17 de abril de 2011

REINADO DO TERROR (Terror in a Texas Town), WESTERN CULT DE JOSEPH E. LEWIS


Para tomar as terras dos pequenos sitiantes o poderoso Ed McNeil (Sebastian Cabot), dono de quase toda a região e que já possui um grupo de homens maus na sua folha de pagamento, contrata Johnny Crale (Nedrick Young), sinistro pistoleiro. Crale veste-se todo de negro, mesma cor do par de luvas que jamais retira das mãos. Enquanto Crale intimida e mesmo mata um relutante sitiante sueco, surge na cidade um estranho chamado Hansen (Sterling Hayden), filho do sueco morto. Hansen se vê impelido a defender os acovardados rancheiros e, sem poder contar com nenhuma ajuda, decide enfrentar os homens que aterrorizam a cidadezinha. O pistoleiro e o estranho se enfrentam na rua principal num duelo inusitado pois Hansen tem como arma um arpão contra o rápido pistoleiro que usa dois colts de cabos brancos, mas só consegue sacar com a mão esquerda.

Filmado em 1958, em apenas 10 dias, com orçamento de 80 mil dólares (hoje meros 600 mil dólares), “Reinado do Terror” (Terror in a Texas Town) é um dos melhores exemplos da competência e criatividade do diretor Joseph E. Lewis. Veterano diretor de double features, aqueles filmes produzidos para completar programação dupla, quase sempre com orçamentos modestíssimos, Lewis realizou diversos bons filmes, sendo o mais famoso e verdadeiro cult “Mortalmente Perigosa” (Gun Crazy), de 1950. “Reinado do Terror” (Terror in a Texas Town), rodado em 1958 foi o último trabalho de Lewis no cinema, fazendo com que consolidasse sua reputação como um dos mais respeitados diretores de filmes “Bs”. Mal o filme se inicia e o espectador tem a sensação de que o modelo de roteiro de “Shane” vai se repetir. Aos poucos percebe também muitas semelhanças com “Matar ou Morrer”, não só na concepção simples e justa do filme, mas também no uso da música incidental, bem como no roteiro, que remete em momentos ao clássico de Fred Zinnemann. Porém no decorrer do de “Reinado do Terror” surgem as diferenças com diálogos agudos que denotam implicâncias políticas, condensam a ação e sugerem um improvável clímax .

O roteiro é atribuído a Ben Perry (nome de fachada de Dalton Trumbo). Estranhamente porém, Joseph E. Lewis em entrevista a Peter Bogdanovich e publicada no livro “Afinal, Quem Faz os Filmes?”, afirmou que o roteiro fora escrito por Nedrick Young, misto de ator-roteirista colocado na Lista Negra do McCarthismo, assim como Dalton Trumbo. Em 1959 Young ganharia um Oscar de Melhor Roteiro por “Acorrentados” (The Defiant Ones), de sua autoria. Em “Reinado do Terror”, quando perguntado se deixara de ser destro visto que só usava a mão esquerda, Johnny Crale (Nedrick Young) responde: “Destruíram minha mão direita que agora é dura como o aço”. Em outro momento em que é crivado de perguntas pelo traiçoeiro Ed McNeil (não por acaso “Mc” como Joe McCarthy), Crale responde: “Não gosto de quem faz muitas perguntas!” Rapidamente Lewis define psicologicamente cada um dos personagens do filme e a ação transcorre expondo a corrupção, a crueldade e o medo, além da vingança, que dá a cada um dos tipos presentes à história uma vital e particular importância. Mas é especialmente a criação da atmosfera de mórbida desesperança e o ritmo propositadamente lento e sombrio que torna “Reinado do Terror” um filme surpreendente. A amargura que rescende dos personagens é justamente onde o trabalho de Lewis se mostra mais extraordinário, próximo da perfeição. Para alguns críticos “Reinado do Terror” é o melhor de todos os Westerns realizados para completar os programas duplos. Outros vêem “Reinado do Terror” como uma obra-prima dos “Bs”. De fato o western de Joseph E. Lewis faz jus ao status de cult que vem ganhando através dos tempos. Outros westerns de Lewis, nesse período final de sua carreira são “Ódio Contra Ódio” (The Halliday Brand), com Joseph Cotten, “Obrigado a Matar” (The Lawless Breed) e “O Fantasma do General Custer” (The 7th Cavalry), ambos com Randolph Scott.


