7 de maio de 2011

"RESGATE DE BANDOLEIROS" (THE TALL T) - OPUS 2 DE UMA BRILHANTE TRILOGIA


Todos sabemos que há filmes que a cada vez que são assistidos revelam mais e mais seus defeitos. Em contrapartida, há também aqueles filmes que melhoram a cada revisão. É o caso de “Resgate de Bandoleiros” (The Tall T), cujas qualidades fazem dele um excepcional pequeno western. Não sem razão, os filmes dirigidos por Budd Boetticher a partir de roteiros de Burt Kennedy e interpretados por Randolph Scott ocupam hoje merecido lugar de destaque na centenária história cinematográfica do faroeste. O roteiro de “Resgate de Bandoleiros” baseou-se em uma história de Elmore Leonard, que escreveu, entre outras boas histórias, “Hombre”, “O Retorno de Valdez” e “Galante e Sanguinário” (3:10 to Yuma). A novela de Leonard chamava-se originalmente “The Captives” (Os Prisioneiros) e transcrita para o cinema por Burt Kennedy deveria se chamar “The Tall Rider”. Chegou às telas, porém, como “The Tall T” e muito se especula sobre o significado desse “T”, sendo o mais provável que seja “T” de terror em razão da morte iminente de alguns personagens da história. Porém esse é um detalhe irrelevante diante da grandeza do filme que foi um dos poucos westerns escolhidos para serem preservados pela Biblioteca do Congresso Norte-Americano, no ano 2000, por sua significância histórica, cultural ou estilística.

O ESTILO DE BUDD BOETTICHER – E é justamente o estilo de filmar de Budd Boetticher que mais interessa ao westernmaníaco. Seus westerns são comumente ásperos, quando não sombrios e desoladores, quase sempre rodados na aridez de Alabama Hills, onde as infinitas formações rochosas ajudam a embrutecer um pouco mais os personagens. A concisão é outro elemento permanente nos westerns de Boetticher, razão essa determinada, por certo, pelo pequeno orçamento de cada produção. Essa característica, no entanto, não impede que a brevidade dos diálogos seja sempre rica e profunda no significado de cada frase ou palavra. O laconismo de Randolph Scott se ajusta com perfeição a esse estilo pois quando seus personagens se expressam, delineiam inteiramente a si e aos que o cercam, sejam eles pessoas de bem ou malfeitores. A quase ausência de ação, reservada inevitavelmente para o epílogo é também marca registrada de Boetticher nos projetos em colaboração com Scott e Kennedy. Porém, quando ela acontece é sempre brilhantemente concebida, justa, emocionante e sem excessos.

RESGATANDO A PRÓPRIA VIDA – “Resgate de Bandoleiros” se inicia com uma homenagem a “Os Brutos Também Amam” e conta como Pat Brennan (Scott) acaba envolvido involuntariamente no sequestro do casal Doretta (Maureen O’Sullivan) e Willard Mims (John Hubbard), sequestro praticado pelos assaltantes de diligências Frank Usher (Richard Boone), Chink (Henry Silva) e Billy Jack (Skip Homeier). Consumado o sequestro o trio exige 50 mil dólares pelo resgate do casal, quantia que deve ser paga pelo rico pai de Doretta. Conseguido o dinheiro Usher, que é o chefe do bando, determinará a fria execução do casal e também de Pat Brennan, testemunha acidental do sequestro. Inicialmente o acovardado Willard Mins é assassinado após fazer o contato com o pai de Doretta. Na sequência, o bandido Frank Usher age de forma estranha, retardando a execução de Brennan pois este exerce sobre ele um estranho fascínio. Essa demora possibilita uma reviravolta na situação e, ao final, Doretta e o solitário Brennan não só sobrevivem ao terror imposto pelos bandidos como terminam o filme juntos.


