UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

28 de janeiro de 2015

RASTROS DE VINGANÇA (CROSSFIRE TRAIL) – TOM SELLECK, O FORASTEIRO JUSTO


Depois do extraordinário “Os Pistoleiros do Oeste” (Lonesome Dove), se torna obrigação assistir a westerns dirigidos por Simon Wincer. E se o astro do filme for Tom Selleck a obrigação é dupla, mesmo que o filme seja uma produção da TNT feita para exibição na televisão. Cada vez mais raros os westerns produzidos para o cinema, são sempre bem-vindos filmes e séries do gênero como ocorreu com “Anjos Assassinos” (Gettysburg) e “Deuses e Generais” (Gods and Generals), ambos da TNT e “Deadwood", da HBO. Tom Selleck ao lado de Kevin Costner e Sam Elliott formam o trio de atores que mais se identificaram com o gênero após Clint Eastwood ter dedicado seu último western “Os Imperdoáveis” (Unforgiven) a ‘Don and Sergio’. Ninguém suspeitou, mas a homenagem de Clint significou também seu adeus ao faroeste. Simon Wincer dirigiu em 2001 “Crossfire Trail”, que chegou ao Brasil como “Rastros de Vingança”, baseado em um dos muitos livros de Louis L’Amour. “Crossfire Trail” foi escrito em 1954, pouco depois de “Hondo”, outro livro de L’Amour levado às telas (no Brasil “Caminhos Ásperos”) e foi um dos livros que ajudaram L’Amour a vender um total de 250 milhões de exemplares de sua imensa obra composta de histórias sobre o Velho Oeste.


Virginia Madsen como a senhora Rodney;
 a campa do marido morto.
A viúva e seu rancho hipotecado - Com teleplay adaptado por Charles Robert Carner, “Rastros de Vingança” se inicia com Rafe Covington (Tom Selleck), em alto mar, fazendo uma promessa ao amigo Charles Rodney (Michael O’Shea) que está prestes a morrer. Uma não, duas promessas: ajudar a esposa Anne Rodney (Virginia Madsen) a resgatar seu rancho no Wyoming que está hipotecado e proteger a suave Anne. E Anne precisa mesmo de proteção pois Bruce Barkow (Mark Harmon), homem que manda e desmanda na região pretende se casar com ela e se apoderar do rancho pois sabe que há petróleo a ser explorado naquele lugar. Barkow desconhece que Charles Rodney morreu há um mês e meio e argumenta que Anne é viúva há mais de um ano pois seu marido teria sido morto por índios. Rafe Covington não teme o poder de Barkow e nem as intimidações de seus capangas, tanto que Barkow contrata o matador de aluguel Beau Dorn (Brad Johnson) para matar Rafe. Antes Barkow força o xerife-juiz de paz Moncrief (Barry Corbin) a casá-lo com Anne apesar da resistência desta. Beau Dorn mata J.T. Langston (Christian Kane), amigo de Rafe, mas este, ao lado do velho Joe Gill (Wilford Brimley) e do irlandês Mullaney (David O’Hara) companheiro de navio, enfrentam e vencem Barkow, Beau Dorn e os demais bandidos.

Mark Harmon como Bruce Brakow.
O bem vencendo o mal - “Rastros de Vingança” foi um enorme sucesso de audiência quando de sua primeira exibição na televisão norte-americana em 21 de janeiro de 2001. O público televisivo é, de certa forma, diferente do público que vai aos cinemas, este último mais afeito a experiências e linguagem cinematográfica menos convencionais. O filme de Wincer visou atingir o típico telespectador, aquele que quer assistir a um filme movimentado com história fácil de ser compreendida e acostumado com os inevitáveis cortes para as mensagens publicitárias. Nem por isso “Rastros de Vingança” deixa de ser um western agradável de ser visto, mesmo que a trama seja bastante previsível e a história transcorra dentro da fórmula tradicional ao gênero: forasteiro chega à cidade dominada por um rico e ambicioso mau caráter; o forasteiro toma as dores dos oprimidos; o vilão cercado de capangas contrata um pistoleiro de aluguel; ao final o bem vence o mal. E o trunfo maior deste western é a presença de Tom Selleck.

