermania usando os dados do site Box Office Mojo e posteriormente sendo feita por este blog a correção da inflação até 2011. Os números apresentados são em milhões de dólares.)


Os Imperdoáveis (Unforgiven), 1992 - 182.158.000,00

Gran Torino, 2008 - 154.700.000,00

Na Linha de Fogo (In the Line of Fire), 1993 - 150.245.000,00

Menina de Ouro (Million Dollar Baby), 2004 – 119.146.000,00

Cowboys do Espaço (Space Cowboys), 2000 – 118.152.000,00

Sobre Meninos e Lobos (Mystic River), 2003 – 110.173. 000,00

As Pontes do Madison (The Bridges of Madison), 1995 – 105.540.000,00

Poder Absoluto (Absolute Power), 1997 – 70.159.000,00

Um Mundo Perfeito (A Perfect World), 1993 – 48.452.000,00

Invictos (Invictus), 2008 – 39.163.000,00

A Conquista da Honra (Flags of Our Fathers), 2006 – 37.486.000,00

A Troca (The Challenging), 2008 – 37.332.000,00

Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal (Midnight in the Garden of Good and Evil), 1997 – 35.179.000,00

Além da Vida (Hereafter), 2010 – 33.744.000,00

Dívida de Sangue (Blood Work), 2002 – 32.798.000,00

Crime Verdadeiro (True Crime), 1999 – 22.475.000,00

Cartas de Iwo-Jima (Letters from Iwo-Jima), 2006 – 15.346.000,00


Como vemos, nenhum dos filmes em que Clint Eastwood atuou e/ou dirigiu depois do sucesso do western “Os Imperdoáveis” chegou perto deste que foi o último western de sua carreira. A conclusão lógica é que o afastamento de Clint Eastwood dos westerns não foi por razões financeiras. Fosse para ganhar mais dinheiro a Malpaso deveria ter produzido muitos outros faroestes, ao invés dos tantos fracassos que foram muitos dos filmes de Clint Eastwood posteriores a “Os Imperdoáveis”. E pode ser chamado de fracasso qualquer filme que não arrecade acima de 50 milhões de dólares. Vale à pena, também, conhecer quanto renderam nas bilheterias, sempre em valores corrigidos, todos os westerns em que Clint Eastwood atuou e/ou dirigiu em sua carreira:


Doido para Brigar, Louco para Amar (Every Which Way But Loose), 1978 – 293.881.000,00

Punhos de Aço (Any Which Way you Can), 1980 – 192.936.000,00

Os Imperdoáveis (Unforgiven), 1992 – 182.158.000,00

Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo), 1967 – 169.016.000,00

Josey Wales, o Fora-da-Lei (Outlaw Josey Wales), 1976 – 126.694.000,00

Por uns Dólares a Mais (For a Few Dollars More), 1967 – 101.005.000,00

Por um Punhado de Dólares (A Fistful of Dollars), 1967 – 97.638.000,00

Os Aventureiros do Ouro (Paint Your Wagon), 1969 – 88.859.000,00

Cavaleiro Solitário (Pale Rider), 1985 – 86.555.000,00

A Marca da Forca (Hang ‘Em High), 1968 – 71.090.000,00

O Estranho Sem Nome (High Plains Drifter), 1973 – 79.527.000,00

Bronco Billy (Bronco Billy), 1980 – 66.229.000,00

Joe Kid (Joe Kid), 1972 – 34.058.000,00

Os Abutres têm Fome (Two Mules for Sister Sara), 1970 – 31.881.000,00


Os dois maiores sucessos da carreira de Clint Eastwood foram as comédias “Doido para Brigar, Louco para Amar” e “Punhos de Aço” que não são exatamente faroestes. No entanto são filmes rurais e a persona do ‘Man With No Name’ está presente em ambas, faltando só o poncho e a cigarrilha para completar o Clint dos faroestes. A trilogia dos dólares aparece aqui com o ano de 1967 porque nos Estados Unidos esses três filmes foram lançados ao mesmo tempo, em 1967. Vale lembrar ainda que todas as cifras referem-se apenas ao mercado norte-americano. Como se sabe, no mundo todo, especialmente na Europa, a trilogia dos dólares de Sergio Leone foi estrondoso sucesso de bilheteria.

