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19 de novembro de 2011

JOHN AGAR, UMA LIÇÃO DE SUPERAÇÃO


John Agar foi o homem que conquistou a “Namoradinha da América”, Shirley Temple. A menina-prodígio foi a campeã de bilheteria norte-americana por quatro anos seguidos (1936/37/38/39), deixando para trás Clark Gable, Greta Garbo, Gary Cooper e outras superestrelas do cinema. Nos anos 40 Shirley tornou-se uma linda adolescente e as revistas só falavam em quem seria seu primeiro namorado. Zazu Pitts, estrela do cinema mudo deu uma festa em sua casa em 1943 e convidou uma sua amiga. Esta compareceu acompanhada de seu filho, o jovem sargento da U.S. Air Force John George Agar, de 22 anos que estava de folga da sua companhia. Nessa festa, entre outros convidados estavam os pais de Shirley Temple e ela própria nos seus ainda inocentes 15 aninhos. Shirley e John começaram a namorar ali mesmo e o casamento ocorreu dois anos depois, em 1945, naquele que foi o acontecimento do ano em Hollywood, com direito a festa na mansão de David O. Selznick e a presença do grand monde cinematográfico. O famoso produtor de “...E o Vento Levou” prometeu ao noivo que, após sua baixa da U.S. Air Force, faria dele um ator de cinema. O sonho de Selznick era ter Shirley e seu marido como seus contratados e claro, ganhar muito dinheiro.

O casamento do ano em Hollywood
O FIM DO CASAMENTO - John Agar nasceu em Chicago, filho de um próspero comerciante de carnes, estudou na Academia Lake Forest e se graduou na Pawling Preparatory School. Ao final desse curso já estava ajudando seu país na 2.ª Guerra Mundial como preparador físico das tropas que seguiam para combate. Com quase 1,90 de altura John Agar tinha um físico privilegiado e estampa de galã. A carreira de Shirley Temple vinha decaindo visivelmente depois que ela perdera o encanto infantil, ainda que tivesse se tornado uma mulher muito bonita, agora casada com o ex-sargento e futuro ator. Em 1948 John Agar fez sua estréia no cinema em “Sangue de Heróis” (Fort Apache) western dirigido por John Ford e elenco encabeçado por Henry Fonda e John Wayne, contando com a participação de Shirley Temple, então com 19 anos. Em 1948 John e Shirley tiveram uma filha e mesmo assim nem tudo corria como era de se esperar naquele casamento. Shirley e John Agar fizeram ainda outro filme juntos intitulado “Uma Aventura em Baltimore”, em 1949 e depois disso nunca mais se encontraram nas telas ou fora delas pois o casamento acabou nesse mesmo ano. John Agar mostrou ser exatamente o oposto daquilo que a doce Shirley sonhava para marido. John passou a trair sua jovem esposa com outras mulheres, além do que, invariavelmente, voltava para casa somente pela manhã depois de passar as madrugadas em casas noturnas bebendo além da conta. Por diversas vezes John foi detido pela polícia de Los Angeles por dirigir embriagado.

CARREIRA PROMISSORA - John Wayne havia ficado amigo de John Agar em "Sangue de Heróis" e o indicou para o elenco de “Iwo-Jima, o Portal da Glória”, outro grande sucesso do Duke, desta vez dirigido por Allan Dwan. John Ford por sua vez não havia gostado muito de John Agar mas mesmo assim aceitou tê-lo no elenco de “Legião Invencível” (She Wore a Yellow Ribbon), o mais bonito plasticamente e poético western da Trilogia de Cavalaria dirigida por Ford. Esses dois filmes são de 1949. Em 1950 John Agar atuou em outro filme de guerra, “Breakthrough” e no ano seguinte seria dirigido por Raoul Walsh no western “Embrutecidos pela Violência” (Along the Great Divide), primeiro western de Kirk Douglas. A seguir Agar interpretou o Falcão Escarlate em “O Tapete Mágico”, escapismo estrelado por Lucille Ball em 1951. Foi em 1951 que John Agar se casou novamente, desta vez com a pouco conhecida atriz Loretta Barnett, um ano mais nova que ele. Em 1952 John Agar participou de “Avalanche de Ódio” (Woman of the North Country) aventura com Rod Cameron, filme que indicava claramente que a carreira de Agar havia caído de nível. Depois de ser dirigido por John Ford, Allan Dwan e Raoul Walsh, John Agar seria dirigido em seus próximos filmes por diretores acostumados com produções de pequeno orçamento, muitos deles no gênero da moda no início dos anos 50 que era a ficção-científica.
Nas fotos ao lado John Agar com John Wayne, Henry Fonda e Shirley Temple em "Sangue de Heróis"; com Joanne Dru em "Legião Invencível; com Kirk Douglas em "Embrutecidos pela Violência".