Tom Selleck como Rafe Covington.
Selleck: poderoso e invencível - Depois de livrar-se da imagem do detetive Thomas Magnum com sua Ferrari 308 GTS, Tom Selleck tentou diversos caminhos no cinema e na TV. Escondido atrás de seu vasto bigode Selleck fez filmes policiais, de guerra, aventuras, comédias, outras séries de TV, tendo declinado da oferta para interpretar Indiana Jones na primeira aventura do arqueólogo levada ao cinema por Steven Spielberg. No entanto foi com os westerns que Tom Selleck criou o que se costumou chamar nos Estados Unidos de personagem ‘bigger than life’ que poderia ser traduzido por poderoso e invencível. Selleck é quem mais se aproxima entre os atores de sua geração de John Wayne como persona cinematográfica. Nele não há traço de nenhuma vulnerabilidade, temor ou hesitação, além do físico privilegiado, da presença fortíssima e do excelente cavaleiro que Tom Selleck é. E o ator empresta essa sua imagem ao personagem Rafe (Raphael) Covington, criado por Louis L’amour.

Tom Selleck e Wilford Brimley a galope.

Selleck, cowboy de verdade.
A vida dos cowboys - As belíssimas paisagens de Calgary (Alberta, Canadá) lembram bastante os cenários do Wyoming, onde a história se desenvolve. E tomadas que mais parecem extasiantes pinturas, que no passado deslumbravam os espectadores, são hoje lugar comum e estão presentes em “Rastros de Vingança”. Este western se detém em alguns momentos para mostrar ao espectador a dureza da lida dos cowboys, atividade romântica apenas nas singelas canções imortalizadas por Gene Autry, Roy Rogers e o grupo The Sons of Pioneers. Os personagens de “Rastros de Vingança”, seguindo o padrão dos westerns das últimas décadas, aproximam-se nos detalhes das vestimentas usadas em 1880, quando se passa a história. E há ainda as armas, especialmente os rifles com miras telescópicas, quesito certamente supervisionado por Tom Selleck, apaixonado por armas de fogo e produtor executivo deste filme. Se a história propriamente dita não oferece maiores surpresas, o ritmo ditado por Simon Wincer não deixa o espectador ter sua atenção dispersada.

Cenas da vida de cowboy em "Rastros de Vingança".

Wilford Brimley
Ironias de um sidekick - As sequências de ação foram bem realizadas, ainda que o derradeiro tiroteio tenha se alongado um pouco. O personagem de Wilford Brimley, espécie de sidekick de Tom Selleck, não enxerga bem e, ao disparar contra o atirador contratado que está na torre da igreja, acerta inicialmente o sino. Na segunda tentativa acerta o cano do moderno rifle do pistoleiro, numa cena cuja graça maior é proporcionada exatamente pelo rotundo Brimley. E são dele também diálogos mordazes como quando Rafe Covington lhe diz “Hoje não era meu dia para morrer”, obtendo como resposta “O dia ainda não acabou...”. Em outra sequência o mesmo Joe Gill (Brimley) recusa proposta do vilão Barkow dizendo: “Você é tão falso quanto este whisky”. Voltando ao tiroteio final, são feitas referências a “A Face Oculta” (One-Eyed Jacks) e a “Matar ou Morrer” (High Noon), respectivamente com as mortes de Beau Dorn e Bruce Barkow.

Tom Selleck disparando contra Patrick Kilpatrick.

Tom Selleck
Filme de Tom Selleck - No exercício da crueldade, os vilões costumam ser cínicos e arrogantes, tendo com isso a chance de se destacar mais que o próprio herói. Mark Harmon é isso tudo, lembrando muito (fisionomicamente) Randolph Scott quando jovem. E sinistro e elegante como deve ser um pistoleiro vestido de preto, Brad Johnson assusta mesmo é com sua impressionante arma high-tech guardada no enorme porta-rifle. Wilford Brimley lembra bastante o estilo tranquilo e engraçado de Edgar Buchanan e como este se destaca nas sequências em que participa. A atriz Virginia Madsen, excelente amazona, quando exigida como nos maus tratos que sofre por parte de Mark Harmon, escapa do lugar comum de seu personagem. “Rastros de Vingança”, no entanto, é um filme de Tom Selleck, para alguns um canastrão, para a maioria a perfeita encarnação de um cowboy. E se “Rastros de Vingança” não repete “Os Pistoleiros do Oeste” é porque nem todo filme nasce para ser obra-prima.

Mark Harmon e sua semelhança com Randolph Scott; Virginia Madsen.

As armas da coleção de Tom Selleck usadas em "Rastros de Vingança";
no destaque uma Winchester Centennial 76.

Tom Selleck em ação.

Tom Selleck e Mark Harmon.

