27 de maio de 2011

A PASSAGEM DO DIABO (Devil's Doorway) - O ÍNDIO DIGNO DE ANTHONY MANN

Atribui-se a “Flechas de Fogo” (Broken Arrow), de Delmer Daves, filmado em 1950 e produzido pela 20th Century-Fox, haver sido o primeiro western a tratar o índio norte-americano com o respeito jamais obtido no cinema. Até então prevalecia a filosofia do General Sheridan que “índio bom é índio morto”. Porém no mesmo ano de 1950 foi exibido “A Passagem do Diabo” (Devil’s Doorway), de Anthony Mann, filme que também trata da questão do índio de forma isenta do preconceituoso, odioso e até então eterno parcialismo de Hollywood. “Flechas de Fogo” foi exibido nos Estados Unidos em agosto de 1950, enquanto “A Passagem do Diabo” foi exibido em setembro do mesmo ano. Ocorre que o filme de Anthony Mann, produzido pela Metro-Goldwyin-Mayer foi rodado em 1949 e estranhamente deixado na prateleira. A MGM sempre foi o mais comportado dos grandes estúdios e certamente deve ter sido um choque para Louis B. Mayer quando se deparou com o western do jovem diretor e a abordagem de assunto tão delicado que era a dignidade dos índios. Vivia-se em 1950 um período difícil da vida política norte-americana, início da caça às bruxas com o nefasto Macarthismo. Um cineasta precisava ser muito corajoso para fazer determinados filmes. O que não faltava a Anthony Mann era coragem e deve ser creditado a ele, historicamente, o primeiro western a falar da questão indígena com simpatia. Simpatia e pessimismo. Os posteres para diferentes mercados cinematográficos mostram com clareza o receio de melindrar o povo que massacrou milhões de índios. Só em cartazes europeus vemos que o herói de “A Passagem do Diabo” era índio.



PARA OS BRANCOS TUDO, PARA OS ÍNDIOS A MORTE - Guy Trosper foi um roteirista de quem pouco se fala e que morreu cedo, aos 52 anos, em 1963. Trosper sempre gostou de escrever sobre a vida atribulada de alguns homens e são seus os roteiros de “A Face Oculta”, “O Homem de Alcatraz”, “Prisioneiro do Rock” e até o malfadado “O Americano”, filmado no Brasil com Glenn Ford em 1955. Anthony Mann, por sua vez, já era um experiente diretor com mais de 20 filmes rodados, muitos deles thrillers noir, quando decidiu que era hora de fazer westerns. E começou em grande estilo, pois em 1950 foram lançados nada menos que três faroestes seus: “Winchester 73” em julho, “Almas em Fúria” em agosto e, como já foi dito, “A Passagem do Diabo” em setembro, este com certo atraso. O encontro de Guy Trosper com Anthony Mann foi muito positivo e deu margem à história de Lance Poole (Robert Taylor), um índio soshone que serviu à Cavalaria dos Estados Unidos durante a Guerra Civil. Findo o conflito fratricida e após ser condecorado com a Medalha de Honra do Congresso pelo heroísmo demonstrado em diversas batalhas, Lance retorna para Wyoming, onde sua tribo possui terras. Essas terras são valiosas porque os homens brancos criadores de carneiro querem esses espaços excelentes para pastagem. Começam as artimanhas para que os brancos se apossem das terras dos soshones, negociações essas comandadas pelo inescrupuloso advogado Verne Coolan (Louis Calhern). Após a morte de Thundercloud (Chief John Big Tree), o chefe da tribo soshone, Lance Pole assume a posição de líder e entende que deve lutar por seus direitos. Lance procura a Justiça fazendo-se representar pela jovem advogada Orrie Masters (Paula Raymond), mas Washington delibera que os índios não devem ter direitos sobre terras que sejam de utilidade para os brancos. Com a experiência adquirida nas batalhas da Guerra Civil, Lance Poole defende as terras que foram de seus ancestrais utilizando técnicas militares do Exército. Porém com a chegada da Cavalaria para ‘apaziguar’ os soshones, estes são dizimados e o sonho de permanecer em suas terras é destruído. Lance Poole sucumbe vestido com a sua farda de sargento da Cavalaria e com a condecoração recebida no peito.



ROBERT TAYLOR, UM BRAVO ÍNDIO - Robert Taylor foi um dos grandes galãs do cinema norte-americano e teve nos braços atrizes como Greta Garbo, Vivien Leigh, Liz Taylor, Cyd Charisse, Deborah Kerr, Lana Turner e Ava Gardner, ou seja, algumas das mais lindas mulheres de Hollywood. Sua imagem de galã de cabelo abrilhantinado e o bigode meticulosamente aparado marcou toda uma geração de fãs. Em “A Passagem do Diabo” o Robert Taylor que vemos é completamente diferente: a pele escurecida e nenhum glamour o tornam aceitável como um índio apesar dos traiçoeiros e indisfarçáveis olhos azuis. Este não foi o primeiro western de Robert Taylor que já havia atuado em “Amor de Espia” (Stand Up and Fight), em 1939; como Billy The Kid em “Gentil Tirano”, de 1941; e em “Armadilha” (Ambush), em 1949. Robert Taylor interpreta com incomum intensidade o personagem Lance Poole, isto num tempo em que o ator estava pronto para denunciar colegas diante da comissão que apurava quem era vermelho no cinema. E quem se apaixona por Robert Taylor em “A Passagem do Diabo” é a bonita mas quase desconhecida Paula Raymond, cuja carreira no cinema não decolou, passando a atuar na televisão. Quem interpreta o tendencioso advogado é Louis Calhern, sempre ótimo em interpretações de homens simpáticos ou como tipos pouco confiáveis. No elenco ainda James Mitchell como o índio Red Rock, Edgar Buchanan, Rhys Williams, Spring Byington e James Millican.


A EXPOSIÇÃO DA CRUELDADE - Apenas com “A Passagem do Diabo” já seria possível antever o tratamento que Anthony Mann daria a quase todos os personagens de seus próximos westerns. Nenhum deles escapou de ter explorados seus conflitos íntimos revelando sempre que o Velho Oeste era sim, lugar de seres humanos chamados de cowboys. Vindo de uma série de filmes mais intimistas, Anthony Mann explora em “A Passagem do Diabo” os grandes espaços (a referência é Wyoming) de Aspen, na Califórnia. Muito boas cenas de ação como a violenta luta entre Lance Poole e Ike Stapletton (James Millican), a persegução dos índios à caravana dos criadores e ainda as sequências de batalha com explosivos sendo atirados no rebanho de carneiros. O extermínio dos soshones é mostrado de forma cruel e torna-se ainda mais triste com o uso de pouca luz, o suficiente para que seja vista a tragédia de mais um massacre. Pouco convincente, no entanto, a cena final com a morte do ferido índio Lance Poole fardado como herói da Cavalaria. Anos mais tarde, de forma épica Anthony Mann recriaria numa belíssima superprodução essa imagem com a figura lendária de El Cid, que de Lance Poole tinha em comum a coragem, determinação e senso de justiça.

3 comentários:

  1. SOMETIMES I WONDER. MAMMAS DON`T LET YOUR BABIES GROW UP TO BE COWBOYS. BEWARE THE RED SKINS.

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  2. O que o companheiro acima quiz diser sobre o filme. Comentário tosco para um filme nque sinceramente não curto. Mas, o que tem a ver dizer que a mae não quer que o filho cresça cowboy. Vou procurar este filme para rever mas acredito que não vou mudar minha opinião. Qualé LAST TRAIN. Responda-me por favor

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  3. Esse tal de LAST TRAIN... é doido.

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