Mel Brooks queria que sua engraçadíssima comédia “Banzé no Oeste” tivesse uma introdução parecida com a daqueles grandes westerns dos anos 50. Para isso colocou um anúncio nos jornais convocando cantores que imitassem a inconfundível voz de Frankie Laine. Entre os diversos candidatos apareceu um senhor de 60 anos que queria falar com Mel Brooks. Mel reconheceu imediatamente que aquele risonho senhor era Frankie Laine e passada a surpresa inicial explicou a ele que o filme seria uma paródia aos faroestes e por isso não o procurou diretamente. Frankie que era admirador dos filmes de Brooks pediu para ver a letra da canção-título “Blazing Saddles”, cuja tradução é qualquer coisa parecida com selas incandescentes. Frankie com sua conhecida e empolgante categoria cantou a canção e Mel mandou dispensar a fila de candidatos. A comédia tornou-se clássica, inclusive pelo impactante início com Frankie cantando enquanto surgem os letreiros iniciais.
O SUCESSO COM “HIGH NOON” - A relação de Frankie Laine com o western tinha mais de três décadas e começou com “Matar ou Morrer” (High Noon), a obra-prima de Fred Zinnemann. Quem cantou a marcante canção-título naquele filme de 1952 foi o cowboy-cantor Tex Ritter. O western fez sucesso e Frankie Laine, que já era um cantor consagrado, gravou “High Noon” sem maiores pretensões. O original de Tex Ritter vendeu meia dúzia de discos dessa música, enquanto a gravação de Frankie bateu no milhão de cópias. Muitos que assistiram “Matar ou Morrer” pela primeira vez nas reprises sentiam-se frustrados pois a gravação que se ouvia não era o fenomenal sucesso de Frankie Laine. Esse excepcional cantor de voz poderosíssima (e nem por isso chato como a maioria dos cantores cujas vozes têm grande alcance) não era exatamente um cantor de canções Country & Western. O apelido de Frankie Laine era Mr. Rhythm (Senhor Ritmo) e ele era considerado um dos melhores cantores da América, isto em um tempo em que a concorrência era com gente do porte de Bing Crosby, Sinatra, Nat King Cole, Tony Bennett, Dick Haymes e outros gigantes. Mesmo assim, depois de “High Noon” Frankie passou a ser procurado por diretores musicais dos estúdios que queriam sua voz para abrir outros filmes.
MEMORÁVEIS CANÇÕES-TÍTULO - “Sangue da Terra”, que não é um western, tornou-se memorável não pelo fato de ter o elenco encabeçado por Gary Cooper, Barbara Stanwyck e Tony Quinn. Todos falavam que era aquele filme da música ‘...Marina mine, set me free, from black gold...’ cantada por Frankie Laine, que também virou grande sucesso. O filme é “Sangue da Terra”, de 1953, e a canção-tema era “a Balada do Ouro Negro”. Em seguida Frankie foi convocado para cantar “Man Without a Star”, canção que abriu o grande western que foi “Homem Sem Rumo”, de 1955, estrelado por Kirk Douglas. Também estrelado por Kirk Douglas como Doc Holliday e Burt Lancaster como Wyatt Earp foi “Sem Lei e Sem alma”, de 1957, cuja espetacular abertura tinha Frankie Laine cantando “Gunfight at the OK Corral”. No mesmo ano Frankie Laine ajudou a tornar “Galante e Sanguinário” um clássico com sua interpretação de “3:10 to Yuma”, canção-título desse western que teve Glenn Ford no papel principal. Claro que entre esses faroestes Frankie Laine gravava outras músicas para filmes de outros gêneros, mas o efeito não era o mesmo pois a voz de Frankie era a própria voz do western. Em 1958 foi a vez de “A Vingança Deixa a Sua Marca” (Bullwhip), cuja marca maior foi a abertura cantada por Frankie Laine, nesse western menor estrelado por Rhonda Fleming e Guy Madison.
A EXPLOSÃO COM RAWHIDE - Todas essas aberturas de westerns tornaram-se clássicas, ainda que nenhuma tenha repetido o extraordinário sucesso de vendas de “High Noon”. Frankie Laine reencontrou o sucesso no hit parade da revista Billboard com uma gravação feita para uma série de TV estrelada pelos desconhecidos Clint Eastwood e Eric Fleming. A série chamava-se “Rawhide” e semanalmente Frankie Laine invadia os lares norte-americanos com sua possante voz interpretando a música-tema da série do mesmo nome. A música “Rawhide” tornou-se clássica e ao lado de “Riders in the Sky”, de Stan Jones pode ser considerada como a suprema canção dos cowboys. Nos Estados Unidos a questão de direitos autorais é para valer e “Rawhide” garantiria sozinha uma aposentadoria tranqüila para Frankie Laine pois é tocada em todo lugar onde o assunto seja rodeio ou onde haja cowboys. Os atrapalhados irmãos Joliet e Elwood, conhecidos por Blues Brothers, na maior cara-de-pau cantaram “Rawhide” para acalmar o público daquela casa noturna do Tennessee na comédia “Os Irmãos Cara-de-Pau”. Nos anos 60 o cinema mudou bastante e os westerns passaram a ter outras formas de abertura diferentes daquela imortalizada (e muito imitada) por Frankie Laine. Ainda assim a voz de Frankie Laine nunca deixou de ser ouvida na trilha sonora de grandes filmes como “A Última Sessão de Cinema” (ouve-se Frankie cantar “Rose, Rose, I LoveYou”) ou “Touro Indomável” (Frankie canta “That’s My Desire”). E a colaboração direta de Frankie Laine com o western foi fechada brilhantemente com sua voz incandescente cantando “Blazing Saddles”.
SUCESSOS INESQUECÍVEIS - Francesco Paolo Lo Vecchio (nome verdadeiro de Frankie Laine) nasceu em 13 de março de 1913 em Chicago, filho de imigrantes sicilianos. Seu pai era o barbeiro preferido de Al Capone e colocou o filho para cantar no coro da Igreja Imaculada Conceição. Quando Frankie se mudou para Los Angeles foi descoberto pelo compositor Hoagy Carmichael. Entre os sucessos inesquecíveis de Frankie Laine estão “I Believe”, “Jezebel”, “The Sunny Side of the Street” e uma longa lista que o levaram a ser chamado de Old Man Jazz. Entre os fãs da country music Frankie tinha o apelido de Old Leather Lungs (Pulmões de Couro Velho). Esse maravilhoso cantor faleceu em San Diego, na Califórnia, em 8 de fevereiro de 2007, aos 94 anos, muitos dos quais dedicados a emocionar os westernmaníacos nos filmes e nos discos.
Que os fãs de Mel Brooks me perdoem, mas jamais assisti, ou assistirei, a algo que ele esteja à frente. Não sei, mas não me soa como cinema, como espetáculo, como coisa boa de ver. E tem mais; sou anverso a esses tipos de filmes sobre paródias, imitação, gozação de outrs trabalhos que foram feitos.
ResponderExcluirQuanto a Frankie Lane, somente recordo dele de sua vos que chega a trinar de tão forte e boa, na abertura de Sem lei e Sem Alma. Um vozeirão.
E se se está fazendo uma apologia àquela voz, ao cantor daquelas aberturas, ando de pleno acorco. Merecidissima.
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