A inusitada sequência da destruição do rifle com mira telescópica.

Wilford Brimley com Tom Selleck.


25 de janeiro de 2015

PAUL NEWMAN E OS SEIS WESTERNS DE SUA MAGNÍFICA CARREIRA


Paul Newman foi um dos mais consagrados atores do cinema norte-americano em todos os tempos. Nove vezes indicado ao prêmio Oscar de Melhor Ator e uma indicação como Melhor Ator Coadjuvante, Newman recebeu ainda um Oscar por seu trabalho humanitário e outro Oscar honorário por sua contribuição artística para a indústria cinematográfica. Paul Newman foi também premiado como Melhor Ator com o Golden Globe, com o Bafta, premiado nos Festivais de Berlim e Cannes e com o David de Donatello (o Oscar italiano), além de numerosos outros prêmios que perfazem uma longa lista. Top moneymaker nos anos 1969/1970, Paul Newman frequentou a lista dos artistas mais rentáveis por 14 anos e é o oitavo classificado entre os astros cujos filmes mais arrecadaram nas bilheterias na história do cinema (atrás apenas de John Wayne, Clint Eastwood, Tom Cruise, Gary Cooper, Clark Gable, Tom Hanks e Bing Crosby). Calcula-se que as ações beneficentes de Paul Newman tenham atingido os 150 milhões de dólares. Democrata politicamente, Newman sempre emprestou seu nome aos movimentos sociais, aos quais não raro comparecia pessoalmente. Como artista e como homem Paul Newman é uma verdadeira lenda do cinema, ele que completaria 90 anos de idade no dia 26 de janeiro de 2015. Como se sabe, Newman faleceu em 26 de setembro de 2008 e Hollywood certamente nunca mais encontrará um ator com as características pessoais de Paul Newman. Bem sucedido como empresário, esportista, admirado pelos fãs, especialmente pelas mulheres apaixonadas por sua beleza e olhos azuis.

Paul Newman atuou em 58 filmes, apenas seis deles westerns, desconsiderados “O Indomável” e “Meu Nome é Jim Kane”, que alguns autores consideram westerns modernos. E neste gênero Newman não chegou a ser tão bem sucedido quanto nos dramas nos quais participou. Mesmo assim “Butch Cassidy” é um dos westerns que maior bilheteria atingiu no cinema, ficando atrás apenas de “Duelo ao Sol” (Duel in the Sun), com o ajuste das rendas dos filmes. Por sinal “Butch Cassidy” teve Newman como um dos produtores, o mesmo ocorrendo com “Roy Bean – O Homem da Lei!”. Paul Newman interpretou personagens importantes da história do Velho Oeste, como William F. Cody (Buffalo Bill), o juiz Roy Bean, os bandidos William Bonney (Billy the Kid) e Robert LeRoy Parker (Butch Cassidy), além do apache branco John Russell. WESTERNCINEMANIA comemora o 90.º aniversário de nascimento de Paul Newman lembrando de cada um desses seis faroestes.


Um de Nós Morrerá (The Left Handed Gun), 1958 – Arthur Penn
Western freudiano com Paul Newman interpretando o mais irritante pistoleiro do cinema. Quase nada funciona neste filme de estreia de Arthur Penn, baseado em texto de Gore Vidal que criou o personagem do lendário assassino sonhando com James Dean. E Newman, egresso como Dean do Actors Studio, exagera no uso do ‘Método Interpretativo’. História confusa, com mal delineada amizade entre Billy the Kid e Pat Garrett em que se percebe somente nuances da homossexualidade que é a tônica do texto original de Vidal. Primeiro western a desmistificar a lenda do jovem assassino, o filme de Penn possui ardentes admiradores.




* * * * *

Quatro Confissões (The Outrage), 1964 – Martin Ritt
Paul Newman já havia sido dirigido quatro vezes por Martin Ritt, quando este transportou para o western o clássico “Rashmon” de Akira Kurosawa. Isto no mesmo ano em que Sergio Leone filmou seu “Yojimbo” também do diretor japonês. Realizado em preto e branco com incrível fotografia de James Wong Howe, Paul Newman é o mexicano Juan carrasco, acusado de estupro e morte. Testemunhas dos crimes contam em flashbacks versões diferentes e o filme pretende discutir a verdade vista por diferentes pessoas. Newman com um nariz postiço e com voz grossa e rouquenha nem de longe lembra o eterno galã num personagem abjeto.