RANDOLPH SCOTT ESQUECENDO O GOLFE – É bastante conhecida a quase displicência como ator de Randolph Scott na fase final de sua carreira. Sua preocupação maior era jogar golfe e ele encarava o cinema da forma mais profissional possível, isto somado ao fato de não ser um ator de grandes recursos interpretativos. Em “Resgate de Bandoleiros”, no entanto, Randy está excepcionalmente bem, fazendo de Pat Brennan um personagem marcante em sua longa carreira. As sequências em que contracena com Richard Boone são primorosas no embate moral que ambos travam e nas confidências que fazem. Boone, mais uma vez dá uma dimensão incomum à figura de um malfeitor, o que é uma constância em suas caracterizações como vilão. Longe dos dias que encantava (e provocava) o mundo como Jane, Maureen O’Sullivan é a única figura feminina do elenco. Isso faz com que sua personagem desperte nos jovens Skip Homeier e Henry Silva os naturais desejos masculinos há muito represados. E a grande cena de Maureen em “Resgate de Bandoleiros” é justamente quando um dos bandidos se projeta sobre ela para estuprá-la. Homeier e Silva estão igualmente bem em suas participações e outro destaque é Arthur Hunnicutt, num papel pequeno mas que lhe permite mostrar o excelente coadjuvante que era.

TRÊS WESTERNS INDISOCIÁVEIS - A.C. Gomes de Mattos diz em seu livro “Publique-se a Lenda: a História do Western”, que “Resgate de Bandoleiros” é o faroeste quintessencial de Budd Boetticher. Outros críticos igualmente reverenciam esta obra que não pode ser dissociada dos pequenos grandes westerns que são “Sete Homens Sem Destino” e “O Homem Que Luta Só”, todos da colaboração Boetticher-Kennedy-Scott pois os três filmes formam um irretocável conjunto de brilhante exercício cinematográfico. E ficamos a imaginar como seria um western de Budd Boetticher com um orçamento que fugisse do rotineiro limite de cem mil dólares que lhe era imposto. Ou se contasse com um daqueles atores que arrebatavam as platéias como Kirk Douglas, Burt Lancaster ou Gregory Peck, sem falar em John Wayne. Como nada disso foi possível, resta ao westernmaníaco e ao fã de cinema em geral, ser testemunha do incrível talento desse lendário Budd Boetticher.

Um comentário:

  1. Fazem dois dias que reassisti a Resgate de Bandoleiros na SKY.
    Não o acho um filme insignificante, mesmo porque, se o fosse, eu não o teria assistido pela decima ou mais vezes.
    Acho a presença de Boone sempre marcante onde quer que apareça (vide Hombre), e Scott sempre com aquele jeitão de quem no final vai se sair bem dando conta das dificuldades que lhe cercam.
    Pelo elenco diminuto, por todas suas limitações como, por exemplo, uma produção de custos limitadissimo (acho que de cem mil dólares), por sua dimensão (pouco mais de uma hora) e por toda uma economia visível como ele é confeccionado, eu o acho até que um filme com qualidades, apesar de estar longe, muito longe, do que acabo de ler no tópico acima. Isto, claro, dentro de minha visão, pois não sou critico profissional e não tenho, portanto, uma aguçez acentuada para apanhar performances profissionais como estes grandes e invejados, por mim, magnificos profissionais do ramo.
    Porém tenho, não apenas Resgate de Bandoleiros, como Um homem que luta só e O laço do Carrasco, dentro de uma patamar de igualdade no referente a densidade, um pouco abaixo das captadas por muitos croiticos nestas peliculas. O que não tenho o direito de discordar, pois se trata de homens curtidos e muito envolvidos na arte de cinema.
    Estou aguardando para rever Sete homens sem destino, que os grandes criticos e especialistas citam como, não só a melhor coisa feita pelo trio Scott/Kennedy e Boeticher, como um dos melhores faroestes que os americanos já fizeram.
    Como creio piamente e tenho confiança nestes homens de bons critérios e de gostos apurados, fico aqui ansioso para rever este filme.
    jurandir_lima@bol.com.br

    ResponderExcluir