Grandes nomes do cinema começaram suas vidas artísticas no rádio. John McIntire, no final dos anos 30 e início dos anos 40, era locutor do famoso programa intitulado “A Marcha do Tempo”, da CBS. Mais tarde “A Marcha do Tempo” chegou ao cinema como cinejornal. John possuía uma excelente voz que ressoava fortemente nos momentos em que ele escandia as sílabas para dar ênfase ao noticiário. Como o rádio era o mais forte veículo de comunicação, a mesma CBS podia abrir espaço para programas de vanguarda como o The Mercury Theatre, liderado por um jovem criativo chamado Orson Welles. O grupo de Welles tinha no elenco uma atriz chamada Jeanette Nolan. E foi nos corredores da CBS que John McIntire e Jeanette Nolan se conheceram, casando-se em 1935, ele com 28 anos e ela com 24. John e Jeanette viveriam juntos e felizes por longos 56 anos, até a morte de John em 1991. Assim como o casamento, as vidas artísticas de John e Jeanette foram das mais bem sucedidas de Hollywood.
O famoso Winchester 73 |
OS MUITOS WESTERNS DE McINTIRE – John McIntire estreou no cinema como narrador (só sua voz era ouvida), em “Mercador de Ilusões” (com Clark Gable), em 1947. No ano seguinte seu rosto seria visto pela primeira vez nas telas em “Sublime Devoção” (com James Stewart). A seguir John, também em 1950, encontrou-se com Anthony Mann em “Winchester 73”. E seria dirigido por esse diretor em outros dois ótimos westerns que foram “Região do Ódio” e “O Homem dos Olhos Frios”. John McIntire saia-se otimamente tanto desempenhando pessoas do bem quanto vilões. Podia ser o mais íntegro dos homens com a mesma espontaneidade que encarnava um detestável vilão. Pouco a pouco John foi se tornando um disputadíssimo coadjuvante, especialmente em westerns os quais fez aos montes como: “Caravana de Mulheres”, com Robert Taylor; “Império do Pavor”, com Robert Ryan; “Bando de Renegados”, com Rock Hudson; “A Grande Audácia”, com Jeff Chandler; “O Último Bravo” (Apache), com Burt Lancaster; “O Derradeiro Assalto”, com Rory Calhoun; “O Morro da Traição”, com Lex Barker; “O Cavaleiro Misterioso”, com Joel McCrea; “Homem até o Fim”, estrelado e dirigido por Burt Lancaster; “Rastros da Corrupção”, com Jeff Chandler; “Punido Pelo Próprio Sangue", com Richard Widmark; “Luz na Floresta”, com Fess Parker; “Matar por Dever”, com Audie Murphy; “Estrela de Fogo”, com Elvis Presley; “A Noite dos Pistoleiros”, com Dean Martin. Mesmo sem ser creditado, John McIntire pode ser visto em “Cat Ballou”. E John McIntire disse adeus aos faroestes com um desempenho memorável em “Justiceiro Implacável”, em que como o Juiz Parker passa uma inesquecível descompostura em Rooster Gogburn (John Wayne).
HERDANDO PAPÉIS NA TV - A carreira de John McIntire foi pontuada por participações em grandes filmes como “O Segredo das Jóias”, de John Huston; “Psicose”, de Alfred Hitchcock; “Entre Deus e o Pecado”, de Richard Brooks. John foi ainda pai de Clint Eastwood em “Honkytonk Man”, dirigido pelo próprio Clint em 1982. John McIntire atuou bastante também na TV e é interessante lembrar algumas de suas passagens na telinha: Quando Ward Bond faleceu, John McIntire herdou o papel de chefe da caravana na série “Caravana”. Anos mais tarde na série “O Homem de Virginia”, quem veio a falecer foi Charles Bickford (John Grainger) e lá estava John McIntire para substituí-lo como seu primo (Clay Grainger). As participações de John McIntire na televisão ajudaram a torná-lo conhecido também das novas gerações.
Lady MacBeth, com Orson Welles |
A CARREIRA DE JEANETTE NOLAN – A estréia de Jeanette Nolan no cinema ocorreu em 1948 e foi bastante auspiciosa pois, outra vez pelas mãos de Orson Welles, ela protagonizou Lady Macbeth na versão de “Macbeth”, dirigida por Welles. Jeanette Nolan não fez tantos westerns quanto seu marido, mas ela pode ser vista em “Mulheres em Perigo”, com Glenn Ford; “Honra a um Homem Mau”, com James Cagney; “Ódio Contra Ódio”, com Ward Bond; “O Renegado do Forte Petticoat”, com Audie Murphy. Jeanette atuou duas vezes com Randolph Scott nos westerns “O Laço do Carrasco” e “O Fantasma do General Custer”. Depois de tantas participações no gênero preferido de John Ford, Jeanette esteve sob as ordens do Mestre das Pradarias em um dos melhores westerns de todos os tempos que foi “O Homem que Matou o Facínora”. Fora dos faroestes merece ser lembrada a grande atuação de Jeanette em “Os Corruptos”, de Fritz Lang. Experimente, caro leitor, dizer o nome de um seriado de TV no qual Jeanette Nolan não tenha participado de pelo menos um episódio. Jeanette atuou em praticamente todos nos mais de 50 anos como atriz. Uma dessas séries ao lado do marido John McIntire.