* * * * *

Hombre (Hombre), 1967 – Martin Ritt
Um dos melhores livros de Elmore Leonard levado ao cinema com rara felicidade por Martin Ritt num drama tenso que imediatamente se tornou um clássico. O melhor dos faroestes que Paul Newman estrelou num caustico estudo da hipocrisia humana com os personagens que trafegam na diligência, microcosmo semelhante ao de “No Tempo das Diligências” (Stagecoach), de John Ford. Um final brilhante com emocionante suspense e mais uma vez a cinematografia perfeita de James Wong Howe. O sol escaldante desfigurando o rosto da bela Barbara Rush e o desfecho trágico com Hombre se defrontando com Richard Boone e Frank Silvera são inesquecíveis.



* * * * *

Butch Cassidy (Butch Cassidy and the Sundance Kid)
Existem filmes em que tudo dá certo e o sucesso é inevitável. “Butch Cassidy”, dirigido por George Roy Hill, é um desses casos ao contar de forma romanceada as aventuras dos bandidos Butch Cassidy e Sundance Kid. A dupla Paul Newman-Robert Redford se entendeu excepcionalmente bem, quase tanto quanto Butch e Sundance que dividem a bela Etta Place. Humor, ação e música na medida certa para conquistar as plateias, principalmente a feminina tão avessa a faroestes. Paul Newman, um dos produtores do filme ficou muito mais rico com o sucesso mundial deste western que gerou outro filme com o trio Roy Hill-Newman-Redford, “Golpe de Mestre”.



* * * * *

Roy Bean – O Homem da Lei! (The Life and Times of Judge Roy Bean), 1972 – John Huston
A vida de Roy Bean, o homem que a Oeste de Pecos criou seu próprio tribunal e interpretação também própria das leis, foi levada mais uma vez ao cinema, em 1972, com direção de John Huston e Paul Newman como o juiz Bean. Com roteiro que altera datas e situações e adotando tom de comédia dividida em episódios, John Huston põe a perder a chance de realizar um filme à altura dos supremos clássicos de sua carreira. Cada episódio é contado em flashback por um personagem interpretado por atores conhecidos que somente ajudam a tornar o filme caótico. Tudo é salvo ao final com a presença deslumbrante de Ava Gardner como Lily Langtry, paixão da vida do Juiz Roy Bean.



* * * * *

Oeste Selvagem (Buffalo Bill and the Indians), 1976 – Robert Altman
Para comemorar o bicentenário da independência dos Estados Unidos, Hollywood poderia escolher alguém mais confiável que o diretor Robert Altman. Ele, suspeitíssimo depois da irreverência demonstrada com “Mash” e “Nashville”, não deixou por menos e apresentou o grande herói norte-americano Buffalo Bill em seu circo em que tudo valia para ganhar dinheiro. Paul Newman está ótimo e engraçadíssimo como William F. Cody (Buffalo Bill), o elegante showman com madeixas esvoaçantes, bem tratados bigode e cavanhaque para acentuar sua aura de herói popular. E Altman dá uma visão sarcástica da história do Oeste num filme aborrecido do qual o público fugiu.




24 de janeiro de 2015

DOROTHY MALONE, INESQUECÍVEL ATRIZ DE MUITOS WESTERNS, CHEGA AOS 90 ANOS


Ainda que não tenha atingido o status de grande estrela de Hollywood, Dorothy Malone foi uma das mais queridas e admiradas artistas de cinema dos anos 50. Entre os muitos filmes em que atuou nas primeiras décadas de sua carreira, nada menos que 16 deles foram westerns, o que a torna uma atriz muito especial para os fãs do gênero. Em faroestes Dorothy Malone contracenou, entre outros, com Henry Fonda, Kirk Douglas, Randolph Scott, Joel McCrea, Anthony Quinn, Kirk Douglas, ou seja, alguns dos expoentes dos westerns. Dorothy tinha em comum com Barbara Stanwyck a simplicidade rara nas estrelas de cinema e o espírito cooperativo que tornava as filmagens mais fáceis, econômicas e alegres. Está certo que Barbara era muito mais talentosa que Dorothy, mas em compensação esta era muito mais bonita com seus maravilhosos olhos azuis e voz sensual, atributos que lhe possibilitaram uma invejável trajetória cinematográfica. Dorothy Malone completa em 30 de janeiro de 2015 seu 90.º aniversário de nascimento, razão mais que especial para que seja lembrada pelo incontável número de fãs que dela nunca se esqueceram.