JOHN WAYNE, EXEMPLO NÃO SEGUIDO - Talvez a resposta para a pergunta ‘Por que Clint Eastwood virou as costas para o western?’ fosse a intenção de mostrar ao mundo que ele é muito mais que apenas um ator ou diretor de faroestes. Se esse foi o objetivo de Clint, a meta foi foi alcançada apenas em parte porque para a história do cinema Clint Eastwood entrou e vai permanecer como um cowboy. E perderam os fãs de westerns com a precoce despedida feita em “Os Imperdoáveis”. Mal comparando lembramos que John Wayne estava bastante doente em seu derradeiro filme “O Último Pistoleiro”, ou seja, nunca abandonou o western. Por isso também jamais John Wayne deixará de ser a própria definição do cowboy no cinema.

5 comentários:

  1. Levantamento salutar, perfeito e oportuno. Também a hipótese da auto afirmação (provar que ele não é bom apenas fazendo faroestes) é válida, além de muito verdadeira. Esta sua auto afirmação apenas o dirigiu a fazer alguns filmes certinhos, agradáveis, mas tendo em todos eles uma caracteristica única. o nome Clint Eastwood. Foram filmes sem muitas manchas, catados por ele a dedo, mas que pouco renderam moedas e também lembranças. Digo; somente lembramos de Clint nos faroestes que fez, assim como somente revemos os seus westerns. Eu mesmo vejo tudo que ele faz. Até gosto. Mas nunca vi duas vezes nenhum filme dele a não ser os westerns. E, como eu, todo um conjunto de apreciadores do melhor que o cinema já fez, que foram os faroestes. Faroestes fez o nome deste querido ator/diretor. Mas ele foi ingrato para com o gênero que o lançou ao mundo. Até para com o Leone, a quem ele deve tudo em sua carreira, ele está sendo ingrato. Não são um, dois, dez anos fora dos westerns.São
    vinte! Vinte! E não tem esta de idade mesmo. O Fonseca citou certissimo; Duke fez seu ultimo filme um western. E mais; ele estava às portas da morte. Mas estava lá, fiel, durão, invergável em deixar o que lhe deu nome, atuando até não mais poder estar de pé.
    Uma pena Clint não ter percebido que o Duke fez tudo isso. E quase que com a mesma idade que tem nosso velho Eastwood.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  2. Parabéns pelo blog, está muito bom. Esta primeira foto com o Clint Eastwood está sensasional!!

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  3. Penso que Eastwood não fez mais nenhum western porque lhe falta uma grande história. Se ela pintasse ele certamente o faria.
    Eastwood faz quase um filme por ano atualmente. Parece correr contra o tempo, querendo se expressar de maneiras diversas em gêneros diferentes.
    Seu próximo filme será a refilmagem do drama/musical "Nasce uma Estrela", cuja versão mais famosa e bem sucedida foi a com Judy Garland e o genial James Mason.

    Voltando ao início, ele só faria outro western se uma boa idéia surgisse. Porque "Os Imperdoáveis" é um filme tão perfeito e coerente com sua trajetória que dificilmente ele iria arriscar-se a fazer outro western que não tivesse qualidade artística igual ou superior àquele. Talvez ele acredite que já tenha esgotado o filão.

    Como todo fã, gostaria muito que ele "encontrasse" um bom roteiro e nos brindasse que outro bom bang-bang.
    Mas entendo que ele talvez queira ter encerrado sua contribuição ao gênero com aquela obra-prima.

    Recentemente especulou-se que Tarantino o queria para uma partipação em seu novo filme, "Django Unchained" que apesar de ter como tema a escravidão nos estados do sul dos EUA, será todo ele nos moldes do western, homenageando um gênero do qual o diretor é fã.
    Seria ótimo que o velho "pistoleiro sem nome" aceitasse essa participação, ou outra semelhante, em algum western futuro.

    Edson Paiva

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  4. Não se pode sair julgando a torto e a direito, mas, pra mim, Clint é um tanto malagradecido. Às vezes parece ter vergonha de ser lembrado pelo que fez na Europa (diga-se de passagem, o seu melhor).
    Querendo ou não, em termos de diretor, ele aprendeu muito, mas não é nem a sombra do talento de Leone. E tudo que ele conseguiu no cinema se deve em primeiro lugar ao Sergio, depois sim ao seu grande talento como ator de westerns.
    Leone, com a chance que ele tem por ser americano, teria feito coisas inimagináveis pelo cinema. Pena que talento não é sempre tão importante no mundo dos homens.

    Bela matéria, Darci!

    Abraço!

    LeMarc

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