John Agar com Lori Nelson
e abaixo com Mara Corday
FICÇÃO CIENTÍFICA SEM PORNOGRAFIA - Depois dessa auspiciosa fase inicial de sua carreira como ator John Agar atuaria nos próximos 40 anos em muitas sci-fis, conjunto de filmes que fez dele um verdadeiro ídolo dos admiradores desse gênero. Alguns desses filmes foram “O Homem Foguete”, “The Mole People”, “The Brain from Planet Arous”, “Attack of the Puppet People”, “Invasores Invisíveis”, “Journey to the Seventh Planet”, “Hand of Death”, “Women of the Prehistoric Planet”, “Night Fright”, “Fear”, “Nightbreed” e “Obsessão”. Entre os filmes de ficção-científica da carreira de John Agar três se sobressaem por serem de melhor qualidade: “A Revanche do Monstro” e “Tarântula”, ambos dirigidos por Jack Arnold e ainda “A Filha do Médico e o Monstro”, de Edgar G. Ulmer. Agar se destacou tanto no gênero que foi vítima de duas situações esdrúxulas. A primeira ocorreu em 1962 quando foi estrelar na Dinamarca o filme intitulado “Journey to the Seventh Planet”, dirigido por Sidney W. Pink. Achando que a Dinamarca era terra da liberdade sexual, a imprensa norte-americana ligou o nome do diretor ao gênero pornô, chamado nos Estados Unidos de “pinky” e noticiou que o ex-marido de Shirley Temple havia ido à Escandinávia para fazer um filme pornográfico. Mas o filme era apenas mais uma ficção-científica na filmografia de Agar sem nada de pornográfico ou naturalismo. Ídolo desse gênero, a revista “Famous Monsters of Filmland” publicou uma edição especial nos anos 70 informando que John Agar havia morrido. Foi necessário Agar comparecer a diversos festivais do gênero para provar que estava vivo e autografar milhares de exemplares da revista que o dava como morto, num inesperado revival de sua fama, descobrindo o quanto era querido.

O mocinho John Agar
MOCINHO DE FAROESTES - Além dos filmes de ficção-científica/horror John Agar atuou também em dramas e aventuras como “Isca de Amor” e “Trágica Noite de Amor”, ambos com Cleo Moore e os dois dirigidos por Hugo Haas; “Caçado como Fera”, estrelado e dirigido por Edmond O’Brien; “Raymie”, com David Ladd e Julie Adams; “The Day of the Trumpet” (filme de guerra rodado nas Filipinas); “O Jovem e o Valente”, com Rory Calhoun; “Amor e Desejo”, um dos últimos filmes de Merle Oberon, em 1963; “O Massacre de Chicago”, de Roger Corman com Jason Robards. John Agar participou de “A Rosa do Oriente”, rara e pouco conhecida comédia estrelada pelo mocinho Audie Murphy. Outro gênero em que John Agar fez muitos filmes foi o faroeste e, além dos já citados, ele atuou em “The Lonesome Trail” (1955), com Wayne Morris; “Crimes Vingados” (Star in the Dust), de 1956, com Richard Boone e Mamie Van Doren como mocinha; “Flesh and the Spur”, com Marla English; “Ride a Violent Mile” (1957), dirigido por Charles Marquis Warren e co-estrelado por Penny Edwards; “Frontier Gun” (1958); “O Juiz Enforcador” (Law of the Lawless), 1964, com Dale Robertson e Yvonne De Carlo; “Stage to Thunder Rock” (1964), com Barry Sullivan e Scott Brady; “A Vingança do Foragido” (Young Fury), em 1965, com Rory Calhoun e Virginia Mayo; “Duelo no Oeste” (Johnny Reno), 1966, com Dana Andrews; “Waco”, 1966, com Howard Keel. Estes últimos faroestes são da famosa série produzida por A.C. Lyles quase que exclusivamente com atores veteranos como era o próprio John Agar.