A jovem Dorothy e Bogie
Em cena com Humphrey Bogart - Dorothy Eloise Maloney nasceu em Illinois, Chicago, mas aos dois anos de idade já estava em Dallas, no Texas, para onde sua família se mudou. Duas das irmãs mais velhas de Dorothy faleceram vítimas da poliomielite, enquanto ela vendia saúde e chamava a atenção pela beleza na High School (ensino secundário). A morena Dorothy era admirada não só por ser bonita e elegante, mas também por se destacar nos esportes, especialmente na natação e no hipismo. Na Southern University, em Dallas, Dorothy iniciou um curso para ser enfermeira, mas vencendo na cidade diversos concursos de beleza com suas invejáveis pernas, Dorothy foi aconselhada a passar para o curso de Arte Dramática, participando do grupo de teatro da Universidade. Durante uma das montagens estava na plateia um caçador de talentos da RKO que a levou a Hollywood para fazer testes. Aos 18 anos de idade Dorothy assinou contrato de dois anos com a RKO, abandonando os estudos e iniciando sua carreira de atriz. Nesse estúdio Dorothy Maloney fez uma série de pontas em inúmeros filmes, nenhum deles digno de registro, até porque Dorothy sequer era neles creditada. Findo o contrato a RKO não confiando no potencial da jovem a dispensou, indo Dorothy Maloney para a Warner Bros. No novo estúdio o sobrenome de Dorothy foi mudado para ‘Malone’ e ela foi melhor aproveitada aparecendo em “Canção Inesquecível”, a açucarada biografia de Cole Porter, com Cary Grant. Em seguida Dorothy teve uma pequena mas marcante participação no clássico noir “À Beira do Abismo”, contracenando com Humphrey Bogart. Morena e de óculos, Dorothy está quase irreconhecível nesse filme de Howard Hawks.

Acima e abaixo Dorothy Malone quando era apenas mais uma pretendente
ao estrelato em Hollywood. 


Dorothy Malone na capa de uma revista brasileira no ano de 1945.
(Cortesia do colecionador José Carlos Elorza)

Primeiros westerns - No filme noir “A Máscara da Traição”, Dorothy Malone foi o terceiro nome do elenco, atrás de Virginia Mayo e Zachary Scott. E veio a seguir “Dois Aventureiros do Texas”, comédia musical que, apesar do título, não era um faroeste, ainda. A estreia de Dorothy num western se deu em 1949 com “Mercadores de Intriga” (South of St. Louis), estrelado por Joel McCrea com Alexis Smith no principal papel feminino. Nesse mesmo ano Dorothy participou, também ao lado de Joel McCrea, do excelente “Golpe de Misericórdia” (Colorado Territory), de Raoul Walsh, em que Virginia Mayo é a estrela e Dorothy apenas, como sempre, coadjuvante. Quando tudo indicava que Dorothy teria melhores chances na Warner Bros., eis que Jack Warner não renovou o contrato da jovem e mais uma vez ela foi dispensada.

Douglas Kennedy. Dorothy e Joel McCrea em "Mercadores de Intriga";
Henry Hull, Joel McCrea e Dorothy em "Golpe de Misericórdia".

Dorothy com Randolph Scott em
"O Tesouro do Bandoleiro".
Com Martin & Lewis e Carmen Miranda - O agente de Dorothy conseguiu para ela trabalhos em diferentes estúdios, o primeiro deles na Columbia, em “O Sentenciado”, ao lado de Glenn Ford. Para o mesmo estúdio Dorothy contracenou com Randolph Scott em “O Tesouro do Bandoleiro” (The Nevadan), western de Gordon Douglas. Para quem já havia participado de produções classe A, atuar em “Ginete Audacioso” (Saddle Legion), western da RKO da série estrelada por Tim Holt, foi um ponto baixo na carreira e pouca esperança de melhores dias. Mas em “Guerrilheiros do Sertão” (The Bushwackers), Dorothy tem a companhia de John Ireland, Wayne Morris e Lawrence Tierney e o pôster desse western B destaca a figura de Dorothy ainda que pouco lembrando sua beleza. E então Dorothy passou para a Universal Pictures, iniciando em grande estilo seus trabalhos nesse estúdio em “Morrendo de Medo” com a dupla então de maior sucesso nos Estados Unidos, Martin & Lewis. Além de Dean e Jerry, atuou também nessa comédia a nossa Pequena Notável Carmen Miranda, esse que foi seu último filme.