Um grande momento de Jeanette Nolan no cinema em "Os Corruptos" e depois em "O Homem que Matou o Facínora" |
JEANETTE E JOHN JUNTOS – Logo no início de carreira o casal McIntire se encontraria nas telas no western “O Paladino dos Pampas”, de 1950 (com Joel McCrea), filme no qual não tiveram nenhuma dificuldade para interpretar papéis de marido e mulher... Dez anos depois estariam juntos em “Psicose”. E aquele leitor mais atento vai dizer que ela não atuou nesse clássico do suspense, o que é meia verdade. Em “Psicose” John interpretou o Sheriff Chambers, e isso todo mundo lembra, mas sabem de quem era a tétrica voz da mãe de Norman Bates? Para fazer aquela voz aterrorizadora Hitchcock chamou Jeanette Nolan, não dando a ela crédito no filme. Veio depois “Terra Bruta”, de John Ford, com Jimmy Stewart e Dick Widmark, com o casal McIntire no elenco. Em “Bernardo e Bianca”, grande sucesso em desenho animado da Disney Productions, John e Jeanette emprestaram suas vozes para os personagens de Ellie Mae e Rufus. Sempre ocupados com produções para a TV, John e Jeanette participaram de “As Novas Filhas de Joshua Cabe”, no qual John McIntire interpretou o Sheriff Joshua Cabe. Entre outras vezes em que o casal McIntire se encontrou na TV vale lembrar a série “O Homem de Virginia”, na qual John McIntire participou de 69 episódios e Jeanette Nolan atuou em 28, muitos deles contracenando com seu marido. O encontro final do casal McIntire nas telas foi em “Os Heróis não tem Idade”, piloto de uma série de TV, em que um garoto viciado em video-game se torna um herói imaginário. Positivamente esse já não era um espaço apropriado para atores do quilate de John e Jeanette.
UM CASAL DIFERENTE – Os McIntire tiveram um casal de filhos que tentaram a carreira dos pais. A filha Holly não foi muito longe, enquanto o filho, Tim McIntire, era talentoso como pode ser visto em sua estréia no cinema como um dos filhos de James Stewart em “Shenandoah”, Tim era ainda, inspirado compositor e uma de suas baladas chamada “Jeremiah Johnson” encerra o filme “Mais Forte que a Vingança”, com Robert Redford. Outra bela canção de Tim McIntire é “Kid Blue”, composta para o filme “Kid Blue não Merece a Forca”, com Dennis Hopper. Tim McIntire faleceu em 1986, aos 41 anos. Hollywood, a capital do cinema é também conhecida como a “capital mundial do divórcio” pois raramente casais de artistas dão atenção à famosa frase “até que a morte nos separe”. No entanto John e Jeanette compuseram um dos casais mais felizes de Hollywood e a união só acabou com a morte de John McIntire em 1991, aos 83 anos. Jeanette faleceu em 1998, aos 86 anos. Eles deixaram uma lição dificil de ser aprendida que é como ser feliz no casamento. E deixaram outra lição talvez mais difícil ainda que é dividir igualmente os talentos, sem que ciúme ou inveja prejudiquem a carreira artística do cônjuge. E minimizamos a saudade do casal McIntire revendo seus sempre excelentes trabalhos nos filmes preferidos dos westernmaníacos.
Um belo casal e um belo par de excelentes astros. Vi dezenas de fitas com ambos, mas não me recordo de tê-los visto atuando juntos.
ResponderExcluirUm casal muito pouco falado nas rodas de cinema, mas que viveram juntos 56 anos, superando muitos felizes casamentos tão comentados no reino de Hollywood, somente sendo separados pela derradeira viagem.
Foi perfeita a colocação do editor ao comentar que McIntire interpretava com a mesma perfeição se fazia pepeis do lado ou contra a lei.
E aquele sermão que passou no Duke em Bravura Indômita, taxando-o de beberrão, de matador, pois preferia matar seus perseguidos a traze-los vivos, de não cumpridor legal das leis, dentre outros adjetivos, que pos o bom agente da lei, Rooster Cogburn, ouvindo a tudo de cara vesga e sem dar um pio. Mais um magnifico momento deste sensacional John McIntire.
jurandir_lima@bol.com.br
Minha lembrança de John MacIntire é da presença de um familiar nos westerns, ele atuava ao lado dos grandes nomes com muita facilidade e naturalidade. Sua interpretação passava um realismo incrível, coisa que somente os grandes atores conseguem fazer e aparentemente sem grande esforço. Desconhecia seu casamento que durou 56 anos até sua morte, trata-se de um belo exemplo de vida, que deve ter refletido
ResponderExcluirem seu trabalho, ele era um ator que demonstrava muita segurança e equilibrio frente as telas. Sentimos falta hoje em
dia desses atores que conseguiam se destacar apenas com seu talento e tornaram o western um genero inesquecivel.SC
Pois é, SC. John teve como esposa a ótima Jeanette Nolan que você pode ver com destaque em Os Corruptos e na obra-prima O Homem que Matou o Facínora. O filho do casal, Tim McIntire, acabou sendo mais uma vítima das drogas.
ResponderExcluirDarci