O elenco de "Stagecoach": Claire Trevor, John Wayne, Andy Devine, John Carradine, Louise Platt, Thomas Mitchell, Berton Churchill, Donald Meek e George Bancroft. Abaixo John Ford e Walter Wanger. |
John Ford leu um conto na revista Collier’s que chamou sua atenção. O título do conto era “Stage to Lordsburg” e seu autor Ernest Haycox. “Essa é uma grande história e pode dar um bom filme”, pensou o genioso diretor. Comprou os direitos por 2.500 dólares e procurou os estúdios para fazer um filme a partir daquela história. Nenhum dos chefões gostou da idéia. Um deles até lhe respondeu: “Mas é um western! Ninguém mais faz westerns!" O renitente sangue irlandês de Ford falou mais alto e ele então foi atrás de um produtor independente. Conversou com Joseph Kennedy (o pai do presidente Kennedy, que entre outras coisas era também envolvido com cinema), falou com David O. Selznick e outros, mas nenhum deles quis apostar em um western, mesmo que fosse dirigido pelo respeitado John Ford. De fato os westerns estavam fora de moda e mesmo Ford não dirigira nenhum faroeste nos últimos 13 anos. O último havia sido “Três Homens Maus” (Three Bad Men), em 1926. Ford continuou procurando recursos até chegar em Walter Wanger, produtor independente que distribuía seus filmes pela United Artists. Walter disse que toparia a empreitada de produzir aquele western desde que Gary Cooper interpretasse Ringo Kid e Marlene Dietrich fosse a prostituta Dallas. Quando Ford disse a Walter Wanger que queria filmar com o maior realismo possível com locações em um lugar chamado Monument Valley e com a diligência perseguida por índios, Wanger, que não descuidava das cifras, desistiu dos prestigiados e caros Gary Cooper e Marlene Dietrich. Os papéis de Ringo e Dallas acabaram nas mãos de um ator de B-Westerns pouco conhecido chamado John Wayne e de Claire Trevor, que havia sido vista em 1937 em “Beco Sem Saída”, de William Wyler. “No tempo das Diligências” custou 400 mil dólares e até que foi bem nas bilheterias, rendendo mais de um milhão de dólares no seu primeiro ano de exibição. Porém mais do que o lucro que possa ter dado, esse filme mudou a história do cinema pois depois dele o gênero western passou a ser respeitado e praticamente todo diretor ou artista de Hollywood fez faroestes.
UMA TRAGÉDIA NA VIDA DE WALTER WANGER - Mas quem é mesmo o homem que possibilitou que “No Tempo das Diligências” fosse filmado? Nascido em San Francisco, Califórnia em 1894, Walter Wanger começou a trabalhar em 1920 na Paramount, passando por quase todos os demais estúdios de Hollywood, até tornar-se um bem sucedido produtor independente. Entre seus filmes mais lembrados estão “Hotel da Fuzarca” (com os Irmãos Marx), “Rainha Cristina” (com Greta garbo), “Correspondente Estrangeiro” (de Alfred Hitchcock), “Joana d”Arc” (com Ingrid Bergman), “Vampiro de Almas” (de Don Siegel), “Quero Viver” (com Susan Hayward) e os westerns “Abrindo Horizontes” (com Sterling Hayden), “O Forte da Coragem” (de Lesley Selander), “A Irresistível Salomé” (com Yvonne De Carlo e Rod Cameron) e “Amor e Ódio na Floresta” (com Henry Fonda). Como produtor Walter Wanger tinha sob contrato a atriz Joan Bennett, sua verdadeira musa. Casaram-se em 1940 e Walter mudou a imagem de Joan fazendo-a tingir os cabelos de preto e passando a produzir filmes estrelados por ela, entre eles “O Homem que Quis Matar Hitler”, “Um Retrato de Mulher”, “O Segredo da Porta Fechada”, Almas Perversas” (dirigidos por Fritz Lang, os três últimos clássicos do film noir). Em 1951 Walter Wanger começou a suspeitar que sua mulher estava tendo um caso com o agente Jennings Lang. Armou um flagrante e surpreendeu Joan num apartamento com seu amante, que tinha 1,91 de altura. Walter estava armado e disparou contra Jennings, mirando e acertando nos testículos do agente. Mesmo ferido Jennings conseguiu sobreviver, mas certamente nunca mais fez uso indevido de seu charme de conquistador. Mesmo em defesa da honra, Walter Wanger foi preso e condenado, cumprindo pena de três anos na prisão de San Quentin. Observando a vida na prisão, o primeiro filme que Wanger produziu após ser libertado foi “Rebelião no Presídio”, estrelado por Neville Brand e dirigido por Don Siegel. Joan e Walter, que tinham dois filhos, divorciaram-se em 1965. O escândalo que resultou na prisão de Walter Wanger, praticamente arruinou a carreira de Joan Bennett. Walter ainda produziria outros filmes, o último deles o malfadado “Cleópatra", com Elizabeth Taylor. Walter faleceu em 1968 de ataque cárdiaco, mas antes ainda teve tempo de escrever o livro “Minha Vida com Cleópatra”, em que procura contar porque o filme custou tão caro, quase levando a 20th Century-Fox à falência. Walter Wanger produziu mais de 70 filmes, porém seu nome está gravado no álbum de ouro do cinema por ter sido o homem que possibilitou a John Ford ter realizado uma das obras-primas da cinematografia universal que foi “No Tempo das Diligências”.
Grande Walter Wanger! Fez o que deveria ter feito!
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