Pôsteres de "Ginete Audacioso" e "Guerrilheiros do Sertão";
Dorothy com Dean Martin e Jerry Lewis em "Morrendo de Medo".

Dorothy Malone, Doris Day e Elisabeth
Fraser em "Corações Enamorados".
Alourando os cabelos - Dorothy fez dois faroestes seguidos em 1953, que foram “Sua Lei é Matar” (Jack Slade), com Mark Stevens e “Com a Lei e a Ordem” (Law and Order) com Ronald Reagan. Dorothy Malone dava-se bem com todos nos sets de filmagens, fossem eles atores ou técnicos, mas com Ronald Reagan ela se entendeu excepcionalmente bem, tornando-se grandes amigos. O futuro presidente doutrinou Dorothy que passou a ser, pelo resto da vida, uma fervorosa Republicana, sempre trabalhando pelas candidaturas de Ronald. Em 1954 Dorothy participou de seis filmes atuando em “Evadido”, com Barry Sullivan; “A Morte Espera no 322”, com Fred MacMurray e Kim Novak (em seu primeiro filme); “Alta Traição”, com John Ireland; “Dinheiro Maldito”, com Ida Lupino; o western “Até o Último Tiro” (The Lone Gun), com George Montgomery; e o filme que, de certa forma, mudaria sua carreira, “Corações Enamorados”, com Doris Day e Frank Sinatra. Para interpretar a irmã da loura Doris Day, Dorothy teve que pintar os cabelos de louro e ficou tão bem com o novo visual que o manteve para sempre.

Dorothy Malone em westerns com George Montgomery, com Mark Stevens
e com seu grande amigo Ronald Reagan.

Liberace e Tab Hunter em cenas de amor
com a irresistível Dorothy Malone.
Conquistando corações masculinos - Em 1955 Dorothy esteve mais uma vez ao lado de John Ireland em “The Fast and the Furious”, filme sobre corridas de automóveis. Em seguida Dorothy teve que enfrentar enormes desafios nos filmes “Qual Será o Nosso Amanhã” e “O Semeador de Felicidade”. No primeiro Dorothy tinha que ser convincente ao viver tórridas cenas de amor com Tab Hunter; no segundo cabia a Dorothy fazer o público acreditar que o pianista Liberace era apaixonado por ela. Muito mais fácil para a atriz foi atrair a atenção de Dean Martin, com Dorothy esbanjando sensualidade na comédia “Artistas e Modelos”, outra vez com a dupla Martin & Lewis. No elenco está também Shirley MacLaine que parecia um patinho feio perto da provocante Dorothy Malone.

Deitadas Dorothy Malone e Shirley MacLaine; Dean Martin massageando
Dorothy e os 'casais' Jerry-Shirley e Dino-Dorothy em "Artistas e Modelos".

Dorothy e Randy
Westerns, westerns, westerns - Provavelmente nenhuma atriz de renome participou de uma sequência de cinco westerns como ocorreu com Dorothy em 1955/56. Esta foi a quina de faroestes: “Cinco Revólveres Mercenários” (Five Guns West) com John Lund; “Nas Garras do Homem Alto” (Tall Man Riding), novamente com Randolph Scott; “A Mancha de Sangue” (At Gunpoint) com Fred MacMurray; “Marcados pela Violência” (Tension at Table Rock), com Richard Egan que neste filme contracena não só com Dorothy Malone mas também com a igualmente maravilhosa Angie Dickinson; e “Pilastras do Céu” (Pillars in the Sky), com Jeff Chandler. A dupla Malone-Chandler era uma aposta da Universal que reuniu o másculo galã de cabelos brancos e a sensual loura de olhos azuis. A parceria acabou não vingando pois este foi o único filme que Jeff e Dorothy fizeram juntos.

Dorothy e John Lund; Dorothy e Fred MacMurray.

Dorothy com Richard Egan; Dorothy com Jeff Chandler.

Dorothy e seu Oscar.
A dama do peignoir vermelho - A Universal deu então um ‘descanso’ a Dorothy escalando-a para ser dirigida pelo alemão Douglas Sirk que se revelava um dos principais diretores de melodramas em Hollywood. O filme era “Palavras ao Vento”, concebido para ser um veículo a mais para o estrelato de Rock Hudson. Porém os coadjuvantes Robert Stack e Dorothy Malone ofuscaram Rock Hudson, principalmente Dorothy que por seu desempenho como uma ninfomaníaca recebeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. É desse filme a sequência antológica em que Dorothy dança um mambo no andar superior da mansão em que mora, enquanto seu pai Robert Keith cai da grande escada e falece. Dorothy voluptuosa e irresistível num peignoir vermelho é uma imagem inesquecível que a severa censura norte-americana da época não deve ter apreciado nem um pouco.