AJUDA DE JOHN WAYNE - A derradeira fase de John Agar em faroestes foi fruto de sua antiga amizade com John Wayne que se lembrou dele chamando-o para o elenco de “Jamais Foram Vencidos” (The Undefeated), em 1969; “Chisum”, em 1970; “Jake, o Grandão” (Big Jake), em 1971. Esses três filmes em muito ajudaram John Agar em sua recuperação já que aos 50 anos de idade ele vivia uma fase difícil de sua carreira não mais conseguindo encontrar trabalho em produções de melhor qualidade. John Wayne sabia da luta que Agar travava há tempos contra o alcoolismo, ajudado por sua esposa Loretta Agar. Em 1976 John Agar atuou na versão de “King Kong” do produtor Dino De Laurentiis, estrelada por Jeff Bridges. Os últimos trabalhos de John Agar no cinema são pouco memoráveis sendo que ele fez também muitas participações em séries de televisão.
John Agar com seu amigo John Wayne e abaixo em "King Kong".


FINAL DE VIDA FELIZ - Apesar de todos os problemas que enfrentou na vida John Agar continuava com sua radiante simpatia, o que fez com que passasse a se dedicar com êxito à venda de apólices de seguros, atividade que completava sua inconstante renda como ator. Todos quantos haviam atuado com John Agar no cinema ou na televisão exultavam ao encontrá-lo numa clara demonstração do quanto ele era querido. Se o primeiro casamento de John Agar não deu certo, o segundo com sua bonita esposa pode-se dizer que foi muito feliz, resultando em dois filhos (Martin Agar e John G. Agar III) e tendo durado 50 anos, até a morte de Loretta no ano 2000. John Agar faleceu dois anos depois, em 7 de abril de 2002, vítima de complicações resultantes de enfisema pulmonar. A revista “Wildest Westerns”, editada por Ed Lousararian, prestou homenagem a John Agar por ocasião de sua morte publicando nas páginas centrais diversas fotos do ator com seus amigos, entre eles Glenn Ford, John Wayne, Adam West, James Garner e Robert J. Wilke. Para os fãs de faroestes a participação de John Agar em “Sangue de Heróis” e “Legião Invencível" já seria suficiente para que ele fosse sempre lembrado, mas além disso há ainda a bela contribuição que John Agar deu aos westerns e os amigos que dele nunca se esqueceram.
Nas fotos ao lado John Agar com Glenn Ford; com Adam West (Batman); e abaixo com os atores Jack Ging, Robert J. Wilke e James Garner.



2 comentários:

  1. Lembro do bonitão Agar. Realmente não tinha talento, só estampa.

    O Falcão Maltês

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  2. John Agar! Jesus!Havia esquecido completamente dele! Um ator de quem vi quase que todos seus filmes e que me lembro dele como se o estivesse vendo aqui e agora! Até quando parei de anotar, tenho registrado aqui em meu caderno de cinema 17 filmes vistos com ele, fora os que esqueci de por.
    Claro que desconhecia seu matrimonio com Shirley Temple, pois naquele minha época não tinhamos noticias como as temo hoje em dia. E também não tinha conhecimento de sua vida tão longa nem o que passou até atingir a idade madura ou como sobrevivia sem fazer cinema.
    Mas foi com ele que vi um filme que jamais saiu de minha cabeça. Eu era garoto ainda e aquela noite que ele, sentenciado à morte, a passa todinha com Cleo Moore em Tragica Noite de Amor, ficou memorizada em mim como se algo eterno.
    Boa esta homenagem ao ator de tantas peliculas que com ele assistimos. Uma saudável lembrança.
    jurandir_lima@bol.com.br

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