Sterling Hayden interpreta o sueco Hansen com seu costumeiro estilo sóbrio de atuar, um misto de Gary Cooper com Robert Mitchum. Os demais personagens são todos arquetípicos, especialmente Nedrick Young (ator que lembra bastante Humphrey Bogart) cuja figura triste faz ressaltar o pistoleiro atormentado pelo aleijão que carrega, despejando sua brutalidade em qualquer um que atravesse seu caminho. Sebastian Cabot chega a lembrar a grandiosa presença de Laird Gregar, imitando o cinismo do ator de “Alma Torturada”, mas só consegue chegar perto dele na sanha glutônica que o domina. Carol Kelly evoca personagens de Claire Trevor como a companheira viciada do pistoleiro. Victor Millan, como José Mirada, tem ótimo desempenho. Ainda no elenco Sheb Wooley, Ted Stanhope e Frank Ferguson.




5 comentários:

  1. Tenho uma visão muito promissora nestas duas personalidades que são Hayden e Joseph Lewis.
    Hayden por ter sido um ator de minha juventude e de quem vi quase todos os seus filmes. Era mais um Randolph Scott no meu céu de astros.
    Desde que o vi em Escreveu Seu Nome a Bala, de Leslie Selander/55, ao lado da ainda lindissima Yvone de Carlo, nunca mais deixei passar qualquer filme com ele atuando que não assistisse.
    E Reinado de Terror foi um deste. Fita que jamais se apagou de minha memória, embora eu a tenha visto ainda muito garoto, devido àquele duelo inusitado de um arpão contra dois revolveres.
    A cena mastigou meu consciente e inconsciente por anos a fio, me arrastando a ver Heyden como algo acima de um heroi, por aquela cena inédita.
    Porém o Sterling Hayden, apesar de não ser um ator de primeira grandeza no conceito de muitos, mas que no meu tem um local de destaque, nunca me decepcionou, fazendo sempre filmes de inteiro agrado e alguns até surpreendente, como A Ultima Barricada, O Segredo das Joias, O Falcão Dourado, O Grande Golpe, o comentadissimo até hoje Johnny Guitar, O Imperio do Crime, com Cornel Wilde, e até mesmo o elogiadissimo O Dr. Fantastico, fita que nunca encheu muito meus olhos, mas que, reconheço, é um bom filme e com uma interpretação anormal de Peter Sellers.
    No atinente a Joseph Lewis sou um tanto suspeito para falar pois, sua direção do filme B Obrigado a Matar, com Randy Scott, é o meu preferido de sua filmografia, assim como o melhor que vi com o astro.
    Entrtando este equilibrado diretor é cuidadoso em seus trabalhos. Podemos ver isso em vários de seus filmes, como O Imperio do Crime, com Cornel Wilde, e os citados acima Reinado de Terror, Ódio Contra Ódio, com J Cotten/57 e o menos comentado destes, O Fantasma do Gal.Custer ou A Sétima Cavalaria.
    Conforme se pode notar, o dueto Lewis e Hayden conseguiram fazer um faroeste extremamente anverso aos demais filmes do gênero, conseguindo, apesar do ineditismo de seu duelo final, uma razoável e sempre comentada lembrança deste bom título.
    Aprecio o trabalho deste diretor, que não é um Mann, um Daves, um Hawks, um Ford ou mesmo um Stevens, mas que posso facilmente compara-lo a um G Douglas, um H Keller , umH Levin um Maté ou um Boeticher.
    Não tenho mais muitas coisas do Lewis, porém, o que tenho, já é suficiente para não alijar este bom artesão de minha lista dos bons criadores de faroestes.
    jurandir_lima@bol.com.br

    ResponderExcluir
  2. Errata; fineza desconsiderar dentre os filmes de Sterling Hayden o título O Imperio do Crime, este aí posto por um lapso na apuração do trecho e que deveria sair dali, mas que permaneceu erroneamente.
    jurandir_lima@bol.com.br

    ResponderExcluir
  3. Será que a diferença entre Joseph E. Lewis e os diretores citados não estava nos orçamentos dos filmes? Como seria "Reinado do Terror" com os grandes elencos e as condições técnicas que Mann, Daves, Hawks, Ford e Stevens sempre tiveram à mão?

    ResponderExcluir
  4. É muito possivel, grande editor, é totalmente possível. Aliás, não apenas é possível como nós, bons observadores e catadores de detalhes, temos certeza de que um Lewis nunca teve à mão um aparato de produção como os outros grandes criadores de faroestes. Pode-se observar que, mesmo com o mínimo à mão, seus filmes sempre saíram com algum cuidado, todos dotados de um esmero muito observável ao assistí-los.
    Mais uma vez um tiro bem na mosca do bom amigo e comentarista Fonseca.
    jurandir_lima@bol.com.br

    ResponderExcluir
  5. Acabei de assistir a este filme de Joseph H. Lewis, o diretor que consegue fazer omeletes sem ovos. Agradável experiência. Nota 8!
    Um abraço!

    ResponderExcluir