Dorothy e a magnífica sequência da dança do mambo e com Rock Hudson
em "Palavras ao Vento".

Dorothy com James Cagney e com
o envelhecido Errol Flynn (abaixo).
Encontro com Jacques Bergerac - Nessa que foi a grande fase da carreira de Dorothy Malone ela foi a esposa de Lon Chaney (interpretado por James Cagney) em “O Homem das Mil Caras”. Robert Taylor, outro grande nome de Hollywood teve Dorothy nos braços em “Contrabando no Cairo”. A atriz reencontrou Fred MacMurray no western “A Última Etapa” (Quantez) e interpretou a alcoolatra atriz Diane Barrymore, filha de John Barrymore, vivido por Errol Flynn, em “O Gosto Amargo da Glória”. Dorothy era 16 anos mais nova que Errol Flynn, mas a decadência física do ator o mostrava como se pudesse, de fato, ser pai de Dorothy. Tentando repetir o êxito de “Palavras ao Vento”, a Universal reuniu Rock Hudson, Robert Stack e Dorothy Malone sob as ordens de Douglas Sirk em “Almas Maculadas”. No entanto o sucesso desta vez foi bem menor. Em sua vida pessoal, apesar de ser espantosamente bonita, Dorothy Malone continuava sozinha. Revistas estampavam fotos de Dorothy com seus namorados, entre eles John Ireland e Scott Brady, com quem teve prolongado affair. Nenhum deles, porém, se tornaria marido da atriz que era uma das mais cobiçadas solteiras de Hollywood, isto até que Jacques Bergerac se divorciou de Ginger Rogers. O ator francês conheceu Dorothy e achou que seria ela a manter sua vida de playboy explorando mais uma atriz famosa. Casaram-se em 1959 e Dorothy experimentou o gosto amargo do casamento.

Dorothy Malone namorando John Ireland e Scott Brady;
à direita com o primeiro marido Jacques Bergerac.

Dorothy com Frankie Avalon em
"Praia dos Amores". Houve quem

dissesse que faltava derrière a Dorothy.
Não é o que parece...
Dois westerns clássicos - Em 1959, na 20th Century-Fox, Dorothy participou de “Minha Vontade é Lei” (Warlock), um western famoso por tratar de assunto tabu não só no gênero mas no próprio cinema norte-americano, a homossexualidade. Os personagens de Henry Fonda e Anthony Quinn estavam mais preocupados um com o outro que com Dorothy que parecia mais bonita a cada filme. Em 1960 Dorothy teve a primeira filha com Jacques Bergerac e nesse mesmo ano voltou a se encontrar na tela com Robert Stack em “A Última Viagem”, filme catástrofe em alto mar. Com o casamento Dorothy passou a filmar menos e só retornou ao cinema em 1961 para mais um western que foi “O Último Pôr-do-Sol” (The Last Sunset). No elenco Kirk Douglas, Rock Hudson e Carol Linley, estrelinha em ascensão mas que vê Dorothy Malone se destacar neste faroeste que também toca em assunto delicado, desta vez o incesto. Em 1962 o casal Bergerac-Malone teve uma segunda filha, o que não aplacou as constantes brigas que repercutiam na imprensa. Atuando mais como convidada especial em séries de televisão, Dorothy se afastou um pouco do cinema, só voltando a filmar em 1963 em “A Praia dos Amores”, daquela série de filmes inconsequentes apelidada ‘Beach Movies’.

Dorothy Malone como aparece em "O Último Pôr-do-Sol"; no centro
com Rock Hudson. Carol Linley e Kirk Douglas; Dorothy e Douglas.

Dorothy, sensação na TV.
Sucesso na televisão - Em 1964 o casamento de Dorothy com Jacques Bergerac terminou, como não poderia deixar de ser, num rumoroso divórcio. Dorothy acusou o marido de ter se casado com ela unicamente para tirar proveito de sua fama e ainda gastar seu dinheiro. Drama na vida real e, por que não, na tela? Assim Dorothy foi convidada para compor o elenco de “A Caldeira do Diabo”, novela que tentaria reeditar o sucesso do best-seller de Grace Metalious e do filme com Lana Turner. E Dorothy interpretou justamente o personagem Constance Mackenzie, vivido no cinema por Lana Turner. Como não poderia deixar de ser a novela foi um enorme sucesso e num elenco que destacava Ryan O’Neal e Mia Farrow, Dorothy era um dos personagens preferidos do público. Aos 40 anos de idade os homens maduros dos Estados Unidos tinham encontro marcado toas as noites com Dorothy Malone, por quem estavam todos apaixonados. Chegando aos 40 anos, Dorothy parecia ficar mais bonita a cada temporada do novelão. Em 1969 Dorothy se casou novamente, matrimônio que durou apenas três meses e que acabou sendo anulado. Esse fato coincidiu com uma embolia pulmonar que teve complicações cardíacas e que levou Dorothy a passar algum tempo num hospital, quase lhe custando a vida. Com isso a atriz se afastou de “A Caldeira do Diabo”, sendo substituída por Lola Albright. Quando se restabeleceu e retornou às gravações Dorothy percebeu que haviam diminuído sensivelmente a importância da personagem Constance Mackenzie. Esse fato a levou a processar a 20th Century-Fox por quebra de contrato. O processo judicial terminou num acordo financeiramente bastante favorável à atriz.

Novela "A Caldeira do Diabo" (Peyton Place): Dorothy com Mia Farrow;Dorothy com Tim O'Connor, Ryan O'Neal, Barbara Parkins e Mia Farrow.

Ocaso da carreira - Sem convites para filmar nos Estados Unidos, Dorothy foi a Cinecittà, em Roma, em 1969 para estrelar o suspense “Crepúsculo dos Insaciáveis”, secundada no elenco pelas belas Luciana Paluzzi, Nicoletta Machiavelli e Romina Power. No elenco estava também seu velho conhecido John Ireland. Nos anos 70 o cinema havia mudado bastante e parecia não haver espaço mais em Hollywood para Dorothy Malone. A atriz tentou um novo matrimônio que também durou pouco, menos de dois anos (1971-1973), terminando mais uma vez em divórcio. Residindo na sua querida Dallas, Dorothy continuou atuando em episódios de séries de sucesso da TV como “Police Woman”, estrelada por Angie Dickinson e “São Francisco Urgente”, com Karl Malden e Michael Douglas. Em 1979 Dorothy Malone atuou em “Morte no Inverno”, suspense com Jeff Bridges encabeçando um elenco composto por veteranos como John Huston, Eli Wallach, Sterling Hayden, Toshiro Mifune, Ralph Meeker e até o cubano Tomas Milian de tantos westerns spaghetti. Nesse filme Dorothy interpreta a esposa de John Huston e mãe de Jeff Bridges.

Dorothy já idosa.
Eternamente simpática - A trajetória de Dorothy Malone como atriz parecia chegar ao fim e em 1987 ela foi à Espanha participar do terror “Descanze em Piezas”. Retirada do cinema, aos 67 anos, Dorothy foi então lembrada para um pequeno papel em “Instinto Selvagem”, com Michael Douglas e Sharon Stone, enorme sucesso de bilheteria de 1992. Muita gente foi ao cinema para ver Sharon Stone cruzar e descruzar as pernas, porém os mais antigos se deliciaram ao matar a saudade, mesmo que rapidamente, de Dorothy Malone, ainda bonita e sempre simpática. Avó seis vezes, Dorothy vive em Dallas há muitas décadas, onde ainda é por vezes reconhecida pelos fãs a quem atende carinhosamente. Nessas ocasiões Dorothy se mostra surpresa por lembrarem dela, o que certamente a deixa muito feliz, como relatou um fã em 2012. Infelizmente não há notícias mais recentes da atriz mas o desejo de quem a admirou nos filmes é que ela esteja com saúde e com o inconfundível e cativante sorriso nos lábios. E para matar a saudade de Dorothy há muitos filmes em que sua beleza estonteante e seu olhar provocante torna qualquer película obrigatória.

Dorothy com Rock Hudson em "Palavras ao Vento", que lhe rendeu o
prêmio Oscar, recebido juntamente com Anthony Quinn ("Sede de Viver"),
Yul Brynner ("O Rei e Eu") e Cary Grant recebendo a estatueta em lugar
 da vencedora Ingrid Bergman ("Anastácia. a Princesa Esquecida").

"O Último Pôr-do-Sol": Dorothy com Kirk Douglas e Carol Linley.

"Minha Vontade é Lei": Dorothy e Richard Widmark;
Dorothy com Anthony Quinn e Henry Fonda.